Diário De Um Sobrevivente escrita por Allann Sousa


Capítulo 13
O cheiro do terror


Notas iniciais do capítulo

persona nova aew, pessoa muito agradavel e boa de ter por perto q vai marcar presença e fazer diferença no grupo ^_^



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Quando a música chegou aos dois últimos versos, meu tio me assustou colocando a mão no meu ombro de repente.

— Mas que droga tio! Pensei que fosse um zumbi, quase atirei — resmunguei para ele.

— Então você ouviu antes de mim hein? — Johan perguntou, sem se importar com minhas reclamações.

— Sim, tive um pesadelo e quando saí do quarto, ouvi o som do violão — respondi aborrecido, olhando-o de baixo com a fronte franzida.

— Que bom que achei você. Essa música me acordou, achei que estivesse ficando louco — ele informou claramente preocupado. — Quem será o imbecil que está tocando violão e cantando para os zumbis?

Meu tio servia ao exército desde que completara dezoito anos, no batalhão de forças especiais. As tropas dele que invadiam os locais quando a situação ficava fora do controle da policia militar e eram usadas em operação de pacificação e para derrubar traficantes e mafiosos. Sua maneira de ser e sua ignorância podiam ser justificadas pelas suas experiências de vida, nos treinamentos rígidos e nas missões violentas.

— Parece que está vindo daquela casa, não? — não foi uma pergunta, parecia mais que ele estava pedindo uma confirmação de para opinião. Ele apontava para a casa justamente em frente à nossa, do outro lado do estacionamento.

— O que vamos fazer?

— Não é óbvio? Vamos até lá — meu tio falou calmamente. — Não vamos levar armas de fogo, vamos evitar os zumbis, em hipótese alguma faremos barulho ou algo que chame atenção para nosso esconderijo. Nossos companheiros estão aqui, nossos amigos dependem de nós, você acha que consegue?

Falando tudo isso ele fez meu estômago manifestar-se de forma desagradável, eu engoli em seco e respondi.

— Sim, frieza é a lei e no combate eu sou o rei — falei esticando o punho fechado.

Escondido atrás de uma parede eu rezava para não ser descoberto. Via os arbustos sacudindo e respirava lentamente achando que algo poderia sair dali a qualquer momento e então o jogo estaria acabado, eu seria morto.

Então uma mão envolvida pelo tecido maleável de uma munhequeira para segurar rifles tapou minha boca por baixo do capacete. Depois do susto meu tio sorriu para mim e pôs o indicador na frente do lábio, num sinal para que eu fizesse silêncio. Depois esticou a palma e apontou-a para baixo pedindo que eu ficasse calmo.

— Não posso tio — sussurrei o mais baixo que conseguia. — Isso dá muito medo, é brincadeira de doido — choraminguei para ele.

Ele sorriu com mais malícia, depois ergueu o rifle de plástico que trazia no coldre em uma alça presa no ombro.

— Escute, um dia você terá que aprender a se defender. Você terá que se levantar e lutar, pela sua mãe, pelos seus avós, por seu pai e talvez até por mim. O destino é um safado brincalhão que acha engraçado nos fazer enfrentar tudo aquilo que a gente não consegue. É por isso que nós precisamos estar constantemente evoluindo, vencendo nossos medos e aprendendo a lutar de formas diferentes.

— Mas meu coração bate forte e minhas pernas tremem.

— Vou te ensinar algo importante agora George. A frieza não é algo bom de sentir, inibe as emoções e nos deixa apáticos, sem vida, sem alegria. Mas no campo de batalha a frieza é como uma arma indispensável, como se fosse um braço seu ou uma perna. Você tem de ser frio para encarar o inimigo, tem que ser frio para dar o tiro, tem que ser frio para desviar da bala. Repita comigo, frieza é a lei e no combate eu sou o rei!

Eu repeti com ele aquela frase não tão sublime e depois saímos de lá, nos escondendo atrás de obstáculos e passando sorrateiramente entre as árvores. Encontramos meu pai e o soldado Johan me deixou tentar atirar uma bola de tinta nele, eu errei e meu tio o acertou por trás enquanto ele me procurava.

— Acerte-os querida!

Minha mãe saiu de trás de uma árvore e acertou meu tio na cabeça, ou melhor, no capacete. Foi uma armadilha e meu tio, que já era um major à época, caiu direitinho.

— Droga! Se fosse uma missão eu teria morrido! Como caí numa armadilha tão ridícula? — o major resmungou humilhado atraindo a atenção da minha mãe.

Eu mirei nela, mas então olhei seu rosto, lembrei-me dela preparando meu jantar, me dando presentes, me dando carinho, sorrindo para mim. Atirar nela não era algo tão fácil, mesmo que fosse apenas tinta e ela estando bem protegida com colete e capacete.

— Atira, se não a gente perde! — meu tio tirou-me do meu devaneio e quando minha mãe ergueu o rifle de plástico dela, sorriu para mim e piscou o olho direito.

Antes que eu me desse por conta acertei o peito dela com munição de tinta vermelha. Ela deu um grande sorriso enquanto meu pai gritava sorrindo.

— Isso não valeu! Foi trapaça! Ela deixou! Quero revanche!

— Cala a boca Jayden! Você acha que guerra é só sair atirando para todos os lados? Também temos que checar a competência de nossos soldados e testá-los para ver se eles estão prontos para matarem ou morrerem.

— É isso aí! E eu sou o melhor soldado! Frieza é a lei e no combate eu sou o rei!

Meu tio esticou o punho e eu soquei o punho dele, um pacto eterno de nunca abater a si mesmo.

Ele deu um soco na minha mão fechada com um sorriso. Olhei nos seus olhos e percebi que aqueles olhos também estavam cheios de memórias boas.

— Vamos então, um machado e um facão é tudo que precisamos.

Deixamos nossas armas de fogo sobre a cama, quando saímos meu pai foi falar com o Eagle. Quando ele voltou nós descemos e saímos da casa.

Abrindo a porta dos fundos com um pequeno rangido, nós vimos um zumbi parado de costas no canto da casa.

— Todo seu — meu tio falou.

Eu me aproximei silenciosamente, mas mesmo assim o cretino me percebeu. Porém quando ele virou-se para me olhar era tarde demais. Enfiei o facão de uma maneira que fez sua cabeça colar na parede. Meu tio correu e se agachou na esquina da parede branca. Deu uma ligeira espiada pelo lado da casa e viu alguns zumbis andando de um lado para o outro.

— Droga por que será que eles não perseguem o som do violão?

Ao chegar ali percebi que o som vinha do segundo andar da casa, eu o ouvia vindo de cima e percebi que os zumbis não estavam andando de seu jeito retardado normal, eles rodavam em torno de um ponto invisível olhando sempre para cima.

— Isso é bem estranho, veja! — apontei para os zumbis rodando como peões.

— Será que esses bichos ainda têm alguma noção de espaço?

— Talvez apenas pensem que o som vem dos céus e eles não podem alcançar, melhor aproveitarmos essa chance.

Nós fomos andando agachado passando pelos zumbis tontos, eram dezenas deles que olhavam para cima procurando algo como abelhas que os perturbavam sem poderem ser vistas ou alcançadas.

Passei perto de mais de um zumbi com tênis da all-star vermelho. Ele se virou para mim e jogou seu corpo podre e fedido sobre o meu, eu caí e enfiei meu facão no seu estômago, ele caiu sobre mim, mas preso na lâmina ele ficou pendendo no alto, sacudindo os braços.

Meu tio dividiu a cabeça dele como o tronco de uma árvore e puxou-o para cima, quando ele arrancou-o do meu facão tripas pretas e sangue jorraram sobre mim.

— Ah! — eu gritei, colocando os braços sobre o rosto, depois virei para um lado e vomitei.

Com a visão borrada dei alguns passos para o lado sem enxergar, cambaleando loucamente.

— Cuidado George! —ouvi a voz do meu tio gritar, quando minha voz voltou ao normal vi um zumbi na minha frente.

Ergui o facão para cortá-lo, mas o zumbi passou por mim mansamente, como se não me visse, e foi para cima do meu tio. Ele deu um passo para trás abismado e arrancou a cabeça do zumbi, para depois pisá-la.

— George, corre para a casa! — ele apontou para a porta da construção que era nosso objetivo.

Eu corri entre os zumbis esperando que qualquer um deles colocasse o braço no meu caminho, pronto para decepá-lo, mas nada aconteceu. Encostei-me à parede ao lado da porta e tentei abri-la, observando meu tio vindo até mim. Os zumbis deixaram a música de lado e avançaram sobre o meu tio que correu entre eles, quando chegou até mim deu um chute na porta e nós entramos.

Quando fechamos a porta os zumbis começaram a bater do outro lado.

— Segure! — meu tio ordenou e correu até um grande armário para empurrá-lo até lá.

Quando a porta abriu alguns centímetros eu furei a cabeça de uma mulher zumbi que tentava entrar a qualquer custo. Voltei a fechá-la e meu tio chegou com o armário.

— Saia daí garoto! — ouvi uma voz desconhecida de uma mulher gritar, ela vinha de trás do armário e eu não podia ver quem era, mas obedeci.

Uma mulher morena, de rosto manchado de fuligem, ajudou meu tio a colocar o pesado armário na frente da porta. Quando terminaram ela virou-se para mim e eu vi que ela tinha a beleza escondida sobre uma blusa furada e puída, um casaco de couro amarelado e descosturado e uma calça jeans verde não menos suja e rasgada nos joelhos. Porém ela tinha olhos castanhos muito claros e um sinal pequeno e charmoso na maçã direita do rosto.

— Então, por que vocês trouxeram as merdas desses zumbis para o meu lar? — ela gritou, irritando-se.

— Escuta, não foi por querer, nós só queríamos encontrar quem estava tocando... — meu tio começou a falar, mas foi interrompido pela mulher que torceu seus braços para trás.

— Ei droga, solta o meu tio! — gritei para ela.

— Deveria matar vocês agora mesmo — ameaçou ela no momento em que tirava o machado das mãos de Johan e o colocava em seu pescoço.

— Espere, por favor, sei que você não quer fazer isso — meu tio falou calmamente.

— Sei que você não vai matar meu tio, você acha que estamos sozinhos? — perguntei a ela com ódio no olhar. — Não estamos, temos dezenas de pessoas armadas na casa em frente a essa nesse momento. Se eu assoprar isso, elas vão entrar aqui e balear qualquer um que não for reconhecido como amigo, ou seja, você — ameacei erguendo o apito à altura dos olhos dela.

— Tudo bem, não precisamos derramar sangue nenhum aqui — falou ela, soltando meu tio e deixando o machado no chão entre nós e ela.

— Só não quando seu sangue está em perigo? — perguntei, sorrindo para ela, mantendo o facão erguido na direção dela.

— Não é isso. Matar essas criaturas já é horrível demais, imagina matar humanos normais, quero dizer, vivos — ela olhou para o chão e depois fez um gesto com as mãos, como se a vida de que ela falava estivesse no meio delas.

— Você que estava tocando o violão? — indaguei ignorando a expressão do meu tio assustado por meu repentino modo de inquirir e ameaçar.

— Sim, algum problema? — retorquiu ferina.

— Não, só que o clima está meio tenso no nosso grupo e estamos na falta de algumas mulheres também — meu tio avaliava minha forma de falar, sua expressão denotava divertimento e também algo como receio.

— Vá direto ao ponto! Você não quer me assediar não é? É apenas um garoto — sua expressão não mudava, era como uma cobra peçonhenta que tentava morder o criador que lhe estendia a mão para retirar um espinho que a feria.

— Não, longe disso. Sou apenas um garoto, como você disse. Além do mais... — eu não precisava contar meus segredos para aquela garota. — Não, só que você é muito forte, acabou de desarmar um soldado e ameaçá-lo com sua própria arma.

— E daí? Treinamento duro resulta nisso — ouvindo aquela voz áspera eu não conseguia imaginá-la cantando uma música tão linda e calmante.

— Suas habilidades seriam uma boa adição ao grupo, quando viemos aqui foi a procura de alguém que poderíamos ajudar ou que talvez pudesse nos ajudar.

— Não estou interessada — ela falou simplesmente, virando as costas.

— Logo vi. Tudo bem, vamos embora tio — chamei meu tio, por um momento fingi estar confuso olhando para o armário em frente à porta onde os zumbis batiam do outro lado, depois me voltei para o corredor. — Pela porta dos fundos obviamente.

Johan deu dois passos e agachando-se cauteloso apanhou o machado sem tirar os olhos da mulher, essa se virou e subiu as escadas, aparentemente sem se importar conosco.

Eu saí da casa andando despreocupado, me encostei na parede e fiquei observando os zumbis até meu tio me alcançar.

— O que foi isso? Pensei que a queríamos no grupo, não? — meu tio perguntou ao encostar na parede ao meu lado.

— Ela é uma garota que já sofreu muito... quero dizer, mesmo antes... — expliquei lentamente, confuso com meus próprios pensamentos.

— Como sabe disso?

— Não sei, é apenas instinto. Dê um tempo a ela, se quiser vir conosco ela vai vir.

Começamos a andar entre os zumbis, eles não me percebiam, passava por eles em segurança. Porém eles tentavam esganar meu tio. Ele cortava cabeças sem pestanejar.

— Esperem! — a garota chamou as nossas costas, para nosso espanto ela também passava por entre os zumbis sem que eles a percebessem.

— Tudo bem, isso já está ficando bizarro — falei observando ela passar por eles sem o mínimo de medo.

Quando ela nos alcançou colocou o braço sobre os ombros do meu tio, trazia um violão modelo Lês Paul em uma alça nas costas.

— O quê? — meu tio se espantou.

— Algo impede que eles me percebam. Ficar perto de mim vai disfarçar você — explicou ela.

— Talvez seja o cheiro — meu tio provocou, enrijecendo o nariz pra mostrar que ela fedia, ela fingiu não ouvir.

Nós chegamos rápidos e intocados no nosso esconderijo. Batemos na porta e minha mãe abriu em seguida cruzando os braços para nos receber com uma expressão furiosa.

— Como você sai assim, sem avisar que vai levar meu filho?

— O Eagle não te avisou?

— Você precisava da minha permissão.

— Mãe, é o apocalipse zumbi, não me trate como um bebê mimado de uma vida normal — me coloquei entre os dois prevendo uma discussão.

— E quem é essa? — perguntou ela tentando mudar de assunto.

— Nossa nova companheira, que deveria se apresentar pra todos nós — meu tio anunciou.

— Meu nome é Laylor, estou desarmada, andando de um lado para outro e me escondendo a mais ou menos seis meses, desde que tudo começou e só, eu acho... — a mulher se apresentou mais tarde naquele dia, entre uma colherada e outra de um macarrão instantâneo.

— Certo — falou minha mãe com os olhos arregalados.

— Então... qual é o plano? — perguntou ela entre as ultimas colheradas.

— Plano? Que plano? — perguntei confuso.

— O plano sabe, todo mundo tem um plano para sobreviver, um lugar para ir, uma fortaleza para construir, um plano! — ela falou irritada, como se fosse uma pergunta ridiculamente óbvia.

Minha mãe a encarou zangada, mas ela tinha razão. Eu nunca havia pensado nisso, mas meu tio estava sempre nos liderando, sempre nos levando, levando para onde? Será que ele tinha um objetivo em mente ou talvez estivesse apenas correndo da morte constantemente?

— Mayport — anunciou solenemente. — Eu tinha um amigo lá, ele disse que tinha um barco protegido para mim. Nós vamos para o mar.

Eu olhei para o rosto de cada um, apenas as que não estavam boquiabertas e claramente chocadas eram Indy, que não se preocupava com mais nada ultimamente, e Laylor que havia acabado de chegar já mostrava uma expressão de tédio debochada.


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Notas finais do capítulo

legal essa garota hein? muito simpatica e agradavel, se apocalipse zumbi já é foda imagina oq acontece antes dele nas casas de pais violentos e desagradaveis..



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