O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado


Capítulo 19
III.1 A máquina das dimensões.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/324955/chapter/19

A máquina das dimensões estava na Dimensão Z.

Bulma ficou boquiaberta ao entrar na oficina da Capsule Corporation onde trabalhava habitualmente. Porque teria vindo? Uma resposta provável seria que ficara, de alguma forma, ligada a esta.

Observou a estrutura incompleta, os fios pendurados, os interruptores desligados, as placas eletrónicas soltas. Era um testemunho incómodo de uma longa e dolorosa derrota de oito meses. Dera o melhor de si para pôr a máquina a funcionar, mas todos os seus esforços foram inglórios. Nada correra bem naquele projeto.

A máquina das dimensões… O mostrengo, corrigiu.

Afinal, nem tinham precisado da máquina, pensou, pois Trunks acabara por interagir e estavam de volta a casa. Talvez tivesse sido a solução mais fácil e também mais perigosa, mas fora certamente a única maneira de conseguir dormir descansada dali para a frente. Aquela máquina inacabada e o peso de ter de a acabar dentro de um prazo que ela sabia ser impossível de cumprir, estavam a dar-lhe cabo dos nervos.

- Foi melhor assim – murmurou convencida do que dizia.

O feiticeiro podia ser um deus, mas Goku e Vegeta e os outros guerreiros logo imaginariam uma qualquer ideia mirabolante para se desfazerem dele para sempre e a paz haveria de regressar. Goku sempre soubera o que fazer para salvar a Terra.

Cruzou os braços, a pensar que destino daria àquele esqueleto de chapa preta, amarela e azul. Iria desmanchá-la, decidiu. Não havia outra coisa que pudesse fazer. Sabia que a podia terminar com a tecnologia da Dimensão Z, mas não estava interessada naquele projeto, que haveria de lhe trazer más memórias e novamente noites mal dormidas.

Escutou um silvo nas costas, o ar moveu-se e voltou-se. Exclamou admirada:

- Vegeta!... Goku!...

- Yo, Bulma – cumprimentou Goku e, de seguida, foi direto ao assunto: – Precisamos do radar do dragão.

 - Mais devagar…

Reparou nas roupas desfeitas dos dois guerreiros, no sangue seco. Franziu o sobrolho, corando irritada:

- E por onde andaram para se apresentarem nesse estado?

- Estivemos no Templo da Lua para salvar a rapariga da Dimensão Real e acabámos a lutar contra os guerreiros de Zephir. Escuta, agora não temos tempo para…

- Que rapariga?

- A namorada de Trunks.

- Ahn?

Olhou para Vegeta que tinha um ar enfastiado.

- Não temos mesmo tempo para grandes histórias, Bulma – disse o príncipe.

- Faz-me um resumo rápido.

- Mas, Bulma… – protestou Goku.

Ela espetou-lhe um dedo na cara, exigindo:

- Contem-me! É o preço do radar do dragão. Querem o radar, digam-me o que é que se está a passar!

Vegeta contou, com o mesmo ar enfastiado:

- Quando o teu filho interagiu com a intrometida da Dimensão Real, transportou-a para a Dimensão Z.

- A intrometida? A rapariga que se chama Ana, certo? Aquela que almoçou connosco, depois de ter desmaiado por saber quem nós éramos?

- Essa…

Goku perguntou rasgando um sorriso:

- Já ganhámos o radar do dragão?

Vegeta prosseguiu, sabendo que a curiosidade dela ainda não estava satisfeita:

- O feiticeiro precisa da intrometida para unir um medalhão que está dividido em duas partes para se tornar num deus. Fomos até ao Templo da Lua resgatá-la, tivemos de lutar, daí este estado. Ela está, neste momento, com o teu filho e com o filho de Kakaroto, escondida nas montanhas para não ser novamente apanhada pelo feiticeiro.

- Por que é que Son Gohan está com Trunks a proteger a rapariga?

- É Son Goten.

- Na-nani?! – Gritou Bulma.

- Não tinha morrido, apenas fora ferido com gravidade. Nestes nove dias em que estivemos na Dimensão Real, foi curado pelo feiticeiro.

- Não posso crer – balbuciou Bulma, a recordar todo a angústia, todo o receio, tudo o que se perdera por causa desse evento que, no final de contas, nunca tinha acontecido. Mas Trunks estava com Goten e haveria de fazer a sua própria cura. E aquilo que estava perdido teria de ser recuperado, o mal esquecido e enterrado, a memória purificada.

Vegeta concluiu:

- O feiticeiro, entretanto, já tem uma das metades do medalhão que necessita para se transformar num deus. Nós vamos procurar pelas bolas de dragão para pedir a Shenron a outra metade e ganharmos alguma vantagem e tempo sobre esse maldito feiticeiro que tem a lutar por ele dois demónios imortais e um super saiya-jin de nível três.

- E como é que sabem de tudo isso?

- O sacerdote do Templo da Lua que está com Dende sabia da existência da Dimensão Real e do medalhão. 

- Aquele que Ten Shin Han salvou?

- Esse…

- Já ganhámos o radar do dragão? – Insistiu Goku.

Bulma abriu uma gaveta da bancada que forrava uma das paredes. Meteu a mão lá dentro e disse:

- Enquanto estava na Dimensão Real, desmanchei o radar do dragão para utilizar as peças na máquina das dimensões. Graças a estas, consegui progressos significativos. Fabriquei um temporizador e concluí o processador principal, que reconhecia as dimensões. O que quer dizer que, ao desmanchá-lo, acabei com o radar do dragão.

Goku alarmou-se:

- E não podes fabricar outro?

Bulma exibiu o radar. Era apenas uma caixa redonda, vazia e inútil, o mostrador verde apagado. Anunciou:

- Claro que posso!

- Tens de fabricar dois radares, Bulma – acrescentou Vegeta. – Eu também vou procurar pelas bolas de dragão. Iremos os dois, separados, para as encontrarmos mais depressa.

- Muito bem. Fabricarei dois radares, irei começar já. Leva-me metade de um dia para fazer um, pelo que só amanhã terei os dois aparelhos prontos. Fabricarei o primeiro para ti, Vegeta. O que quer dizer que, Son-kun, tens um dia inteiro por tua conta. Podes ir ter com Chi-Chi.

Goku indagou confuso:

- Para quê?

Ela explodiu:

- Baka!! Ela já sabe que Son Goten está vivo?

Ele explicou recuando um passo, com medo da fúria dela.

- Mas se eu acabei de o saber!...

- E do que é que estás à espera para ires encontrar-te com a tua mulher e contar-lhe essa magnífica novidade? Chi-Chi vai ficar radiante por saber que Son Goten está vivo, ela que sofreu tanto por pensar que o tinha perdido. Por que é que estás a perder tempo a olhar para mim com essa cara de idiota? Vá, despacha-te!! Utiliza essa tua Shunkan Idou e some-te daqui! Não te quero a espreitar por cima do meu ombro enquanto fabrico o radar do dragão.

- Está bem, eu vou...

- Vai já! É uma ordem, Son-kun!

Goku descaiu os ombros, rendido à fúria dela. Uniu os dois dedos na testa e disse:

- Djá ná… Amanhã, estarei de volta.

Sumiu-se com outro silvo.

- A maneira como vocês, saiya-jin, desprezam as mulheres…

- Nós não desprezamos as mulheres – defendeu-se Vegeta surpreendido.

Ela assentou as mãos na cintura.

- Honto?

Ele não a entendeu. Mudou o assunto, dizendo:

- Não queres começar a fabricar esse primeiro radar do dragão? Todos os minutos contam.

Ela mirou-o de cima a baixo, franzindo a cara. Acrescentou no mesmo tom presunçoso e ligeiramente irado que utilizara com Goku:

- E se não queria Son-kun a espreitar por cima do meu ombro, também não te quero a ti. Vai-te daqui. Consigo trabalhar melhor sozinha.

- Com muito gosto. Ver-te trabalhar, aborrece-me.

- Ainda bem. E vai trocar de roupa… Pareces… um mendigo.

As calças de ganga rasgadas nos joelhos e desfiada nos tornozelos, a camisa feita em farrapos davam, contudo, um aspeto sedutor ao príncipe dos saiya-jin, a exibição selvagem do seu espírito guerreiro. Bulma tentou não desmanchar a pose autoritária.

- Tu é que insististe naquele estúpido passeio e fizeste-me vestir isto – queixou-se ele irritado.

- Nunca pensei que um passeio de fim-de-semana na Dimensão Real acabasse assim.

Ele deu meia volta.

- Afinal… O que é interagir? – Quis saber ela.

Ele parou, enfiou as mãos nos bolsos das calças.

- Trunks foi para a cama com a intrometida.

Ela corou, apertou os lábios.

- Vegeta, não sejas grosseiro.

- Mas foi o que aconteceu.

- De certeza que Trunks também o fez com outras raparigas da Dimensão Real e nunca chegou a interagir com nenhuma. Será mais qualquer coisa…

- E o que interessa isso? Voltámos, certo?

- E o feiticeiro ainda não é um deus. Por aquilo que acabaste de me contar, o que Zephir pretendia ao enviar-nos para a Dimensão Real era alguém desse lugar para unir o medalhão que o irá transformar num deus. Fez-nos sofrer na Dimensão Real… Fez parte do castigo. Quis quebrar o nosso espírito.

Um curto silêncio. Mesmo de costas, Bulma sabia que ele sorria quando disse:

- Fez-nos mais fortes. Mais determinados.

- Iremos vencer… Acredito.

- Precisamos do radar do dragão, para começar.

- Claro.

Bulma puxou uma cadeira de rodízios, sentou-se. Empurrando com os pés aproximou-se da bancada. Abriu outra gaveta e retirou uma chave de fendas. Voltou a caixa redonda com o mostrador para baixo e começou a desaparafusar a parte de trás. Estranhou o silêncio, a ausência dos passos que o levariam para fora da oficina, mesmo que ele fosse sempre silencioso a caminhar. Fez a cadeira rodopiar. Descobriu-o, de braços cruzados, a observar com curiosidade a máquina das dimensões. Ela explicou:

- Sim, é a máquina das dimensões. Deve ter vindo agarrada a mim quando viajámos entre dimensões, por alguma razão que desconheço totalmente.

- O que é que vais fazer com a máquina?

- Vou desmantelá-la e aproveitar os seus componentes que são especiais, visto que vêm de outra dimensão. Já não precisamos da máquina para nada.

- Não…

Bulma apertou a chave de fendas.

- Não, o quê?

- Não a desmanteles. Deves terminá-la e o mais cedo possível.

- Nani? – Levantou-se e postou-se ao lado dele, olhando também para a máquina. – Para quê terminar a máquina das dimensões? Recordo-te que, da forma como está concebida, só permite fazer viagens unilaterais. Se estamos agora na Dimensão Z, irá possibilitar uma viagem de ida para a Dimensão Real. Sem retorno.

- Precisamente.

- E quem há de querer regressar, para sempre, à Dimensão Real?

- A intrometida.

- A rapariga? Porquê?

Vegeta encarou-a. O olhar era duro, negro.

- O feiticeiro precisa dela para ser um deus. Pode chegar o momento em que a situação esteja tão desesperada que não nos reste outra alternativa senão apenas sabotar os planos ambiciosos do feiticeiro. Como? Tirando-lhe a pessoa da Dimensão Real que pode utilizar o medalhão que o fará divino.

- Ele pode tornar a enviar alguém para a Dimensão Real com a ajuda do mesmo feitiço.

- Já não cairemos na mesma armadilha.

- E Trunks?

- O que é que tem Trunks?

Bulma gaguejou:

- Ele e a rapariga têm… uma relação. Os dois.

- A relação de Trunks com essa intrometida é o que menos interessa. Termina a máquina, Bulma. Acredito que o farás rapidamente, com a tecnologia da nossa dimensão. A máquina está quase terminada, não está?

Não estava a gostar do que ele lhe pedia, no que lhe dizia, apesar de compreender a lógica, a necessidade, a realidade indiscutível. Mas para além da razão, havia o coração. Sentimentos fortes embrulhando tudo, numa malha apertada mas frágil, o significado profundo de interagir, a felicidade do filho, o enlevo da rapariga, os dois cimentando um futuro construído sobre nuvens, sobre nada.

Ela insistiu, sabendo que estava derrotada, à partida:

- Devemos, primeiro, falar com Trunks… e com a Ana.

Mas o olhar de Vegeta permanecia duro, negro, e quando assim era ela sabia que ele nunca abdicaria da sua posição, a razão assistia-o, repisava o coração mesmo que, no fim, chorasse lágrimas de sangue.

- Escuta-me, Bulma. A intrometida não está aqui por causa de Trunks. Ela veio para a Dimensão Z por causa do feiticeiro. E deve regressar para o raio da sua dimensão por dois motivos. Primeiro: se nós tínhamos condições para estar na Dimensão Real, acredito que ela também as tenha para estar na Dimensão Z. Não poderá ficar aqui para sempre. Segundo: a presença dela coloca-nos a todos em perigo. O Universo inteiro!

O olhar dele, tão negro, tão duro, magoava-a. Baixou a cabeça.

- Escutaste-me?

- Demasiado bem, Vegeta.

- Então, termina a máquina das dimensões. Mas antes, termina o radar do dragão.

- Estás a ser cruel.

- Estou a ser realista! – Rematou e saiu finalmente da oficina.

O eco da voz dele ficou a vibrar-lhe no peito, sinistramente. Bulma sabia que Vegeta estava certo, mas havia algo de profundamente errado em tudo aquilo e não desejava que o filho tornasse ao martírio interior que experimentara na Dimensão Real.

Regressou à cadeira, entregou-se ao trabalho para esquecer o que acabara de ouvir. Se pensasse naquilo tudo entristecia, porque, interiormente, concordava com o que Vegeta dissera.

Retirou a tampa do radar do dragão, pousou-a com cuidado na bancada.

Teriam de combater Zephir com todas as armas. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Lar, doce lar.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.