Truques Mortais escrita por Anna Evans


Capítulo 7
Capítulo 7 - Ajuda Inesperada


Notas iniciais do capítulo

Meus amores, milhões e mais milhões de desculpas pela minha gigantesca demora. Comecei a ler as Crônicas de Nárnia ( o Volume único) E desde então minha vida se resume ao colégio, estudos, teatro e o livro. Fora que tive um terrível bloqueio criativo aqui que me impediu de escrever este capítulo. Mas cá estou eu com ele, acho até que ele ficou maior que os outros. Espero que gostem e que comentem!



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Refúgio Místico. Refúgio Místico é o nome desta gigantesca ilha no meio do Atlântico, seu tamanho quase se iguala ao da ilha de Madagascar, perdendo por pouco. A Ilha recebera este nome por conta de um padre que enlouquecera completamente, seu nome era Henrique. Era do Brasil, Rio de Janeiro. Antes dele, só Portugueses pisaram nestas terras, e isto fora antes mesmo de 1500. Eles logo a abandonaram e a esqueceram... Os que pisaram aqui naquele tempo, simplesmente morreram por canibais, os únicos que se encontravam aqui. O padre Henrique dizia estar se 'refugiando' aqui nestas terras. Dizia que o mundo a fora estava cercado por três grandes espíritos... O passado, presente e futuro, cujo eram grandes e majestosos... Queriam matar toda a humanidade... mas onde não havia avanço o passado não existia, e se ali ninguém vivia, o presente não pisava e o futuro jamais surgia. Sendo assim, ele fez suas malas e seguia para cá afim de criar uma proteção ou qualquer outra coisa que pudesse deter estes três espíritos. Disse ele que as rochas encontradas na ilha seriam úteis... Já que a ilha surgiu através de uma grande erupção de uma série de vulcões subaquáticos, mais tardes estudados e dados como extintos a mais de 100 mil anos. O mundo inteiro conheceu Henrique, o padre louco, através de expressos de jornais e TV. Aqui ele morreu... Sozinho e aos noventa e dois anos, ainda tentando criar um jeito de prender os espíritos.

Sendo Miguel, seu único amigo que o visitava na ilha vulcânica, o homem que avisara a todos e anunciara para a imprensa o falecimento de Henrique. O mundo desabou nesta ilha. E em nome ao velho louco que lutou até o último segundo de sua vida para fazer aquilo que acreditava e desejava... Fora dada um nome para a Ilha, e ela então se chamou de Refúgio Místico. Pois lá, ele se refugiou das insanidades em sua mente e ali permaneceu... No Místico, o desconhecido. Sendo então vista com bons olhos pelo presidente não só do Brasil, como também dos Estados Unidos, eles formaram uma aliança junto da Europa, Ásia e Oceania. Um acordo que o mundo jamais ousou pensar em existir. E ali se criou um núcleo de avanço e de ensino. Onde os jovens repletos de sonhos se refugiariam ali para alcançar seus objetivos.

Bom, cá estou eu. Vinda diretamente da Califórnia. Tenho amigos aqui de vários lugares do mundo. Conheço alguns moradores da ilha, e conheço uma boa parte da grande maravilha que é este lugar. Essa história que mencionei acima não é falsa... Mesmo que pareça uma lenda... Ela não é, e eu meio que acredito. É especial, eu sei. Isso tudo que escrevi, apenas será mencionado mais uma vez este ano... Quando cheguei aqui na universidade no ano anterior, ouvi a história enquanto chegava de navio. Ouvi também no cás quando fui recebida por uma guia turística, ouvi pela diretora no comitê de boas vindas, ouvi pelos meus professores, e por fim... A gravei em minha mente. Hoje, muito provavelmente ouvirei de novo esta história. Apesar de estar no segundo ano... Nós recebemos novos alunos que foram transferidos... Isso é meio chato. Mas vou tentar tirar proveito disso... Tentar.

A festa ontem foi um tremendo sucesso para 99% dos alunos... Os outros um por cento se referia a mim, Juliet e Scott. Para este 1% a festa foi cansativa, chata e estressante; tenho certeza. Creio eu que no final, as coisas melhoraram para Juliet que ainda conseguiu ficar com um velho amigo nosso, Freddie. Para Scott, não sei como terminou a noite. Também não me importo. Quero dizer... Não, não quero dizer nada. Se eu agi errado não foi por nada. Quanto ao resto de minha noite... Acho que eu exagerei um pouco. Holly me deixou irritada com o seu questionário sobre o que eu estava sentindo este ano. Mas não a culpo de nada, ainda mais por ter deixado ela encerrar a festa sozinha já que acabei bebendo demais para conseguir pronunciar qualquer coisa compreensível. Humilhante, eu sei. Bom, apesar da minha gigantesca dor de cabeça e o leve enjoo, tenho que ir para a aula. O que muitos não sabem, é que a primeira aula é sempre a mais importante. A última... Ela não significa nada. Como Juliet não dormiu aqui esta noite, sabe Deus porque... O meu dever agora é acordar Holly e a empurrar para sua aula. Espero que hoje eu me desligue um pouco dos problemas...

Jennifer Green”.

Jennifer por fim fechou seu diário. Apesar de querer permanecer em sua cama o dia todo teria de levantar. Assim que tocou os pés no chão se arrependeu, estava frio, mas tinha de ser feito, então ela se levantou e seguiu até o outro lado do quarto, onde estava Holly em sua cama, ainda dormindo. Jennifer a sacudiu por alguns instantes... Não estava afim de falar algo, o sono era muito grande para que lhe permitisse tal proeza. Já Holly que era chacoalhada de um lado para o outro apenas se virou para o outro lado puxando seu lençol... Assim, ela voltou a dormir.

Jennifer então seguiu até o banheiro. Se ela ficasse parada olhando Holly dormir seria bem provável que dormisse em pé. No banheiro ela olhou vagamente para os cacos de vidro amontoados no canto do banheiro. Provavelmente fora Holly que o fizera... Jennifer nem se lembra como chegara ao quarto na noite anterior. Mas parando para olhar agora... Ela parou novamente para se perguntar o que havia ocorrido naquela hora. Juliet dissera que não sabia por ter dormido... Mas ainda era tudo muito estranho. Nenhuma resposta talvez tivesse lógica suficiente para aquela questão.

Deixando de lado aquele assunto, Jennifer seguiu para seu banho. Como de esperado, a água fria a despertou, mas a dor de cabeça não havia sumido, menos ainda o enjoo. Ainda estava cansada, os joelhos doíam um pouco e ainda podia sentir seus ouvidos se agitarem graças ao som alto daquela noite, mas ao menos ela não tinha mais sono.

Saindo já arrumada do banheiro, ela voltou até a cama de Holly. Para a sua sorte Holly já havia despertado. Estava sentada na cama.

— Cadê a Juliet? — A voz de Holly era sonolenta.

Jennifer deu de ombros.

— Parece que ela e o Freddie se divertiram bastante.

Holly soltou um riso antes de se levantar e entrar no banheiro.

Jennifer pegou a se sentar em sua cama de novo. Abriu a primeira gaveta da cômoda ao seu lado, estava à procura de seu material. A gaveta estava uma repleta bagunça. Seus olhos se depararam primeiro com alguns papéis rabiscados. Abaixo deles estava um bloco de anotações que não chegara a usar... Algumas moedas, uns CDs antigos e por fim seu caderno. Um caderno de quinze matérias que comprara numa loja próxima ao ponto turístico da ilha algumas semanas atrás.

Quando puxara o caderno outra coisa veio junto, caindo ao chão. Jennifer passou por cima sem ver. deu a volta na cama e procurou por sua bolsa. Lembrava-se apenas de ter emprestado para Holly antes dela ir para casa nas férias de fim de ano. Pelo fato de ter chegado ontem, e a noite ter ido para a festa, o lado de Holly estava uma repleta bagunça. As malas que trouxera estavam abertas e as infinitas roupas que deveriam estar lá dentro estavam espalhadas pelo piso.

Para piorar tudo, mesmo tento acordado antes de Holly, Jennifer ainda se encontrava muito atrasada para a aula. Nesse exato momento tinha apenas dez minutos para achar sua bolsa e chegar na sala de aula. Sendo assim, ajoelhou-se no chão e com pressa começou a bagunçar ainda mais o canto de Holly a procura de sua bolsa.

Enquanto se mantinha ocupada no chão do outro lado da cama de Holly, Juliet entrava no quarto nesse momento... Estava com a mesma roupa da festa, os cabelos um tanto rebeldes e a maquiagem borrada... Ou o que sobrara dela. Juliet que não viu Jennifer continuou seu curso. Enquanto ia em direção a sua cama retirava o salto, foi assim que vira no chão ali algo que lhe chamou a atenção. Era uma fotografia. Ao recolhe-la do chão ela reconheceu vagamente as pessoas da foto, mas entre elas havia uma sim... Era Jennifer. Provavelmente aquele fora seu aniversário de dezessete anos. Era a única ocasião em que sua família tirava fotos. Na foto, ao lado esquerdo de Jennifer estava sua mãe e seu pai. Era quase impossível não notar a semelhança de Jennifer e de Maria, sua mãe. Seu pai era um homem alto e sério, até mesmo nas fotos, Juliet se lembrava agora o quanto ela temia aquele homem assim que o conhecera. Não era de muitas palavras, mas quando as falava era melhor que ficasse de fato calado. Do lado esquerdo de Jennifer, estava sua madrinha, Eliza, e seu avô por parte de mãe, Alfred.

Juliet estava surpresa por ver que Jennifer ainda guardava aquela foto. No ano anterior ela havia queimado todas as suas fotos. Fora um ano difícil, e sinceramente, Juliet não sabia se ela havia se recuperado de todo aquele transtorno.

Holly que tinha entrado no banheiro para tomar um banho saíra eufórica e aos gritos de lá. Juliet que estava na cama pensando estar sozinha se assustou de imediato. Jennifer se levantou do chão para olhar para a porta do banheiro, se assustando também com a repentina presença de Juliet no quarto.

— Que droga! — Juliet olhou para Jennifer agora. — O que é isso? É o jogo “ Se esconda e assuste a Juliet”?

— Porque a gritaria? — Jennifer encarou Holly que quando saíra do banheiro pulara direto em sua cama.

— Eu estava terminando de pentear o cabelo quando me deparo com uma cobra em cima da... — Holly parou olhando para o lugar onde Jennifer se encontrava. — O que você está fazendo nas minhas roupas?

— Eu estou procurando a bolsa que te emprestei... Preciso dela pra por o meu material.

— E da onde você veio criatura? — Holly agora falava com Juliet — Do submundo? Você está terrível!

— Eu estava com o Freddie. — Juliet se sentou na cama do outro lado — Adivinhe quem é o colega de quarto dele?

— O que você estava fazendo no quarto dele a essa hora? — Jennifer perguntou.

— Ih... Deixa eu falar... — Juliet a cortou — O Scott está no mesmo quarto.

Holly fez uma careta.

— Você ficou com dois caras numa noite só?

Juliet revirou os olhos.

— Claro que não! Fui pra lá com o Freddie... Ele pensava que Scott ainda estivesse na festa. Mas quando chegamos ele estava lá... Estava quieto, olhando a janela.

— Deve ter sido depressivo — Jennifer falou voltando a procurar a bolsa.

— Conversamos um pouco, depois Scott nos deixou a sós e saiu.

— A bolsa está na outra mala... Espera um pouco. — Holly foi ajudar Jennifer.

— Vou tomar um banho para dormir. — Juliet disse pegando algumas roupas na gaveta de sua cômoda.

— Tome banho no mar Atlântico, mas nem ouse entrar nesse banheiro — Holly a alertou — Aquela coisa é nojenta!

— O que? Do jeito que você é toda exagerada aposto que é só uma lagartinha.

Holly deu de ombros deixando que Juliet entrasse no banheiro... Não demorando sequer três segundos para sair dele.

— Certo... — Ela falou balançando os braços — Acho que vou até o quarto das gêmeas usar o banheiro. Encontro vocês mais tarde.

— Não vai pra aula? — Jennifer perguntou.

— Nem louca! Vou tomar banho e ir dormir... Hoje não deve ter muita coisa mesmo. — Juliet saiu.

— As vezes acho que ela pensa que isso é o colégio. — Jennifer suspirou.

— Ela sabe se cuidar... Quer dizer... Ela já tem idade pra isso, eu acho.... Achei!

Jennifer pegou a bolsa e correu para sua cama novamente, colocou seu caderno e suas antigas anotações dentro da bolsa... Algumas canetas e assim correu pra fora do quarto.

Desceu as escadas pulando alguns degraus aqui e ali. Era oito e dez... Tinha que rezar para conseguir entrar na sala.

Levaria mais dez minutos para atravessar o pátio dos dormitórios e mais cinco até chegar ao seu prédio de aula. O caminho foi bem estressante e cansativo. Quando finalmente se encontrou na porta dupla de madeira clara da sala de aula Jennifer parou para respirar. Podia ouvir a Senhora Rhodes falando. Ela se encarregava das cenografias. Ficou de iniciar o ano com uma breve reunião e resumo do que se foi estudado no ano anterior. Apesar de ter apenas trinta e dois anos, Diana Rhodes tinha espírito de velha. Não tolerava atrasos, na maioria das vezes gritava para expor comando. E rir era quase um pecado em suas aulas.

Quase que contra sua vontade Jennifer girou a maçaneta abrindo a porta para a sala. A senhora Rhodes se calou e olhou para a porta... Não só ela como todos os alunos presentes no cômodo. A sala de aula de artes cênicas era grande e reluzente. As paredes eram forradas com um painel de madeira clara. O chão era de linóleo branco e do outro lado de onde ficava a porta por onde Jennifer entrava agora, ficava uma imensa janela de dois andares. Do lado esquerdo dessa janela, se encontravam dois degraus para o batente onde se encontrava a mesa dos professores, e duas estantes compridas de renomados livros de dramaturgos famosos. Ao lado dessas estantes se encontrava um quadro negro e outro branco. Ambos ainda limpos. Já do lado direito da grande janela de dois andares se encontravam as carteiras dos alunos onde eram colocadas iguais as cadeiras de uma sala de cinema. Cada fileira ficava em um degrau, e em cada degrau ficavam quinze carteiras, aquela sala em si tinha um total de noventa lugares.

— Senhorita Green, qual desculpa será usada por você ao ter chegado quase quarenta minutos atrasada no primeiro dia? — A professora lhe perguntou a encarando firme com seus olhos escuros e pequenos.

— Nenhuma professora. — Jennifer encolheu os ombros. — Desculpe.

— Desculpas não são suficientes mocinha. Já é grande o suficiente para ter responsabilidades. E uma delas é ser pontual. Sinto em dizer, mas a senhorita não participará da aula. Pode voltar para seu dormitório.

— Mas... — Jennifer tentou falar mas a professora levantou a mão pedindo para que se calasse.

Jennifer suspirou. Quando estava prestes a deixar a sala uma voz conhecida surgiu na sala. Vinha lá de cima, da mesa do canto.

— Sei que não está nos meus limites falar isto, mas... — Scott se destacou ao falar com a professora. Os cabelos ainda molhados e por tanto mais escuros do que o normal. — A senhora ainda não havia começado de fato a sua aula. Estava apenas falando sobre como foi fundada Refúgio Místico... E eu acredito que esta garota que já está pelo seu segundo ano aqui, conhece muito bem esta história.

Jennifer olhara para Scott abismada. Talvez devesse estar mais agradecida pelo fato dele estar tentando ajuda-la, mas... O que ele estava fazendo em seu curso de artes cênicas? Sim, tudo bem, ele poderia estar cursando artes cênicas, tanto que isso é a coisa mais normal. Mas... Ele não deveria estar na turma de primeiro ano?

E pelos olhos da professora Rhodes ela não estava nada feliz com a intromissão de Scott.

— Senhor... — Ela estreitou os olhos.

— Scott Vitorino.

— Senhor Vitorino... — Ela continuou. — Fico extremamente feliz que saiba que isso não é da sua conta. A não ser que também queira dar aula hoje? Eu iria falar sobre o teatro contemporâneo Internacional... Mas acredito que o senhor possa explicar melhor do que eu sobre algum dos principais dramaturgos deste ramo.

Scott piscou rápido e logo sorriu.

— Se deixa-la entrar eu posso dar esta aula sem preocupações professora.

Os alunos estavam meio assustados com a atitude de Scott. Era certo que ele era um novato ali, pois se tinha um professor com quem ninguém ali brincava era com a Senhora Rhodes.

Jennifer ainda estava tentando achar algo que fizesse sentido naquilo... Talvez Scott estivesse apenas se vingando dela por ontem... Mas, a vingança não deveria ser ruim? Talvez ele ainda fosse fazer algo... Ou não?

— Muito bem. — Diana Rhodes falou cruzando os braços — Senhoria Green, entre por favor. Não vá se atrasar para a aula do Sr Vitorino.

Mesmo cautelosa, Jennifer entrou na sala e seguiu para sentar-se numa mesa abaixo da de Scott. Scott se levantou sem olha-la e desceu os degraus... Indo de encontro a professora irritada e de quinze centímetros mais baixa que ele.

— Escolha um dos livros acima da mesa... Irá falar sobre um daqueles dramaturgos. Cada erro irá reduzir um ponto de seu exame final neste semestre.

— Então acho melhor eu começar logo — Scott falou estreitando os olhos enquanto sua voz soava rouca.

Ele subiu até o batente e encarou a mesa da professora. Lá estavam os livros. Ele nem se preocupou em olha-los. Pegou o primeiro e desceu do batente com o livro em mãos.

— Vejo que escolheu Augusto Boal. — Diana falou — Deixe-me perguntar Sr Vitorino... De que lugar do mundo o Sr vem?

— Venho de Londres, professora.

— Isso será interessante. Acho que pode começar a aula. — Ela falou indo se sentar na cadeira próxima a mesa dos professores.

Jennifer assim como os outros, encarava Scott. Mas ela que não entendera o porque dele te-la ajudado, pensava agora no quão arrependido ele ficaria no seu exame final. Mesmo ela que estava no seu segundo ano ali, desconhecia completamente qualquer coisa sobre o tal Augusto Boal.

Scott olhou para o livro, e passou as páginas rapidamente, sem lê-las. Ele suspirou. E pela primeira vez Jennifer o ouviu falar alto...

— "Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma". — Ele falou olhando para os alunos a sua frente sem ao menos ficar nervoso. — Esta foi uma das frases dita pelo próprio Augusto Boal.

Ao ouvir isso Diana Rhodes se endireitou em sua cadeira para ouvir mais.

— Boal foi uma figura muito importante no teatro contemporâneo — Continuou Scott. — O Brasileiro ficou conhecido a nível mundial por ter fundado então o Teatro do Oprimido. O Teatro do Oprimido tem como foco central trazer uma transformação da realidade através do diálogo. Deixando isso de forma cada vez mais real, Boal acreditava que todo mundo é ator e também o espectador. Pois até mesmo quem atua observa, e quem observa se encontra em tal cena... Por tanto, chega a ser também um ator...

Scott ia continuar, mas a professora o interrompeu.

— Alguém tem uma dúvida? O novo professor está aqui para responder.

Alguns alunos levantaram a mão. Jennifer viu tudo dar errado naquele exato momento em que um dos garotos da primeira fileira perguntara porque o nome 'teatro do oprimido'. Mas veja bem, Scott respondeu sem sequer parar pra pensar. Deixando Jennifer de queixo caído e a Senhora Rhodes irritada.

— Deu-se o nome de Teatro do Oprimido pelo fato de todas as peças desta área estarem relacionadas a uma realidade de opressão... — Scott explicou — Ou seja, um indivíduo sonha e deseja algo até que surge um opressor e começa a desmoralizar a pessoa que até então acreditava que era possível conseguir o que se desejava... Se tornando então o oprimido.

— Mas e a questão da transformação da realidade em diálogo? Onde se encaixa nisso tudo? — Uma garota da mesma fileira que Jennifer perguntou curiosa.

— Essa parte é simples... Suponhamos que isto é uma peça. E nessa peça você é uma personagem que anseia muito por algo... Eu sendo seu  opressor irei te rebaixar até a inferioridade, onde então você irá acreditar que tudo o que planejou para seu futuro será impossível conseguir. Estando nessa situação a peça acaba, e entra nela então o que se pode chamar de a arma secreta do Teatro do Oprimido. Dando fim a peça, vamos mudar esta realidade onde eu, seu opressor, cumpri o meu dever, consegui te oprimir. Vamos chamar alguém da platéia para tentar mudar esta realidade através de um diálogo... A pessoa irá até o palco e daí em diante ela será a personagem que você encarnou. Esta pessoa vai começar uma possível discussão comigo e tentará me fazer acreditar que tudo pode ser diferente... Derrotando o opressor teremos transformado a realidade com o diálogo.

— Isso é o suficiente Sr Vitorino! — A professora se levantou de sua cadeira tomando de forma agressiva o livro das mãos de Scott. — Pode retornar ao seu lugar.

— Tenho apenas uma duvida professora. — Scott se virou para ela. — Quantos pontos irei perder no meu exame final?

— Um ponto. — Ela falou.

— Posso saber qual foi o meu erro?

— Seu erro foi querer criar novas ordens nesta classe ao pedir para que eu deixasse a Senhorita Green entra depois do horário. — Dito isso, Scott sorriu e se virou para ir até seu lugar.

No mesmo instante a Senhorita Rhodes começou a explicar do começo sobre Augusto Boal, isto é claro, de uma forma chata e completamente desinteressante. Enquanto Scott subia Jennifer o puxou pela blusa branca fazendo com que ele se abaixasse ao seu lado.

— Saudades? — Ele perguntou baixo num tom sarcástico e divertido.

Jennifer revirou os olhos.

— Ainda não sei porque fez isso, mas...

— Você vai ficar me devendo essa. — Scott a interrompeu, logo depois se aproximou mais de seu rosto — Espero ser bem recompensado.

Jennifer estremeceu após ele sussurrar isto... Mas tratou de voltar a si logo que a professora lhes chamou a atenção.

— Sr Vitorino, se não quiser perder mais um ponto para seu exame final, por favor trate de se sentar já em seu lugar.

Scott olhou para Jennifer mais uma vez e riu baixo.

— Comece a pensar em como irá me agradecer. — Falando isso ele se sentou em seu lugar e assistiu ao resto da aula.


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