Livin' On A Prayer escrita por Teruo


Capítulo 10
Misunderstood


Notas iniciais do capítulo

Olá, faz tempo que não escrevo porque ando ocupado, mas cá está outro capítulo. Espero que vocês gostem e COMENTEM haha.

Boa leitura!

Nota: o nome do capítulo vem dessa música: https://www.vagalume.com.br/bon-jovi/missunderstood-traducao.html



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27/06/2012

Naruto e Choji saíram às pressas do prédio da escola para que não fossem vistos. A dupla correu até a quadra paralela a do colégio para se certificarem de que estavam fora do alcance de Shikamaru e da professora.

Durante todo o percurso o celular de Choji continuava a tocar, porém o Akimichi não atendera, pois estava ocupado com a fuga. No visor do aparelho um número desconhecido piscava repetidas vezes.

—  Alô, quem é? – Choji perguntou ofegante.

— Porra, melhor isso ser urgente. – Naruto reclamou também ofegante. – Quem é?

— É o pessoal da Telexfree perguntando se eu quero comprar Herbalife para ajudar a Igreja... – Antes mesmo que Choji pudesse terminar de responder, Naruto tomou o celular de sua mão.

— Vá para puta que o pariu com esses esquemas de pirâmide, cambada de vagabundo, pilantra, bandido-safado. – O Uzumaki então desligou o telefone e então o devolveu para seu amigo. – Mas que raiva! Esses desgraçados quase nos fizeram ser pegos!

— Calma cara, para que tanto ódio no coração? – O Akimichi perguntou sarcasticamente enquanto ria.

— Bem na hora que os dois estavam quase se pegando. Não acredito! – O loiro esbravejou enquanto repousava suas mãos sobre o rosto e olhava para o céu.

Os dois músicos conversaram por mais alguns instantes, mas logo se despediram e seguiram cada um para sua respectiva casa, pois ainda precisavam focar nas provas que estavam por vir.

Mais tarde naquela mesma noite, Naruto conseguiu entrar em contato com Shikamaru e lhe pediu ajuda para estudar para sua prova de matemática que seria na sexta-feira. Eles tiveram uma conversa breve. Ela ocorreu normalmente, como se nada de estranho houvesse ocorrido mais cedo; o moreno de rabo-de-cavalo, como já era de se imaginar, estava calmo e respondera sucintamente, enquanto Naruto, por sua vez, apesar de estar se debatendo de vontade de questionar jocosamente sua nova descoberta, achou que seria mais prudente, ao menos por enquanto, não comentar nada.

28/06/2012

Sasuke acabara de se aprontar para o trabalho no buffet e então se dirigira a saída de sua casa. Ao abrir a porta, fora surpreendido ao encontrar Karin parada ali em frente com o indicador indo em direção à campainha.

— Oi, Sasuke. Será que podemos conversar? – Karin perguntou amistosamente, porém de uma maneira comedida, sem exageros ou exaltação, algo que há tempos Sasuke não via.

— Eu já estava de saída Karin, porque meu turno começará logo. – O Uchiha respondeu ressabiado já caminhando em direção à calçada na tentativa de fugir o mais rápido possível da vista da ruiva. – Então, acho que será melhor se você vier conversar depois.

— Por favor, será breve. – Ela pediu solenemente. – Não tomarei mais do que cinco minutos. – Sua fisionomia demonstrava tristeza, mas ao mesmo tempo estava serena como se Karin estivesse resignada; como se ela estivesse deprimida por algo, mas que ela já aceitara como inevitável e, portanto, estava tentando se acostumar com a ideia.

— Está bem. – Ele retribuiu desconcertado ao perceber que talvez fosse algo importante, já que a ruiva estava tão distante do seu comportamento esbaforido usual.

— Acho que terei que me mudar em breve daqui mas gostaria de acertar as coisas entre nós antes de ir embora.

— Ok. – Sasuke respondeu balançando a cabeça de forma a encorajá-la a continuar, ao mesmo tempo em que vibrava internamente, pois sua stalker estaria se mudando de volta para a casa dos pais logo mais, algo que ele não imaginara que ocorreria tão rapidamente.

— Olha, eu sei que o que eu fiz foi errado, mas eu precisava falar com você. Eu realmente precisava. Ao menos entender o porquê você mudou completamente de uma hora para outra; antes, quando eu te conheci anos atrás, você era gentil mesmo tendo esse seu jeito carrancudo, era romântico, mas certamente não era o tipo de cara que ficava com todas, porque segundo o Naruto, desde sempre você teve todas as garotas aos seus pés, mas sempre preferiu se manter quieto na sua, imerso em seus próprios pensamentos. Quando você me perguntou, alguns meses atrás, se eu gostaria de ser sua namorada eu juro que meu coração acelerou como nunca. Eu fiquei tão feliz que não acreditava que aquilo podia ser verdade, porque você, o Sr. Perfeito, queria ser meu namorado; logo eu, essa cabeça-de-fósforo magricela dos dentes tortos e que lembra bastante o Monstro de Frankenstein por causa dos milhares de cicatrizes pelo corpo. – Karin apresentava um singelo sorriso enquanto reavivava com nostalgia esses momentos. – Esse período foi o mais feliz de toda a minha vida. Infelizmente ele durou pouco e foi encerrado de uma maneira dolorosa e repentina. – Ela estava emocionada e seus olhos lentamente soltavam lágrimas amargas. – Você quis terminar tudo de uma hora para outra e depois não queria mais nem conversar comigo, nem ao menos explicar o motivo para essa mudança. Então, naquela noite eu invadi sua casa com a serra elétrica do pessoal das aulas de trabalhos manuais. Sim, uma serra elétrica, mas eu só a usei para abrir a porta dos fundos, eu juro que aquele lance de querer te machucar foi tudo imaginação do Naruto. – A ruiva aumentou o tom de voz brevemente por lembrar-se de como seu primo era uma pessoa extremamente exagerada, contudo sua fisionomia ainda continuava com aquele tom melancólico. – Eu subi as escadas e então me dirigi ao seu quarto, mas você não estava lá. Se me lembro bem, Itachi não estava em casa; acho que ele já havia partido para o Japão. Eu então andei pelos cômodos, um a um, a sua procura, mas você não estava em casa. Então, eu me sentei no sofá da sala de estar enquanto te esperava. – Sua fisionomia fatigada estava pálida e as palavras fraquejavam ao tocar seus lábios.

— Você está bem Karin? – Apesar de não gostar mais de sua ex-namorada, o Uchiha estava preocupado com a ruiva, pois ela apresentava um semblante genuinamente enfermo. – Acho melhor continuarmos outra hora, você precisa descansar um pouco, não acha? Se quiser eu te acompanho até sua casa.

— Estou sim. – Ela em seguida sorriu antes de balbuciar. – Esse é o Sasuke que eu conheci. – Ela respirou pesadamente e então continuou. – Eu fiquei te esperando por um bom tempo, mas quando você finalmente chegou a polícia veio junto. – Karin disse passando levemente os dedos abaixo dos olhos tentando limpar suas lágrimas sem que borrasse sua maquiagem. – Eu descobri então que você estava na casa do meu primo idiota o tempo todo e demorou para voltar depois que escutou o barulho vindo de sua casa, porque você havia chamado a polícia e estava esperando que eles chegassem. – A ruiva estava se esforçando muito para continuar, não somente era algo difícil para o seu psicológico continuar a reavivar aqueles momentos de tristeza, mas também seu físico estava debilitado, por motivos que Sasuke nunca soubera até então.

— Você está bem mesmo? De verdade? – O Uchiha perguntou novamente, pois a cada segundo que se passava parecia que Karin começava a adquirir um tom mais cadavérico. – Você não quer entrar e sentar-se um pouco? Eu te pego um pouco de água ou alguma outra coisa para beber.

— Não se incomode comigo, estou... – Com fraqueza a pequena Uzumaki tentou responder, porém seu corpo a contrariou e antes que pudesse dizer que estava bem, ela desmaiou.

— Ei, Karin! O que você tem?! – Sasuke gritou desesperado enquanto a amparava para que não caísse no chão. – Oi?! – Repetidas vezes ele perguntou com avidez enquanto tentava acordá-la.

Aflito, Sasuke tomou Karin em seus braços e a levou de volta para a casa de Naruto. Ele tocou a campainha diversas vezes enquanto clamava pelo nome do amigo, para que ele viesse lhe ajudar. Porém, ele se lembrara de que o loiro não estaria lá porque começara a trabalhar também. Felizmente, quando Sasuke já estava dando meia volta para levar Karin para sua casa e depois ligar para um hospital, Jiraya abriu a porta. Em poucos instantes, a situação fora explicada e os três se dirigiram ao hospital mais próximo.

***

Paralelamente, do outro lado da cidade, Choji estava na loja de instrumentos musicais enquanto esperava a chegada de Konohamaru, o garoto prepotente que se candidatara à vaga de baterista da banda, pois ele aceitara substituir Naruto para que o loiro pudesse estudar com Shikamaru.

Depois das audições, o Uzumaki mantivera contato com o pequeno aspirante a baterista e trocava corriqueiramente mensagens. Konohamaru se identificara muito com o loiro, pois ele também possuía um toque levemente imperativo, uma personalidade expansiva e o mesmo gosto musical. Dessa forma, o garoto se afeiçoara por Naruto e o tomara como seu mentor, uma vez que via no mais velho uma projeção de seu futuro. Sendo assim, não era de se surpreender de que Konohamaru aceitara prontamente ajudar Naruto quando lhe fora requisitado.

Choji não sabia ao seu certo como seu ajudante seria, pois Naruto só o descrevera como “um anão desgraçado que você vai querer estrangular assim que o conhecer, mas com o passar do tempo e bastante porrada, ele se torna uma pessoa normal... Até mais agradável que a Karin, só que um pouco mais metido que o Sasuke.”.

O Akimichi estava limpando o balcão, quando ele escutou a porta se abrindo e com o som dela, o ambiente fora preenchido também com a voz esganiçada de um garoto.

— Gordo, você roubou meu lugar! Eu exijo um duelo de bateria agora!

Choji ficara imóvel por alguns segundos tentando assimilar o que estava acontecendo. Ele ficou olhando para o jovem diminuto apontando o indicador em sua direção e em seguida voltou a limpar o balcão como se nada houvesse acontecido, pois lembrara do conselho do loiro de como devia interagir com Konohamaru.

— Ei, estou falando com você! – O garoto exclamou assertivamente enquanto se aproximava do balcão. – Por que não me responde?

— Ah, boa tarde para você também. – Choji o cumprimentou cinicamente. – Não percebi que tinha alguém aqui, achei que estava enlouquecendo já que ouvi a porta abrindo, mas não vi ninguém a minha frente. Sinto muito, Pintor de Rodapé, mas por pouco quase não te vi, dada sua tamanha insignificância. – Ele disse sarcasticamente. – Aliás, você quer que eu te cubra de porrada agora ou mais tarde?

Esse comportamento ácido não era algo habitual para Choji que sempre fora um “gigante gentil”, todavia essa abordagem era a melhor aproximação segundo Naruto, pois o jovem Konohamaru tinha um temperamento um pouco difícil de se lidar. Ainda assim, o gorducho não quisera prontamente agir de tal forma, porém se convencera após ouvir o amigo loiro descrevendo como Sasuke amansara o garoto com muito “carinho, compreensão e Cannibal Corpse” e desde então ele se tornara um ser-humano melhor.

— Ah! Esse é dos meus! – Konohamaru exclamou enquanto sorria para o outro baterista e lhe continuava apontando o indicador, porém agora com um ar amistoso. – Prazer, meu nome é Mr. Fodão, mas pode me chamar de Konohamaru. – Ele terminou sorrindo enquanto esticava a mão direita para cumprimentar.

— Prazer, Playmobil. Meu nome é Choji. – Ele disse enquanto cumprimentava o garoto. – Você é realmente mais masoquista do que o Naruto me disse.

— Ui! Me bate, me arranha e me chama de piranha. – Konohamaru cantarolou de forma jocosa.

Em seguida, os dois começaram a rir intensamente da bobagem que o mais novo fizera. Esse foi um belo início de conversa; um quebra gelo que fez com que a prosa rapidamente se estendesse por um bom tempo.

Entre uma anedota e um gracejo, Choji ia explicando como funcionaria a dinâmica da loja e o que exatamente Konohamaru precisaria fazer. Normalmente, tanto o gorducho quanto Naruto atendiam os fregueses e organizavam o estoque, mas como talvez demorasse um tempo para se acostumar com a organização do local, o Akimichi achara melhor que o jovem somente atendesse os fregueses, ou mais acuradamente, os “entretece” até que ele terminasse de atender os outros clientes e assim pudesse atendê-los também.

Como ninguém entrara na loja durante um bom tempo, os dois bateristas resolveram ter o duelo proposto mais cedo por Konohamaru.

O mais novo foi o primeiro a começar. Para seu solo, ele começou com batidas fortes, muita velocidade e com bastante ênfase no trabalho com os pedais. Ele misturava um pouco o estilo de Dave Lombardo (Slayer), com pedais duplos tão rápidos que chegam a parecer uma metralhadora, e Lars Ulrich (Metallica) com combinações simples, mas extremamente pesadas que conseguem cativar as pessoas. Era realmente algo muito enérgico e certamente levaria uma pequena plateia de leigos ao delírio, porém carecia de técnica e certamente desapontaria alguém com um pouco mais de conhecimento musical. Por vezes o jovem tentava acelerar mais do que realmente conseguia e por isso seu ritmo era irregular, além disso ele não conseguia manter uma coerência na dinâmica das batidas, isto é, ele não matinha uma distribuição lógica da intensidade de golpes, por isso algumas baquetadas pareciam bem mais cheias do que outras em momentos inoportunos. De forma geral, ele tinha o espírito do rock e havia progredido desde a audição com Naruto, porém ainda tinha muito o que melhorar.

 – Sua vez. – Konohamaru disse ofegante enquanto entregava as baquetas para Choji.

O Akimichi então tomou as baquetas, ajeitou o banquinho a sua altura e então se posicionou atrás da bateria. Seu jeito de tocar também era agressivo e rápido, porém o gorducho também tinha o controle do tempo e força de suas batidas. Ele tinha um estilo mais puxado para o metal progressivo, tendo como maior referência Mike Portnoy (Dream Theater), de quem ele tentava emular o estilo de ritmos com assinaturas de tempo complexas. Choji tinha uma peculiaridade de se transformar enquanto tocava bateria. Ele era um cara afável, introvertido e bem atrapalhado na vida cotidiana, contudo, sua fisionomia e postura mudavam completamente quando ele sentava atrás da muralha de caixas e pratos. Ele performou brutalmente e a cada golpe que ele desferia Konohamaru se impressionava mais.

— Pronto. – Disse Choji finalizando seu solo. – O que você achou?

— Que do caralho! Você precisa me dar aulas! – Konohamaru exclamou. – Na moral, com essas habilidades monstras que vocês têm é só uma questão de tempo até vocês estourarem.

— Valeu cara, é claro que eu posso te ajudar a estudar. – O Akimichi então se lembrou e fez uma ressalva. – Mas você vai ter que esperar um tempinho, porque a gente tá meio ferrado com o tempo ultimamente. – Ele falou se recordando do que Sasuke havia dito e em seguida entristeceu seu tom. –  Pensando bem, talvez a gente vá acabar com a banda logo-logo.

— Ué? O que aconteceu? Vocês já estão tretando tipo rockstars de verdade? – O jovem perguntou curioso.

— Não, quer dizer, mais ou menos. – Choji respondeu meio hesitante e em seguida perguntou. – O Naruto não te contou o que aconteceu? Que o nosso primeiro show foi uma bosta e agora a gente tem que pagar uma dívida gigantesca?

— Sim. – Ele respondeu com um tom descompromissado. – Mas o Naruto falou que isso, na verdade, parece ser pior do que realmente é, e que, no fim das contas, isso está sendo bom para vocês porque agora vocês estão ensaiando pra porra.

— Ah, Naruto, esse seu otimismo... – Choji suspirou. – Ele só esqueceu de falar que o estresse entre a gente está grande também.

— Ih, relaxa. Ele falou que o Sasuke está putinho, mas que isso passa depois que a TPM dele acabar. – Konohamaru respondeu rindo.

— O Naruto também me disse isso. – Choji respondeu com um sorriso diminuto. – Mas não é o Sasuke que me preocupa. – Ele falou com a voz temerosa. – Eu tenho receio de que o Shika esteja pilhado de estresse e esteja a um fio de chutar tudo pro alto. Ele anda mais sério e calado do que o normal.

— Mas o cabeludo não é sempre assim não? Tipo, ele não tem sempre aquela cara de quem acabou de cheira um peido? – O garoto questionou enquanto imitava de maneira hiperbólica o tom blasé de Shikamaru.

— Sim, ele de certa forma tem. – O mais velho respondeu tentando não rir. – Mas agora ele está ficando mais sério ainda, mais bravo, mais irritado com tudo e com todos.

— Tipo, então a cara de cu, agora parece ser uma cara de um cu que acabou de chupar um limão bem azedo? – Konohamaru questionou franzindo fortemente o cenho enquanto forçava um bico bem pontudo com seus lábios. Ele estava todo descontraído, mas ao notar que o outro baterista não esboçara um riso, ele então conteve a zombaria e perguntou de maneira sóbria. – Por que você está tão preocupado? Tenha um pouco de calma, ele só deve estar estressado, mas certamente ainda é e ainda será o seu bom e velho amigo cabeludo.

— Aí que tá. Ele nem sempre foi assim. Quero dizer, ele sempre foi muito reservado e sério, mas antes ele era bem pior.

— Como assim?

— Para falar a verdade, a gente se conhece desde sempre, mas foi a uns três anos atrás que eu posso dizer que nos tornamos amigos de verdade. Antes ele era um cara extremamente frio e arrogante, preferia se isolar de todos porque achava tudo a sua volta muito fútil e trivial. Mas, alguma coisa aconteceu que ele mudou. Daí um belo dia, do nada, ele me perguntou se eu tocava bateria e se podíamos tocar juntos alguma hora. Isso, para mim foi uma surpresa e tanto, porque ele estava falando com outra pessoa sem se contorcer de nojo; sua voz parecia mais alegre e seu espírito mais leve. – Choji parou momentaneamente antes de concluir com um tom melancólico. – Só espero que ele não volte a ser o babaca que era, porque eu vou perder um grande amigo.

Em seguida, criou-se um vácuo na conversa. Nenhum dos dois sabia como continuar o diálogo. O clima ficara tenso por alguns segundos que na cabeça dos dois duraram uma eternidade. Felizmente, para a sorte deles, a porta da loja se abriu e com ela vieram clientes que os fizeram deixar de lado aquele assunto.

***

          Naruto se dirigira a escola de Choji para que Shikamaru o ajudasse. Ao chegar a instituição, o loiro avistou seu amigo fumando um cigarro na frente do estacionamento.

— E aí cabeludo. – Naruto saudou enquanto estendia sua mão para cumprimentar o amigo. – Você não deveria estar dando aula agora? – Perguntou curioso.

— As aulas de reforço já acabaram faz uns quinze minutos. – Ele respondeu baforando fumaça. – Agora estou no meu intervalo como você pode imaginar. – Shikamaru falou erguendo seu cigarro. – Depois eu tenho que ficar aqui até umas sete e meia para dar plantão de dúvidas, mas acredito que hoje não haverá ninguém, porque as provas de exatas já passaram. – Terminou enquanto apagava sua bituca de cigarro e a jogava no lixo. – Vamos indo? – O moreno perguntou e logo em seguida começou a caminhar para dentro da escola.

— Ah entendi. – Respondeu Naruto seguindo Shikamaru. – Sua escola é bem grande, ela é particular? – Ele perguntou enquanto olhava ao seu redor.

— Sim. – Nara respondeu sucintamente ainda caminhando em direção a sua sala. – Você nunca tinha vindo aqui com o Choji? – Ele perguntou casualmente, mas para Naruto o questionamento parecia acusatório como se o cabeludo já soubesse a resposta.

— Não. – O loiro respondeu desconcertado e se fez de dissimulado. – Tem certeza que vai dar para você me ajudar? É que além da matemática já ser uma matéria difícil para porra, eu sou meio burro também. – Ele perguntou entre risos tentando mudar o assunto.

— Tenho sim. – Shikamaru abriu a porta da sala e ficou ao lado. – A matemática não é tão complicada assim depois que você entende seus rudimentos. Por favor entre. – O moreno falou enquanto apontava um dos braços para dentro da sala convidando Naruto a entrar primeiro.

— É que meu atual professor é meio cuzão. Eu tenho certeza que ele deve gozar na calça toda vez que ele consegue deixar mais da metade da sala presa nas aulas de férias, porque segundo ele “não há nada mais afrodisíaco do que o cheiro do fracasso de vocês pela manhã, seus idiotas! ”. – Naruto engrossou drasticamente a voz para dar ares dramáticos a sua imitação e em seguida suspirou. – Eu odeio esse cara.

— É o Mizuki que está te dando aula? – O Nara perguntou enquanto colocava uma outra cadeira em frente a uma das mesas e em seguida puxou um estojo e algumas folhas em branco.

— Ele mesmo! – O Uzumaki exclamou com fervor estapeando a mesa e em seguida tomando a outra cadeira de tal forma que ele ficava de frente para o amigo cabeludo. – Como você sabia que era ele?

— Isso é fácil. Não há muitos nomes que me venham a mente depois de escutar “matemática” e “prepotência”. Felizmente, para sua sorte, esse homem infeliz não é tão perspicaz quanto ele pensa que é. Então relaxe. Caso eu não consiga te ensinar, você terá que decorar a solução de umas dez questões, porque ele é demasiadamente presunçoso e por isso sempre repete as mesmas provas, já que segundo ele “minhas provas são perfeitas, logo não há o quê ser mudado”. – Shikamaru falou pegando o material para iniciar as explicações. – Só preciso saber qual é a matéria que ele está te passando agora.

— Que excelente ouvir isso! – O loiro vibrou. – Podemos pular a aula e você já pode passar as soluções. Aqui o esquema sempre foi “macaco vê, macaco faz”. – Ele inacreditavelmente estava orgulhoso de sua ignorância. – Kurt Cobain foi um gênio mesmo por cunhar essa expressão, olha quanta sabedoria num verso só. – Ele disse todo sorridente.

— Primeiro, essa expressão já existia aqui nos EUA desde o começo da década de 1920 e se formos procurar sua origem cairemos no folclore de Mali, país no oeste do continente africano. – Shikamaru rebateu com seu costumeiro tom monótono. – Segundo, não vou somente te passar as respostas sem antes tentar te ensinar, pois como professor isso seria contra minha ética. E por último, eu tive que alterar meu cronograma e separar uma parte dele para você, por gentileza tenha um pouco de consideração. – Ele falou enquanto roçava os dedos pela sua barba por fazer. – Qual é matéria que você está com dificuldade?

— Tudo bem. – O Uzumaki respondeu frustrado. – Então, minha pedra no sapato é matemática, essa é a matéria. – Ele respondeu assertivamente.

— É, a tarde será longa. – Shikamaru resmungou massageando sua fronte. – Eu sei que é a matemática, mas qual ramo dela você está estudando no momento?

— Ah, sei lá o nome, é um negócio com números lá... – Naruto ranhetou como uma criança mimada, mas ao ver o olhar de desaprovação do moreno com rabo-de-cavalo ele mudou o tom para algo mais sóbrio e então explicou apropriadamente. – que envolvem infinito e outras coisas que eu não lembro o nome.

— Séries, provavelmente progressões geométricas. – O cabeludo comentou.

— Não, eu acho que o nome do negócio era PG ou PA. – Naruto disse tirando da mochila o seu caderno e estojo.

— Naruto, isso foi sacanagem? – Shikamaru perguntou um pouco irritado, pois acreditava que o amigo o estava zombando, porém desfez-se do tom ao perceber a cara de espanto que o mirava, porque genuinamente não sabia o que havia dito. – Perdoe minha rudez. Séries envolvem o estudo de sequências que seguem alguma regra específica, sendo PA e PG dois exemplos disso que significam “progressão aritmética” e “progressão geométrica”, respectivamente. Posso ver seu caderno, por favor, para ver quais serão os tópicos?

— Que da hora, não sabia o que isso significava, porque no primeiro dia de aula o professor chegou metendo o loco e dizendo “hoje vamos estudar PA e PG de um jeito que vocês nunca viram igual, as lágrimas já podem começar! ”. – Naruto imitou o professor fazendo um sotaque alemão e colocou o dedo embaixo do nariz para imitar o bigode de Hitler depois de entregar o caderno ao amigo cabeludo.

— Nossa, parece que o Mizuki piorou depois que ele foi expulso daqui. – Shikamaru comentou folheando as páginas do caderno. – Você anotou tudo o que ele passou? Tem alguma lista de exercícios dessas matérias?

— O filho da puta foi expulso? – Naruto perguntou surpreso e com um olhar sádico. – O Choji me disse que esse cara deu aula aqui, mas não me disse essa parte. Conte-me mais sobre isso. – O loiro pediu enquanto repousava sua cabeça em cima do punho do braço que estava apoiado ortogonalmente ao plano da mesa.

— Ele foi desonesto e tentou me fazer perder a bolsa de estudos, contudo aquele homem vil falhou miseravelmente. – Nara respondeu brevemente enquanto ainda inspecionava o caderno. – Foco. Você anotou tudo o que ele passou? E tem alguma lista? – Interrogou levantando a cabeça e apontando o dedo para o caderno.

— Tudo o que ele passou está aí, juro que copiei tudo! Tem essas listas aqui. – Naruto respondeu enquanto tirava algumas folhas amassadas de dentro da mochila. – A primeira eu fiz sem problemas, mas a segunda e terceira eu não faço ideia de como começar! – O Uzumaki esbravejou de raiva entregando as folhas.

Após inspecionar rapidamente as folhas de exercícios Shikamaru balançou negativamente a cabeça exteriorizando todo seu descontentamento e indignação com a péssima índole daquele professor de matemática.

— Não me admiro que você não consiga terminar os exercícios. Aquela escória humana além de não passar toda a teoria necessária para resolução desses exercícios está cobrando assuntos que não pertencem ao ensino médio. Aliás, a matéria de PA e PG só são contempladas na primeira lista, isso quer dizer que você já sabe o conteúdo que normalmente os professores cobram. Como você e o Sasuke estavam conseguindo acompanhar essa matéria?

— Filho da puta! Eu sabia que esse desgraçado era muito cuzão, só não sabia que era tanto assim! O emo tem um outro professor de matemática, infelizmente só eu que me fodi e não estava acompanhando a matéria! – Naruto cuspiu seu ultraje. – Queria que meu tio estivesse aqui para ouvir isso! Eu sempre lhe disse que a culpa das minhas notas ruins era dos professores e não minha. Cambada de filhos da puta que só ensinam coisas inúteis. – Ele expressou seu descontentamento.

— Calma lá! – Shikamaru o rebateu. – Eu não posso dizer nada sobre os outros professores, não coloque palavras na minha boca. Só estou dizendo que o Mizuki é um péssimo professor. – Ele então inspecionou novamente as listas e depois perguntou. – Você realmente não sentiu dificuldade alguma para fazer a primeira lista?

— Não.... Quero dizer, um pouco. Na verdade, eu demorei um tempinho. Mas foda-se! – Naruto liberou raivosamente sua frustração. – Cara, como eu odeio a escola! Que perda de tempo do caralho! Um bando de convencidos do caralho ficam o dia todo nos ensinando merdas que nunca usaremos em nossas vidas. Sempre da maneira mais... Porra, esqueci a palavra exata para expressar aquilo. Mas é sempre da forma mais desagradável possível, como se fôssemos imbecis, grandes pilhas de merda por não conseguir entender o que para eles é óbvio; como se eles fossem deuses do conhecimento olhando com desdém para nós meros mortais! – Naruto terminou esbaforido.

— Condescendente. – Shikamaru completou a lacuna do discurso que o loiro não conseguira. – Eu acredito que eu entendi qual é a sua objeção aos professores e a escola. – Ele disse enquanto repousava as folhas sobre a mesa. – Veja, eu entendo que você tenha dificuldades em aprender essas matérias, afinal de contas, não sei se você já refletiu sobre isso, mas, nós somos obrigados a decorar, frise essa palavra, decorar, mais de dois mil anos de conhecimento que o mundo inteiro demorou para acumular. – Nara então suspirou, pois o que ele estava prestes a dizer era algo que lhe era extremamente contraproducente e ao mesmo tempo intrínseco ao status quo. – Além disso, os professores atuais não são os mais preparados para realmente ensinarem, pois, a maioria estão habituados a lhe ajudar a decorar um monte de informações ao invés de lhe incentivar a buscar conhecimento. Na minha humilde opinião, o papel do professor não é te ajudar a memorizar informações, mas sim te guiar, te mostrar a utilidade prática e te instigar a buscar mais conhecimento.

— Não fazia ideia que você odiava tanto quanto eu o nosso sistema educacional. – Naruto comentou surpreso.

— Tenho minhas desavenças com o nosso modelo, já que para mim é absurdo alguém sair da escola sem saber o mínimo sobre política e ao mesmo tempo ser obrigado a entender física moderna para os exames de admissão. Quero dizer, não que eu não veja como necessário esse tipo de conhecimento também, contudo, me incomodo com a negligência de outros assuntos tão importantes ou mais para a formação de um cidadão pleno. – Shikamaru pausara brevemente com um olhar pensativo antes de continuar. – Ao menos, nosso sistema não é de todo mal, já que temos também eletivas que nos permitem ter um contato com alguma determinada profissão ou então possuem caráter técnico-profissionalizante. Enfim, eu tenho minhas críticas a esse modelo que vem desde o Iluminismo, acho que já estamos em uma fase do desenvolvimento humano que podemos optar por outros tipos mais efetivos de educação. Todavia, reconheço sua importância e eficiência, dado o nosso crescimento exponencial do conhecimento depois da adoção dessa metodologia. – O moreno de rabo-de-cavalo então se espreguiçou e em seguida bocejou. – Me desculpe pela digressão, vamos voltar para a matéria.

— Calma lá! A gente pode continuar essa discussão mais um pouco? – O Uzumaki perguntou com ar curioso. – Entendi seus pontos, mas continuo achando que aprendemos um monte de coisas inúteis. Por exemplo, pra que eu vou usar química na minha vida?

— Eu te respondo isso antes de continuarmos, mas a gente pode continuar essa conversa outra hora? É que temos muita matéria e um tempo restrito. – Shikamaru perguntou enquanto rodopiava sua lapiseira.

— Tudo bem, pode ser.

— Então, somos expostos a diversas matérias para termos uma ideia do que possuímos mais afinidade para então seguirmos carreira nessa área. Entretanto, eu acredito que todas as matérias possuem alguma função em sua vida cotidiana, mas que muitas vezes os professores não dão ênfase ou então os alunos não prestam atenção. A química que você citou, por exemplo, te ensina que a junção de um ácido com uma base resulta sal e água, correto? – Shikamaru perguntou e Naruto, mesmo com uma cara de quem não fazia a menor ideia do que estava sendo dito, balançou a cabeça positivamente. – Partindo disso, você pode preparar um molho de tomate mais agradável adicionando bicarbonato de sódio para neutralizar a acidez do tomate ou então remover o cheiro de peixe podre de suas mãos, quando você for pescar, banhando-as com vinagre. Além disso, você pode tentar direcionar o seu estudo para algo que você goste. Suponhamos que você estudou a Guerra Fria hoje. Sabe o que seria possível, fazer com esse conhecimento? – O Nara novamente indagou, porém, seu amigo não sabia lhe responder e por isso deu de ombros. – Você poderia escrever uma música do tipo 2 Minutes to Midnight; aliás, o Iron Maiden é um exemplo de banda que faz muitas menções à história em suas letras.

— Ah, tá bom. Talvez essas matérias não sejam tão inúteis assim. – Naruto respondeu ressabiado. – Só quero ver você conseguir me convencer de que matemática não é coisa de Satanás.

Após ouvir isso, Shikamaru decidiu que seria melhor repassar toda a teoria da matéria convencional e estruturar o básico do estudo das progressões matemáticas. Ele explicou tanto a parte prática de como se resolver exercícios, como também o contexto histórico em que elas surgiram. Ademais, demonstrou todas as fórmulas que envolviam aquelas matérias, pois gostaria que o Uzuamki as entendesse por completo e poupasse mais espaço da decoreba para os tópicos que somente o lunático daquele professor pediria em uma prova de ensino médio.

Dessa forma, Naruto se focou mais, pois a abordagem de estudo o cativara. O loiro achara pitoresco o fato da soma da Progressão Aritmética ter sido formulada por Johann Carl Friedrich Gauss aos dez anos de idade e se encantara pela simplicidade e elegância que levara o jovem matemático chegar naquele resultado. Além disso, ele se identificou bastante com o filósofo grego Zenão e seu paradoxo envolvendo Aquiles e uma tartaruga, pois até então ele não compreendia como a soma de algo infinito poderia gerar algo finito, mas graças a ajuda de Shikamaru ele começara a ter um melhor entendimento de somas infinitas de Progressões Geométricas.

Feito isso, o jovem tutor optou por algo que ele pessoalmente não achava correto, porém estava sem tempo, por isso ao invés de explicar toda a teoria e história por trás dos outros modelos de exercícios ele ensinou uma forma mecânica de como resolvê-los; uma receita passo a passo para cada um deles.

E assim Shikamaru estava para encerrar a aula particular que durara algumas boas horas. Mas ainda faltava alguns detalhes.

— Beleza, terminamos de estudar relações lineares de recorrência não homogênea e como transformá-las em homogêneas para facilitar a resolução. – Disse Shikamaru enquanto se espreguiçava. – Acho que já temos conteúdo para toda a prova. Vamos revisar. – Ele falou e em seguida começou a enumerar os conteúdos, levantando um dedo após dizer cada um. – Uma questão envolvendo somente PA, uma questão envolvendo soma infinita de PG, uma que misture PA e PG. Até aqui tudo bem?

— Sem problemas, já estou foda nisso. – Naruto se vangloriou.

— Uma de PAG. Lembra como faz? – Shikamaru perguntou coçando a cabeça.

— É aquela em que a sequência da PA e PG ocorrem ao mesmo tempo?

— Sim, mas você lembra como resolve?

— Eu faço igual na demonstração da soma da PG e depois deixo o último termo separado para somar depois que efetuar a soma da outra parte que ficou igual a um PG normal. – O Uzumaki respondeu animadamente. – Puta que pariu, você é um professor muito foda! Até eu que sou um completo imbecil estou sabendo resolver esses exercícios do demônio! Muito obrigado! – Ele exclamou e em seguida questionou intrigado. – Por que você não é o professor de matemática daqui?

— Obrigado pelo elogio. Fico feliz que você tenha aprendido. – Shikamaru respondeu um pouco mais animado do que o seu habitual, mas ainda assim fora sereno. – Eu não posso dar aulas como um professor regular, porque não tenho licenciatura, todavia posso trabalhar como tutor, já que para isso eu só preciso ter o conhecimento da matéria.

— Entendi agora, mas por que você já sabe dessas coisas? – Naruto continuou a perguntar. – Você não estudava direito?

— É porque desde pequeno eu gostei de estudar coisas aleatórias, tendo uma preferência por exatas. – Ele respondeu olhando para o relógio que já marcava dezenove horas.

— Ah, então foi por isso que você largou direito e voltou para casa? – O loiro perguntou, pois Choji o havia contado que Shikamaru largara Yale e por isso estava tendo atritos com seu pai.

— Não, eu terminei o curso. – O Nara respondeu surpreso e em seguida perguntou curioso. – Quem disse isso?

— O Choji comentou comigo que você não tinha se graduado e por causa disso você estava em pé de guerra com seu pai, por isso que não queria envolve-lo na nossa treta do bar.

— Acho que deve ter tido algum ruído de comunicação entre meu pai e Choji, porque eu nunca comentei nada sobre a faculdade com ele. – Shikamaru respondeu enquanto continuava a encarar o relógio. – Vamos terminar de revisar? Eu tenho que sair daqui a pouco.

— Ué, mas você e o Choji não são tipo melhores amigos? – Naruto indagou, mas logo percebeu que o moreno olhava fixamente para o relógio com um olhar um pouco preocupado. – Tudo bem, deixa para lá, depois eu falo com o Choji.

Os dois continuaram a revisar a matéria por mais um tempo. Ao terminarem, eles saíram da biblioteca, se despediram em frente à escola e então cada um seguiu um lado diferente. Mas antes de ir, Shikamaru deixou uma folha com uma anotação um pouco intrigante:

“Me desculpe por não ter comentado este problema com você, mas estávamos sem tempo e a chance de cair é praticamente zero. Porém, acredito que vale a pena te mostrá-lo já que foi a última questão da prova que o Mizuki havia preparado para mim. Não se estresse com o método utilizado para achar esse resultado, apenas decore-o. Caso queira, posso explica-lo para você outra hora.

Q: Determine o valor de S, em que  S = 1+2+3+4+5+...

R: Em um contexto geral essa soma tenderia ao infinito, contudo em um contexto específico, como por exemplo utilizamos a função Zeta de Riemann ou então a soma de Ramanujan, obtemos que S=-1/12  ”

***

          Já de noite, Shikamaru estava sentado no sofá somente com as luzes do abajur acesas, escutando e cantarolando com uma voz suave My Way de Frank Sinatra enquanto ninava uma criaturinha diminuta que estava chorando até a pouco tempo atrás.

          Apesar de não possuir prática com outras pessoas e muito menos com pessoinhas tão novas, o moreno de rabo-de-cavalo estava fazendo o seu melhor. Mesmo atrapalhado, ele segurava com ternura aquela pequena menininha que não tinha mais de dois anos.

          – Calma Mimi, não chore, eu estou aqui com você. Vai ficar tudo bem. Eu já te dei remedinho, agora é só questão de tempo até sua febre abaixar. – Ele sussurrou carinhosamente enquanto a balançava gentilmente em seu colo. – Mamãe já está chegando.

          E assim ele continuou por mais alguns minutos até que a neném parasse de chorar e voltasse a dormir.

Não muito tempo depois, a porta do apartamento se abriu. Kurenai chegara do mercado e trouxera algumas sacolas de compras.

— Oi. – Ela sussurrou para não acordar a criança. – Ela te deu muito trabalho?

— Imagina, a Mirai é um doce de pessoa. – Ele respondeu amistosamente. – Ela teve uma febrinha, mas tomou o remédio e já está com a temperatura de volta ao normal. Ah, ela fez cocô uma vez, mas estava normal e ela não vomitou, então acho que a febre é só uma gripe mesmo e não uma virose. – Shikamaru informou.

— De novo, me desculpe por ficar te pedindo esses favores, mas eu não sabia a quem mais recorrer. – Kurenai agradeceu enquanto ia em direção a cozinha tentando evitar ao máximo fazer barulhos. – A bela professora suspirou e então elogiou. – Nossa, você tem um dom com crianças, é inacreditável. Qual o seu segredo para fazê-la ficar boazinha?

— Obrigado, mas discordo. Acho que sou péssimo com crianças. – Ele respondeu um pouco desconcertado. – Para a fazer parar de chorar é fácil, basta colocar uma das músicas favoritas do pai que ela fica feliz. – Ele respondeu sorridente enquanto pegava sua mochila e vestia seu casaco. – Bom, acho que vou indo, já que tenho algumas coisas para terminar ainda hoje. Tchau para vocês, se precisarem de algo me liguem. De verdade, qualquer problema, pode me ligar, principalmente se você se sentir deprimida novamente ou se acontecer algo inesperado com qualquer uma de vocês duas. Até amanhã. – Ele se despediu e em seguida se inclinou para dar um beijo de boa noite na fronte da pequena Mirai.

— E eu não ganho um também? – Kurenai perguntou com um sorriso meigo. Quem a visse naquele momento não imaginaria que a jovem professora estava depressiva nos últimos dias.

Shikamaru a olhou e sorriu de volta antes de sair do apartamento. Ele estava exausto pelo seu longo dia, mas ao mesmo tempo estava sereno ao ver que Kurenai não tivera crises emocionais naquele dia.

***

          Sasuke estava sentado de cabeça baixa na sala de espera do hospital. Ele estava bem abatido com tudo o que acontecera e pelas informações que Jiraya lhe contara a caminho de lá.

          Um misto de culpa e arrependimento martelavam a cabeça do Uchiha. Ele não estava acreditando no que estava acontecendo, de certa maneira era inimaginável, mas ao mesmo tempo óbvio o que Karin possuía. Como ele pudera deixar isso escapar de sua percepção? O pior, era o amargor de sua escolha. Ele finalmente ligara os pontos e conseguia ver o todo. Entendia o porquê a garota era do jeito que era.

          Ele rezava para todas as entidades sobrenaturais que ele já ouvira falar para que ela ficasse bem. Que ao menos ela resistisse até ele se desculpar pelas suas ações.

          – Tome, vai te acalmar um pouco. – Disse Jiraya empurrando uma garrafinha de água na direção de Sasuke.

          – Obrigado. – O Uchiha agradeceu levantando a cabeça e pegando para si a água. – Como ela está? – Ele perguntou preocupado.

          – Ela está melhor por agora, o médico disse que ela conseguiu ser estabilizada, mas será necessário operar em breve. – O escritor respondeu com pesar.

          – Droga, eu estraguei tudo. – Sasuke murmurou com os dentes serrados de raiva. – Estava tudo na minha frente, mas eu não consegui ver. As cicatrizes, o jeito inicialmente introvertido e posteriormente o surgimento da inconsequência de quem não tem mais muito tempo. – Ele se lamentou.

          – Mas acho que é por isso mesmo que ela gosta tanto te você. – Jiraya comentou enquanto se sentava ao lado de Sasuke. – Justamente por você a tratar tão despreocupadamente, como se nada demais estivesse acontecendo.

          – Eu sou muito tapado! – O Uchiha se exaltou enquanto se autoflagelava com um tapa na testa. – Eu já imaginava que as cicatrizes eram de alguma coisa séria que aconteceu no passado, mas acreditava que estava tudo bem agora, já que ela sempre estava. – Ele hesitou por um momento, pois percebeu que o que estava prestes a dizer era rude, porém ele prosseguiu, porque isso definiria perfeitamente sua ideia. – Irritante. Irritantemente alegre.

          – Mas ela nem sempre foi tão alegre assim, você lembra de quando vocês se conheceram? – Jiraya perguntou nostálgico.

          – Faz tanto tempo; acho que quase tanto quanto eu conheço o Naruto. – Sasuke respondeu e forçosamente tentava se recordar. – Se não me engano, ela e os pais foram visitar a sua casa, mais ou menos um ano depois de vocês terem vindo para Los Angeles. – O moreno massageava o vão entre os olhos enquanto tentava se lembrar. – Acho que eu Naruto estávamos apostando corrida quando ela chegou com os pais. Lembro que ela estava tímida e por isso não quis participar.

          – Na verdade, não foi bem esse o motivo pelo qual ela não brincou com vocês. – O homem grisalhado corrigiu de forma serena. – Na verdade a Karin não podia fazer esforço físico, porque ela acabara de operar o coração e a ferida não havia fechado corretamente. – Jiraya coçou a testa e então constatou. – Aquela jovenzinha sempre teve receio do que outras pessoas pudessem pensar sobre ela, por causa disso ela implorou para que sua mãe não contasse a mim e nem a vocês sobre sua condição de saúde. – Ele disse e em seguida esboçou um minúsculo sorriso. – E de fato, eu guardei esse segredo durante um bom tempo. Eu cheguei a pensar que Naruto talvez fosse inevitavelmente me questionar o porquê de sua outra tia não ter ido buscar no orfanato, já que, venhamos e convenhamos, eu não sou um modelo exemplar para cuidar de uma criança e mesmo assim fui eu o encarregado.

          – Realmente, isso é estranho. Eu nunca pensei sobre isso antes, mas por que foi você quem ficou com o Naruto? – O Uchiha perguntou curioso. – Nada contra o senhor, mas você mesmo disse que não era a pessoa mais indicada para tomar conta de uma criança.

          – Sem problemas. – Jiraya o respondeu calmamente e então continuou. – É porque a família da Karin estava na Rússia durante aquele período, porque ela iria iniciar um tratamento experimental com um médico amigo da família para tentar tratar o seu problema de saúde com um método menos invasivo. – Ele suspirou e prosseguiu aborrecido. – Infelizmente, o tratamento alternativo não deu certo e ela teve que fazer uma cirurgia alguns meses depois.

          – Mas depois da cirurgia ela está bem, não é? – Sasuke perguntou esperançoso.

          – Sim, ela pode tem uma vida relativamente normal. Tendo, é claro, que fazer check-ups periódicos e regrar a sua vida, mas isso é o de menos. – O mais velho então pausara e cerrara seu punho pensando como o destino podia ser ingrato com as pessoas. – Porém, a pouco tempo ela me disse que seu coração começou a fraquejar novamente e que talvez precisasse de um transplante, mas havia uma fila de espera. Eu fiquei desolado ao escutar isso. Pobre garota. – Ele balbuciou pesadamente. – Quando ela foi me buscar na delegacia, ela me pediu encarecidamente que pudesse morar conosco por um período, porque queria fazer as pazes com você. Ela me contou que já havia recebido a autorização dos pais, mesmo eles estando um pouco desgostosos com a ideia dela morar sobre o mesmo teto que este abestado que vos fala. – O homem de cabelos grisalhos levantou a mão quando se referia a si próprio. – Eu fiquei tão tocado com seu pedido que eu o aceitei assim que ela o propôs.

— Droga! Eu caguei bonito no pau. – Sasuke lamuriou levantando-se. – Ela só queria falar comigo. – Ele repetia incessantemente enquanto passava a mão pelos cabelos e caminhava de um lado para o outro. – Eu devia ter perguntado o que estava pegando quando ela começou a mudar e agir daquele jeito mais exagerado ao invés de ter terminado. – Ele balançava sua cabeça em negação, pois estava decepcionado consigo mesmo. – Merda! Eu não sei o que eu faço agora.

— Sasuke, eu sei que é você está assustado. É um momento difícil, eu entendo. Consigo imaginar que você não saiba por onde começar, mas por favor mantenha a calma. Eu mesmo já surtei que nem você em situações complicadas ao longo de minha vida; quando os pais de Naruto morreram, por exemplo, eu não sabia se chorava pela perda do meu irmãozinho ou então de desespero porque eu tinha que tomar conta de uma criança. – Jiraya então se levantou e apoiou a mão direita no ombro de Sasuke que agora parara de ziguezaguear. – No entanto, eu me lembrei do que meu pai me costumava dizer quando eu era jovem, “filho, ao longo da vida todos nós iremos enfrentar problemas horríveis. Alguns carregarão fardos mais pesados do que os outros. Inevitavelmente erraremos enquanto tentamos os superar, mas isso faz parte da construção de nossa fibra moral; nossas ações perante essas situações é que constroem nosso caráter. Sendo assim, haja com temperança em situações difíceis, pois são elas que lhe definem enquanto ser humano. ”, daí eu respirei fundo, me recompus e fiz o que achava que era o certo. – O escritor silenciara-se brevemente e então encarou o Uchiha com avidez. – Tenha calma, pondere as informações ao seu redor e tome a decisão que você achar correta.

Essas palavras ecoaram tão profundamente na mente de Sasuke. Seu consciente, subconsciente e inconsciente estavam em fase. Todas as partes de sua mente já estavam determinadas a tomarem a mesma decisão.

Sem nem refletir, Sasuke saiu correndo pelos corredores do hospital em busca do quarto de Karin. As pessoas a sua volta lhe repreendiam e o tentavam fazer parar, mas ele continuou à procura. Mesmo que o horário de visitação tivesse acabado e que fosse terminantemente proibido tal comportamento imprudente, o Uchiha não se importava.

Após correr alguns corredores e desviar de alguns enfermeiros e seguranças do hospital, o moreno chegara a frente do quarto onde Karin estava internada.

— Me perdoa. Será que a gente pode conversar agora? – Ele perguntou esbaforido, mas não teve respostas pois a ruiva estava inconsciente.


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Notas finais do capítulo

- Para vocês conseguirem ter uma ideia de como Konohamaru e Choji tocaram:
*Dave Lombardo: https://www.youtube.com/watch?v=GWaI0OEi8wY
* Lars Ulrich: https://www.youtube.com/watch?v=c571hgE91Ik
* Mike Portnoy: https://www.youtube.com/watch?v=PfydR1CQ76k
— Música sobre a Guerra Fria a qual Shikamaru fez menção:
* https://www.letras.mus.br/iron-maiden/19287/traducao.html
* https://pt.wikipedia.org/wiki/2_Minutes_to_Midnight
— Música que Shikamaru estava escutando:
https://www.vagalume.com.br/frank-sinatra/my-way.html

Bom, espero que vocês tenham gostado. Por favor, COMENTEM, isso me incentiva a continuar escrevendo e com mais frequência também. Abraços e até o próximo capítulo.



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