Quase Perfeito escrita por Rodrigo cT


Capítulo 1
Capítulo 1 - Um sujeito estranho


Notas iniciais do capítulo

Resolvi ajeitar alguns detalhes nessa minha antiga fic, espero continuar agrando.



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- Você é a minha destruição, nunca vira coisa tão ameaçadora e sedutora ao mesmo tempo. – dizia o belo anjo de cabelos dourados

- E você é a única coisa me importa não me deixe – o respondia, a mulher de rosto queimado, com certa ternura em sua voz segurando-o pelo braço.

- Impossível que esse pecado seja impune, mas não posso deixar você. – a respondeu com tristeza.

- Sofrimento maior seria se me deixasse. Já senti o fogo do inferno, mas não suportaria viver sem você, não mais. – Dizia enquanto estendia os lábios para alcançá-lo.

A manhã ensolarada de fevereiro me desperta do meu sono, é dia de carnaval e, para a minha infeliz coincidência, meu aniversário de vinte anos, odeio essa data. A única coisa que me agrada é o fato de não precisar trabalhar e por conta disso, acordo vagarosamente sem arrumar direito minha cama de lençóis desgastados, coisa que já se tornou corriqueira desde que sai do orfanato. A vida no orfanato era difícil, não conseguia formar amizades. Parecia que cada pessoa naquele lugar me desprezava, até os padres e freiras pareciam ter uma grande antipatia comigo, nunca entendia bem isso. Tenho piromania, que se trata de um distúrbio mental no qual o indivíduo tem um fascínio pelo fogo, eu não vejo dessa forma, encaro mais como se fosse uma atração, porém, graças a esse meu “déficit” causava alguns corriqueiros incêndios por todo o local, não lembro como eles se originavam. A minha satisfação era imensa, porém isso me rendia horas em salas de detenção.

 Faço um copo grande de café enquanto afago as orelhas do meu cachorro e penso no que acabara de sonhar.

- O que há de errado comigo, Fujão? Sempre a mesma droga de sonho

Ele é um Golden Retriever, já deve estar na casa dos 12 anos de idade, o encontrei em um das minhas caminhadas de volta do trabalho, bem tratado ficou acostumado a me ouvir chamar-lo de fujão e acabou adotando como seu nome. Ele tem uma grave doença em estágio terminal e fora abandonado, assim como eu.

- Vinte anos, fujão. – apesar da idade eu mantinha uma aparência jovial, na verdade tenho traços de um jovem de uns quinze anos e graças a essas feições infantis tenho um constrangimento no trabalho, ninguém tem muita confiança em um bombeiro adolescente. O destino realmente é uma amante infiel e parecia gostar de brincar comigo, me deu esse emprego como se de alguma maneira rejeitasse a minha natureza incendiaria.

Desço o leque de quinze andares rapidamente, precisava comprar alguns doces. Não sou grande apreciador de aparelhos eletrônicos, na verdade, tenho uma leve aversão a qualquer mecanismo desse tipo.

- Bom dia, Carlos - recebe-me Lucas, o porteiro. O considero meu melhor amigo, não por ter grande afinidade, mas por ser o único ser humano o qual mantinha conversas diárias.

- Bom dia. Animado para o Carnaval? - apesar do meu péssimo humor tento aparentar ser simpático.

- Não tanto, parece que irá chover mais tarde- disse cabisbaixo. Enfim uma boa notícia, tenho esse traço “bipolar” na minha personalidade gostava do calor do fogo e o frio da chuva, como se um anulasse o outro trazendo uma perfeita harmonia. O fogo sem o frio não me fazia sentido e vice-versa.

- O senhor que deveria sair. Não me lembro à última vez que o vi com uma mulher- completa.

- Simples, nunca ouve uma vez.

- Deve ser uma vida bastante solitária - me diz entre risos

- É uma vida sem preocupações, deveria tentar.

- Como assim nunca ouve uma vez? O senhor é virgem?  – perguntou agora gargalhando.

- Sou - digo sem nenhum traço de timidez. Não espero que entendam, simplesmente nunca tive nenhuma atração por ambos os sexos, me considero assexuado.

- Deveríamos resolver isso, conheço ótimos lugares. – diz em tom brincalhão

- Não acho que seja necessário - Tento cortar-lo

- Por favor, sei que sou seu único amigo, me deixe fazer algo por você - diz em tom de súplica

- Tudo bem. – Não quero desagradar meu velho amigo e seria bom sair um pouco de casa.

Abri a porta verde musgo da portaria e no instante que botei o pé na rua começa a chover, os pingos molhados e frios batiam no meu rosto, como aquilo me agradava. Acendo com dificuldade meu último cigarro enquanto escuto Lucas gritar “Vai sair na chuva, Carlos? Vai ficar resfriado!”.

Sai como se não tivesse ouvido, fato é que não fico doente, nunca. Coisa que para alguns seria ótimo para mim é só mais uma daquelas pequenas coisas que me tornavam fora dos padrões, não que isso me incomode, não tenho desejo de ser comum, mas confesso que nutro uma tenho certa curiosidade pela normalidade.

Ando um pouco pelas ruas desertas e molhadas do grande Méier quando paro em uma antiga livraria empoeirada, tinha adquirido com o tempo o hábito de ler diariamente, era assim que ocupava a maioria do meu tempo. Dirijo-me para sessão de aventuras e um título me chamou atenção, O ANTICRISTO, estranho de cara como um livro desses poderia estar abandonado ali, mesmo assim o comprei.

Passo no mercado para comprar algumas besteiras como biscoitos e doces, apesar da minha saúde impecável e meu corpo atlético não sigo nenhuma regra de restrição alimentar, pelo contrário, só me alimentava porcarias.

- Trinta e cinco e cinqüenta- me anuncia a jovem sorridente. - De quem é a festa?

Estendi duas notas de 40 enquanto faço uma cara confusa a ela.

- Com tantos doces, pensei que...

- Não, apenas gosto de doces. – a interrompo.

- De qualquer forma... - aparentando estar envergonhada me entrega um pequeno bilhetinho amassado - caso queira dar uma festa. – Era ridículo o efeito que eu causava nessas mulheres, não me considero um homem bonito, mas pelo que escuto meu “ar misterioso” é arrebatador.

- Obrigado, mas não precisa. Pode ficar com o troco - digo enquanto devolvo seu telefone. Confesso que me arrependo pela minha grosseria, mas já estava de “saco cheio” dessas atitudes.

Finalmente volto para o prédio e encontro Lucas adormecido na sua clássica cadeira. Coloco um pacote de biscoito na sua mesa e me ponho a subir as escadas. Chego ao sétimo andar, faltavam mais oito, quando escuto um grito estridente vindo do apartamento 704, corro para porta. O cheiro de madeira queimada invadia minhas narinas, o apartamento estava em chamas. 


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