O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado


Capítulo 50
VI.3 Respostas exigem-se.




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A máquina das dimensões estava quase pronta, umas ligeiras afinações e poderia, finalmente, encerrar aquele projeto. Apagou a luz do habitáculo, admirando a cabina que ficara bastante apresentável. Tinha um banco confortável, um painel de comandos simples, uma pequena janela redonda de vidro esverdeado.

Esperava que nunca precisassem daquela máquina e, nesse sentido, encarregara Ubo de uma missão que poderia ajudá-los de uma outra forma. Mas o pupilo de Son-kun estava a demorar demasiado. Por que é que ainda não tinha regressado do Palácio Celestial?

Um apito agudo fê-la regressar às oficinas e a mente ocupou-se com o trabalho. Dirigiu-se ao robot que trabalhava nos motores da máquina das dimensões. Inseriu novas instruções, acompanhou o relatório preliminar das necessidades energéticas do motor e começou a introduzir os dados no computador portátil, agachada junto às pernas metálicas da máquina.

A porta da oficina abriu-se e fechou-se. Sorriu, pousou o computador portátil no chão, retirou as luvas. Ei-lo que regressava com o jovem sacerdote. Mas parou com um estremeção ao ver quem tinha chegado, não por ser quem era, mas porque tinha a cara velada com a mesma dor que usara como uma máscara quando tinham estado na outra dimensão.

- Por que é que nunca me contaram sobre mirai Trunks, ‘kaasan?

Bulma foi atingida de chofre por aquela pergunta. Estava preparada para tudo, menos para aquela dúvida, que lhe soou totalmente deslocada daquele contexto. A máquina das dimensões zumbia atrás dela.

- Nani?

- Mirai Trunks – disse-lhe o filho vincando cada sílaba.

O sorriso saiu-lhe artificial.

- Já sabes o que é que o teu pai pensa sobre essas histórias do passado – começou, tentando raspar o peso da pergunta, da dúvida.

- Lamechices.

- Precisamente. Não é muito frequente, cá em casa, falarmos de coisas que já aconteceram. O teu pai não aprecia recordar o que foi, em tempos, quando trabalhava para Freeza e eu tenho memórias antigas que partilho com alguém que, de vez em quando, ainda nos visita. Por isso, o que aconteceu, aconteceu. Temos construído esta família com base no futuro e olha que tem funcionado bastante bem, tendo em conta a personalidade do teu pai e a minha também, admito.

- Futuro, isso… Mirai Trunks – insistiu, tornando a vincar cada sílaba.

Bulma cruzou os braços.

- Bem, já sabes que ele existiu nas nossas vidas… E depois? O que é que vai mudar com essa revelação? Trunks-kun, estamos no meio de uma crise, a guerra contra Zephir ainda não terminou e não precisamos de nos distrair com pormenores acessórios.

Ele soltou uma gargalhada desiludida.

- Pormenores acessórios…Excelente. – Exigiu controlando a voz para não gritar: – Conta -me, ‘kaasan. Que idade tinha ele quando apareceu nas vossas vidas?

Ela respirou fundo. Se queria saber a verdadeira essência daquela dúvida, o propósito escondido, teria de ceder e responder.

- Tinha dezassete, dezoito anos. Depois passou um ano com o teu pai na Sala do Espírito e do Tempo, no Palácio Celestial e passou outro ano aí, mas sozinho. Tu conheces, estiveste nessa sala com Son Goten a combater Majin Bu, orientados por Piccolo. Quando mirai Trunks nos deixou tinha já vinte anos. A última vez que o vi foi num torneio organizado por um homem muito rico, quando apareceu aquele guerreiro chamado Bojack que queria destruir o Universo.

- Era como eu sou agora.

- Era mais novo do que tu és agora.

Trunks sorriu com amargura.

- Ele passou um ano com Vegeta?

- Hai. Aproveitaram para se conhecer melhor, Vegeta aprendeu a respeitá-lo, quando não respeitava ninguém. Foi muito importante para o teu pai tê-lo conhecido. Mudou-o, de certa forma, aproximou-o de nós. De ti e de mim…

- O meu pai gostou primeiro dele, para depois gostar de mim. É isso que me estás a dizer?

- Não! – Emendou, apesar de ser verdade. – Gostou dele de maneira diferente, era outro Trunks. Não eras tu, era muito diferente. Estava marcado pelo apocalipse que tinha atingido o mundo de onde vinha, onde todos os guerreiros tinham sido assassinados pelos humanos artificiais do Dr. Gero. Tinha sido treinado por Son Gohan, era um guerreiro solitário a lutar contra o destino. Depois, Bulma construiu a máquina do tempo para que ele viajasse até ao nosso passado para nos ajudar.

Apontou, sem querer para a máquina das dimensões.

- Por que é que estás a falar de ti na terceira pessoa?

- Porque não sou eu. Nem ele és tu.

- Tens razão. Eu não sou ele.

Ela confessou relutante:

- Se queres saber se o estimava como um filho… Estimava-o, sim. Afinal, ele estava a arriscar a vida para nos salvar dos humanos artificiais primeiro, de Cell depois. Era um dos nossos amigos.

- Tens saudades dele?

- Às vezes penso nele, sim. Gostaria de saber novidades, saber se está tudo bem no mundo dele. Mas acredito que estará. Essa Bulma deve ter desmantelado a máquina do tempo para evitar mais perturbações na linha temporal. Há projetos que, às vezes, podem prejudicar-nos. Foi por causa das viagens no tempo de mirai Trunks que Cell apareceu no nosso mundo.

E espreitou a máquina das dimensões.

Trunks enfiou as mãos nos bolsos, baixou a cabeça.

- Quem foi que te falou dele?

Ele respondeu cabisbaixo:

- Alguém que também aprendeu a gostar de mim porque gostou dele primeiro. Ou talvez apenas goste dele e nem sequer o sabe.

- Nani? Estás a falar de quem?

- Gostei de saber que mirai Trunks foi tão importante nas vossas vidas.

- Trunks, não cries um problema com este assunto. É passado.

Ele começou a andar num círculo, como se não conhecesse a maneira de sair da oficina. De repente, aproximou-se dela, perguntou-lhe olhos nos olhos:

- Mirai Trunks era triste, não era? Por causa do mundo destruído de onde vinha.

- Hai.

- E eu também fui assim… quando estava na Dimensão Real. Tinha a mesma tristeza, não tinha?

Ela franziu a testa.

- Provavelmente.

 Sorriu-lhe e atirou com ironia:

- Arigato, ‘kaasan. Por este momento lamechas.

A oficina ficou mortalmente só quando Trunks saiu. Bulma sentiu-se vazia após aquele vendaval de palavras. O apito agudo do robot captou-lhe a atenção, arrancou-a da contemplação muda da porta fechada. O motor da máquina estava acabado e pronto para ser testado.

Olhou para a máquina das dimensões e lembrou-se da Ana. Fora ela que contara sobre mirai Trunks e fora ela que o filho mencionara, mesmo no fim da conversa. 


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Noite especial.



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