Ice And Fire - Os Jogos Vão Começar escrita por Carol Weasley Everdeen Jackson


Capítulo 4
Cinzento e brilhante




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Os Pacificadores guiaram-nos até à Casa da Justiça, aquele edifício triste de cimento cinzento e aborrecido.

Por vezes acho que o Distrito 8 é quase todo cinzento: temos poucas roupas coloridas, não existe natureza e a fábrica lança nuvens de fumo que escondem o céu.

Um dos Pacificadores deu-me uma leve mas dolorosa pancada nas costelas para eu me despachar. Entrei rapidamente na sala.

Durante alguns segundos, fiquei espantada com aquele lugar. Era muito mais confortável do que muitas casas do 8, com sofás, tapetes e cortinas de veludo vermelho.

Assim que a porta se fechou, tirei os sapatos e senti a suavidade do veludo debaixo dos pés. 

O momento de prazer foi interrompido por uma batida na porta, muito leve e elegante, como se alguém estivesse a acariciar a porta. Franzi as sobrancelhas e calcei os sapatos, sentando-me no sofá de veludo.

- Entre. - Disse solenemente.

Mia, a acompanhante do Capitólio, entrou. Ainda usava as mesmas roupas berrantes e trazia uma cassete e um pequeno aparelho preto.

- Olá, Lindsay. - Sorriu ela, pousando a cassete e o aparelho no chão, em cima do tapete, vermelho contra preto.

- Mia. - Cumprimentei, desconfiada. Nunca ouvira falar de acompanhantes a visitar tributos em toda a história de 10 anos dos Jogos.

- Onde se meteram os teus pais? - Perguntou ela, observando a sala como se esperasse que os meus pais estivessem atrás das cortinas, o que era impossível já que eles estavam...

- Mortos. - Respondi, sentindo as lágrimas a humedecer-me os olhos. - Capitães da Rebelião no 8, foram logo os primeiros. Só sobrevivi porque eles queriam que eu os visse morrer dolorosamente... Legal, não?

- Lamento imenso, querida. - Sussurrou ela, apesar de parecer um pouco falso dado o facto de ela ser do Capitol.

- Bem, acho melhor despachar-mos isto. - Disse rapidamente, cruzando as pernas.

- Eu estou aqui porque me fazes lembrar a minha filha, sabes? - O sorriso tornou-se maior e mais doce. - Não seria muito agradável ver-te morrer, porque a tua mentora não é exactamente...

- Sensível? - Perguntei. - Compreensiva? Dada a ajudar os tributos?

- Sim... - Gaguejou Mia. - Quer dizer... ela não é má pessoa... com os Jogos e tudo...

- Ela ficou louca. - Rosnei. - Dizem que é a mentora mais sádica de todas.

- Não a podes censurar. - Mia mordeu o lábios inferior, colorindo os dentes brancos com o batom roxo. - Depois daquilo porque passou... Oh, nunca me vou esquecer dos gritos daquela pobre criança!

- Gritos? - Questionei. Nunca vira Caroline Archer gritar. Nunca. - Como assim gritos?

- Não... não é nada. - A acompanhante voltou a gaguejar, gotículas de suor na testa tatuada de flores e abelhas. - Onde íamos? Ah, sim, ajudar-te. Trouxe-te uma gravação que te pode mostrar como agir.

Clicou num botão do objecto preto a seus pés e abriu-se um compartimento para a cassete. Era uma mini-televisão.

Apareceu uma imagem um pouco esbatida, que foi focando-se até mostrar uma praça, com pessoas berrantes olhando com ansiedade para grandes portas duplas. 

Reconhecia aquele cenário. Era o Desfile dos Tributos.

Observei a data da gravação. Fora feita havia quatro anos. 

O ano em que Caroline Archer vencera.

As partes abriram-se repentinamente e uma carruagem, puxada por dois cavalos brancos com lindas correias decoradas de jóias: rubis, diamantes,  esmeraldas, topázios...

Nele vinham dois tributos, vestidos com fatos colados e dourados, com capas prateadas cheias de opalas bordadas. Os seus cabelos estavam decorados com coroas de metais preciosos. Eram deslumbrantes.

Esses, os tributos do 1, tinham olhares duros e orgulhosos.

- Parece que os tributos do 1 este ano querem ganhar! - Exclamou Caesar. - Oh, sim! São magníficos!

A plateia aplaudiu enquanto os tributos do 1 se afastavam e vinha a outra carruagem.

Depois vieram os tributos do 2, com trajes da II Guerra Mundial, mas mais estilosos. Eram fatos azuis e pretos, leves e elegantes. Tinham revolveres  nas mãos e sorrisos mesquinhos.

Vinham numa carruagem de guerra assustadora e imponente, que parecia gritar " Temam-nos! Nós vamos ganhar os Jogos! "

- O 1 e o 2 são grandes candidatos a vencer! - Argh, mas este homem é um poço de entusiasmo?!!!

No 3 usavam fatos que pareciam chips de computador bordados em tecido preto. Não chamavam muita atenção, principalmente por serem os dois um pouco vulgares.

A carruagem era feita de metal frio e nu, não muito surpreendente. Caesar não fez comentários.

No 4, estavam vestidos como na mitologia negra: o garoto como Poseidon ( com um tridente e uma túnica grega azul clarinho ) e a garota como uma dríade ( um vestido azul celeste decorado com conchas ).

Acenavam levemente com as mãos, sorrisos um pouco sádicos nos lábios. Estavam numa carruagem cor de areia, com ondas pintadas.

- Os deuses do marisco! - O apresentador riu da sua piada seca. Sério? Deuses do marisco? Quem é o retardado que escreve o script dele?

Depois veio o 5, que usavam vestidos com cabos elétricos cosidos ao tecido, um pouco ridículo, para ser franca. A garota tinha o cabelo entrançado com fios de cobre, daqueles que se encontra numa tomada.

Sorriam para a multidão numa carruagem decorada com raios brilhantes.

Sem comentários, mais uma vez...

O 6 passou, vestidos como se fossem carros... Nem falo nisso..

O 7, vestidos com roupa branca como papel...

E, por fim, chegou o 8. Os cavalos eram cinzentos, a carruagem estava coberta por tecidos coloridos. Mas aquilo enganava, pois os tributos estavam deslumbrantes.

No lar do 8, onde eu moro, a imagem é péssima na televisão. Logo, naquele ano, não tínhamos visto bem como estavam os tributos.

Só uma palavra os descrevia: Brilhantes.

Usavam trajes cinzentos esvoaçantes, feitos de pregas que dançavam em volta dos corpos e revelavam que usavam uma estranha roupa por baixo da roupa, mas esta era feita por brilhantes de mil e uma cores.

O efeito era lindo, com as pregas cinzentas a voar em volta dos seus corpos esguios fazia-os parecer... surreais. 

Além disso, o brilho lançava sombras pelo rosto dos dois tributos, que trocaram um olhar. Era óbvio que o estilista lhes tinha dado indicações.

Deram as mãos e sorriram timidamente para o público, que olhava para eles, fascinados. Mas vi algo no olhar de Carol: um brilho de determinação em vencer, que nem o Capitol iria apagar.

E a plateia via isso, gritando ainda mais alto em nome dos tributos do 8.

- Acho que o 8 vai receber o seu primeiro vitorioso ( ou vitoriosa ). - O entusiasmo de Caesar esvaiu, e tive a certeza de que estava demasiado pasmado a olhar para os dois tributos.

Os tributos do 9, vestidos com as cores amarelas do milho e do grão, foram completamente esquecidos, tão ridículos como estavam.

Os tributos do 10, do 11 e do 12 passaram, o Presidente Snow fez um discurso longo e secante e a gravação acabou, mostrando o hino e o símbolo do Capitol.

- Já entendeu o que queria mostrar-lhe? - Perguntou Mia, tirando a cassete da mini-televisão.

Assenti. Eu tinha de parecer adorável, mas também mortal, como Carol.

- Eles estavam... - Tentei encontrar palavras, mas não as encontrei. Lindos? Deslumbrantes?

- Eu sei. - Riu Mia, levantando-se para se ir embora.

- Só mais uma coisa! - Chamei, antes de ela deixar a sala. Eu sabia que podia ser a minha última oportunidade, amanhã já estaria no Capitol, pronta para ser morta.

- Que foi, querida? - Perguntou ela, um sorriso cândido nos lábios.

- Como... - apontei para a mini-televisão super-moderna. - Como é que aquela garota... se tornou tão maldosa e sádica?

- Eu digo a você. - Disse uma voz, fria como gelo. 

Parada, no corredor, estava Caroline Archer. A porta estava aberta e conseguia-mos vê-la com os seus olhos castanhos com manchas pretas minúsculas a fitar-me com nojo.

Os olhos dela sempre me assustaram. Parecia que espalhara um pouco das pupilas nas íris, apenas um pouco, mas notava-se bastante.

Já não mostrava um sorrisinho tímido, mas uma careta maldosa. Ninguém diria que era a mesma garota do vídeo.

- Se você estiver nos Jogos - continuou ela, tirando o vidro que tinha na trança e apontando-o para a sala -, é melhor ser insensível e vivo, do que bondoso e morto.

E lançou o vidro ao ar, fazendo-o brilhar com a fraca luz dos candeeiros do corredor.

O vidro esteve no ar alguns segundos antes de aterrar, a ponta mais afiada virada para mim, como se dissesse " Você irá morrer. Ha ha! "

Mas, assim que olhei para a minha mentora, ela desaparecera.


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