Spirited Away 2 escrita por otempora


Capítulo 15
Destino




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- Está se sentindo bem? – perguntou Boh a Chihiro assim que voltou a forma humana vendo o estado da garota.


- Sim, eu só estou um pouco cansada.


- Vamos descansar durante uns minutos. – decidiu-se. Sentando num tronco caído, a garota tomou o lugar a seu lado, as pernas se roçando.


- Por que descemos aqui? A aldeia é logo ali na frente.


- Acho que uma garota montada num dragão não seria um bom cartão de visitas. É melhor irmos andando.


- Já foi até lá?


- Não, é uma tribo de aracnídeos. Vivem completamente isolados do restante do mundo. Creio que não devem ter sido muito afetados pelas cópias de Sem Rosto.


- Não vi nenhuma até agora.


- Eu estive tentando evitar a energia que elas emanam. Foi por isso.


- Imagino o que vai acontecer quando ele me vir...


- Não crie esperanças, Chihiro, ele não é o mesmo Sem Rosto. – avisou.


- Sei disso, mesmo assim... – suspirou e mordeu o lábio inferior.


- Vai tudo se resolver. Eu tenho certeza.


- Da maneira que você fala parece tão fácil.


- Vai ser difícil, não tenho dúvidas disso. Porém, eu estarei com você.


Os dois sorriram brevemente, as incertezas e o cansaço sumindo. Chihiro recostou-se nele, agradecendo o calor bem vindo que emanava de Boh; feliz que ele estivesse por perto.


- Posso te fazer uma pergunta? – ela assentiu. – Por que não me deixou insistir com Kamaji?


- Ele estava com medo.


- Mas ele viria se me deixasse falar com ele, eu o convenceria. – viu-a dar de ombros.


- Não é obrigação dele. Além de tudo, Kamaji já se expôs demais por mim. Assim como você Boh. – acrescentou sem olhá-lo, o pesar dominando sua voz.


- Eu... – gaguejou sem saber o que dizer. – Eu quero fazer isso, quero estar com você. – sua face se avermelhou.


- E esta é a diferença. – assinalou, tocando a mão dele. – E é por isso que permito que você corra esse risco, mesmo contra meus instintos. Eu preciso de você Boh. Da sua força e de sua bondade; meus motivos são egoístas. – lamentou. – Porém eu nunca conseguiria sem você. – adicionou com agonia.


- Chihiro, olhe para mim. – segurou o queixo dela delicadamente, forçando-a a fazer o que disse.


- Dói, Boh! – ela não agüentou segurar as palavras. – Dói tanto quanto o dia em que percebi que ele talvez nunca aparecesse. Todos os dias da minha vida eu vou sentir isso.


- Não estou pedindo para não sentir. Aceito você dessa maneira, mesmo que esteja quebrada. – disse pousando a mão na bochecha de Chihiro. A fala tornou-se triste. – Eu juro nunca te magoar. – repetiu a promessa feita mais cedo.


A garota não respondeu, encarava-o com novos olhos. Nunca notara a nobreza no rosto de Boh, os lábios que se curvavam sobre si, a preocupação tomando suas linhas, o nariz projetado para frente e quase imperceptivelmente torto. As linhas do maxilar desenvolvidas com a idade. E os olhos ternos de uma maneira surpreendente, reservando aquela suavidade para - parou para pensar enquanto processava a frase. – ela. Levou a mão inconscientemente para o peito dele, procurando o coração que batia apressado contra a caixa torácica. 


- Chihiro. – os lábios dele sussurraram contra sua testa. Ela cerrou as pálpebras, enlaçando com a mão remanescente os contornos do pescoço de Boh, trouxe-o para junto de si.


- Você quer isso? – perguntou incerta, com medo de que não fosse a vontade dele, ao mesmo tempo temendo a rejeição.


- Sempre. – não deu um momento para uma resposta, tocando os lábios dela com os seus. Abrindo espaço para o beijo se aprofundar. Segurou-a, querendo mantê-la na armadilha de seus braços.


Cedo demais, Chihiro se afastou, conseguindo notar a dor que tomou sua expressão antes que pudesse evitar. Afastou-se deliberadamente, não sabia o que fazer com suas mãos, cabisbaixo.


- Boh. – a fala dela lhe parecia tão pura. Seus braços ainda o enlaçavam. – Me perdoe. – suplicou.


A testa dele se crispou. Do que ela estava falando?


- Como assim?


- Sinto muito por ter feito isso. Eu não...


- Quer dizer que você queria me beijar? – sorriu com a possibilidade.


- Sim.


- Então o que está falando? - ela permaneceu calada e enrubescida. – Não escutou nada do que te falei? Chihiro, eu te amo! – estava tão feliz que não conseguia se controlar, não mediu as palavras que a chocaram profundamente. Beijando-a com paixão contida.


- Boh, eu...


- Eu entendo. Não precisa se explicar, eu fico alegre que possa ter tido esse momento. – apesar de suas palavras, ele virou-lhe o rosto para que ela não pudesse vê-lo.


- Eu quero ficar com você. Mas não sei se agora, posso corresponder a seus sentimentos. – tocou a face dele com dois dedos, vendo o sorriso se alargar.


- Prometo me refrear. – assegurou, dando-lhe um selinho nos lábios. - E então, está pronta para partir, senhorita? – ergueu-se, fazendo uma reverência espalhafatosa. Chihiro deu-lhe a mão, para que ele a ajudasse a se levantar.


- Vamos embora.


Voltaram à caminhada, Boh ia ajudando Chihiro quando o terreno se tornava demais acidentado. Conversavam trivialidades que os faziam rir, podiam estar em qualquer outra circunstância, que não esta. Tão abstrusa. Rapidamente chegaram aos limites da mata, que se abria em um descampado, um caminho feito pelo uso apontava para a aldeia da qual Kamaji falara. Podiam se ver precários casebres um tanto inclinados, talvez pela força do vento, sob uma terra seca, roupas obscurecidas e puídas estavam penduradas em varais tortos, roçando no chão. Era a imagem da desolação


- Parecem abandonados. – comentou Chihiro baixinho. Os sentidos em alerta. Boh pode sentir a tensão dela. Tinham a sensação de olhos invisíveis os perseguindo.


- Fique calma. – solicitou fazendo círculos na mão dela com o polegar.


- Então por que você está nervoso? – brincou, numa tentativa inútil de relaxamento.


Boh ignorou-a.


- Creio que está tudo vazio, não consigo sentir energia hostil por aqui.


- Foi o Sem Rosto que fez isso?


- Não, ele deixaria rastros bem evidentes. A pele dele se parece com uma gosma que se gruda em tudo e não há meio de tirá-la. Pode ter ocorrido um saque, mas é meio improvável. – vasculhou tudo ao seu redor com cuidado. – Está vazio. – anunciou um pouco mais aliviado. Vamos procurar a gruta.


Não precisaram buscar por muito tempo, era uma entrada bem visível, cercada por árvores de pequeno porte com folhas muito alvas que emitiam um brilho fosforescente sobrenatural.


- Que lindas! – a menina falou admirada. Boh contemplou-a no meio das árvores, notou o rubor das bochechas e a sombra de sorriso. Iria fazê-la feliz. – Vem Boh. – a voz, a despeito do que notara em seu rosto era grave.


Acompanhou-a, atravessando a entrada e percebendo a falta de umidade. Tochas pregadas nas paredes garantiam a iluminação. Ouviam um ruído distante que mais tarde se distinguiu como um canto harmonioso que não conseguiam entender. Uma passagem gigantesca surgiu e antes que pudessem entrar, a mesma voz que entoava a canção falou:


- Estávamos esperando-os, Chihiro e Bou.  


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