O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado


Capítulo 34
V.1 Uma nova peça no jogo.




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Não sabia explicar porque o fazia, mas fazia-o.

O robot deslizou pela oficina a apitar suavemente dirigindo-se para a porta aberta. Saiu e deixou Bulma sozinha, sentada diante do computador que se ligava por um grosso fio negro à máquina das dimensões. Dedilhava o teclado com firmeza, concentrada nas informações que corriam no monitor.

Carregou na tecla Enter. Analisava o programa que tinha compilado, corrigindo-o para funcionar corretamente: calcular de forma automática as coordenadas da Dimensão Z e da Dimensão Real dentro do universo das dimensões possíveis. Afortunadamente, quando da viagem interdimensional que ela e todos os outros amigos de Son Goku tinham feito, o computador estava ligado na garagem da vivenda e fixara os parâmetros da Dimensão Real. O temporizador também gravara na pequena memória a data e a hora exatas da partida, o que significava que assim que conseguisse que o programa calculasse os parâmetros da Dimensão Z, bastava substituir alguns componentes do painel eletrónico, ajustar a consola interior dos comandos, tornar o habitáculo apresentável e a máquina das dimensões ficaria finalmente pronta.

Fazia o que Vegeta lhe pedira, incomodada por saber que aquele mostrengo que ela abominara desde o início haveria de causar um rombo, talvez impossível de sarar, no coração do filho. No entanto, no fundo da alma, sabia que Vegeta tinha razão e que deveriam combater o feiticeiro com todas as armas.

Mas haveria outra solução, pensava. Poderiam combater Zephir com a arma que ele esgrimia soberbo, convencido que não havia outro capaz de o rivalizar naquela arte: a magia! Se tivessem um feiticeiro do lado deles, a anular todos os intentos de Zephir, a desfazer o que Zephir construía, a ultrapassar Zephir em qualquer plano que gizasse, talvez derrotá-lo fosse, afinal, uma coisa simples de se alcançar.

Uma lista infindável de números passava no monitor. Até ali parecia que tudo estava a correr conforme o planeado. Uma luz ténue azulada brilhava-lhe no rosto. Sem desviar o olhar do monitor, agarrou na caneca e sorveu um pouco de café.

A porta da oficina abriu-se. Ela não se voltou. Estava à espera de um dos robots mecânicos que iriam ajudá-la a desmontar a parte inferior da máquina das dimensões para remodelar o local onde iria ser inserido o motor energético. Se estava na sua dimensão, iria afinar aquele mostrengo até à perfeição. Haveria de sentir orgulho daquele projeto que a frustrara tanto nos últimos tempos.

No entanto, em vez de um robot mecânico, ouviu uma voz.

- Bulma-san?

Sobressaltada, levantou-se da cadeira.

O aspeto desleixado não a deixou reconhecê-lo à primeira.

Depois, veio outra dúvida. Se ele era tão dotado para as artes marciais e tão forte, por que razão não acompanhava Son-kun na guerra contra Zephir?

Ele reparou no computador ligado.

- Bulma-san… Gomen nasai. Vejo que estava a trabalhar.

Ela sorriu para o tranquilizar.

- Não é nada de importante. Não me estás a interromper, Ubo-kun. – Mentia, pois queria saber o que fazia ele ali. – É a primeira vez que me visitas na Capsule Corporation.

- Eh… Hai, vim visitá-la, Bulma-san. Mas… – Baixou a cabeça. – Mas também vim para saber uma coisa.

O acanhamento de Ubo era estranho. Bulma puxou uma cadeira e disse simpática:

- Senta-te, Ubo-kun. Vou pedir que nos tragam alguma coisa para comer. Leite e bolachas. Talvez um bolo… Aqui só tenho café.

Os olhos do rapaz eram como duas pérolas negras, opacas, escondendo algo.

- Não é preciso, não tenho fome. Arigato… Bulma-san, não me vou demorar muito. Vim perguntar-lhe se sabe onde é que Goku-san está.

- Goku? Estás à procura dele?

- Hai. Ele… Desde que viemos da Dimensão Real que ele foi embora da ilha e… Disse-me que voltava logo, mas ainda não voltou e nunca mais deu notícias.

Bulma estranhou, franziu um sobrolho. Tentou explicar:

- Ele não deve ter tido tempo para dar notícias, acho… Desde que chegámos à nossa dimensão não tem parado. Primeiro, esteve no Templo da Lua. E agora anda à procura das bolas de dragão, com Vegeta.

- É por causa de… de Zephir?

- Hai, Ubo-kun. Existe um medalhão que Zephir não poderá obter. Goku e Vegeta estão a reunir as sete bolas de dragão para pedir a Shenron esse medalhão. Temos de combater Zephir com todas as armas.

E espreitou a máquina das dimensões.

Ubo aquiesceu com a cabeça em sinal que percebia.

Nisto, o pensamento de há pouco, enquanto via uma lista numérica correr no monitor do computador, reapareceu. Ela estremeceu. Outra solução era, de facto, possível!

Perguntou:

- Ubo, sabes onde fica o Palácio Celestial, onde mora o kami-sama?

- Hai. Nunca lá fui, mas Goku-san ensinou-me o caminho.

- Ótimo! Preciso que vás ao Palácio Celestial buscar uma pessoa. Fazes-me esse favor, Ubo-kun?

- Hai.

- No Palácio Celestial está um rapaz que se chama Toynara. É um antigo sacerdote do Templo da Lua que conseguiu sobreviver quando Zephir atacou o templo. Quero que o tragas para a Capsule Corporation, preciso falar com ele. Compreendido?

- Hai.

Bulma admirou-se com a disponibilidade do miúdo.

- Não me vais perguntar porque é que te estou a pedir que me tragas esse rapaz?

- Será por causa de Zephir, não é?

- Hai.

O sorriso de Ubo foi tranquilizador, mas, curiosamente, não combinou com o seu olhar, que continuava negro e opaco.

- Devemos todos combater Zephir – disse ele. – A Terra está em perigo.

- Ah… E por que é que não estás com Goku a lutar contra os guerreiros de Zephir?

Os cantos da boca de Ubo descaíram, estilhaçando o sorriso.

- Goku-san diz que… que sou muito pequeno para lutar.

- Muito pequeno? – Estranhou Bulma.

Aquela era uma novidade! Nunca Gohan fora considerado muito pequeno, nem o seu filho Trunks, nem mesmo Goten, quando estavam a braços com terríveis inimigos como Freeza ou Cell ou Majin Bu. As crianças saiya-jin tinham lutado sempre ao lado dos guerreiros adultos e eram muito mais jovens do que Ubo, que já contava com treze anos. Talvez a regra se aplicasse apenas às crianças saiya-jin.

Ubo afastou-se às arrecuas.

- Bulma-san, vou imediatamente para o Palácio Celestial buscar Toynara-san. Não me vou demorar. Prometo.

- Queres uma cápsula hoi-poi para ires até ao Palácio Celestial? Tenho aqui comigo um veículo aéreo que inventei há dois anos e que é muito fácil de pilotar.

- Arigato, Bulma-san. Não será necessário. Já sei voar, a técnica Bukuujutsu foi das primeiras que Goku-san me ensinou.

Despediu-se com um aceno de cabeça e saiu da oficina calmamente. Só no corredor é que desatou a correr. Bulma sorriu. Os modos educados de Ubo eram engraçados em alguém da sua idade.

***

Ubo não levou muito tempo a chegar ao Palácio Celestial. Assim que os seus pés descalços tocaram nas lajes brancas do recinto, encontrou o olhar perplexo do kami-sama.

- Ubo-kun?

Devia-lhe o maior dos respeitos, porque era o ser mais sagrado da Terra e a sua cabeça inclinou-se numa profunda reverência.

- Ubo-kun, o que fazes aqui?

- Venho buscar uma pessoa que se chama Toynara.

Um rapaz, que estava junto aos canteiros que Mr. Popo regava, olhou para ele sem uma expressão definida no rosto. O kami-sama deixou cair o bordão de madeira, Mr. Popo parou de regar as plantas

- Toynara?! Quem é que te falou de Toynara?

Ubo lembrou-se de Goku a perguntar-lhe aflito quem é que lhe tinha falado de Zephir. E o kami-sama usara o mesmo tom de voz que o irritava. Dominou a sombra que lhe endurecia o coração. Ocultou ferozmente a raiva surda que lhe aqueceu o sangue.

- Disseram-me para vir buscá-lo – respondeu. – Alguém acredita que poderá ajudar a lutar contra Zephir.

As palavras saíram pesadas da boca do kami-sama:

- Foi Goku-san que te falou de Zephir?

As perguntas estavam a incomodá-lo. Olhou para o rapaz. Continuava impassível, como que distante daquele lugar, deslocado de qualquer lugar.

- Toynara-san, pode confiar em mim. Irei levá-lo para um lugar seguro, tão seguro como o Palácio Celestial.

Toynara ficou calado, medindo o que ouvira. Depois disse:

- Acredito nele.

O kami-sama perdeu a paciência e exclamou:

- Não, Toynara! Tu não podes sair daqui!

- Devo ajudar-vos a derrotar Zephir. Ficando aqui, continuarei apenas a ser um fardo.

- Concordo contigo. Mas peço-te que esperes que Son Goku e Vegeta encontrem as bolas de dragão. Depois…

- Poderá ser tarde demais.

Uma rajada de vento silenciou a cena.

Toynara dobrou-se numa vénia demorada.

- Agradeço-vos a hospitalidade. Foi para mim uma honra inimaginável ter estado no Palácio Celestial.

A seguir, anunciou:

- Estou pronto para partir.

Ubo aproximou-se do rapaz.

Mr. Popo colocou-se atrás do kami-sama, como se o fosse amparar se ele resolvesse cair de indignação, por estar a ser desafiado. Tinha um olhar esgazeado e suava copiosamente. Escondia o jogo e Ubo detestava que lhe escondessem o que quer que fosse.

Toynara encavalitou-se nas suas costas e Ubo saltou para o vazio. No embalo do vento, a raiva que lhe incendiara a alma desapareceu e sentiu-se menos prisioneiro da sombra que se alimentava dos seus pensamentos sombrios, o que era estranho porque nunca soubera que existia aquilo dentro dele.

Espreitou o sacerdote que se mantinha calado. Apesar de não lhe ter perguntado nada, achou que deveria esclarecê-lo:

- Estamos a ir para West City, Toynara-san. Foi Bulma-san, uma amiga de Goku-san, que me pediu que o levasse para a Capsule Corporation. Quer conversar consigo.

Mas se o esclarecimento ajudara a aplacar qualquer fímbria de curiosidade, Toynara não esboçou o mínimo indício de que assim acontecera. Manteve-se mudo, petrificado, lutando para manter aquela pose altiva mesmo a ser chicoteado com o vento das alturas.

A viagem decorria em silêncio, quando Ubo sentiu uma impressão. Esfregou o peito incomodado e então ouviu a voz de Toynara:

- Apesar de seres tão jovem, já és um grande guerreiro. Vejo que és muito forte, Ubo.

Pelo canto do olho viu que Toynara continuava na mesma pose.

No entanto, mesmo sem mover os lábios, ele continuou a falar-lhe:

- A Terra precisa de ti. Também deverás combater Zephir. Queres combatê-lo?

Cerrou os dentes. A sombra ria-se dentro dele, onde a voz do sacerdote ressoava.

- Não vamos para West City… Tu não queres ir para West City. Queres ir para o Templo da Lua. E eu sei o caminho para lá. Deixa-me guiar-te.

Conseguiu contestar, com um murmúrio, a vontade a quebrar-se:

- Bulma-san está à nossa espera na Capsule Corporation.

- O sacerdote que conhece os pontos fracos de Zephir e o guerreiro mais poderoso da Terra… Nada nos irá derrotar no Templo da Lua. Seremos vitoriosos. Até agora, Son Goku não tem conseguido descobrir a solução para eliminar Zephir. Tem perdido todas as batalhas, uma por uma, apesar de julgar o contrário. Mas eu sei como eliminar Zephir, sei o que é preciso fazer para acabar de vez com esse maldito que nos ameaça a todos… Só que preciso também da tua força, Ubo. Ajuda-me! Vamos terminar esta guerra… Hoje. Tu e eu.

Ubo susteve a respiração.

- Vamos para o Templo da Lua.

O sussurro de Toynara foi estranhamente convincente.

E Ubo obedeceu.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
No templo novamente.



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