Minha equipe de preparação, já me arrumou para Ryan, neste momento estou sentada em uma poltrona, vestida com um robe, o esperando impacientemente. Ele é legal, mas no momento, tudo que vem da Captal, me causa repugnância. Ás vezes, pergunto-me onde foi parar aquela antiga Prim... Aquela menininha doce e ingênua, não que eu não seja mais doce, eu ainda sou... ás vezes. Aquela menininha que acordou chorando em sua primeira colheita, porque teve um pesadelo, que se concretizou horas depois, aquela menininha que rezava por Katniss todas as noites, aquela menininha que chorou muito quando seu pai morreu, que sempre ajudou sua mãe, e que tinha o sonho de ser médica – ou uma grande curandeira, como sua mãe – um dia. Até isso, a Capital me tirou.

Ryan chega, e logo me dá um vestido para colocar, ele é azul escuro, com uma alça só. Até a cintura ele é rente ao corpo e tem uns detalhes em strass na cintura. Assim que passa da cintura ele cai solto, cobrindo meus pés. Ele é simples, mas lindo. Ryan, me dá um salto alto, prateado, e coloca alguns brilhos em meus cabelos, já arrumados por minha equipe de preparação, eles mantiveram o mesmo penteado que fizeram em mim, no dia do desfile, minha maquiagem é preta, com um delineador estilo ‘egípcio’ bem grande, e grosso, ela é bem pesada, e meu batom é azul.

Depois de pronto, Ryan fica á minha frente, elogiando a obra que fez, eu só tenho a agradecer. Desde que estou aqui, ele foi de fato muito legal comigo. Ainda assim não tenho uma verdadeira paixão pela Capital, ou coisas que vem dela.

– Obrigada, Ryan. – Digo dando um sorriso sincero, ele me dá um abraço, conversamos um pouco e logo Katniss chega.

Ironia ou não, lembro-me agora de que ela é a dama de companhia, ela tem que nos ensinar bons modos – o que sei que não irá acontecer – e começa a me fazer possíveis perguntas de Caesar.

– Bem, Prim, com você iremos fazer o estilo doce e meiga, está bem?

– Com essa maquiagem?

– A garotinha doce e meiga, que terá que desabrochar e virar uma insana assassina, para salvar sua vida. A assassina está na sua roupa, e a garotinha doce na sua personalidade. – Ela explica. Pelo modo que Katniss fala, terei que matar muita gente, não que eu esperasse sair dos jogos sem lutar, mas contava com no máximo três mortes causadas por mim.

– Tudo bem.

– Prim, seja doce na maior parte do tempo, e grossa quando você achar que lhe convém, para mostrar que você tem potencial na Arena. Isso lhe renderá muitos patrocinadores, mais do que você tem até agora, e acredite: são muitos.

– Ok.

Ela começa a me fazer um turbilhão de perguntas, e depois me dispensa, falando que me saí muito bem, e que é hora de me encontrar com meus mentores.

Vou para meu andar, e aguardo Josh, Peeta, e Katniss – que foi se arrumar.

Katniss é a primeira a aparecer, linda em um coque meio solto, e um vestido verde, Peeta está com um terno, em um tom bem claro de laranja, mas muito bonito, e Josh, com um terno azul bebê, que realçou seus profundos olhos azuis.

– Você está linda. – diz Josh.

– Obrigada, você também.

– A patinha está virando um cisne. – Brinca Peeta.

– Claro, padeiro, aliás a patinha aqui, sente saudades dos biscoitos confeitados que você faz. Não são como os da Capital.

– Vem, patinha, vamos descer. – Fala Katniss, me abraçando de lado, e entrando comigo no elevador.

– Quack. – Eu respondo á ela.

Somos dirigidos até um local, onde todos os outros tributos estão em enfileirados, atrás do palco de Caesar.

A primeira tributo a ser chamada é Lily, há uma televisão, onde nós podemos ver as entrevistas deles, com certeza ela ganhará patrocinadores, acho que todos aqui, ganharão.

– Boa noite, Caesar. – Diz ela, basicamente no mesmo tom que Glimmer, quando ela foi entrevistada.

– Boa noite, Lily! Dêem boas vindas, á Lily Rambin, tributo do Distrito 1! – A multidão grita enlouquecida. – Então Lily, como você se sentiu, depois de... de bom, ver sua irmã falecer nos Jogos, e descobrir que teria que ir para lá, também?

Lily, olhou para cima, tentando conter as lágrimas, geralmente quando falam de Glimmer, Lily chora.

– Ah Caesar, acho que o pior não é para mim, é para meus pais, sabe... perder uma filha, é triste, se eu me for também, acho que eles não agüentariam.

– Entendo, me desculpe, o que você achou dessa última edição? – Pergunta Caesar, tentando desviar o assunto.

– Uma surpresa, achei que depois da 75º , ninguém nunca mais falaria nos Jogos, mas agora que estou aqui, vou dar meu máximo para ganhar.

A entrevista continua, e um por um, vai dando sua entrevista, seguindo um estilo diferente.

Agora é a vez de Liam. Ele está vestindo um terno risca de giz.

Ele chega e aperta a mão de Caesar, como se fossem velhos amigos.

– Liam Fuhrman, com certeza poderemos esperar grandes surpresas de você, não?

– Creio que sim, Caesar. Esse é o plano, surpreender á todos. – Ele diz e dá um sorriso para a platéia, Liam é muito bonito, então a multidão grita louca.

– E poderemos saber quais serão os feitos?

– Quero surpreender, Caesar, então acho melhor guardar segredo de todos.

– E quanto á suas irmãs? Vai protegê-las?

– É claro que sim, são minha família, eu não as mataria. Mas arrancaria cada membro de quem as matasse.

E a entrevista continua até chegar a vez de Rory.

– Boa noite, Ceaser. – Seu terno é um vermelho vivo, muito, muito vivo.

– Bonito terno. – Caesar elogia.

– Obrigado, agradeço a minha estilista Ashs.

– Ela com certeza está de parabéns! Então Rory, você não é de fato do Distrito 3, de qual distrito você é?

– 12.

– E como se sente representando outro distrito? Digo, se você ganhar os Jogos a glória não vai para o 12.

– Pessoalmente, não acho que seja uma glória ganhar os jogos, é mais uma obrigação. Ou ganha, ou morre. – Ele diz naturalmente, como se tivesse acabado de dizer: Estou com fome.

Depois de Rory entra Katherine, e ela está totalmente preta, maquiagem preta, cabelos pretos, vestido preto, colar preto, saltos pretos, apenas sua pele está normal, o que dá um contraste com sua roupa.

– Katherine Fuhrman, é um prazer estar aqui! – Caesar diz.

– É um prazer te conhecer Caesar, mas não estar aqui.

– E como se sente indo para os Jogos?

– Preparada, treinei a vida toda para isso, infelizmente.

– Depois de sua nota, muitas pessoas estão apostando em você, como se sente?

– Bem, não quero desapontá-los, então darei o meu melhor.

As entrevistas foram se passando, até chegar em minha vez.

– Relaxe, você vai se sair bem. – Sussurra Josh, me dando apoio.

Agradeço, e me dirijo ao palco.

Antes de dizer algo, a multidão grita, talvez pela minha maquiagem, talvez por eu ser irmã do tordo e ter ‘’renascido’’, voto na segunda opção.

– Boa noite, Primrose EVERDEEN! – Ele grita meu sobrenome.

– Boa noite, Caesar. – Digo meiga, embora minha vontade fosse – não acredito que vou dizer isso. – Jogas uma faca no meio dessas pessoas que clamam pelos Jogos, que clamam por me ver na arena sofrendo, definhando e morrendo.

– Conte-nos, como se sentiu ao ser novamente sorteada para os Jogos,

. O que acha dos últimos jogos? Vamos, conte-nos tudo. – Disse um entusiasmado Caesar á mim, ele se refere á tudo, como se eu fosse a pessoa mais sortuda do mundo.

– Ser sorteada de novo para os Jogos foi uma verdadeira bomba. – Uma alusão à bomba jogada em mim, pois é. – Eu achei que por pior que as coisas estivessem, e acredite: estavam horríveis, tudo poderia melhorar e ser como os outros... – Mordi minha língua, eu ia falar, países, mas ninguém pode saber que consegui sair daqui. – ér... sonhos, onde há uma democracia e pessoas livres. Mas não, as coisas continuam as mesmas, mais crianças foram enviadas para a morte, acho que Panem nunca conseguirá ser um país digno, a única coisa que os Jogos trazem são: medo para as famílias, temor para quem vai, dor para quem sobrevive, e um entretenimento macabro para quem assiste, então o que eu acho dos últimos jogos é: eles foram uma péssima ideia.

Vi que Caesar não esperava por essa resposta, assim como todos, mas fiz uma mudança de planos mentalmente: A garota doce que existia em mim, morreu. Pelo menos durante algum tempo.

– Adoraria continuar Prim, mas seu tempo se esgotou.

– Tudo bem, Caesar, independente de tudo, foi um prazer te conhecer.

E saio de lá antes que aquelas pessoas comecem a gritar mais o meu nome. Conseguindo ainda ouvir Caesar falar: ‘’E essa foi Primrose Everdeen, a Fênix!’’. Qual é, as pessoas só conseguem me dar apelidos que envolvam penas?

Minhas chances de ter patrocinadores podem ter sido, significativamente reduzidas agora, mas não me importo.

Fico mais um tempo para poder ver todas as entrevistas, e não ter surpresas quanto á estratégia das pessoas. Josh entra, e a multidão enlouquece, alguém pode por favor colar a boca deles?

– Boa noite, Josh Mellark!

– Boa noite, Caesar.

– E então, o que está achando desses Jogos?

– Terríveis, sinceramente, eu odiei, mas agora não tem volta, não vou me lamentar, me preparei o máximo que pude e espero que isso sirva de alguma maneira. Josh disse casualmente, talvez sua estratégia fosse dizer tudo o que sentia sutilmente, educadamente, não conseguiria fazer isso. Não minto bem.

– E já tem uma aliança?

– Claro que sim, quanto mais eu puder, mais pretenderei estender minha vida, e uma aliança é sempre bem vinda.

– E pode nos dizer qual é?

– Prefiro deixar na surpresa.

– Sim, entendo. Pretende dar um belo show, não?

– Pretendo sobreviver. – Um corte digno de Clove.

A entrevista se seguiu, e nada de muito importante foi dito, nada que os outros tributos não tenham dito antes.

Mais alguns segundos passaram e Selena Krum entra no palco, essa garota... Não sei, tem algo esquisito.

– Selena Krum, é uma honra tê-la aqui conosco.

– É uma honra estar aqui, Caesar.

– Não sei se todos sabem, mas ela é neta do primeiro vencedor dos Jogos Vorazes: Viktor Krum.

– Ainda bem que ele venceu, senão eu não estaria aqui. – Selena disse e algumas risadas foram ouvidas.

– Bem, o que acha desses jogos? – Céus! Que pergunta chata!

– Acho que estou preparada.

– Direta, você.

– Quando se é uma carreirista, não se tem tempo para muitas coisas, cada segundo é precioso. – Será que ela alguma vez brincou com alguém? Foi realmente uma criança ou adolescente? Ou treinou a vida inteira para matar?

– Entendo, e quais são suas estratégias?

– Não direi quais são, preciso do elemento surpresa, ou estarei em desvantagem.

– E já tem uma aliança?

– Sim, e antes que pergunte, eu não tenho problema em falar: Me unirei aos carreiristas.

– Você não representa mais um distrito carreirista.

– Isso não muda nada, minha vontade de vencer continua a mesma.

Mais coisas foram faladas, e mais baboseiras se seguiram, e depois dela o último tributo a entrar foi Cory Baxter, o único da Capital aqui, irônico, uma vez que esses jogos eram direcionados a crianças da Capital.

Na entrevista nada de muito importante acontece, até que Caesar faz uma pergunta que me deixa atenta á uma coisa da resposta.

– E o que fará se ganhar?

– Oras, que pergunta tola, titio. Nada mudará, tinha luxo antes e continuarei a ter, a única diferença é que terei influência para poder acertar as contas que tenho com algumas pessoas. – titio? Caesar é tio de Cory? Há apenas uma razão para ele revelar isso agora. Ele quer ajuda. Caesar é alguém importante e influente na Capital, muitas pessoas irão ajudar Cory, simplesmente por compaixão a Caesar, e mesmo assim, mesmo com uma nota tão baixa ele terá patrocinadores. O garoto não é burro, e já sei parte de sua estratégia, parecer fraco, mas acho que só parecer mesmo, nunca se sabe que presentes ele pode ganhar na Arena. Ao que parece nem mesmo a Capital sabia desse parentesco. Caesar não pareceu se abalar, seguiu com a entrevista como se fosse um fato normal que ocorre em todas as edições, em todos os anos.

Subo para meu andar com Josh, Katniss e Peeta, embora eles conversem entre si, eu não digo nada, estou muito cansada, física e mentalmente tudo o que quero, é aproveitar a luxuosa e confortável cama que me forneceram na Capital e dormir, por isso assim que chegamos, adentro meu quarto, tomo um banho e deito.

Tento me lembrar de minha difícil e humilde, porém feliz, vida que eu tinha quando meu pai ainda era vivo. Droga! Por que tinha que ser assim? Por que tudo tinha que ser tão difícil! Afundo ainda mais minha cabeça no travesseiro, fecho os olhos, respiro fundo, e cantando a mesma música que Katniss cantou para mim, e para Rue na Arena, quando a pequena teve uma lança fincada em sua perna. Tendo pensamentos felizes, sobre minha antiga vida, consigo adormecer, e pela primeira vez em muito tempo, ter um sono, bom, e gostoso, fazendo-me esquecer de tudo o que estou passando.