Sinto uma dor horrível e vejo o sangue jorrando pelo chão. Minha respiração se torna ofegante, mas por incrível que pareça não caio ao chão. Muito menos sinto uma leve vertigem, como geralmente acontece quando sou gravemente ferido. A dor se vai rapidamente e o sangue começa a coagular. Os buracos se fecham como se fossem apenas arranhões. Olho para trás para ver se Marina está me curando, se estava ao menos com a mão em minhas costas para curar-me, mas não.

Eu me curei. Sei disso. Senti isso. Esvaziei a mente de todos os problemas quando Walker atirou em mim. Aceitei a morte, porém ela não me aceitou. Lembro-me como Henri me ensinava algum novo Legado. Ah, como sinto saudades dele... Concentro-me novamente em meu objetivo.

Walker está indignada que suas balas não me afetaram. Malcolm e Sam estão entre nós, e não quero que ela os machuque. Ela atira mais seis vezes, mas, como se eu conseguisse prever aonde as balas me acertariam, desvio de todas.

Quando a arma trava, pois está sem balas, sorrio para ela. Pulo em sua direção, e agarro seu pescoço, afundando-o no chão.

Ela não está morta, mas inconsciente por um bom tempo...

– E então, quem vai ser o próximo? –

Um agente corre em minha direção, mas, com um simples movimento, desvio de seu soco, pego-o pelas pernas e o jogo no chão. Outro tenta me dar um chute, porém seguro sua perna e o giro, fazendo-o também cair no chão. Os outros dois pegam suas armas e atiram sem parar, porém com minha telecinesia, paro as balas no ar. Viro-as para eles e, com toda a velocidade, faço-as irem na direção dos agentes. Antes que o pior possa acontecer, largo as balas e elas caem no chão. Os dois estão tremendo de medo. Dou um passo para frente e eles saem correndo do apartamento.

Os mogs olham para nós com um ar de surpresa. Porque estão surpresos? Sempre fizemos isso. Sempre reagimos. Óbvio que hoje não é como era há cinco anos atrás, mas ainda acredito que podemos lutar. E vencer.

– Nove, Oito e Seis o resto é com vocês. O resto ajude Malcolm e Sam. Vamos lá pessoal! –

Toda a Garde concorda e sai em disparada para fazer tudo o que pedi. Para ajudar o pessoal, decido ir atrás de nossas armas e arcas na sala de treinamento. O sol está nascendo agora então não preciso acender meu lúmen. Pulo em cima de cada mog que aparece em minha frente. Socos, chutes e voadoras são as únicas armas que tenho agora. Realmente, precisamos voltar a treinar...

Ao chegar à sala, pego uma mala enorme preto que Nove trouxe, e coloco tudo que posso dentro dela. Todas as arcas, todas as pistolas, revólveres e metralhadoras, todos os computadores e tablets, todos os documentos falsos. Tudo. Quando encontro minha arca, lembro-me de quando a abri pela primeira vez na Flórida. Ah, como eu queria que tudo fosse como era antes... Eu era jovem e amava Sarah... Ainda amo, mas quero amá-la agora como a amava antes. Só minha.

Esqueço tudo isso e volto para ajudar os outros, porém quando chego lá o chão está cheio de cinzas. Nove e Oito seguram Walker pela blusa e ela começa a acordar.

– Bom dia, bela adormecida. Diz Nove. – Dormiu bem? Espero que sim, porque agora, terá que nos contar tudinho que estão planejando, ouviu? –

– Você que pensa... Moleque! –

Nove se irrita e está prestes a lhe dar um soco. Chego bem na hora e digo a ele que depois terá muitos mogs e agentes para deter.

– Agente Walker... Ora, ora, ora. Quem está lhe interrogando agora, hein? Somos nós. Estava na hora já de alguém inverter os papéis, não acha? – Quero irritá-la ao máximo, e para minha felicidade, estou conseguindo isso. – Bom, nos conte o que vocês planejam. Agora! –

– Johnny, Johnny... Não importa o que estamos planejando, meu amigo... –

– Não sou seu amigo! – A interrompo. – Você não tem o direito de chamar nenhum de nós de amigo. Você está traindo seu povo! Se entregando a alguém muito mais forte e perigoso do que pensa! Será que vocês são tão burros pra ver isso? ! –

Ela me ignora completamente. Infelizmente perco o controle, e lhe dou o mais forte tapa na cara que já foi visto na face da terra. Se sua mandíbula, ao menos, não se deslocou, ela teve pura sorte.

– Você é que é burro, sua criança! Em vez de ficar com sua preciosa namorada, decidiu deixa-la! –

– E o que é que tem a ver isso?! –

– Acha mesmo que ela nunca iria procurar por você? Nunca? –

– Nunca imaginei que ela conseguiria... –

– Nossa, olha que esperto! Graças a ela que nós te achamos! Agora, ela é um de nossos alvos. Pelo menos se estivesse com você, estaria segura! Bom, ela tem nos surpreendido bastante ultimamente... Como se estivesse virando uma de vocês. –

– Oi? –

– Sim John, Sarah desenvolveu legados. Não sabemos como, nem por que. Mas ela desenvolveu. –

– Como assim? Isso não é possível! –

– Bom, dane-se. Estou falando demais... –

– Fale agora sobre Sarah! –

– Por que falar de alguém que está morto? –

– Hã? –

– Enquanto está me interrogando, Sarah está lá em Nova York. Com Setrákus Ra! Seu idiota! –

– O que? Como ele a encontrou? E por que ele foi atrás dela? –

– Por que não pergunta a ele? –

Walker está me confundindo. Sarah e Setrákus? Uma humana com legados? Não entendo mais nada... Se Sarah está morta, quero, agora mais do que tudo, matar Setrákus a sangue frio. Com minhas próprias mãos.

– Walker, pelo amor de Deus, me diga onde Sarah está... Ela é tudo que tenho agora. –

– John, mesmo se a salvasse, iria acabar morrendo nas mãos de Setrákus... –

– Não. Eu iria lutar contra ele. Mas só posso enfrenta-lo se me disse ronde ele está. –

– Não posso dizer isso, me desculpe... –

– Olha aqui sua imbecil. Vamos conversar. – Pego a gola da camiseta de Walker e a puxo, quase sufocando-a. Vou até a janela e quebro o vidro com uma cadeira. O vento é fortíssimo e a altura é impressionante. O prédio mais alto de Londres.

– Tá vendo essa janela aqui? Seria interessante saber se agentes do FBI sabem voar não acha? – A coloco perto da janela, e empurro-a para baixo, quase a deixando cair. – Se você me disser onde ela está, não terá uma morte tão dolorosa assim. –

– Nossa, isso realmente me assustou Johnny, parabéns. – Ela debocha.

– Ah então você quer algo realmente assustador? Ok. Você terá isso. –

Solto a gola da camiseta dela e a empurro janela abaixo. São oitenta e cinco andares até o chão. Não há como escapar. Olho para Oito e ele assente com a cabeça. Logo ele não está mais ali, e sim atrás de Walker. Alguns segundos depois, os dois reaparecem na minha frente.

– E então, agora foi assustador? – Ela não responde, só está se recompondo. – Foi assustador o bastante? – Grito.

– Ela está em Nova York. Na cobertura da NY Tower. Está com um homem, Nathan. E Setrákus. –

– Ah que gentileza! Obrigada agente. – Agora olhando para a Garde. – Seis, arranje o voo mais rápido para o Japão ok? Nos encontramos lá em duas semanas. –

Ela me encara.

– Que foi? –

– Não vou perder uma luta contra Setrákus, nem pensar! –

– Seis por favor... Me deixa resolver isso. –

– Tá doido? Eu quero ir. –

Me aproximo dela e a beijo na testa.

– Seis, por favor, se você for nunca vou me perdoar se te perder. Eu preciso de você, comigo. Mas, essa luta, é minha. Você precisa entender... – Cochicho.

Me afasto lentamente, e olho intensamente para ela. Seus cabelos emoldurando o rosto, os olhos castanhos claros mergulhando nos meus. Não quero deixá-la. Meu mundo está aqui. Na minha frente. Mas preciso salvar Sarah. Não me perdoaria também se a perdesse.

– Leve Marina e Ella com você. Sei que as três estarão seguras, se protegendo. Juntas. – Olho para as duas, que estão abraçadas e sorrio. Fixo meu olhar novamente em Seis. Uma lágrima escorre de seu rosto, mas eu a enxugo com a mão.

– Tome cuidado ok? –

– Eu vou tomar. E eu vou voltar. Prometo. –

A beijo intensamente, com a intensão de nunca mais sair dali. Estou prestes a desistir de tudo e fugir com ela. sumir do mapa. Começar uma história. Uma família. Mas ela nunca aceitaria. Sua vida é Lorien. E o dia que voltarmos, eu poderei ser feliz ao lado dela.

O beijo acaba e ela me abraça, afundando o rosto em meu pescoço. Ouço-a chorar, e afago seus cabelos. Nove tenta disfarçar, mas sinto de longe o ciúme que ele está passando. Não me culpo por isso, mas o que posso fazer? Estou apaixonado, e não vou deixar de estar por causa dele.

Marina e Ella puxam Seis, que passa a mão em seus olhos, e vão para um canto da sala. Retorno para a rodinha formada por Oito, Nove e Walker.

– Oito! Acha que consegue nos tele transportar para Nova York? –

– Claro Johnny! Lá no Central Park tem uma pedra Lórica. Chegaremos lá rapidinho. –

– Ok, então pegue Walker e eu vou pegar uma mochila. Cinco minutos aqui na porta. –

– Sim senhor. –

Chamo Seis e a levo para a sala de treinamento.

– Seis, aqui tem uma bolsa com tudo que vocês precisam. As arcas, armas, tablets, computadores. Tudo. –

– Obrigada John. Não se esqueça de pegar sua arca. E a de Nove e Oito também. –

– Ah é! Já ia me esquecendo. Obrigada Seis. –

Puxo-a para mim e lhe dou mais um beijo. Não quero esquecer o que sinto por ela, e preciso aproveitar o que me resta.

– Seis, se eu disser que já estou morrendo só de pensar em ter que ficar longe de você, você acreditaria? – Sussurro em seu ouvido.

Ela morde os lábios, passando o polegar sobre minha sobrancelha. Fito seus olhos, e me apaixono cada vez mais.

– Claro que sim... – Um sorriso largo aparece em nossos rostos. Ficamos nos olhando sem dizer uma palavra, até que eu decido falar.

– Eu te amo, Seis. E quero ficar com você. –

– Eu te amo, John – Eu sorrio. – E não trocaria um sorriso teu por nada. –

Nos beijamos mais uma vez, nos abraçamos e saio da sala. Penso no que acabei de dizer e me sinto o cara mais sortudo do mundo. Porém, o mais idiota também.

– Ei John! Vamos logo cara! – Grita Nove.

Quando me junto a Nove, Oito e Walker, sinto uma leve dor no peito. Não sei se foi a bala ou se é porque deixarei Seis mais uma vez. Olho para ela pela última vez e logo tudo é apenas preto.

Caímos em uma grama fofa e bem esverdeada. A inconfundível grama do parque mais lindo do mundo. Central Park, NY.