Nós e o Xadrez escrita por Sue Dii


Capítulo 1
Nós e o Xadrez


Notas iniciais do capítulo

Spoilers do capítulo 62 do mangá, que estarão sublinhados.

Espero que gostem. Boa Leitura.



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Mais uma vez Riza ficara presa na sala do Coronel, substituindo seu avô num demorado jogo de xadrez. Como se não bastasse, estava numa armadilha. De praxe, Mustang usara seu cavalo para encurralar seu rei e sua torre.

- Xeque. – Roy deu o seu perfeito sorriso vitorioso, talvez só compreendido por ela.

- Ainda falta muito Coronel. – a tenente não demonstrou nenhuma relutância em sacrificar sua torre, movendo sua majestade para um lugar seguro.

- Você tem melhorado ultimamente. – o comentário foi um elogio, embora com um toque de provocação.

- A prática faz a perfeição, não é mesmo? – Hawkeye nem se incomodava mais com as tentativas frustradas de Roy em provocá-la.

Ela moveu seu bispo, queria dar um “pastorzinho" mesmo que já não estivesse no começo do jogo. Viu que ele percebeu sua jogada, e mais: que ela havia deixado a guarda aberta.

- Xeque. – Mustang anunciou novamente, agora com sua torre.

Riza nunca relutava em fazer sacrifícios, e não foi diferente quando pôs sua dama a frente de seu rei, bloqueando a ameaça. O moreno a fitou meio decepcionado, fazendo a jogada óbvia com seu bispo.

- Sacrificando a dama no meio do jogo?

- Não tive muitas opções. – a simplicidade com a qual a pergunta foi respondida, fez o homem ficar ainda mais incrédulo.

 - Você podia ter feito muitas coisas, mas preferiu o sacrifício.

A loira fitou seu adversário, curiosa. Simplesmente não entendia o valor excessivo que seu superior dava à dama.

- Ela precisou ser sacrificada para proteger seu rei, ou bagunçaria o jogo todo. – explicou, voltando-se para analisar sua próxima jogada. Antes que pudesse se decidir, porém, Roy argumentou:

- A dama não é qualquer peça. Do jeito que você fala, parece que é só mais um peão.

- E do jeito que o senhor fala, parece que não protege a dama apenas por ela ser útil.

O coronel hesitou. O jogo passara a ser verbal, e precisava ganhar com sua próxima argumentação. Enquanto pensava, ouvia os dedos de sua subordinada tamborilando na mesa, paciente.

Hawkeye decidiu argumentar logo, antes que Mustang inventasse qualquer coisa.

- A dama é a peça mais poderosa do jogo, e entendo que queira protegê-la por causa disso. Mesmo assim, como qualquer outro soldado, a missão dela é proteger seu rei, e se o sacrifício for a sua única utilidade não hesito em torná-la útil para o jogo.

- A dama é sim, a peça mais poderosa do jogo, e certamente muitos a protegem por causa disso. Mas eu digo mais, Tenente: o rei é só um aleijado sem sua dama, pois é dela que vem o seu poder. Ela anda por ele, mata por ele, e nenhum general consegue fazer sozinho as coisas que ela faz. Por isso eu não sacrifico minha dama. Nunca.

- Nunca... – Hawkeye repetiu o último vocábulo de Mustang, ainda inconformada. – É uma palavra muito forte; Coronel...

-... Até mesmo pra mim? – ele terminou a frase, um sorriso estampado em seu rosto alvo. – Mas pode ter certeza, a minha dama eu protegerei até fim.

Ela sorriu. Afinal, não tinha mesmo como discutir xadrez com Roy Mustang, principalmente se fosse uma analogia às suas próprias vidas. “Sua dama é?” com um tom divertido, os olhos castanhos voltaram para o tabuleiro. Sempre soubera quem era a dama do coronel, afinal, e sabia que Roy Mustang nunca seria capaz de sacrificá-la. Mas também conhecia seu próprio rei, e estava disposta a fazer todos os sacrifícios possíveis por ele, pois a sua vida só teria sentido se fosse útil no jogo do futuro führer.

- Escolheria entre seu rei e a sua dama? – a pergunta escapou, e Riza logo tratou de ficar quieta, mexendo um de seus peões. Notou os olhos negros sobre si, e ficou ainda mais retraída.

- Sem o rei o jogo não tem sentido. Mas sem a dama, é o rei quem não tem sentido. – respondeu calmamente, o que fez a tenente olhar de volta para ele. – Você está deixando o seu jogo aberto. – comentou em seguida, movendo o cavalo que capturara a torre inimiga.

- O senhor não deixa nenhuma abertura. – ela comentou alegremente.

Ele retribuiu o elogio com outro sorriso. Adorava jogar com Riza. Mesmo estando um pouco longe do nível do general; dava uma boa conversa e vários sorrisos.

- Xeque. – subitamente a loira anunciou; tirando Roy de seus devaneios.

- Como isso...? – deu uma olhada, era o cavalo negro que encurralava suas majestades. “Escolheria entre seu rei e a sua dama?” imediatamente lembrou das palavras de Hawkeye e olhou para ela.

- Estou ansiosa para ver o que o senhor vai fazer; Coronel. - ela havia planejado a jogada o tempo todo, enquanto abria seu jogo do outro lado.

- Fez uma ótima jogada; Tenente. Tenho que admitir que eu não esperava por essa. – observou seus soldados, pensativo. “Afronta ao rei e à dama ao mesmo tempo... Você se superou; Riza. Eu não devia ter subestimado seus olhos de falcão.”, brincou consigo mesmo, observando inutilmente as posições de suas peças.

- Coronel... – seus olhos voltaram-se novamente para a dona dos orbes castanhos. – Não hesite em proteger o seu rei. – não queria que ele ficasse daquele jeito. Sabia como ele levava sério a analogia, como se colocava no lugar de suas peças, o quão aquilo importava para ele, embora ainda não compreendesse o sentido de tanta apreensão. – É só um jogo. – recordou-lhe.

- Você me pegou; Tenente. – foi a última coisa que disse antes de tombar sua realeza, o rei.

Riza piscou algumas vezes, olhando incrédula para o tabuleiro.

- Coronel... O que foi isso? – sem perceber, ela mesma estava aderindo à metáfora do xadrez. – O senhor podia ter continuado! – bronqueou, fitando o homem que no momento se levantava.

- Não sem ela. – “Não sem você...”. – Eu já disse... – continuou, virado de costas com os braços cruzados. – O rei vale pouco sem a sua senhora. – sorriu com o pronome que dera à peça.

- O rei tem que prosseguir; Coronel. – era a última tentativa que fazia de convencer Roy. Levantou-se após recolher as peças e foi em direção a ele. – Coronel... – chamou a atenção do Flame Alchemist. Ele olhou para a loira, para sinalizar sua atenção. - Prometa... Que se qualquer coisa acontecer; irá prosseguir. A nação precisa do senhor, e a sua dama também.

Ele expressou surpresa, para em seguida demonstrar conformidade. Metáforas e códigos nunca seriam suficientes para esconder alguma coisa da mulher ao seu lado.

- Então me prometa outra coisa: que não irá fazer sacrifícios à toa. – foi a vez de Riza ficar surpresa, e depois pensativa.

- Sim senhor! Eu prometo! – “Você não tem jeito; Roy Mustang...”.

Ficou à espera da resposta do moreno, que veio após um suspiro.

- Tudo bem... Eu prometo. – “Você não me deixaria em paz se eu não o fizesse...” pensou, derrotado. – Bem... Se for para trocarmos promessas, façamos do jeito certo. – estendeu a mão para uma Hawkeye ainda perdida. Ela olhou da mão estendida para o seu superior. Rapidamente, estendeu a sua e apertou firmemente a mão masculina. “Assim está melhor...”, a mulher concluiu; sorrindo internamente.

_____

Seis meses depois; o futuro führer caiu numa armadilha inesperada.

- Licença, senhor. – ouviu a voz conhecida pedir, após duas batidas na porta.

- Tenente Hawkeye!

- Tenho coisas a tratar... – disse vagamente, indo a direção das estantes de livros.

Naquele momento, ele já sabia o que estava acontecendo. Estava perdendo todos os seus generais, a torre, o cavalo, o bispo... E a dama.

- Por favor, não morra. – foi o último pedido dela como sua tenente, e ele acataria de bom grado.

- Sim; claro! Não vacile também. – haviam feito um acordo: sem sacrifícios. Como ele mesmo havia dito, o rei valia muito pouco sem sua dama, mas ele, Roy Mustang, não valeria nada sem os Hawkeye, sem Riza...

Após o último cumprimento militar como sua tenente, ela se foi; e a sala foi invadida por um silêncio e por um vazio torturantes.

- Perdi meus peões, minha torre, meu cavalo, meu bispo... E até a minha dama. – “Até a dama...”. Foi quando se lembrou do firme aperto de mão de Riza, e da promessa que ambos trocaram em tempos tranquilos. - Mas não é xeque-mate... Ainda não! – seguiria em frente, assim como Riza pedira, e não desistiria, pois ainda não havia acabado. “A nação precisa do senhor; e a sua dama também.” Tinha que virar o jogo; proteger o que ainda tinha e conseguir de volta o que havia perdido. “A minha dama eu protegerei até fim”.


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Notas finais do capítulo

É a minha primeira Royai, e agradeço a todos que leram até aqui. n_n

E onegai: reviews não matam, mesmo quando estão xingando xDD

kissus, jaa o/



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