Lacrimosa escrita por Skywalker


Capítulo 1
Capítulo Único - Lacrimosa dies illa




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Lacrimoso: adj. Que lacrimeja ou que chora; choroso.

P. ext. Lastimoso, aflito: gritos lacrimosos.

Oh, querido, está tudo tão silencioso agora. Nem parece que pouco tempo atrás passamos por um furacão. E apesar de seus lábios me pedirem para ficar, sei que seu coração quer que eu vá embora. Para que a culpa vá também, e você possa caminhar livre de um peso nas costas. Para que você possa voltar a sorrir novamente, sem lembrar-se de seus crimes. Para esquecer que você escolheu a perdição, quando tudo o que eu queria era te salvar.

Então eu caminho, eu me afasto. E, de longe, vejo gotas de lágrimas pingarem de seu rosto. E sua expressão sofrida revela o que sua mente ainda não processou. Por que você está chorando, querido?

Eu sei. É porque mesmo comigo longe, o sentimento não passa. A dor corrói sua alma e o julgamento continua. Você sabe tudo o que fez de errado e isso está sendo jogado sobre você agora. Facas afiadas, você não tem um escudo, você não tem como fugir.

Minha ida não adiantou, não é mesmo? Você não conseguiu se libertar. Os pesadelos continuam te assombrando e quando você abre os olhos, eles ainda estão lá. As lembranças, como fantasmas que irão te perseguir mesmo após sua morte, para te castigar.

Eu teria segurado sua mão. Eu teria secado cada uma de suas lágrimas com beijos. Teria sussurrado coisas doces em seus ouvidos. Você escolheu o lado ruim, no entanto. Mas eu poderia ter lutado contra as trevas ao seu lado.

Ah, meu amado, eu só queria te salvar.

Quid sum miser tunc dicturus?

(...) cum vix justus sit securus?

Todos os seus crimes. Como feridas abertas que nunca irão cicatrizar. Como lembretes colados em sua face. E você ainda está sendo julgado.

Não fique nervoso, meu querido. O silêncio é mais furioso que todos os raios e trovões, o suficiente para levar embora tudo aquilo o que te oprime e atirar novamente sobre você. Mas não fique nervoso, meu querido. Tudo ficará bem quando estiver terminado. 

Você disse que olhar para mim era como ouvir alguém gritando bem próximo ao seu ouvido: CULPADO. Eu nunca fiz isso, mas você conseguia ouvir. Até eu estou ouvindo neste momento. É como um hino celestial. A hora finalmente chegou. Agora, as chamas berram: CULPADO, CULPADO, CULPADO.

Dies irae! dies illa

Solvet saeclum in favilla

Tenho que admitir: ver-te chorando faz renascer em mim uma parte que achei ter morrido quando parti. Suas pequenas, bonitas lágrimas inundando seu rosto, caindo como a chuva. Eu te ajudaria novamente. Mas ambos sabemos que você foi condenado. Não há muito que possamos fazer sobre isso, mas você pode se arrepender. Arrependa-se e renda-se a tudo aquilo que você tentou suprimir.

Eu não vou cair em pranto por algo que não consigo mudar. Mas, saiba você, que meu coração lastima ter perdido para a Escuridão aquele que por tanto tempo o fez bater.

Você pode me procurar agora. Pode vir até mim enquanto tenta fugir. Eu não vou ser seu abrigo, mas posso te dizer palavras sinceras que você deveria ter ouvido muito tempo atrás. Ou você pode continuar chorando e lamentando-se e tentando escapar do inevitável. Não importa. Não há mais salvação, de qualquer maneira. 

Lacrimosa dies illa,

qua resurget ex favilla

judicandus homo reus.

Choroso, mas ainda lindo. É o que penso quando te vejo agora. E seus olhos, tão bonitos que pareciam ser a síntese de todas as coisas brilhantes e boas. Seus olhos, tão bonitos, tão mentirosos. Eu não queria ter descoberto a verdade por trás deles. Mas eu descobri. E eu continuei te amando.

Ter me apaixonado por você foi como perecer no cinza eterno: sabendo que te amo e que sempre te amarei, mas fadada a aceitar que não devo ficar de luto por coisas que não posso reparar. Então eu estou sorrindo agora. Não por pena, não por felicidade, não por desdém nem por tristeza. Estou sorrindo simplesmente porque estou vazia, e chorar não adiantaria nada. E tudo o que eu pude fazer eu fiz... Por isso, eu continuo sorrindo. Não vou parar por algum tempo. Não me arrependo, apenas lastimo em silêncio.

...Ah, meu querido, tudo o que eu sempre quis foi te salvar.

~fim~

*Dies irae! dies illa. Solvet saeclum in favilla.

(Dia da Ira, aquele dia. Em que os séculos se desfarão em cinzas.)

*Quid sum miser tunc dicturus? (...) cum vic justus sit securus?

(Que direi eu, pobre miserável? (...) Quando só os justos estão seguros?

*Lacrimosa, dies illa.

qua resurget ex favilla

judicandus homo reus.

(Lacrimoso, aquele dia

no qual, das cinzas, ressurgirá

para ser julgado, o homem réu).


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