Peeta chega da padaria. Finjo estar dormindo, pois não quero falar com ele. Sei que terei que contar sobre Gale. Se algo d tipo acontecesse com ele, ele me contaria e Peeta não é tipo que guarda mágoas.
-Katnis...meu amor?
Ele tenta me acordar, mas continuo fingindo. Ele desiste e em poucos minutos se deita comigo. Me abraça e sinto uma lágrima escorre em meu rosto. Pego no sono, pois é o melhor que posso fazer. Ele me acorda com um beijo e toda essa bondade e gentileza me agonia.
-Oi Kat, bom dia - Ele está com uma bandeja na mão e um lindo sorriso no rosto
-Oi Peeta - digo meio triste
-O que foi, Kat?
-Nada. - Esse não é o melhor momento pra falar sobre aquilo. Não posso estragar toda essa felicidade
-Não é nada - digo e forço um sorriso. Ele também sorri.
-Sabia que mesmo quando você acaba de acordar, você continua linda? - Coro levemente. Até hoje ainda fico sem graça quando ele me elogia. Mas hoje isso só me deixa pior.
-Você não existe, sabia?
-Assim como você - ele retruca
-É sério, eu te amo muito. Nunca duvide disso
-Tudo bem, eu também te amo muito. Mas por que está dizendo tudo isso?
-Por nada, só pra ter certeza que você sempre me perdoará independente do que quer que eu faça...
-Katniss, você está bem?
-Estou sim, Peeta. Vou tomar um banho - Vou em direção um pouco preocupada. É claro que ele sabe que estou escondendo algo. Saio do chuveiro e Peeta está na sala, vendo um pouco de televisão. Sei que esse é o momento. Sento ao seu lado e começamos a conversar
-Finalmente saiu do banho, docinho? - diz ele com sarcasmo imitando Haymitch. Eu rio um pouco e digo:
-Acho que você está passando tempo demais com Haymitch!
-É, também acho, ontem passei lá pra deixar uns pães assim que sai da padaria e ficamos conversando um pouco, quando cheguei você já estava dormindo
-Então você deve ter chegado tarde...
-Me desculpe, eu...
-Não se desculpe, você só estava com seu amigo - talvez isso também seria uma indireta para mim, se não fosse eu que estivesse falando
-E você, Katniss, o que fez ontem? - ele diz isso e eu gelo. Será que ele sabe de algo? Impossível. Ele não estaria de tão bom humor se soubesse. Então é minha chance de contar. É agora ou nunca.
-Ah, Gale passou aqui e saimos pra caçar
-Puxa, deve ter sido legal, fazia tempo que você não saia com ninguém pra floresta, não é?
-É verdade... - Agora...
-Peeta... - ou Nunca...
-Tenho que te contar uma coisa...
-O que?
-Você me perdoa?
-O que? Por que?
-Me perdoa - eu repito. Preciso disso
-Tudo bem, o que foi?
-Promete?
-Prometo. - ele me olha confuso e preocupado
-Ontem...na floresta... - Agora. Antes que eu perca a coragem.
-Gale e eu nos beijamos.
Não ouso olhar pra ele, mas depois de alguns minutos de silêncio, olho pra ele. ele está com um olhar de surpresa e dor. Ele percebe que eu estou olhando e sai de seu estado de choque
-Vocês o quê?
Abaixo a cabeça, e ele entende que ouviu certo. Ele levanta rapidamente do sofá e fala com certa dúvida:
-Ele te beijou? Mas você não quis não é? Você tentou recuar...não é...?
Apenas permaneço de cabeça baixa e lágrimas começam a surgir em meus olhos, levanto lentamente a cabeça e olhos pra ele. Ele não está mais surpreso, apenas com um olhar de extrema dor, como se eu tivesse acabado de lhe dar uma facada no peito
-Como pôde?
Mais lágrimas aparecerem e começam a cair em meu rostos agora voltado para o chão
Ele grita. Uma mistura de tristeza, frustração e dor. Nunca o vi assim
-Me perdoe Peeta, me perdoe...
Ele me olha com raiva e descrença e sai porta a fora
Começo a chora intensamente com as mãos no rosto olhando para o chão pelas frestas dos dedos, pensando em todos os nossos momentos felizes e receando que eles não existam mais. Depois de algumas horas a campainha toca. Não levanto para atender, deve ser Gale. Não quero ver ninguém, muito menos ele.
Continuo apenas chorando com as mãos no rosto e cotovelos nos joelhos, sentada no sofá, quando a campainha toca de novo. Ignoro-a. A porta abre uma pequena fresta em um ligeiro momento. Então posso ver o rosto de Gale procurando por alguém em casa. Sua expressão muda de confusão à terror quando ele me vê.
-Katniss! - ele fecha a porta e vem em minha direção. 
-Katniss, sou eu, olhe pra mim... Katniss olhe pra mim - ele tenta tirar minhas mãos e com muito esforço ele consegue. Segura meu rosto e faz eu olhar pra ele. Meus olhos devem estar inchados de tanto chorar.
-O que houve? Por que está chorando?
-Você...Eu...Peeta... - são essas as palavras que consigo pronunciar entre meus soluços
-O que aconteceu?
-Contei tudo...não podia...ele não mente... - isso é tudo que digo, e volto a chorar mais intensamente. 
O rosto de Gale muda de confusão extrema à compreensão
-Oh, Katniss... - ele passa o braço ao meu redor, acariciando meu ombro
-Vai ficar tudo bem...como ele reagiu? - Olho pra ele durante alguns segundos
-Eu nunca tinha o visto daquele jeito...
-Oh, Katniss - ele me abraça de modo que fico com a cabeça em seu peito. Aqueles braços, aquele cheiro. Todo o conforto. Mas quero Peeta.
-Vai ficar tudo bem. Ele é forte e você também...
-Não, Gale! Você sabe que não! Ele nunca vai me perdoar!
Ficamos um bom tempo abraçados e eu chorando eu seu peito. Quando o solto vejo que sua camiseta esta toda encharcada
-Ah, Gale, eu te molhei todo - volto a chorar com as mãos no rosto. Ele volta a passar o braço sobre mim e acariciar meus cabelos
-Não tem problema...
Quando abro um pouco os dedos, para olhar o chão, vejo a porta se abrindo. Peeta está lá parado.
-O que está acontecendo?! O que você fez com ela dessa vez?! Por que ela está chorando?! - Ele vem na direção de Gale e o levanta pela camisa. Não que ele conseguisse, mas Gale levantou do sofá. Gale poderia muito bem, dar uma surra em Peeta, mas ele sabe que merece isso.
-O problema não sou eu. Você não vê? O problema é VOCÊ, padeiro... - diz Gale com uma cara triste
Peeta solta Gale e olha pra mim, ainda tentando compreender o que Gale falou
-É verdade Katniss? O que ele falou? O que eu fiz pra você? Olha pra mim! - Ele puxa minhas mãos do meu rosto com certa brutalidade.
-O que foi que eu fiz? Me diga! - Olho bem para seus olhos e volto a chorar ainda mais. Tento voltar a minha posição anterior, mas ele não me solta
-Não! Olhe pra mim! Me diz o que foi que eu fiz... - ele diz isso com uma voz que chega a dar pena.
Olho bem para os olhos dele e pulo em seu pescoço, o abraçando e chorando descontroladamente. Poderia ser a ultima vez que eu faria isso.
-Você foi em-bora... Você- não me perdô-ou. Você- prometeu. - Tento falar, mas estou soluçando muito
-Oh, Katniss - Ele me abraça forte
-Me desculpe...  - Vejo uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Uma segunda cai em minha bochecha. Começo a chorar também, mas dessa vez, de felicidade.
-Peeta, eu não quero- te per-der. Não me- deixe.
-Katniss... você vai ter que se esforçar muito pra se livrar de mim. - Então ele me dá um beijo. Pra mim é o melhor beijo da minha vida.
-Acho que eu já vou indo... - Nem me lembrava que Gale ainda estava lá
-Tudo bem... e me desculpe Gale, por te acusar e tudo mais... - Peeta continua sendo o mesmo Peeta. Gale vai embora e Peeta e eu vamos dormir.
Dormimos abraçados como se fossemos um só. Essa noite não tenho pesadelos, não grito, não me debato. Com medo de que se eu o soltar, ele possa fugir.