- Rachel! - a voz de Finn bradou no fim do corredor.

A última coisa que Rachel desejava era ter que trocar palavras com o garoto. Era o último dia daquela semana conturbada, e ela não queria terminar ela com outra discussão com Finn.

- Rachel! Espera! - ele bradou novamente, fazendo a pequena revirar os olhos e apressar o passo.

Uma mão repousou sobre o ombro dela, a assustando, e ela se viu inevitavelmente tendo que enfrentar o que menos queria.

- Porque você não pode me escutar por dois minutos? - ele falou ofegante.

- É sério que você tá me perguntando isso? - Rachel apertou o caderno em seus braços contra seu corpo - Você acabou com meu relacionamento...

- Para que pudéssemos ficar juntos. - sua voz saiu baixa e encabulada.

- Mas eu não quero ficar com você! - a voz da morena mudou para um tom mais grave e alto - Será que não dá pra perceber isso?

O garoto encarou as palavras dela com incredibilidade. Sua expressão estava indecifrável aos olhos da morena.

- Esse era o propósito todo dessa idiota aposta não? - Rachel continuou - Eu perdi... Mas com tanto prazer, porque eu não forcei nada... EU, e somente eu, queria que fosse especial, não com a pressão dessa idiotice que você me botou dentro. Então eu transei com você pra isso acabar, porque eu não aguentava mais ver ela e pensar na minha babaquice, não porque eu queria. Você não me viu... Aquilo foi tortura pra mim...

O barulho das pessoas transitando no corredor se fez dominante.

- Quando você se tornou tão má? - Finn respondeu, sua cabeça se abaixando totalmente.

- No momento em que eu perdi tudo por sua causa...

Uma lágrima correu dos olhos dele. Era óbvio que ele era apaixonado por ela, apesar da sua idiotice, mas ele também amava. Aquela baixinha que perturbava seus sonhos não era nada além de uma ilusão do seu pensamento. Aquela era a Rachel.

- Está tudo bem aqui? - uma voz grave se fez presente e Rachel reconheceu o mohawk por detrás dos ombros de Finn.

- Está... - Finn respondeu primeiro - Tudo ok. Te vejo no Glee.

Ele se virou, voltando pelo mesmo caminho feito anteriormente, deixando um Puck confuso para trás e uma Rachel aliviada. Ela sabia que por um bom tempo ele não voltaria a lhe procurar.

- Quer companhia... até a sua sala? - Noah perguntou, tirando sua atenção do corredor cheio de pessoas.

Rachel virou para ele surpresa com as palavras dele.

- Você não está puto comigo? - as palavras fugiram de seus lábios antes que ela pudesse pensar em formular uma frase de verdade.

- Estou... - sua resposta foi honesta - Mas somos judeus! Temos que ficar juntos!

Uma leve risada escapou dos lábios da morena a escutar a frase já conhecida do garoto.

- E isso não quer dizer que eu não possa tentar entender o seu lado. - ele continuou, oferecendo o braço para a garota. Rachel o pegou com certo receio, apertando mais seu caderno contra o corpo.

- Você é o primeiro que está falando comigo... Além de, bem, Finn... - ela disse cabisbaixa, começando a acompanhar o passo dele.

- Tempo, é tudo o que eles precisam...

- Ela só tinha que dizer que me amava. - ela falou, travando no meio do corredor, sentindo as lágrimas lhe invadirem - Eu poderia ter ganhado, porque ela tentou... Ela tentou por muitas vezes.

Puck observava a garota.

- Eu nunca deixei ela dizer que me amava Puck... Porque eu estava com medo do que aquelas palavras poderiam me provocar... Além dela mesma, aquilo era a última coisa que faltava para eu estar nas mãos dela. Eu fiquei com medo... Tanto medo...

Algumas lágrimas começaram a correr dos olhos da garota. Puck não sabia como reagir. Ele podia lidar com qualquer coisa, menos crises emocionais. Se viu abraçando a garota de forma terna.

- Eu fugi para Finn, e foi ali que eu percebi que eu amava ela... Quando ele me tocou... Eu senti tanto nojo, de mim, da aposta, dele... Eu queria que aquilo acabasse.. - as lágrimas se tornaram mais escassas ao ponto que ela falava - Eu só queria ela. Eu ia falar que amava ela. Mas Finn queria mais... Quando eu neguei, ele fez o que fez...

As mãos do garoto correram pelo cabelo dela, botando-o detrás da orelha dela.

- E agora... Agora, Quinn não quer olhar na minha cara, Santana tem me perseguido com facas escondidas, Finn não para de falar sobre ficarmos juntos e todos nesse colégio me odeiam.

O silêncio novamente se fez.

- Você acha que poderia falar isso pra ela? - Puck falou em um sussurro.

- Não. - a cabeça da garota tombou para a frente.

- E cantar isso para ela, você seria capaz? - Ele falou em um desafio.

Um sorriso brotou nos seus lábios. Era a ideia perfeita.

********

- Pessoal! Sendo essa a nossa última semana antes da preparação para as seccionais realmente começarem, eu quero passar para vocês uma tarefa.

- Por favor, não nos faça falar sobre...

- Cala a boca, Kurt! - Mercedes interrompeu seu amigo, voltando seu corpo para o professor.

- Obrigada Mercedes. - Sr. Schue virou-se na direção da sua lousa, escrevendo nela.

"FELICIDADE"

- Felicidade! - ele voltou a falar - O que é felicidade para vocês?

- Chocolate! - Mercedes bradou.

- BrittBritt! - Santana falou logo em seguida.

- Unicórnios! - Brittany continuou, atraindo olhares para si - Que é?

- Enfim... - Sr. Schue continuou, antes que o assunto fugisse - É isso que eu quero saber... O que faz vocês feliz? O que é felicidade no ponto de vista de vocês? O que poderia fazer vocês feliz? Eu quero a felicidade expressa em uma música!

- Qualquer música? - Quinn perguntou, abrindo a boca pela primeira vez no dia.

- Qualquer música... Eu quero ouvir sobre a felicidade! - seu olhar então voltou ao relógio: já estava no horário de liberá-los - Bem, segunda-feira começamos as apresentações. Por hoje é só galera!

Rachel esperou todos saírem da sala, só restarem ela e Puck.

- Você poderia cantar comigo? - ela perguntou encabulada.

O garoto se virou surpreso para a outra. Ele achava que já estava sozinho.

- O que você estava pensando em apresentar? - ele falou, se voltando a sua mochila, aonde tentava guardar algo.

- Stars, do fun. - Rachel respondeu, observando a complicação do garoto.

- Não conheço... - ele falou, ainda tentando enfiar seu livro de Química I na mochila.

- Eu te mostro a letra hoje, se quiser. - ela falou, dando um passo na direção dele - Deixa eu te ajudar!

Ela tomou o livro da mão do garoto, jeitosamente o enfiando no espaço vago dentro da mochila, fechando-a.

- Que horas eu passo na sua casa para vermos a música? - Puck perguntou, pegando a mochila, a botando nas costas.

- Às 7:00. - Rachel respondeu com um pequeno sorriso.

- Te vejo mais tarde.

Rachel assentiu, assistindo o garoto saindo da sala do coral. Seus pés a direcionaram a mesma porta, e logo ela se encontrava longe do colégio.

********

- Eu nunca vou atingir essa nota, Rachel! - Puck falou, se jogando na cama da morena. Já faziam duas horas desde que haviam começado a praticar da verdade a música, e ainda assim, Puck não conseguia fazer com que sua voz acertasse - E como essa música fala sobre felicidade? Estou tentando descobrir desde o momento em que você me mostrou ela.

Rachel olhou para o garoto. Bem, ele tem um ponto de vista..., pensou ela.

- O que você me sugere então, Puckerman? - a morena suspirou cansada, se jogando contra a cadeira da sua penteadeira.

- Bem, tem essa música... - Ele falou, levantando seu tronco, se apoiando em seus cotovelos - Não é muito a minha cara, eu sei, mas, bem, descreve o que eu quero falar sobre o que é felicidade.

- E que música maravilhosa é essa? - a ironia presente em seu tom de voz foi marcante.

Puck se levantou da cama, se botando na frente do computador da morena.

Rachel sentiu seu queixo atingir o chão no momento em que as primeiras batidas invadiram seus ouvidos.

- É sério isso? - Ela falou, um sorriso atravessando seu rosto - Você gosta dessa música?

- Bem, eu consigo cantar essa música... E você não vai falar um pingo sobre a música, ela é boa.

- Então assim seja, Puckerman.

Eles treinaram. Era aquela música. As batidas animadas invadiam os ouvidos enquanto dividiam as estrofes, cantarolavam baixinho enquanto o outro treinava. Sem perceber, ambos dormiram ao ouvi-lá pela última vez.

********

- Princesinha! - Leroy bateu na porta, antes de entrar e dar de cara com um Puck totalmente desacordado e Rachel treinando na sua bicicleta ergométrica no outro lado do quarto - O que é isso?

- Bom dia papai! - Rachel respondeu, sem parar seu exercício - Estavamos treinando essa música que vamos apresentar no Glee na segunda, e bem, Puck dormiu, depois eu dormi, e bem, ele continua dormindo...

- E a nossa regra? - ele mais afirmou do que perguntou.

- Olha... - ela falou, saindo da bicicleta, se direcionando ao mais velho - Me desculpe papai, mas eu realmente apaguei ontem. Estavamos tão empenhados que nem vimos as horas se passarem.

Leroy parou para pensar por dois minutos. Aquilo não poderia acontecer. E Quinn, o que havia acontecido com Quinn?

- Não quis fazer o dueto com Quinn? - ele perguntou, e Rachel sentiu suas pernas tremerem só de escutar o nome dela - Você vivia dizendo que queria ter a chance de poder cantar com ela...

Rachel parou. Falar ou não falar?

- Nós... Eu e Quinn, papai... Nós, nós terminamos... - ela falou, pausadamente.

Leroy olhou para a garota. Sabia que havia tocado no ponto fraco dela. Rapidamente, desejou nunca ter falado na outra garota. Não, porque aquele nome havia provocado aquele olhar triste na sua filhinha. Porque aquele nome havia provocado aquela expressão chorosa na sua bebê. Porque aquele nome destruía sua pequena estrela toda vez que era tocado.

- Me desculpe. - ele falou, abraçando a garota. Sentiu algumas lágrimas irem de encontro com sua camisa - Olha só, o café está posto... Papai Hiram nos espera... Acorde o garoto, fale que ele deve ir, e venha ok?

Um aceno de cabeça respondeu ao mais velho, e ele se retirou do quarto da garota.

- Você não precisa me acordar! - Puck falou em uma voz sonolenta, sem realmente abrir os olhos.

- Desde quando você está acordado? - Rachel se virou para ele, surpresa.

- Desde "Nós terminamos..." - os olhos do garoto finalmente se abriram, revelando uma expressão cansada - Seus pais não sabem, certo?

Rachel sabia sobre o que ele estava falando.

- Não, nem fazem a mínima ideia. - Ela falou, se virando para a porta - Um dia talvez eu seja corajosa o suficiente para contar para eles...

- Qual era a aposta afinal de contas, Rachel? - Puck perguntou, pegando-a de surpresa.

- Você realmente quer saber? - ela retrucou e ele acenou positivamente com a cabeça - Se eu conseguisse fazer Quinn me amar, ele me deixaria em paz para sempre. Se eu não conseguisse, eu teria que me entregar para ele. Eu tinha dois meses.

Rachel deixou a sua cabeça pender para frente e a culpa invadir seu estômago por outra vez.

- Sabe, essa aposta foi mesmo estúpida... - ele falou sério - Mas foi realmente nobre da sua parte não deixar ela dizer que te amava. - a cabeça da morena se levantou rapidamente, um misto de surpresa e confusão - Finn é um idiota, meu melhor amigo, mas um idiota. Não entendo porque você não ganhou a aposta, já que teve chances, mas entendo que você queria escutar aquelas palavras quando fosse de verdade, sem nenhuma mentira por trás.

Outras lágrimas partiram dos olhos de Rachel ao encontro com o chão.

- Eu tenho que ir, baixinha! - ele falou, se levantando para calçar seus sapatos - Senão daqui a pouco seu pai aparece com um ultimato de expulsão. Ou pior, a polícia.

Um leve sorriso transpareceu nos lábios da morena enquanto ela secava as últimas lágrimas que insistiam em cair dos seus olhos. Puck a abraçou gentilmente, dando um beijo no topo da sua cabeça.

- Se cuida tá? - ele falou e Rachel respondeu com a cabeça - Segunda-feira nos vemos. Não esqueça de ensaiar.

Rachel sentiu os braços fortes saírem do redor do seu corpo, assistindo, pela segunda vez em dois dias, Puck sair pela porta.