O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado


Capítulo 48
VI.1 A assombração do passado.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo narrado na primeira pessoa.



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O Medalhão de Mu era um objeto invulgar.

Agarrei na corrente dourada e coloquei-o ao pescoço.

Olhei-me ao espelho.

Era curioso, mas o medalhão tinha vindo com uma corrente, como se fosse uma indicação inequívoca que seria para usar ao pescoço. Era pesado, amarelo, ostensivo. E também invulgar.

Não desfitava o espelho. Pareceria vaidade a quem me visse, estava somente hipnotizada pelo aspeto que me conferia a Dimensão Z e não conseguia apartar o olhar da imagem que me devolvia o espelho. Era capaz de me reconhecer, os traços estavam lá todos, os pequenos detalhes que faziam de um rosto algo único, mas agora estava tudo ampliado. Grandes olhos, nariz arredondado, boca pequena, a pele branca e lisa, cabelos volumosos. Em suma, um desenho animado e arrepiava-me porque era como se um artista me tivesse feito um retrato para criar uma heroína de banda desenhada japonesa.

Depois olhava para o medalhão, para não me fixar demasiado no meu rosto que me era estranho, apesar de detetar neste, sem sombra de dúvida, as minhas feições de sempre. E concluía invariavelmente que o medalhão era um objeto invulgar.

Começava por não ser redondo, mas triangular. As minúsculas saliências que tinha num dos lados indicava que era ali que se encaixaria a outra metade e que, uma vez juntas, formariam um perfeito triângulo equilátero. No centro ficaria um círculo com raios, a representação de um sol, com inscrições a toda a volta numa língua indecifrável. O outro lado era liso.

Assim, ao meu pescoço, não passava de um adereço comum, uma bijuteria adquirida numa qualquer loja de centro comercial, e não lhe senti nenhum poder especial. Era apenas um medalhão invulgar.

Humedeci os lábios. Assentei as mãos na cintura, inclinei a cabeça para a direita. Recuei alguns passos para conseguir ver-me de corpo inteiro, até aos pés. Vestia finalmente roupa normal que Bulma me tinha emprestado. Bem, já era a segunda vez. Guardava dentro do armário, na minha dimensão, o conjunto de camisa e calças que ela me tinha dado quando almoçara pela primeira vez com eles e esperava sinceramente poder devolver-lhe as roupas assim que fosse possível. Mas, com aqueles últimos desenvolvimentos, duvidava seriamente que o iria fazer.

Vestia uma blusa amarela de decote redondo e manga curta, justa ao corpo, debaixo de um casaco azul que me dava pela cintura, de meia manga. Usava finalmente um soutien que me moldava o peito, tornando-o maior. Vestia ainda umas calças de ganga curtas, bainha acima do tornozelo, meias brancas e sapatilhas encarnadas de atacadores também brancos. 

- Se queres saber, continuas igual.

Olhei para a porta do quarto que estava aberta. Trunks sorria-me.

- És tu, Ana, com um corpo da Dimensão Z.

- Honto?

Trinquei a língua, continuava sem perceber por que falava eu em japonês e percebia o que dizia e o que me diziam.

- Igualzinha… Mais bonita, até.

- Só estava a ver-me… Ainda não me tinha visto.

Aproximou-se. Abandonei o espelho, a cisma com a minha imagem que me perturbava, admitia-o. Reparou no meu pescoço.

- Estás a usar o medalhão?

- Não o devia usar?

- Bem, o feiticeiro quer esse medalhão.

- E quer-me a mim também. Sou um isco ambulante, com ou sem esta coisa.

Cruzou os braços.

- Ei… Estás na minha casa, comigo. Mesmo que sejas um isco ambulante, não precisas ter medo. Irei proteger-te. Tens mais gente que te irá proteger.

- Eu sei…

- O meu pai incluído.

- Vegeta! Acredito que sim, apesar de querer estrangular-me sempre que me vê.

- Sabes como ele é…

- Por acaso, até sei.

Ele olhou em volta.

- Gostaste do teu quarto? Espero que estejas bem alojada.

Tinha passado aquela noite ali, depois de termos chegado das montanhas. Estava cansada, não me demorara a classificar o meu novo alojamento, aceitara-o agradecida e mais nada. Deitara-me na cama e adormecera imediatamente. Quando acordara tomara um duche na casa de banho privativa do quarto, já tinha a muda de roupa lavada à minha espera e uma bandeja com o pequeno-almoço. Melhor que um hotel.

- Está tudo perfeito. Não podia pedir mais.

O rosto dele fechou-se. Desabafou:

- Hum… Conto passar alguns dias em casa. Preciso de uma pausa.

- Achas que o feiticeiro não vai atacar? Procurar por mim e pelo medalhão? Ele sabe que pedimos o medalhão com a ajuda das sete bolas de dragão, não é estúpido.

- O mais provável é isso acontecer. Mas agora, não quero falar no feiticeiro. Preciso mesmo de um pouco de descanso.

Sorri-lhe.

- Aquele par de dias na cabana das montanhas não foram suficientes?

- Foram trabalho. – Sorriu-me de volta. – Estivemos a proteger-te, lembras-te? Os sentidos sempre alerta, a trabalhar para comer.

- Não estavas sozinho. Eu gostei desses dias… Para mim, foram quase como umas férias.

- Aposto que sim… Gostas da Dimensão Z.

Acenei afirmativamente, sem perceber e que queria ele alcançar com aquela afirmação.

- Claro que gosto. Estou contigo, no teu mundo…

- Sabes que o tempo aqui corre de maneira diferente da Dimensão Real?

Fiquei preocupada.

- O que queres dizer?

- Já se passaram quase quatro dias desde que chegaste, o que significa que se passaram quase quatro meses na Dimensão Real.

Tapei a boca com as mãos, escandalizada com a revelação.

- Ah! – Exclamei. – Estou desaparecida há… quatro meses?!

- Já deves estar em todos os jornais e televisões – observou com um sorriso torto. A situação divertia-o. E depois percebi porquê quando acrescentou: – Será muito difícil voltares e conseguires explicar onde estiveste durante esse tempo todo em que estiveste desaparecida. Vão achar que estás louca.

- Já te tinha dito que não vou a lado nenhum.

Encostou-se à cómoda, por cima da qual se pendurava o grande espelho retangular, braços cruzados.

- Tens a certeza? – Perguntou.

Respondi, a ficar nervosa porque ele estava tão sério:

- Claro que tenho a certeza. A Dimensão Z é o teu lugar e quero estar onde tu estás… Diz-me: mesmo que, por hipótese, quisesse regressar, saberias indicar-me como fazê-lo?

Abanou a cabeça, encolheu os ombros.

- Mas deve haver uma maneira – disse-me, apartando o olhar.

- E isso é importante agora? – Murmurei e espreitei o meu perfil no espelho. Realmente aquele soutien fazia-me o peito maior.

Acabou por responder após uns momentos de silêncio:

- Não, não é. Não vamos falar disso agora, pois não?

Olhou-me intensamente, o azul límpido daqueles olhos a aquecer-me lentamente, como se me estivesse a cozer em fogo lento. Tinha medo que eu me fosse embora e eu tinha medo de me ir embora. Um pressentimento que nos fazia resguardar a alma e não sermos totalmente sinceros. Abanei a cabeça, disse-lhe que também não queria falar daquilo. Esquecer o feiticeiro, por uns tempos era uma excelente ideia, porque até naquilo Zephir interferia.

Os dedos dele esticaram-se até ao medalhão. Desviei-me.

- Não toques nisso.

- Achas que me vou desintegrar?

- Acho!

Riu-se. Os dedos desistiram do medalhão, subiram, tocaram-me na face, ao de leve. Um contacto mínimo, apenas com a superfície da pele, lânguido, em câmara lenta, a prometer pressão mas a esquivar-se à profundidada de um toque normal. Fiquei excitada e corei. Ele sorriu-me.

- Goten já sabe que gosto de ti – revelou. – Conseguiu descobri-lo, mesmo antes de lhe ter pedido que se afastasse naquele dia, na cascata, o que por si só é um milagre, porque ele nunca percebe nada do nada.

- E não se importa de perder o melhor amigo para uma rapariga que vem de uma dimensão esquisita?

- Ele também está apaixonado.

- Por quem?

- Maron, a filha de Kuririn-san.

- Ah, que interessante. E ela também gosta dele?

- Vai gostar.

Estranhei.

- Vai gostar, como? Ainda não gosta dele?

Continuei a falar, para ver se me acalmava, porque ele aproximou-se, eu continuava excitada e corada e se ele continuasse não conseguiria dominar o desejo que me estava a transtornar:

- Como é que não se pode gostar de Son Goten? Ele é tão… adorável. Dá vontade de apertar nos braços, como se fosse um peluche.

Trunks apoiou as mãos na cómoda, entalou-me entre ele e o móvel, debruçou-se sobre mim.

- Para com isso ou vou ficar com ciúmes.

Lembrei-me que tinha gostado de abraçar Goten no colchão da cabana e corei mais ainda. A ponta do nariz dele tocou na minha.

- O que é que estás a fazer? – Perguntei.

- Estou a tomar posse, mais uma vez, daquilo que é meu.

- Tu consegues sempre tudo o que queres?

- Sempre.

- Isso torna-te um pouco… presunçoso, não achas?

- E depois? Dá-me também um certo encanto.

- Ah! Super presunçoso. Pode chegar a ser desagradável.

- Tu gostas.

- Continuas a esticar a corda.

- E estás a implorar-me que vá mais longe.

- O que queres dizer, Trunks Brief?

Calou-me com um beijo.

Coloquei as mãos em cima dos ombros dele e pressionei para tentar afastá-lo de mim, que me empurrava decidido para cima da cómoda, forçando-me a abrir as pernas.

- Espera! Estamos… na tua casa.

Sorriu. Agora também ele estava corado.

- A Capsule Corporation tem mais de duzentos quartos. Se estás a pensar que a minha mãe, ou eventualmente o meu pai, ou até a minha irmã, vai aparecer aqui, esquece. É virtualmente impossível. Cada um está no seu canto, nos seus afazeres.

- Mas… A porta… está aberta – tentei explicar.

Beijou-me demoradamente. Empurrou-me suavemente, moderando a força imensa que possuía e era um deleite perceber como se controlava comigo, que era tão frágil para ele como uma escultura de papel. Sentei-me na cómoda, enrolei as pernas na cintura dele.

- E não gostas do perigo? – Arfou enquanto me trincava a orelha. – Deixa a porta aberta…

- Ah… Trunks – suspirei. – Não…

Exercia sobre mim um poder que derrubava qualquer pedaço de vontade que pudesse contrariar o que ele queria. Era irritante que conseguisse sempre levar a dele avante, mas essa faceta possessiva também me excitava e odiei-me por me entregar daquela forma tão despida e incondicional. Mas era curioso como esse tipo de entrega acendia ainda mais os sentidos.

Despiu-me o casaco, apalpou-me os seios por cima da blusa, do soutien. Os lábios dele brincavam com os meus, chupando, trincando. Tornei a suspirar o nome dele, aquecendo-o com esse murmúrio ardente. O calor fazia ricochete e incendiava-me a seguir.

- Trunks-kun, disseram-me que estavas aqui. Vinha saber se…

Aquela voz sobressaltou-nos e interrompeu tudo.

A cena rubra de desejo apagou-se subitamente. O vermelho converteu-se em preto.

Pestanejei como se tivesse estado a sonhar e procurasse despertar de um sonho erótico que ultrapassara as fronteiras do mundo irreal e que se estendera ao plano físico. Trunks puxou-me da cómoda, escondeu-se atrás de mim.

Goten olhava para nós com a cara a arder, qual estátua parada na porta aberta.

Sussurrei para Trunks:

- Pensava que tu e ele tinham uma ligação especial e que ele conseguia sentir o que tu sentias e que só aparecia quando tudo estivesse terminado.

- Tenho de o avisar primeiro. – Pigarreou. – Ei, Goten, o que é que fazes por aqui?

- Eu… Eu posso voltar mais tarde – gaguejou.

- Não voltas nada. Diz-me lá o que é que queres? Se já fizeste a viagem… - Acrescentou em surdina: – E se já me interrompeste, baka

- O que é que fazes atrás de mim? – Perguntei-lhe entredentes.

- Tenho de me acalmar. Espera mais um pouco e já saio daqui.

Mostrei um sorriso forçado, tentava compor a cena embaraçosa, mas Goten evitava a todo o custo olhar para mim e julgo que nem olhava para o amigo. Os olhos dele focavam-se num ponto qualquer acima dos cabelos de Trunks.

- Eh… Pensei em aparecer para irmos até ao nosso local secreto e… treinar. Treinar contigo. Mas estás ocupado e posso voltar noutro dia…

De repente, Trunks saiu das minhas costas, enfiando as mãos nos bolsos das calças.

- Está bem, não tinha mesmo nada para fazer esta manhã. Vamos treinar. Devemos estar na nossa melhor forma quando enfrentarmos os guerreiros do feiticeiro, para que não volte a acontecer o que aconteceu na primeira vez que estivemos no templo.

Comecei a pentear os cabelos com as mãos, Trunks olhou para mim e parei.

- A Ana vai connosco. Já não estamos nas montanhas, mas devemos continuar a protegê-la. Até porque ela tem o medalhão.

Vi os olhos de Goten passarem, de relance, por aquilo que eu usava ao pescoço.

- Hai – concordou sem hesitar.

- Espera aqui, vou só vestir o meu dogi. Serei rápido.

Saiu do quarto.

Vesti o casaco devagar. Sorri para Goten que analisava os meus gestos e ao perceber que tinha-o descoberto a fixar-se em mim, resmungou um pedido de desculpas e girou os calcanhares, ficando de costas para mim.

- Espero que não te importes em levar-me atrás.

- Não, claro que não – respondeu-me sem se voltar. – Tenho passado os últimos dias contigo.

- É verdade. Já deves estar farto de mim.

Encarou-me.

- Não. Tu és uma boa companhia.

- Só que não sei lutar.

- As raparigas, normalmente, não sabem lutar… Acho que isso é mais um defeito da minha família.

- A Maron sabe lutar?

Corou escandalosamente.

- Ups… - Franzi a boca. - É um segredo?

Encolheu os ombros.

- Acho que já deixou de ser segredo…

- Mas eu não conto a ninguém. Juro!

Soprou o ar com que tinha enchido as bochechas.

- Hai, a Maron sabe lutar – respondeu.

Compreendi aquilo que ele vira nela, o encanto sublime de uma mulher lutadora, defeito de família sem dúvida e sorri. Confessei divertida:

- Bem, já vi que sou uma boa companhia mas que podia ser melhor.

Trunks voltou vestindo um dogi verde, uma versão adulta daquele que costumava usar quando era miúdo. Fui às cavalitas dele, sobrevoando West City numa viagem pelo ar que me divertiu por ter tido o que observar abaixo de mim, o rebuliço peculiarmente colorido de uma grande metrópole. Aterrámos num bosque que ficava próximo, num sítio amplo e muito verde. Sentei-me na relva, debaixo da sombra de uma árvore frondosa.

Os treinos começaram. Sem ataques flamejantes, sem super saiya-jin, combinaram previamente, o que acabou por transformar a ocasião numa exibição pouco emocionante de técnica e de força. Adormeci alguns minutos, embalada no calor primaveril da manhã, despertei com as gargalhadas de Goten quando Trunks se tentava levantar depois de um soco que o tinha apanhado desprevenido.

Deixei-me ficar onde estava. Levava a mão ao medalhão e brincava com ele, passando o polegar pelos desenhos, sentindo cada um dos raios do sol, cada um dos estranhos símbolos que fariam parte de uma língua antiga. Perguntei-me quem teria sido esse Mu que dera o nome ao medalhão, perguntei-me o que me estaria ainda reservado. Pensei no feiticeiro e interroguei-me se ele também pensaria em mim, se andava à minha procura com a sua magia diabólica. Dormitei outra vez.

E sonhei que via a minha dimensão por um telescópio gigantesco. A lente no fim do enorme tubo mostrava-me uma versão reduzida e cinzenta do que tinha acontecido antes de ter interagido com Trunks, rebobinando o filme rapidamente, as cenas sucedendo-se do fim para o princípio. Detestei ver aquilo, queria tirar o olho do telescópio mas não conseguia.

- Nunca mais quero voltar para ali!

O meu grito despertou-me, porque o feiticeiro dizia-me que não e ameaçava-me com uma mão esquelética onde brilhavam umas unhas afiadas.

***

Goten estendeu-se na relva, braços e pernas abertos. Trunks sentou-se ao lado dele. Os dois suavam copiosamente, mas sorriam um para o outro e elogiavam-se mutuamente.

- Estamos a melhorar bastante. Se enfrentássemos hoje os dois demónios do feiticeiro, o resultado seria bem diferente.

- Podemos voltar a treinar amanhã se quiseres, Trunks-kun.

- Hai. Vamos treinar todos os dias. Até sermos chamados novamente para a ação.

- Quando é que isso irá acontecer?

- Sei lá… Até pode ser agora, Goten.

- Ah, não me importava nada. Sinto-me em plena forma.

- Olha que os demónios são imortais.

- Mas deverão ter algum ponto fraco.

- Talvez…

Bati palmas, fingindo que tinha acompanhado o treino ao pormenor.

- Parabéns, rapazes!

Olharam os dois para mim, com sorrisos cansados e não consegui apontar qual o que me parecia mais bonito naquele momento. Eram os dois deslumbrantes, devido certamente ao sangue alienígena que lhes corria nas veias. Continuei em jeito de troça:

- São grandes campeões, dignos de honrarem a memória de Mr. Satan! Qualquer dia, até poderão ser aceites na sua escola de artes marciais.

Trunks soltou uma gargalhada. Deu uma cotovelada ao amigo, Goten sentou-se e puseram-se os dois a erguer o braço, de punho fechado a um ritmo constante, fazendo em coro a saudação característica dos apoiantes do campeão:

- Sa-tan! Sa-tan! Sa-tan!

Bati mais palmas.

- Mr. Satan é um grande campeão, seria uma honra frequentar a escola dele – concordou Goten divertido, limpando o suor da testa com o braço. – Mr. Satan é uma lenda, salvou-nos a todos quando eliminou o terrível Cell. E também quando acabou com Majin Bu, apesar de ninguém se lembrar que isso aconteceu.

Fiquei mais séria.

- Como é que o mundo inteiro acredita que foi Mr. Satan que eliminou o Cell quando existe um filme em que se consegue ver todos os grandes guerreiros da Terra, incluindo Son Goku que se enfrentou ao monstro com melhores resultados que esse fanfarrão que se intitula de grande campeão?

Goten olhou para Trunks.

- Esse filme ainda existe, não é? – Perguntei.

- Acho que sim – respondeu Goten.

- Nunca o vimos – acrescentou Trunks e levantou-se. Goten levantou-se atrás e eu também o fiz. – Mr. Satan proibiu que o filme fosse exibido, depois de ter aparecido numa transmissão televisiva há alguns anos atrás, levantando algumas questões incómodas. Acho que todas as cópias foram destruídas e a única que existe está guardada num cofre na mansão de Mr. Satan.

- Questões incómodas? Pudera! – Exclamei. – A começar pela exibição humilhante frente a Cell, que expulsou o grande campeão do tatami com apenas um golpe, a acabar nas imagens dos guerreiros. Não é preciso ser muito inteligente para conseguir identificar os quatro saiya-jin no meio desses guerreiros e deduzir que só eles teriam a capacidade necessária para acabar com o monstro.

O olhar de Trunks foi estranho.

- Quatro saiya-jin? – Perguntou-me. – Mas só havia três saiya-jin nessa altura disponíveis para lutar.

- Não, quatro. – Mostrei os dedos da mão que fui dobrando à medida que ia dizendo: - Goku, Gohan, Vegeta… e mirai Trunks.

Goten meteu-se entre mim e Trunks dizendo alto:

- Eh, não estás com fome? Eu estou com fome, muita fome. Os treinos deixam-me sempre esfomeado… Vamos comer, Trunks-kun?

Trunks empalidecera.

- Na-nani? – balbuciou.

Provavelmente, Mr. Satan tinha agido corretamente ao ter encerrado o filme do torneio de Cell no seu cofre pessoal, dentro da sua mansão, porque causava tantos problemas, levantava tantas questões. Um gesto ajuizado que evitava tantos prejuízos estéreis.

Trunks afastou Goten, colou-se a mim.

- Quem é esse mirai Trunks?

Fechei a boca, olhei para Goten que estava mortificado.

- É… Ninguém importante. – Forcei um sorriso. - Olha, eu também estou com fome. Vamos comer?

Mas Trunks não desarmava. Agarrou-me pelos braços.

- Responde-me! Mirai Trunks era um saiya-jin adulto na época do torneio do Cell? De onde é que ele veio?

- Bem…

Olhei para Goten que abanou a cabeça. Olhei para Trunks. Respondi, porque as mãos dele apertavam-me os braços:

- Veio do futuro, numa máquina do tempo. De um futuro diferente, de um mundo que tinha sido destruído pelos humanos artificiais número 17 e número 18 e onde Son Goku tinha morrido com uma doença cardíaca e não estivera presente para tentar salvar a Terra. Fez a viagem para modificar este mundo e construir outro futuro.

Soltou-me com um safanão. Afastou-se numa corrida veloz e levantou voo, na direção de West City.

Sustive a respiração.

- Ele não sabia…

- Não – confirmou Goten.

- Porque é que ninguém lhe contou? – Perguntei e o meu coração deu um salto.

- Não sei…

- E tu sabias?

- Hai. Gohan costumava contar-me as histórias dos grandes combates do passado quando eu era mais pequeno.

- E por que é que nunca lhe disseste?

- Não sei… Nunca foi importante ou necessário.

Esfreguei os braços, o sítio onde ele me apertara estava a doer-me.

- E agora também não é importante ou necessário, pois não? Oh… fiz asneira.

O sorriso de Goten tentava tranquilizar-me.

- Algum dia ele haveria de descobrir que existiu esse mirai Trunks.

- O que é que vai acontecer agora?

- Agora, tenho de te levar comigo, porque ainda estamos longe de West City e nunca mais lá chegas se fores a pé.

Olhei-o desconcertada. Tentava gracejar para que me esquecesse da tempestade que tinha acabado de provocar ao ter falado mais do que devia, mas a sua atitude sorridente destoava dos olhos que estavam tão tristes. Como os meus, sabia-o e talvez aquela tristeza fosse uma resposta à minha e vice-versa.

Aceitei a boleia, não podia fazer outra coisa. Subi para as costas dele, abracei-me com força e, ao contrário da primeira viagem, não me encantei com o regresso. Só pensava em Trunks e no choque estampado no seu rosto lívido ao conhecer um segredo do passado.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Viagem perigosa.



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