O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado
Os seus pulmões secaram, como se tivesse respirado areia. Zephir comprimiu a pedra de cristal entre os dedos esguios. A angústia ensombrou-lhe o rosto lívido. Não acreditava no que estava a ver. Com a língua seca, gaguejou estupefacto:
- Ma… saka… Não.
Refugiava-se no seu santuário. Tentara encontrar o paradeiro da rapariga da Dimensão Real com a ajuda da pedra de cristal mas, por ser de outra dimensão, não a conseguia visualizar e urrara de frustração. Aproveitara para seguir o desenrolar dos acontecimentos, alertado pelos sismos que de esporádicos passaram a persistentes.
Os combates estavam descontrolados.
Vegeta tinha destruído o Santuário das Oferendas enquanto lutava contra Julep, Piccolo disparava raios contra os kucris que corroíam vorazes a estrutura do templo, Keilo exibia-se diante de Son Goku aumentando o seu poder exponencialmente, havia explosões nos subterrâneos e descobriu que o filho de Vegeta tinha conseguido resgatar o filho de Son Goku.
- Não…
Vira os dois saiya-jin, Keilo e Son Goku, lutarem encarniçadamente com aquela aparência bizarra de porcos-espinhos dourados. Vira e não conseguira fazer nada para o impedir como os dois saiya-jin trocaram duas esferas gigantescas de energia, uma vermelha e azul, que, ao se tocarem, explodiram, reduzindo a cinzas o que estava debaixo e os malditos saiya-jin, que estavam por cima, continuavam inteiros.
O Salão da Luz tinha sido destruído pela explosão.
As unhas arranharam a pedra de cristal.
Jamais haveria de olvidar a imagem do Trono de Marfim a ser engolido por um mar de fogo. Assentou as mãos de cada lado do livro de magia e rugiu:
- Basta!
Não lhe importava coisa alguma naquele momento: nem bolas de dragão, nem medalhões, nem raparigas da Dimensão Real.
Fixou Keilo através da pedra e falou-lhe com aspereza:
- Keilo, o combate terminou. Deixa-o ir!
O murro de Goku assobiou-lhe perto do nariz. Keilo levantou a cabeça.
- Nani?
A voz de Zephir insistiu:
- Ouviste-me. Regressa ao Templo da Lua, imediatamente.
A pedra de cristal não deixava passar as palavras de Goku. Este moveu a boca, perguntava qualquer coisa. Keilo revoltou-se.
- Estás dizer-me para desistir? Agora?!
- É uma ordem, saiya-jin! – Exclamou Zephir. – Deixa que Son Goku e os seus companheiros abandonem este lugar.
A capa dourada desapareceu, os cabelos de Keilo tornaram ao negro habitual. Lutava contra a sua ordem e Zephir estalou os dedos. O saiya-jin dobrou-se num espasmo violento, berrando agarrado à cabeça.
Ele que nunca se esquecesse quem era o mestre, ou iria sofrer.
Zephir acalmou-se ao torturar o saiya-jin. Soltou-o quando se achou satisfeito, o M tatuado na testa de Keilo flamejava como se tivesse acabado de ser marcado na carne por fogo em brasa. Ainda o viu a sorrir imbecilmente para Son Goku, pescoço inclinado para a direita, mole como uma marioneta a quem tinham cortado os fios. Ainda o ouviu dizer:
- Voltaremos a encontrar-nos.
***
Goku esbugalhou os olhos. Keilo agitava-se como se alguém lhe estivesse a mexer na alma. Primeiro, desatara a falar sozinho. Agora, enxotava um qualquer fantasma que o estava a esgravatar por dentro. Também regressou ao estado normal, até porque tinha os músculos tolhidos e um cansaço avassalador chupava-lhe as derradeiras forças.
- Keilo, dai jó cá?
O combate terminava abruptamente. O saiya-jin despediu-se com um “voltaremos a encontrar-nos” e entrou no recinto do Templo da Lua, fugindo contrariado.
O vento lamentou-se.
Um grito, pancadas secas e breves. Alguém saiu disparado pelo ar e Goku reconheceu-o.
- Vegeta! – Chamou preocupado.
O príncipe travou o voo forçado. Limpou o sangue da cara. Julep veio logo atrás e ficaram os dois frente a frente. Antes de Vegeta se adiantar, abanou um dedo em sinal de negação.
- O jogo terminou, Vegeta. Voltaremos a encontrar-nos.
A mesma despedida, Goku arrepiou-se. Era coisa de Zephir, de certeza.
O demónio regressou ao templo.
- Espera, maldito!
- Vegeta!
Vegeta travou o impulso.
- O que queres, Kakaroto?
- Não o sigas. Passa-se aqui alguma coisa. Keilo também abandonou o combate.
- Não tenho nada a ver com isso. O meu combate é com Julep.
- Espera!
Espíritos familiares saíam do recinto que fumegava semidestruído. Aproximavam-se, eram três. Piccolo vinha à frente, depois reparou em Trunks e com Trunks vinha o seu filho. Gritou perplexo:
- Goten-kun?!
- Otousan…
Esmagou-o num abraço.
- Goten, tu estás… vivo?
Vegeta interrompeu o reencontro dizendo cínico:
- Tens tempo para essas tretas sentimentais depois. O que raios está a acontecer aqui?
- Zephir recolheu os seus guerreiros – explicou Piccolo. – Quando comecei a combater com Kumis, o demónio esquivou todos os meus golpes e depois disse-me que teria de ir embora, ordens do sensei. Voltaremos a encontrar-nos, acrescentou.
Goku olhou para o filho, agarrando nele pelos braços. O vento agitava-lhe a melena desgrenhada. Sempre tivera cabelos rebeldes, modos rebeldes, apesar de ser meigo como Gohan. Crescera sete anos sem ele, adorara-o desde a primeira vez que o vira naquele torneio, antes de Majin Bu.
- O que foi que aconteceu?
- Nunca cheguei a morrer do ferimento, ‘tousan. E fui curado.
- Por quem?
- Por Zephir, acho eu. Vocês também têm coisas para me contar. Não é? Histórias muito compridas.
- Não podemos continuar a conversa noutro sítio? – Insistiu Vegeta. – Não gosto de estar aqui, tão próximo de… Keilo. E dos caprichos daquele maldito feiticeiro.
- Apesar de não concordar com a maneira com que o meu pai está a dizê-lo, julgo que ele tem razão – disse Trunks, de braços cruzados. – Vamos embora daqui.
Goku aquiesceu.
- Hai.
- O que é que acham que aconteceu? – Perguntou Piccolo.
- Não sabemos. Mas este intervalo, permite-nos ganhar algum tempo – respondeu Goku. – Temos a rapariga da Dimensão Real, Zephir recolhido com os seus guerreiros. Podemos pensar no que iremos fazer a seguir.
- Muito bem. Regressamos ao Palácio Celestial – concluiu Vegeta.
- Rapariga? – Admirou-se Goten. – Ela, por acaso, chama-se Ana?
Trunks admirou-se.
- Como é que sabes?
- Encontrei-a no templo.
- Encontraste-a no templo? Ela não está no Palácio Celestial?!
- Talvez não. – Goku focou os sentidos no recinto. – Kumis abandonou o combate comigo para te perseguir e, pelos vistos, foi bem-sucedido. Conseguiu trazer a rapariga de volta para Zephir. Sinto a aura dela lá em baixo.
- Nani?! – Exclamou Trunks. – Ela não pode ficar ali!
Vegeta agarrou-o pelo cós dos calções.
- Espera aí! Onde é que pensas que vais?
- Tenho de ir buscá-la, ‘tousan!
- Mas quem é essa rapariga? – Indagou Goten.
- Faz parte da história muito comprida – explicou Piccolo. Dirigiu-se a Goku – Son! Leva-nos até Dende, regressa com a Shunkan Idou e leva a rapariga contigo. Será muito mais rápido e não alertaremos o feiticeiro. Assim, continuaremos com o tempo que nos concedeu para nos reorganizarmos
- Ouviste o namekusei-jin, baka? – Disse Vegeta ao filho. – Pela primeira vez, está a dizer uma coisa acertada desde que isto tudo começou.
Trunks concordou contrariado. Mas Vegeta não o soltou.
- Bem, miná. Preparem-se para viajar – disse Goku jovial, como se não tivesse acabado de lutar contra outro super saiya-jin de nível três.
Com os dois dedos na testa concentrou-se nas vibrações de Dende e viajou até ao Palácio Celestial. Um segundo depois, entrava nos escombros do Templo da Lua.
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Próximo capítulo:
Uma nova estratégia.