Pessoa Certa escrita por Mary
Notas iniciais do capítulo
Calli é doida. E eu sou péssima para escolher nomes '-' mas esse, Callissa, bateu como um tijolo na minha testa e então eu tive que coloca-lo.
- Onde você vai?
- Tenho que trabalhar.
- Fique.
- Tenho que trabalhar pra pagar o aluguel.
- Fique e eu pago o aluguel pra você.
Parei de pé em frente à cama. Jake é um idiota. E eu preciso pegar minha camiseta que ele estava deitado em cima. Subo na cama fazendo o máximo possível para mantê-lo distraído enquanto tento chegar à blusa. Quando ele ia passar o braço por mim, abaixei o corpo e puxei a blusa. Levantei-me rapidamente.
- Desculpe, mas eu não sou nada sua pra você ter que pagar meu aluguel.
- Nossa essa atingiu feio.
- Quando eu começar a mentir, a gente conversa.
Sorri e lhe mandei um beijo, dei-lhe as costas e sai do apartamento. Entrei no meu e voei pro banheiro. Se eu não ficasse pronta em quinze minutos iria chegar atrasada. E não é porque sou amiga dos donos que tenho privilégios em cima dos outros empregados. Mas talvez se eu fosse sócia... Isso está decidido.
Eu vou aceitar a proposta de sociedade. E quem sabe assim me sobra mais tempo pra focar no meu lindo livrinho que já estou quase terminando.
Tomei um banho me arrumei e já estava trancando a porta quando ouvi um ruído atrás de mim.
- Olá Calli.
Merda.
- Olá Cameron.
Eu ainda não tinha me virado para olhá-lo. Tão pouco queria fazê-lo. Cameron era o ex-namorado grafiteiro que terminou comigo porque não queria namorar uma garota que dançava melhor do que ele. E agora simplesmente não me deixa em paz, me liga o dia inteiro e tenta entrar na boate pra me ver. Sorte que Olie conhece e o impede.
- Não vai me olhar?
- Quem te deixou subir Cam?
- O porteiro é meu amigo.
Porteiro desgraçado.
- Vá embora.
Ele me prendeu contra a porta. Podia sentir sua respiração no meu pescoço. Senti medo. De verdade.
- Eu estou com saudade de você Calli...
- Vá se danar.
- Não me deixe zangado, não quero te machucar.
Ah, meu Deus. Ah. Meu Deus. Porque comigo? Logo eu que trabalho duro e nunca faço nada de ruim!
- Tudo bem Cam, agora me solte para podermos conversar...
Ouvi outro barulho. Chaves. Droga, tinha como piorar?
- O que está acontecendo aqui?
Parece que tem. Cam me soltou e virei-me pra poder encarar Jake que estava na porta de braços cruzados sobre o peito. Respirei fundo.
- N-não está acontecendo nada Jake.
- Quem é ele?
Os dois perguntaram ao mesmo tempo. Tinha que dar um jeito de sair daqui. Agora.
- Cameron esse é Jake. Jake, Cameron.
Eles se encararam por alguns segundos. Jake colocou um pé para fora do apartamento e começou a vir em minha direção. Cam se colocou entre mim e minha escapatória: a escada.
- Calli, entre, precisamos conversar.
- Não temos nada pra...
- Entre!
- Deixe-a em paz.
Ah, droga, droga, droga!
- Jake, está tudo bem. Pode entrar!
- É isso ai cara! Não se mete!
- Se estivesse tudo bem ela não estaria tremendo desse jeito!
A única coisa que eu queria era tirar ele dali, mas também o que era única era a resposta que e tinha: “Você queria o que? Eu sou um chihuahua!”. Mas eu sabia que isso não ia resolver.
- Tudo bem, tudo bem! Cam, você vai embora. AGORA! E Jake, você entra!
- E você?
Estava tão nervosa que nem sei quem foi que perguntou. Mas eu sabia para onde ia, mas eles não saberiam. Há, sou muito esperta!
- Eu vou sair daqui.
Desci os degraus rapidamente, quando cheguei à rua vi um táxi parando e deixando dois passageiros. Corri pra lá antes que Cam descesse. Entrei no táxi e o motorista me olhou assustado. Para minha sorte estava começando a nevar.
- Calma moça! Vai pra onde?
- Space Needle.
- Ok, e lá vamos nós.
No caminho ele foi me perguntando há quanto tempo eu morava aqui, o que fazia da vida e de quem estava fugindo.
- Como sabe que estou fugindo?
- Uma mulher que corre dessa maneira ou é liquidação ou está fugindo de alguém. E como vamos para onde vamos você deve estar fugindo.
- Certo. Estou fugindo do meu ex-namorado.
- Ele está te ameaçando?
- Não, não. Ele só pensa que manda em mim.
- Isso é um problema. Vou te dar um conselho, posso?
- Claro!
- Dê um chute no traseiro dele!
Soltei uma gargalhada. Isso era exatamente o que eu precisava: rir. Isso e ver a neve cair ao contrário. É agora que você diz “O que? Essa mulher é doida!”. Mas, ta isso também. O caso é o seguinte: o Space Needle tem um elevador que depois de nos levar até o topo em menos de um minuto quando desce rapidamente dá a sensação de que a neve está caindo ao contrário. E isso é simplesmente incrível!
Fala sério, se você passasse a adolescência querendo ver neve e quando chegasse num lugar onde, além de ver a neve cair, você podia ver a neve cair ao contrário, você não ficaria em êxtase? Pois é, foi o que imaginei.
Eu faria isso pelo menos umas cinco vezes antes de ficar enjoada e resolver aproveitar o restaurante no topo. O táxi parou, eu paguei o motorista e disse que seguiria seu conselho da próxima vez que visse meu ex. Fiquei na calçada acenando enquanto o carro virava a esquina.
Me virei para olhar a torre. Era tão grande! Eu amava aquele lugar.
Fiz o meu belo passeiozinho mais até de cinco vezes recebendo olhares feios dos seguranças. Parei no restaurante e comi algo que nem senti o gosto exatamente. Então peguei um copo grande de café e fui pra torre de observação. Àquela hora havia alguns turistas curiosos, mas ninguém prestaria atenção em mim. Fui para o lado mais distante com meu café e encostei-me à grade.
Fiquei bem mais de duas horas ali. Como eu sabia disso? Segundo minhas contas: Eu posso tomar um copo grande de café em cerca de dez minutos e agora eu já estava no décimo quarto copo. Já se foram trinta dólares.
- Ah, encontrei você!
Ah, droga! Esqueci de ir trabalhar!
- Olá Ally.
- Você me deixou preocupada!
Ela me abraçou, me segurou pelo ombro, me chacoalhou, passou o braço pelo meu e se recostou na grade. Tudo isso em menos de trinta segundos.
- Mas durou cerca de quinze minutos, que é o tempo de táxi até aqui.
- Você sabia que eu estaria aqui.
Não foi uma pergunta.
- É claro que eu sabia!
- Você sempre sabe.
- É, eu sempre sei!
Ficamos alguns minutos paradas lá, Ally apontando as coisas e me cutucando para que eu olhasse. Até que ela ficou quieta por mais de um minuto e me deixou preocupada. Porque ela nunca ficava quieta!
- Que foi Ally?
- O Jake me pediu pra ajudar a te procurar.
- Você disse pra ele que eu estava aqui?
- Eu não falei... Pelo o que ele me contou que aconteceu, eu imaginei que você queria ficar sozinha.
- Obrigada.
- Eu queria saber Calli, porque foi que o Cameron foi atrás de você?
Voltei a fitar a paisagem escura á minha frente. A verdade é que eu também queria saber.
- Não sei Ally, nem faço ideia. Mas ele está sempre atrás de mim, não seria estranho se fosse pra me pedir para voltar.
Ally suspirou e se escorou mais na grade bufando. Ela olhou para o porto e fez carinha de criança birrenta. Sorri.
- Que foi Ally?
- Eu queria passear de barco...
- É, mas eles não fazem passeios quando está nevando.
- Isso é maldade. Por que só quando está tão frio é que eu consigo sair da boate pra passear a noite, mas parece que as pessoas agora só querem se aquecer com dança e como não tem mais ninguém pra cuidar da boate, o Olie se recusa a sair.
- Então pode dizer a ele pra se arrumar.
- Por quê?
- Eu estou aceitando o pedido de sociedade Ally.
Ela me olhou de onde estava escorada. – Tem certeza?
- Sim.
- Certeza absoluta?
- Claro!
- Sério mesmo?
- Eu juro Allyson.
Ela se endireitou e ficou de frente para mim.
- Você não vai se arrepender sócia!
Então ela pegou minha mão e começou a chacoalhá-la desesperada.
- Eu tenho certeza que não.
A abracei e percebi que os turistas que ainda estavam lá nos olhavam se divertindo.
- Agora aqui meu primeiro passo como sócia.
Andei até eles, que se encolheram pensando que eu ia tomar satisfação. Parei e sorri.
- Boa noite! Percebi que vocês estavam nos olhando de forma engraçada. Então vou explicar o que foi que aconteceu: Eu acabo de entrar em sociedade com aquela garota e seu marido. Eles são donos de uma boate no centro, á quinze minutos daqui. Se vocês se interessam em dançar, venham conosco e ganhem bebida grátis!
Vários deles desceram com a gente e pegaram seus carros alugados e seguiram o nosso táxi até a boate. No caminho pedi para a Ally ligar pro Oliver e pedir que ele trouxesse o carimbo vip para a entrada. Carimbamos todos os turistas que entraram e que ficaram maravilhados com tudo.
- O que foi isso Ally?
- Coisa da Calli, a nova sócia.
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