Chihiro chegou ofegante ao lugar onde se encontrava a passagem para o outro mundo. Estava tudo diferente, parecia que se passaram décadas e não somente um ano que visitara aquele lugar. A vegetação cobrira grande parte do caminho, impedindo a boa locomoção, contudo tinha certeza de que estava no lugar certo.  

  Os olhos se fecharam... o que estava acontecendo? Ela se tornava aquela garotinha assustada de novo, que encarava aqueles bonecos de cera, quase de sua altura e tremia. Queria ir para casa logo, mas papai e mamãe desejavam entrar. "Não façam isso!", gritou em sua mente. Porém, pensou que se eles não fossem, nunca iria conhecer Haku. Sabia que no fim tudo ficaria bem. 

  Ficou momentaneamente cega pela luz que agrediu seus olhos ao abrí-los. Tudo se dissolveu. Restou somente ela e aquela vegetação invasiva e estranha. Seu coração se apertou, de onde vinha aquela vontade de chorar? Parecia que tudo estava tão irremediavelmente perdido.

  As memórias fracas demais na câmara falha de sua mente. Começou a correr, com medo de perder a entrada. O desespero tomando seus movimentos, fazendo-a tropeçar nas raízes das plantas.

  Ofegou estupefata, permanecia tudo inalterado. A ação do tempo que tomava o entorno, não afetou a entrada. "Mas... como?". Não sabia responder; talvez suas dúvidas estivessem realmente sanadas por compreender finalmente:

  - É magico! - sussurrou. Os olhos escuros brilhavam e divisava um sorriso pequeno em seu rosto. 

  Sabia agora, que poderia ter alguma paz de espírito. Sentou-se, temendo que tudo se dissolvesse numa nuvem fantástica. Não tinha certeza se deveria se aproximar. Aquela ilusão bastava para pensar que fora tudo verdade. 

  Abraçou os joelhos, lágrimas correndo por seus olhos. Começou a se balançar para frente e para trás, como que acalentada pela presença de seus amigos. 

  - Senti falta de vocês. - disse, como se estivessem lá.  Para ela, era como se realmente estivessem presentes, nunca antes os sentira tão próximos. - Vocês não me abandonaram...

  Seu coração bateu forte, as mãos apertaram o braço. Sem Rosto a encarava, logo a sua frente, semi-escondido pela vegetação. 

  - Hum. Hum. 

  Ele a estava chamando? Chihiro levantou-se de supetão quando Sem Rosto virou as costas e começou a se afastar. 

  - Espere! Venha aqui, Sem Rosto!

  Perseguiu o amigo, mas ele estava estranhamente rápido. Os passos com uma agilidade desconhecida. Correu até que não conseguisse avistá-lo mais, se embrenhando num lugar que não conhecia. 

  Encostou-se numa pedra, exausta. As pernas finas cheias de arranhões, não ligou; precisava encontrar Sem Rosto. 

  Olhou em torno, desesperada. Sem saber para onde ir. Estava perdida.

  - Droga! O que vou fazer?

  Começou a gritar o nome dele, mas não adiantava, ninguém aparecia. Estava preocupada com o passar das horas, não conseguia ouvir barulho de carros, nem de nada que indicasse civilização por perto. 

  Queria desistir, o cansaço dominava seu corpo, estava com fome e seus olhos não conseguiam ficar mais abertos. Deitou-se no chão e se encolheu, encontrando um confortável colchão de folhas. Não tinha mais forças para se mover.

  Os barulhos que ouvia a assustavam, mas tentava convencer a si mesma que o farfalhar próximo de folhas era sua imaginação. Os sons ficavam mais próximos, as árvores se afastaram para dar passagem a alguém e o que viu fez seu coração acelerar.

  - Haku! - tentou dizer, porém não conseguia encontrar sua voz.

  A boca de um anjo se movia a sua frente e ela não conseguia escutar. O corpo foi delicadamente erguido do chão. Chihiro fechou os olhos, com a sensação daqueles braços protetores encaminhando-a para o sono.