O Roubo Da Cadelinha Duster escrita por Cecí
Notas iniciais do capítulo
Olá, garotas! Eu resolvi postar essa fanfic que estava desde a véspera do Natal de 2012 esperando pra ser postada. Essa é minha primeira fic com um homem narrando; com gênero policial (adoooooro!) e com Londres como cenário. Peço a todas que se apresentem, nem que seja com um simples "oi". Obrigada, lindas! Enjoy it ;*
- Ah, bela Londres! Estás mais linda do que nunca a essa época do ano! – disse Dulcie, segurando a minha mão.
- Sim, muito mais bela do que o ano passado, minha querida – dei-lhe um beijo no rosto. Dulcie era uma mulher surpreendentemente doce.
- Querido Arthur, em que hotel iremos ficar? – perguntou com uma voz mais que angelical.
- No hotel Hoxton, minha querida. No Hoxton – repeti com ansiedade. Não via a hora de chegar ao hotel e me acomodar com Dulcie. Desde que descobrimos que o hotel, que estávamos acostumados a nos hospedar sonegava à Receita Federal, nós preferimos trocar ir começar uma nova estadia no Hoxton. Era um dos melhores de Londres.
A viagem da Argentina, onde residimos, a Londres, minha cidade natal, foi muito cansativa. Tive a impressão de que o trânsito ficava mais lento a cada minuto.
- O que está havendo, motorista? – perguntei ao taxista.
- Não sei exatamente, senhor – respondeu-me na polidez britânica e com um sotaque que me fez sentir em casa. - Acredito que a família real está passeando pelas ruas de Londres - esperar alguns minutos não seria tão ruim, afinal, pior seria se estivéssemos com as malas na mão e a pé.
Passado alguns minutos, que já estavam parecendo horas – meu Deus, como Dulcie não se cansava de ficar sentada nesse carro? -, eu comecei a ficar impaciente. Queria um bom quarto de hotel e um champanhe bem gelada pra comemorar meu retorno a Londres. Pelo menos por alguns dias.
A cidade estava enfeitada para o natal e a neve era o elemento principal. Guirlandas penduradas nas portas das casas, bonecos de neves davam as boas-vindas aos turistas, árvores com pisca-piscas, enfim. O palácio de Buckingham estava luxuosamente impecável para o Natal, este que seria daqui a dois dias. Então, eu e Dulcie só teríamos hoje e amanhã para fazer as compras de Natal.
- Papai, vamos comprar aquela boneca que eu tanto quero? Vamos? Por favor! – falou Judith segurando a manga do meu casaco e puxando-a incessantemente. Eu já tinha me esquecido das crianças. Ah, meu tempo de jovem com Dulcie e sem filhos era tão magnífico...
- Sim, querida Judith. Vamos comprar presentes pra você, para seu irmão, e para o bebê – coloquei meu braço ao redor de Judith para acalmá-la. Ela era uma garotinha britânica impaciente e teimosa e, às vezes, muito tenaz.
Meu segundo filho brincava com seu carrinho de madeira. Na argentina, onde nasceu, via a neve sempre no meio do ano, quando passávamos as férias em Bariloche. Estava mais que acostumado, então não deu muita importância. Dulcie mostrava a paisagem ao bebê que carregava no colo. Nosso terceiro e último filho – obrigado, Senhor, pela família que me destes, mas três é demais -, nascera na Argentina e era um recém-nascido de dois meses.
Eu estava muito distraído e envolvido nos meus pensamentos quando algo nos chamou atenção. Um carro de polícia estava parado no meio da pista com uma ambulância e várias pessoas estavam ao redor, olhando alguma coisa.
- Querida, feche os olhos – falei quando estávamos mais perto do cadáver recém-morto no chão. Dulcie continuou olhando para o acidente, e eu tive o instinto de protegê-la e proteger as crianças. Tapei os olhos de Judith e de Peter e quando menos esperava, Dulcie fala afobada.
- Arthur! Querido, olhe! – gritou apontando o dedo no vidro da janela do carro. – Não é o messieur Poirot?!
- Poirot? Onde?
- Ali – e ali, plantado ao lado do cadáver, observando a cena, um belga baixinho, com um bigode preto, o meu amigo Hercule Poirot anotava algo em um caderninho de mão.
- Pare o táxi, motorista – falei e ele encostou o carro no meio-fio. – Fique no carro, querida – falei à Dulcie. - Eu já volto.
- Eu quero ir, papai! – gritou Judith saindo do carro.
- Não, você fica. Tem coisa de adulto ali, que criança não pode ver – pus Judith para dentro do carro. Ela dobrou os braços numa atitude infantil e birrenta.
- Eu quero ir! – Choramingou batendo os pés.
- Não, meu amor – falou Dulcie. – Ali tem coisa de gente grande; não é algo bonito. Obedeça ao papai, sim? – Dulcie sorriu para mim. Como ela era uma mãe adorável! – Querido, eu vou para o hotel. É melhor do que ficar aqui nesse clima. Dê minhas lembranças ao messieur Poirot.
- Certo, meu bem – dei-lhe um beijo na testa e o táxi seguiu, agora mais rápido depois de passar pelo o que congestionava o trânsito. – Poirot! – gritei ao chegar mais perto.
- Mon dieu! – tirou o charuto que fumava da boca. – Se não é o mon ami Hastings! – Ele me deu um abraço.
- Poirot! Há quanto tempo não lhe vejo, meu caro?
- Se vai um longo tempo, Hastings. Desde o nascimento de Peter!
- Cinco anos... – Lembrei-me da nossa última aventura. – Poirot, cadê os cabelos brancos que estavam na sua careca da última vez? Você andou pintando-os? – Eu ri.
- Sim, mon ami. Mas não conte a ninguém! Isso é um segredo – ele riu também.
- Como é bom revê-lo!
- Igualmente, meu amigo.
- Você está bem? Você tem uma aparência cansada...
- Estou muito bem, Hastings! Sinto-me com a saúde de um alazão! Bien, o que traz você a Londres nessa época do ano?
- Vim passar o natal aqui, Poirot. Dulcie e as crianças estão comigo.
- Onde estão então? – Ele procurou-os olhando ao redor.
- Eu os mandei seguir para o hotel. Não quis que ela visse isso – falei olhando o morto no chão. – Todos esses anos na guerra, e eu nunca me acostumei em ver alguém morto.
- Pois é, Hastings. Nunca é fácil ver um integrante da família real morto.
- Como?!?!
- Sim, ele é primo da rainha.
- Primo? Ele não deveria morar em algum lugar mais... seguro?
- É um primo deserdado...
- Por isso tantos carros de polícia, a família real fora do palácio, e tantos repórteres – falei me dando conta da tamanha confusão. Poirot fez uma careta. Não entendi. – Ainda bem que mandei Dulcie ir direto para o hotel.
Um jornalista nos abordou e fez perguntas do caso a Poirot.
- Senhor Poirot, quem o senhor acha que o matou? – ele anotava tudo que Poirot falava.
- Sem achismos. Depois será dada a conclusão do caso – por fim, disse Poirot. – Vamos, Hastings. Não fique ai parado como uma árvore.
Após pegarmos um táxi, Poirot perguntou em que hotel eu estava.
- Mas que coincidência! Eu também estou no Hoxton!
- Então vamos ter muito tempo para colocar as conversas em dia!
- Suponho que não, mon ami. Meu bigode vem coçando desde que eu me hospedei naquele hotel.
- E o que isso tem a ver? Você precisa de dias para lavar o seu bigode? Oras, Pirot! Que coisa insensata para dizer.
- Hastings, você continua com o mesmo cérebro de azeitona!
- Como assim?
- Venha, o táxi parou – descemos.
- Você pode me explicar o que está acontecendo, Poirot?
- Não até chegarmos ao meu quarto. Venha fazer sua hospedagem e da sua mulher, Hastings. – Encontramos Dulcie e as crianças no saguão principal. – Querida Dulcie! – Falou pegando a mão que Dulcie estendia e beijou-a delicadamente.
- Messieur Poirot! Que prazer em vê-lo.
- Oui, madame. Vejo que seguras o novo integrante da família – Poirot segurou seu pezinho.
- Este é John Hastings – eu apresentei o bebê.
- Johnny Hastings, oui?
- É John, Pirot – corrigi-o.
- Querido Johnny – ele me ignorou -, seja muito bem vindo! – Segurou John no braço. Nessa hora, John golfou em Poirot. – Oh, mon Dieu. Vá para a mamãe, Johnny – ele entregou John a Dulcie e retirou um lenço limpando o paletó. - Vamos ao balcão, Hastings. Sua família deve estar cansada, e é uma deselegância fazer uma dame esperar.
Após eu fazer o meu check-in, o de Dulcie e o das crianças, Poirot pegou sua chave e me acompanhou até o meu quarto. O funcionário do hotel carregou nossas malas. Dei-lhe a gorjeta.
- Peça a alguém para lavar a vácuo o meu paletó, por favor – falou entregando o paletó ao funcionário. – Hastings, acomode-se e acomode sua família. Eu estarei esperando por você na hora do chá, se você não se importar, Dulcie.
- Claro que não, messieur. Há tempos que vocês não se veem; é justo que queiram colocar a conversa em dia.
- Apenas Poirot, madame. Apenas Poirot.
- Sim, Poirot – sorriu.
- Até mais, Hastings – deu às costas e voltou pelo corredor até o elevador. – Ah, meu apartamento é o 301.
- Trezentos e um. Certo, Poirot! – gritei, mas ele já tinha desaparecido.
Após nos acomodarmos, fui observar o apartamento em que estávamos. Era um apartamento de luxo com dois quartos, cada qual com um banheiro, uma sala de tamanho médio com uma mesa e um frigobar perto de uma varanda, e claro, uma vista incrível. Quando deu 4:58 hrs da tarde, eu desci para o apartamento de Poirot no sexto andar. Eu estava no nono andar. Assim que ia bater na porta, Poirot a abriu e me puxou para dentro do seu apartamento. O dele era bem menor que o meu, mas mesmo assim, tinha seu charme e seu luxo.
- Como você soube que eu ia bater na porta?
- Ora, Hastings, você é britânico esqueceu-se disso? E está na hora do chá.
- Ah, Poirot, todos sabem que você não gosta de chá e de café. O que quer?
- Mon ami, mon ami! Meus bigodes estão coçando!
- De novo essa estória de bigodes coçando, Poirot? Tem certeza que você anda tomando banho?
- Não seja ridículo, Hastings! Olhe, escute-me bem: preciso de você. Um crime está para acontecer! - Eu fiquei branco.
- Meu Deus, é quase Natal! O que há de errado com essas pessoas em querer matar outras bem nessa época???
- Ora, Hastings, o que há de errado com as nuvens em deixarem o dia nublado bem nessa época? – Ele estava na sua varanda observando o tempo. Eu o olhei com uma cara interrogativa. Ele não era de beber, mas... – Nada, mon ami! Ou na sua língua there’s nothing we can do! Apenas esperar. E investigar. E por isso você está aqui.
- Eu?
- Sim, você.
- Mas como você sabe de todas essas coisas, Poirot? Você sabe quem vai matar quem?
- Não, mon ami.
- Ou quem vai ser morto?
- Não, novamente, mon ami.
- Por Deus, como você sabe que alguém vai ser assassinado?
- Eu nunca disse que alguém seria assassinado, Hastings – falou misteriosamente.
- Sim, você acabou de dizer.
- Não! Mon Dieu, eu acabei de dizer que vai haver um crime, Hastings, não um assassinato! Você não tem ouvidos?
- Ah, Poirot, você...
- Venha, Hastings. Vamos observar o saguão – ele já estava abrindo a porta e com o seu chapéu na cabeça.
Quando descemos para o térreo, Judith passou na minha frente correndo e Peter correndo atrás dela e berrando para que ela devolvesse o carrinho dele. Judith era teimosa, tenaz, birrenta e malvada! Que criança!
Então Judith esbarrou numa senhora idosa, envolta por um casaco de pele pesadíssimo, que carregava um cachorrinho cheio de joias. A senhora não me era estranha e pensava que a tinha visto em algum lugar. Ela acabou se assustando e deixou o cachorrinho cair no chão. Este correu para longe.
- Oh, crianças! – falou com arrogância. – Duster! Oh, meu Deus, onde está minha cadelinha? Duster!
A cadelinha correu para perto de nós e eu a segurei. Andei até a madame e me desculpei.
- Perdão, senhora. Esse cachorrinho é seu?
- Duster é uma menina, senhor...
- Capitão Hastings.
- Capitão Hastings. E a propósito, essas crianças são suas?
- Sim, senhora. Eu quero me desculpar pelo que elas fizeram.
- Ora, capitão Hastings, – continuou com o tom arrogante – você deveria ter mais atenção e dar mais educação a essas pestinhas!
- Perdoe-me, mademoiselle – interrompeu Poirot. - Mas são apenas crianças. E elas não são pestinhas. São crianças adoráveis.
- Quem é o senhor?
- Sou o messieur detetive Hercule Poirot.
- Oh! Fascinante! – Ela sorriu. – É um prazer conhecê-lo messieur Poirot! Eu já tinha ouvido falar no senhor, mas nunca tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente.
Poirot a convidou para o chá. Eu me desculpei e subi para ver como Dulcie estava e levar Peter e Judith de volta para o quarto.
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E ai, gostaram? Me contem nos reviews o quanto vocês estão gostando! Beijos, MCS ;*