Acordo com pingos na cara e assim que abro meus olhos para arena que paira a minha frente, percebo que está chovendo. Droga. Custava essas porcarias de idealizadores lançarem chamas em nós e nos matar logo? Pouparia-me dor e sofrimento.

Acho que desisti de viver, isso já não faz mais sentido. Talvez eu já esteja morta e só meu corpo ainda não se deu conta.

Isso é um inferno e as experiências são marcantes. Para toda a vida. Então não sei se viver seria a melhor opção. Morrer seria uma grande aventura. Minha última aventura, e eu estou preparada para isso, ansiando na verdade.

Nunca poderia ter um futuro com Josh, ou qualquer outro que escolhesse porque não deixariam que dessa vez saísse mais de um tributo, estava começando a pensar se sairia algum vencedor.

Levanto-me do saco de dormir e acordo meus amigos. Estamos todos exaustos e sem motivação alguma.

– Bom di... – Alex diz mas sua voz vai morrendo aos poucos quando percebe que ainda estamos no cemitério, ainda estamos na Arena. Acho que o cenário de cemitério deve ter assustado bastante gente, porque não mudaram ainda, ou talvez o Egito tivesse sido apenas uma distração. Fecho os olhos e lembro-me do Brasil, aquele país que eu e meus amigos visitamos por algumas semanas, como teriam sido nossas vidas se não tivéssemos sido pegos? Com certeza melhor do que agora. Mas suposições não irão me ajudar agora, então dane-se.

– Oi. – Respondo á ele e desmontamos o acampamento. Começamos a andar sem rumo, caçar? Não estamos com fome. Caçar tributos? Acho que se vou morrer mesmo, que seja pelo menos sem matar alguém, se eu quisesse vencer, quem sabe. Continuamos andando em silêncio. Não há o que ser dito. Não está tudo bem, as novidades são as piores possíveis e o que estamos fazendo no momento? Andando, apenas adiando nossa hora de partir.

Sim, estou muito pessimista hoje, talvez seja porque eu não tenha mais nenhuma sombra de esperança, talvez seja porque cansei de alimentar ilusões. Acho que só quero facilitar as coisas para mim e morrer seria o caminho mais fácil. Sou uma covarde. Se fosse Katniss aqui ela daria um jeito de salvar-se e salvar quem ela ama, morreria dando a vida para alguém que ama. Morrer no lugar de alguém que se ama, parece uma boa maneira de partir.

Mas eu? Eu sou apenas a irmã da Katniss Everdeen, a azarada que foi escolhida em seu primeiro ano da colheita. A patinha.

Que saudades de Katniss. Como será que ela está? Como Cato, meu quase-irmão, está? Thresh, será que ele já seguiu os conselhos de Rue e se declarou para Fox? Rue, sofreu tanto, teve uma lança cravada em si, mas mesmo assim não morreu. Ela é muito mais forte que eu. Clove, espero que ela esteja bem, seus irmãos... Com sorte um deles voltará para ela. Peeta, ele é um irmão, sei que irá fazer Katniss muito feliz. Katniss, será que ela agüentaria me perder de novo? Eu espero que sim, porque não acredito que possa sair daqui. Ela tem que ser forte, Peeta deve apoiá-la, pois sei que vai ser um período difícil para ambos.

– Que fogo é aquele? – Josh pergunta. Fogo. Ah não. Ele não me traz lembranças boas. Definitivamente não. Acho que fiquei traumatizada com isso, quem não ficaria?

– Onde? – Pergunto.

– Bem ali, por entre aquelas árvores. – Alex diz.

– Abaixem-se! – Lily grita. Não entendo direito o que acontece a seguir, foi tudo muito rápido. Uma bola de fogo vem em nossa direção, Josh estavam na frente, Lily mais atrás dele, depois eu e logo em seguida Alex.

– Idealizadores! – Eu grito. – Isso é um truque deles! Protejam-se. – Digo protegendo-me também, por mais que queira morrer meu instinto de sobrevivência fala mais alto. Ironia ou não, meu desejo de jogarem fogo em nós se realizou.

Mais bolas de fogo se segue, e todas sempre na mesma direção em que Josh está. Então me lembro da conversa que ouvi de Katniss e Peeta.

‘’Paylor vai considerar como um ato de rebelião.’’

‘’Talvez não.’’

‘’ É claro que vai! Eles fugiram dos Jogos, e Josh fez isso.’’

‘’Ele vai para a Arena, não há o que eles faze...’’

‘’Viu só... ainda há o que eles fazerem, não dá para matar a família de Josh, sou apenas eu e ele, e se me matarem, uma nova rebelião vai começar, você sabe... então me responda Katniss, quem vai morrer?’’

‘’Josh...’’

‘’E Josh está em uma aliança grande não é mesmo?’’

‘’Sim, mas aonde você quer chegar?’’

‘’Katniss, a aliança é muito grande, está claro, que eles nunca vão sair sozinhos para caçar ou coisa do tipo, isso quer dizer que quando tentarem matar Josh, ele não vai estar sozinho, e quem sempre anda com Josh? Quem veio da Capital com ele?’’

‘’Prim...’’

‘’Prim e Rory! Eles três não vão sair na Arena sozinhos, nem que sejam só dois deles, isso quer dizer, que, quem estiver com o Josh, na hora, vai morrer, ou se ferir.’’

‘’E nós não vamos deixar isso acontecer, vamos, Peeta?’’

‘’É claro que não. Nem que tenhamos que iniciar uma nova rebelião.’’

‘’Uma rebelião não é fácil, Peeta.’’

‘’Mas também não é impossível.’’

Estão tentando matar Josh, mas eu não vou deixar. Não se eu puder impedir.

– Josh, você é o alvo. – Grito. – Cuidado.

Lily e Alex parecem notar também, e tentam a todo o momento tirar Josh do meio das bolas de fogo, mas quanto mais bolas conseguimos desviar, mais bolas aparecem para atacar.

Uma morte. Provavelmente uma morte faria com que eles parassem, pelo menos por um tempo.

Katniss protegeria alguém que ama. Eu também. Ela tentou proteger Peeta na edição 75º. Não quero imitá-la, mas eu também vou tentar proteger Josh.

Mais e mais bolas de fogo apareciam e uma acerta Lily no braço.

– AAAAH! Que dor! – Ela diz passando a mão no lugar e logo enchendo seus dedos de sangue.

– Não faça isso! Pode infeccionar! – Eu digo. – Alex, proteja Josh. Tenho que fazer um curativo na Lily. – Alex grita ‘’Okay’’ e vai ajudar Josh.

Faço um rápido, mas eficiente curativo na Lily, e explico-lhe como fazê-lo, explico como fazer alguns outros também.

As bolas de fogo vão parando aos poucos e eu posso observar algumas árvores pegando fogo, outras completamente devastadas e outras inexistentes.

– Acho que pararam. – Digo, e eu e Lily caminhamos até Josh e Alex.

– É... – Diz Josh. – Por que queriam me atacar?

Conto a ele apressadamente em seu ouvido e digo que quando ele quiser pode revelar á Alex e Lily, mas de forma discreta.

– Alguém se feriu? – Pergunto. Mas antes que alguém possa responder. Alex mesmo sem precisar. Grita:

– BOLA DE FOGO! – E se abaixa, Josh se vira e a bola vem em sua direção.

E eu sei que ele não terá como se defender. Então eu me jogo em sua frente, recendo o fogo em minhas costas.

– PRIM! – Josh grita, e vem ao meu lado. Ele está com lágrimas nos olhos, e meu coração se aperta por vê-lo desse jeito.

– Se cuida, Josh. – Digo a ele. – Lily. – Chamo e ela vem junto com Alex, ambos estáticos. – Lhe ensinei algumas coisas, por favor, cuide deles. Amo você. Apesar do pouco tempo, eu sempre me lembrarei de você, aonde quer que eu vá. Alex, continue sendo alegre e brincalhão, sei que é difícil, mas tente por mim. Não desperdice as chances que você tem. – Sei que ele entendeu o que quis dizer. – Não sabemos o dia de amanhã. Amo você. Josh. – Chamo e ele se vira para mim. – Eu te amo, e não é como irmão, você sabe, talvez em outra situação poderíamos ter sido normais e agora estarmos namorando, mas acho que esses não eram os planos que a vida queria para nós. Eu sempre estarei com você. – Tentei falar o mais rápido que pude, porque a cada minuto era mais difícil puxar o ar para meus pulmões.

– Por que você fez isso, Prim? Eu podia ter desviado, droga! – Josh diz desesperado, seus cabelos loiros estão grudados a testa e as lágrimas não param de descer.

– Não, você não podia, Josh. Eu fiz isso porque te amo. Já disse.

– Eu... eu também, Prim. Eu também te amo. Gostaria de voltar no tempo, gostaria de termos passado mais tempo. Gostaríamos de termos namorado.

– Estou feliz, porque pelo menos, você continua vivo. – Desvio o olhar –Katniss, mãe, Peeta, Cato, Gale, Liam e todos os outros eu os amo muito. Nunca se esqueçam. – Digo olhando para o céu e depois torno a olhar para Josh que prossegue:

– Você sempre estará no meu coração. – Josh diz. – Você não vai morrer em vão.

– E você no meu. Sempre. – Eu digo. Josh se aproxima de mim e me beija. Nunca pensei que meu primeiro beijo seria assim, mas de certo modo, ele foi bom. Pelo menos morri sabendo como é beijar alguém que se ama.

Meu canhão soa. Mas eu não estou morta.

Sinto meu corpo sendo içado, fecho os olhos acolhendo a morte como uma velha amiga, mas apesar da dor, e do sangue, ela não vem. Adentro o aerodeslizador. Mas não estou morta.

– Cuidem para que ela não morra. Façam o que for preciso, vocês sabem. – Uma voz que não consigo identificar se é de homem ou mulher fala, e logo sinto injetarem algo no um braço e apago.