Livin' On A Prayer escrita por Teruo


Capítulo 2
Scar Tissue


Notas iniciais do capítulo

* Antes de mais nada eu gostaria de pedir mil desculpas a todas as pessoas que estavam acompanhando a fic e tinham deixado comentários. Resolvi tirar todos os capítulos já escritos e repostá-los a medida em que fosse editando, porém eu não sabia que ao tirar os capítulos do ar eu não poderia mais restaurá-los igual a quando removemos uma história do site. Desculpa pessoal m(_ _)m.
* O nome do capítulo vem dessa música aqui: http://www.vagalume.com.br/red-hot-chili-peppers/scar-tissue-traducao.html
* Boa leitura!



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18/07/1999

Já era final de tarde, o crepúsculo pintava o horizonte da cidade dos anjos quando Naruto e seu tio chegaram a sua nova casa. O voo de Nova York até Los Angeles havia demorado muitas horas, ambos estavam cansados, mas ainda precisavam ajeitar as milhares de caixas com seus pertences.

— É amigão, até que enfim chegamos a nosso novo lar. Eu sei que você está tendo um ano ruim, mas tente se animar. Estamos em Los Angeles, a cidade conhecida como a terra do impossível, onde os sonhos se tornam realidade. - Falou de maneira amistosa o homem de cabelos levemente grisalhos e barba por fazer.

— Dá na mesma, tio Jiraya. - Disse Naruto com descaso, indo em direção a sua nova casa com uma caixa em mãos.

— Espera aí. - Disse Jiraya tomando a caixa das mãos do sobrinho. - Você pode deixar que eu arrumarei nossas coisas, vá procurar alguém para brincar.

— Não, papai e mamãe sempre disseram que é perigoso ficar andando sozinho por aí.

— Aqui não tem problema, estamos dentro de um condomínio. Além do mais, você não iria querer limpar a casa e desempacotar a mudança, iria?

Sem alterar seu olhar de desânimo, Naruto apenas balançou sua cabeça negativamente.

— Então vá procurar um novo amiguinho. Pode deixar tudo comigo. - Disse empurrando o garoto loiro para fora de casa.

Naruto, ainda ressabiado, começou a andar pelo condomínio. Ao contrário de sua antiga vizinhança, agora havia várias árvores ornamentando a paisagem, as ruas eram pacatas, o ar era puro e fresco. Mesmo só tendo vislumbrado seu novo lar por alguns instantes o pequeno já havia notado que tudo era mais espaçoso.

Era admirável o tamanho do local, parecia até outra cidade dentro de Los Angeles. A paisagem era constituída por casas muito grandes, verdadeiros palacetes. Seus modelos arquitetônicos eram heterogêneos, algumas casas possuíam um toque oriental, outras designs futurísticos, havia aquelas que puxavam para o greco-romano, mas a maior parte era feita a moda tradicional americana, com cercas brancas, jardim na parte frontal e dois carros na garagem.

O jovem ficou vagando por alguns minutos, mas não conseguiu encontrar ninguém para brincar. Frustrado, pensou em voltar para sua casa, mas decidiu continuar andando mais um pouco até que encontrou um parque com alguns balanços, um escorregador e alguns outros brinquedos. Ele resolveu se sentar em um dos balanços e ficar ali, assistindo o sol se pôr enquanto pensava sobre os últimos meses.

Seus pais haviam falecido em maio, após sua cidade natal (Oklahoma) ter sido atingida por um grande tornado. Na ocasião, seu pai, Minato, estava voltando para casa após o trabalho e sua mãe, Kushina, estava indo buscá-lo na pré-escola. O desastre natural devastou a cidade inteira, mas, por sorte, a escola possuía um abrigo subterrâneo para dias como aquele.

Após o incidente, Naruto teve que passar alguns dias em um abrigo para órfãos até que o pessoal do juizado de menores conseguisse contatar um parente próximo. Nesse período em que ficou sozinho, o garotinho nada fez além de chorar; não comia, não dormia, apenas chorava a dor da perda de seus pais. Não demorou mais que dois dias até que Jiraya fosse buscar o sobrinho. Quando se encontraram, Naruto o abraçou com força e parou de chorar, foram para um restaurante e em seguida para um hotel descansar para a viagem de volta para Nova York no dia seguinte.

Chegando ao apartamento do tio, o jovem órfão ainda estava triste e receoso, não conhecia muito o irmão mais velho de seu pai. Já havia o visto em algumas ocasiões, mas não sabia se poderia confiar por completo nele. A semana seguinte foi tempo necessário para que ambos se conhecessem melhor.

Naruto agora sabia que seu pai e tio não eram irmãos de sangue, seu pai havia sido adotado pela família de Jiraya, mas este sempre o tratou como igual; descobrira que eles haviam crescido em Los Angeles e que o tio trabalhava como escritor, o que explicava o fato dele nunca precisar acordar cedo e sair às pressas para o trabalho. O renomado escritor, por sua vez, descobriu que a comida favorita do sobrinho era lamém (vulgo miojo), seu desenho favorito era Dragon Ball e seu passatempo predileto era escutar vinis de artistas antigos, hábito adquirido com os pais.

Alguns meses se passaram e Jiraya percebeu que seu querido sobrinho não se adaptara à rotina de Nova York, Naruto sempre estava reclamando do clima, do trânsito e da comida local. Além disso, ele percebeu que o pequeno começara a ter atitudes travessas com relação aos colegas de escola e aos vizinhos, achava que talvez fosse um reflexo à perda dos pais; sempre que possível Naruto pregava alguma peça, nada grave, mas a diretora da escola já havia lhe dado muitas advertências por mau comportamento. Além disso, Jiraya se encontrava preso em seu novo romance, ficara semanas sem conseguir escrever uma palavra se quer, sua nova vida como mentor impossibilitava que ele saísse de noite para fazer “pesquisa de campo”.

Em uma noite de insônia, o escritor, frustrado, viu uma propaganda de casas em um condomínio em Los Angeles. Isso lhe fez relembrar a infância feliz que tivera lá e pensou em se mudar para a cidade onde crescera, pois acreditava que isso seria bom tanto para ele quanto para o sobrinho. Lá seria um lugar agradável para espairecerem as ideias e seguirem adiante com suas vidas. A ideia era boa, mas eles não se mudaram de imediato, foi necessário um tempo até que fosse visto o aluguel de uma casa em L.A, transportadora das mudanças e passagens aéreas.

Naruto interrompeu os devaneios sobre os últimos meses, pois havia percebido que o sol já cedera lugar para a lua e as estrelas, a escuridão se erguera no céu e as lâmpadas das ruas já haviam sido acesas. Ele então começou a caminhar de volta para casa, percorreu alguns quarteirões até que percebeu que estava perdido, tentou manter a calma e continuou a andar em busca de sua casa. Conforme o tempo passava, o ritmo de suas passadas aumentava, sua respiração começava a ficar mais ofegante e um sentimento de medo começava a invadir seus pensamentos. Paulatinamente ele parou de correr e começou a derramar lágrimas enquanto sentava-se no meio fio para recobrar o fôlego. Muitas coisas ruins passavam por sua cabeça nesse momento, mas subitamente tudo se esvaiu quando ele escutou:

Scar tissue that I wished you saw

(Eu queria que você visse a cicatriz)

Sarcastic Mister Know-it-All

(Sarcástico Senhor Sabe-tudo)

Close your eyes and I'll kiss you 'cause

(Feche seus olhos e vou te beijar porque)

With the birds I'll share

(Com os pássaros eu dividirei)

Os pensamentos negativos haviam sido interrompidos por um instante, uma bela combinação de melodia doce e letra melancólica agora lhe invadiam a consciência. A música misteriosa havia o hipnotizado, era algo mágico para ele, era como se sua vida nos últimos meses tivesse se tornado um arranjo musical. A letra era abstrata, ele podia não entender claramente o significado dela, mas se conectava perfeitamente com seus sentimentos.

Soft spoken with a broken jaw

(Falando levemente com a mandíbula quebrada)

Step outside but not to brawl in

(Espere lá fora, mas não para brigar)

Autumn's sweet we call it fall

(Outono é doce, assim o chamamos)

I'll make it to the moon if I have to crawl and

(Eu alcançarei a lua nem que eu vá rastejando)

With the birds I'll share

(Com os pássaros eu dividirei)

This lonely view…

(Esta paisagem solitária...)

Sem perceber, já havia se levantado e ido em direção à fonte da música. À medida que ia andando, a música ia se tornando mais clara e audível.

Mesmo, não estando mais em desespero, o jovem continuou a chorar, mas dessa vez o motivo era a saudade dos pais que ele tanto amava.

With the birds I'll share

(Com os pássaros eu dividirei)

This lonely view

(Esta paisagem solitária)

With the birds I'll share

(Com os pássaros eu dividirei)

This lonely view

(Esta paisagem solitária)

Após mais alguns passos, Naruto encontrou a fonte de sua hipnose. Era um garotinho de cabelos escuros cantando com um violão em mãos, sentado no meio fio, em frente de uma casa que lhe parecia familiar.

— Oi, qual o problema? – Perguntou o pequeno músico que até agora a pouco estava cantando.

Não houve resposta, Naruto permanecera em silêncio e continuara a fitar a casa que estava atrás daquele garoto de olhos tão negros quanto uma jazida de ônix. Para ele, aquela casa a sua frente era algo conhecido. Ele tentava se recordar daquela paisagem, mentalmente tentava clarear a pintura da casa para comparar com a que estava impressa em sua memória.

— Oi! – Disse acenando as mãos. – Você é surdo? O que aconteceu? Por que está chorando? – Perguntou novamente o jovem de cabelos negros.

Novamente Naruto se manteve em silêncio. Mas dessa vez seus olhos azuis não derramavam mais lágrimas. Sua curiosidade a cerca daquela casa finalmente chegara ao fim, ele finalmente lembrara que essa casa foi a imagem que ele encarou enquanto seu tio o encorajava a ir buscar alguém para brincar.

— Putz, será que o gato comeu a língua do garotinho assustado? – Perguntou com ar de zombaria.

Dessa vez o jovem loiro respondeu sem palavras, apenas mostrou-lhe o dedo do meio. Após isso o garoto que estava com o violão em mãos se levantou e partiu para cima, porém, antes que algo pudesse acontecer, uma voz interrompeu.

— Pode parar aí mesmo, Sasuke. Deixe ele em paz! – Disse um homem de cabelos compridos e negros.

— Mas, Itachi, ele que começou. Ele me mandou tomar no cu. – Replicou Sasuke.

— Não quero saber. Peça desculpas e venha jantar!

— Tá bom. Desculpa. – Disse ainda com contragosto.

— Meu nome é Itachi e esse aqui é o Sasuke. – Disse Itachi abaixando-se e ficando na mesma altura que Naruto. - Qual o seu nome?

— Naruto Uzumaki.

— Então Naruto, me desculpe pelo comportamento do meu irmão, ele não é uma pessoa ruim, só está passando por tempos difíceis. Pra provar isso, estou te convidando a vir qualquer dia brincar com ele. Você verá que ele é uma pessoa legal e talvez algum dia vocês se tornem grandes amigos.

Repentinamente uma voz interrompeu o diálogo entre Itachi e Naruto. A voz emanava do outro lado da quadra, parecia estar vindo de um vulto que se movia velozmente pela escuridão.

— Oh meu Deus! Naruto, onde você estava?! Eu fiquei tão preocupado com você que saí correndo pelo condomínio todo a sua procura! Já faz um bom tempo desde a hora em que você saiu! – Disse Jiraya ofegante.

— Oi, tio. Eu fui procurar alguém para brincar, como você tinha me dito. Só que depois eu me perdi e não conseguia mais voltar para casa.

— Ufa, ainda bem que você está são e salvo! Então pelo visto você fez um novo amigo. – Falou Jiraya após ver Sasuke.

— Sim, tio. – Respondeu Naruto pensando que seu tio referia-se a Itachi.

— Ótimo. – Jiraya respondeu ao sobrinho – Muito obrigado por tomar conta do meu sobrinho. – Disse para Sasuke. – Como forma de agradecimento, eu gostaria de convidar você e seu pai a virem comer pizza em nossa casa hoje.

Naruto pensou em dizer para o tio que ele cometera um engano e que a pessoa que havia sido legal com ele fora, na verdade, o mais velho. Porém a surpresa do jovem era tanta, que ele se conteve, ao perceber que a música que ele seguira o trouxera de volta para a sua nova casa.

— Obrigado velhote, mas essa pessoa ao meu lado não é meu pai, é meu irmão. Mesmo assim nós aceitamos sua oferta.

— Sasuke, não seja indelicado ao responder. – Disse Itachi cutucando o irmão. – Obrigado senhor pelo convite, mas...

— Sem, mas! E sem essa formalidade toda, pode me chamar de Jiraya. Vamos, vai ser bom para os garotos se conhecerem melhor, além do mais, nossa casa é ali em frente.

— Ok, nós aceitamos o convite. Estamos muito agradecidos.

— Isso, é assim que se fala! Só não reparem na bagunça, nós acabamos de nos mudar. – Disse Jiraya indo em direção a casa e abrindo a porta.

Enquanto os dois mais velhos iam em direção à porta, os pequenos se entreolhavam com certo desdém. O jantar foi basicamente isso, Itachi e Jiraya conversando amistosamente e os meninos se fuzilando com olhares de ódio. Após jantarem, os adultos foram lavar a louça e as crianças jogar videogame. É fascinante o poder dos jogos virtuais, duas pessoas que até alguns instantes atrás se odiavam agora se encontravam rindo enquanto esmagavam botões.

Na sala, os dois garotos começaram a conversar enquanto jogavam e descobriram que possuíam muito em comum, como por exemplo, o gosto musical, torcerem pelo New York Yankees e terem perdido os pais recentemente. Os dois pareciam ter criado uma amizade instantânea e quem os visse naquele momento nunca imaginaria que algumas horas atrás estavam quase saindo no soco.

Depois de terminar de lavar a louça, Itachi chamou Sasuke para ir embora, pois já estava ficando tarde. Eles se despediram e foram para casa, preparar-se para dormir.

Há muito tempo Sasuke não tivera uma noite tão divertida, assim como não brincava com outra criança ou ainda conseguia dormir sem acordar de madrugada com pesadelos. Desde abril, sua mente ficava sendo bombardeada por lembranças de seus pais, que haviam sido assassinados no Massacre de Columbine.

Na ocasião, Itachi e Sasuke se encontravam sozinhos em casa, isso era algo normal para eles, pois seus pais, Fugaku e Mikoto, estavam sempre viajando em decorrência do trabalho como músicos. Mas dessa vez a expectativa pela volta dos pais era maior do que o habitual, pois logo que voltassem Fugaku iria levar os filhos ao show do Metallica com a sinfônica de São Francisco; Sasuke estava muito ansioso, porque esse seria o primeiro grande concerto de sua vida e seu pai iria participar como regente convidado na música de abertura.

Porém esse dia que era para ser marcado como o melhor dia de sua vida acabou por ser o pior. A notícia da morte dos pais chegou pela televisão, o jornal estava reportando o trágico acontecimento na escola de Columbine, os dois irmãos não conseguiam acreditar no que estava acontecendo, era simplesmente surreal a ideia dos pais terem sido assassinados. Lágrimas e lamentações foram suas únicas reações. Mas por que os pais estavam naquela escola? Acontece que dessa vez o casal de músicos não estava viajando a trabalho, eles estavam indo visitar um velho amigo, professor de Columbine, que estava prestes a se casar e queriam fazer uma surpresa para ele.

Logo depois da morte dos pais, Itachi teve que se tornar o guardião legal de Sasuke; na época eles tinham 17 e 4 anos, respectivamente. Isso só foi possível porque seus pais haviam assinado um documento que tornava Itachi um menor emancipado. Por sorte, os pais haviam deixado uma grande herança, então não era preciso se preocupar com as despesas. No mesmo ano, Itachi terminou o ensino médio e iniciou sua faculdade no Musicians Institute.

Se para o Uchiha mais velho já era difícil passar por essa situação, para o jovem Sasuke estava sendo uma tortura imensa. O garotinho havia se isolado dos amigos da escola, tinha se tornado uma pessoa fria e a única pessoa com quem conversava normalmente era seu irmão. Mas a música serviu como uma terapia imensa, escutar o irmão tocar as mesmas músicas que os pais era reconfortante e tentar aprimorar suas habilidades no piano e no violão o fazia esquecer a perda por um instante.

Mesmo tendo amenizado a dor da perda dos pais, o garotinho ainda tinha pesadelos todas as noites, acordava suado e gritando o nome dos pais. Era como se uma ferida em seu coração ainda estivesse aberta. Porém, naquela noite, após conhecer e ficar amigo daquela outra criança, que passara por uma situação parecida, a ferida parecia ter finalmente começado a cicatrizar.


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Notas finais do capítulo

* Por favor deixe um comentário com sua crítica, sugestão ou elogio. É sério deixe um comentário, não custa nada e é rapidinho.
* Eu criei uma outra fic com o objetivo de postar rascunhos de algumas músicas que talvez eu vá utilizar aqui, se lhe interessar acesse Raw.
Forte abraço a todos e até a próxima.

Ps: estou pensando em criar um casting de como seriam as personagens se eles fossem de verdade, já tenho algumas ideias, mas preciso da ajuda de vocês. Se puderem, por favor, deixe um comentário do tipo "fulaninho seria um excelente Naruto" ou "se for escolher o Sasuke não escolha sicrano" haha.



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