Spirited Away 2 escrita por otempora


Capítulo 38
O espelho da separação


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal.
Em primeiro lugar, me desculpem pela demora. O capítulo simplesmente não saía por mais que eu tentasse.
Fora isso, acho que todos já perceberam. A fic está acabando(eu espero), vou fazer o máximo para não atrasar, mas as minhas provas estão começando e eu vou ficar louca. Então, eu peço um pouco de paciência.
Obrigada a todos que estão acompanhando, sei que há muitas coisas erradas na fic, que estou tentando reparar.
Beijos



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How I wish, how I wish you were here.
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?
The same old fears.
Wish you were here.

(Como eu queria
Como eu queria que você estivesse aqui
Somos apenas duas almas perdidas
Nadando num aquário
Ano após ano
Correndo sobre este mesmo velho chão
O que encontramos?
Os mesmos velhos medos
Queria que você estivesse aqui)

Wish you were here - Pink Floyd

 

Chihiro correu por aquele lugar estranho, guiada por um estranho sentido. O mesmo que lhe dissera que Haku estava lhe contando mentiras. Sem saber exatamente o porquê, deixou se levar por ele, acreditando que não faria nenhum mal, que seria somente um pensamento bobo ou fruto de alguma alucinação. Estranhou o tom de sua própria voz, a brincadeira que havia ensaiando em sua cabeça para não assustar Haku. Sem perceber ouviu-se dizendo:

- O que esta escondendo de mim, Kohaku? – indicando uma certeza que não possuía até aquele instante. Quando sua fragilidade foi revelada e uma máscara pareceu cair do rosto de Haku. Aquela expressão de felicidade que dominava seus orbes escuros se anuviou até sumir por completo, dando lugar a uma estranheza que lhe era incomum. Seu duro olhar a avaliou durante alguns segundos. Até que surgisse algo semelhante à confusão e inocência, mas sua fala revelava a hesitação que sentia.

Perguntou-se quais as palavras que ele tinha dito seriam verdade. Se aquele beijo que a confundira teria sido falso. Se haveria alguma franqueza desde que a vira.

Sem perceber, havia tropeçado em algo. Ergueu-se sem sequer verificar se estava machucada. Havia algo mais importante em risco do que flagelos que seu corpo poderia sofrer. O que estaria em risco? Um homem oco e pálido, imóvel. Um reflexo do que fora Boh em vida.

Seus sentidos alertavam de que havia algo por proteger, por quem lutar. Contudo, só restava uma carcaça que não iria reproduzir os gestos estabanados de Boh, não iria ter suas expressões ou sentimentos. Nunca olharia para ela com aqueles olhos amendoados, escondidos pelas grossas lentes dos óculos, o rosto transformado por alguma nobreza ancestral absolutamente irrelevante, a qual se refletia num momento oportuno.

A falta que sentia dele fez seus olhos arderem, porém Chihiro continuou avançando.

- Bou. – sussurrou como se estivesse o chamando.

Foi conduzida para uma porta que abriu aos tropeços. Boh estava ali, foi o primeiro detalhe que seus olhos conseguiram captar. Cerrou a porta, esperando que, por alguma força mágica, Haku não pudesse abri-la. E voltou-se para ele. Foi pior do que imaginava vê-lo ali, estendido naquela mesa de pedra negra, contrastando com a palidez inexprimível de seu rosto. As manchas arroxeadas sob os olhos, como se estivesse finalmente dormido depois de uma noite de insônia.

Foi um soco na boca do estômago vê-lo ali gelado e abandonado, a luz precária fazendo uma sombra em sua face, um artefato estranho, cerca de um metro e meio acima, da exata extensão de Boh, como se houvesse sido fabricado para ele.

Chihiro deu alguns passos cambaleantes, as lágrimas ameaçando irromper.

- Oh, Bou! Perdoe-me. Sinto muito. Foi tudo minha culpa. – confessou. – Se tivesse insistido, poderia ter feito com que ficasse comigo. Eu sou uma covarde!

Socou a mesa, a exaustão minando-lhe as forças.

Estendeu os dedos para que pudesse tocar em Bou. Acariciou suas bochechas salientes, como se aquele simples toque num defunto pudesse conter a força que ele lhe passava quando vivo.

- Queria tanto que estivesse aqui... preciso de você, Boh. Eu te amo tanto.

- Chihiro. – pode ouvir a voz de Boh sussurrando, espantou aquela impressão de sua mente. Bou não poderia falar com ela, ele estava morto.

A garota escutou novamente aquela voz, tentando aprisioná-la para si. Para que pudesse ouvir aquilo em cada vão momento.

Enlaçando seus dedos nos dele, de névoa. Longínquos e ausentes. Naquele momento imóvel era como se ele estivesse olhando para ela. Cerrou as pálpebras, muito quieta. O ruído distante de gotas de água caindo se registrando em seu cérebro. A infelicidade se desfazendo na calmaria. A voz que brotava do silêncio aflorando, auxiliando um triste sorriso em seus lábios. O vento inexistente tocando-lhe a face, murmurando seu nome.

Respirou fundo, tentando pensar em que fazer. Olhou para cima e arfou.

- O que é isso? – perguntou a si mesma.

Era um espelho, seria um espelho. Contudo, ele não refletia a Chihiro e nem a verdadeira imagem de Boh. Ele estava ali, vivo naquela outra dimensão, encarando-a com um terror crescente em seus olhos obscurecidos.

Mas ela sorriu. Sorriu por um simples impulso de poder ver a vida em seus traços, por ver novamente alguma expressão num rosto que não deveria ter vida. E as lágrimas de alegria caíram.

- Bou. – disse.

E face dele se alterou, não o abandonou aquela expressão de preocupação. Porém, ele se permitiu um sorriso franco de felicidade. Pensara que nunca mais veria Chihiro.

- Sinto muito. – ela o ouviu pronunciar. O som soou fraco e longínquo aos seus ouvidos. – Não consegui retê-lo.

- Não diga nada disso Boh! – a garota protestou. – Não fique se culpando.

- Precisa fugir, Chihiro. – havia um tom de urgência naquelas palavras. Uma sombra pousou em seus olhos. – Sei que pode se ofender com o que direi, mas não deve confiar em Haku...

- Eu já sei de tudo, Boh. – ela interrompeu-o com uma surpreendente placidez. – Mas eu não vou deixá-lo aqui. Simplesmente não posso fazer isso. Não agüentaria ter que me despedir de você da mesma maneira que a última vez. 

Num gesto impensado, subiu naquela plataforma alta demais para que seu corpo pequeno pudesse ser alçado. Por um instante, pensei que não fosse conseguir, com seus braços finos e quebráveis, mas contra as probabilidades momentâneas ela se ergueu. O rosto se modificando imperceptivelmente, uma força ferrenha se misturando as suas feições. Ergueu a face para cima, os orbes escuros e determinados se fixando em Boh. E estendeu os braços para tentar tocá-lo. Seus dedos encontraram apenas o vidro frio. A dor transpassando por sua expressão.

- Não importa. – disse a si mesma. – Eu vou te tirar daí! – gritou com fúria.

- Eu não posso sair, Chihiro. – Boh cerrou as pálpebras. – Estou nos limites do reino da morte, consigo sentir... não há como. E nem quero que você se arrisque para tentar vir me buscar. O preço é muito caro.

- Não diga isso! Preciso de você.

- Vá embora. Ele está vindo! Deve ficar segura. Só isso que estou te pedindo, Chihiro. Fique segura, por mim.

- Bou... não pode pedir uma coisa dessas. – discutiu.

E depois se calou. Era como se Boh, silenciosamente, lhe dissesse para que partisse. Que não quisesse dizer as palavras de adeus. Deixando que ela morresse em si ao mesmo tempo em que ele. Contudo, Boh não conseguia naquela exaustão manter aquela presença por muito mais tempo. Como se os gongos soassem, extenuantes em seus ouvidos lembrando-lhe do tempo. O qual afastava Chihiro cada vez mais.

Repetiu os gestos da garota no espelho, mantendo as suas mãos espalmadas na frente das dela. Sentiu-se tocado por aquela misteriosa essência que emanava dela. O momento fez-se imóvel...

A respiração de Chihiro roçou em seu rosto, causando-lhe cócegas. Estendeu os braços para que pudesse abraçá-la, não encontrou nenhuma resistência. Puxou aquele corpo para junto de si, apertando-o fortemente uma última vez.

- Vai dar tudo certo. De alguma forma vai. – pronunciou com a respiração entrecortada.

Beijou a face de Chihiro. Antes de sentir o corpo bruscamente arrancado de si. Deixou as lágrimas escorrerem, resignado com aquele último adeus.

 


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