O Livro Da Bruxa escrita por Vega Sage


Capítulo 13
Brincadeiras


Notas iniciais do capítulo

Quem aqui já foi criança levanta á mão!
Tudo o que somos são graças as nossas brincadeiras que nos ensinaram muito



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Caminhamos pela praia cerca de meia hora.Durante todo o tempo,ela permaneceu em silêncio,imersa em seus pensamentos.Aproveitei para sentir o calor do sol,observar as pessoas e relaxar,o que não fazia havia vários anos.De repente,dei-me conta de que estávamos chegando na ponta da praia.Olhei para trás e me surpreendi com quanto havíamos caminhado.

Pouco depois,ela parou e sentou-se na grama,à sombra de uma árvore.Procurei por algum formigueiro oculto e, nada encontrando,sentei-me ao seu lado para descansar.

-Veja aquelas crianças-indicou,chamando minha atenção.

Um menino e uma menina,de 4 ou 5 anos,faziam castelos de areia.Baldes e pás de plástico colorido eram suas ferramentas.

Acompanhei o trabalho daquelas crianças durante algum tempo.

-Você já notou como elas estão concentradas no que fazem?-perguntou.

De fato,ambas estavam completamente entretidas.

-Quando eu tinha essa idade e estava brincando,esquecia-me até de comer-comentei.

-E quando foi a última vez que você fez algo que o manteve tão concentrado e lhe deu tanto prazer?

-Quando?A ponto de esquecer de comer?Para ser sincero,não sei.Acho que só mesmo quando era criança-respondi.

Ela se ajeitou melhor.

-É curioso dizermos que uma pessoa está brincando quando não leva o trabalho a sério.Deveria ser o contrário.Não existe ninguém mais sério do que uma criança brincando.Já pensou como o mundo seria maravilhoso se os adultos se dedicassem ao trabalho com o mesmo prazer e concentração das crianças?

-Só poucos têm esta sorte.A maioria considera o trabalho um castigo-observei.

-É também uma questão de ser capaz de mudar a perspectiva.Existe uma antiga história que ilustra bem esse ponto.Quer ouvi-la?-perguntou.

-Claro que sim.

-Conta-se que na Idade Média três homens trabalhavam numa pedreira.Tinham a mesma atividade.A diferença é que um estava sempre resmungando,o segundo fazia seu trabalho com total indiferença,e o terceiro era alegre e disposto.Certa vez foram perguntados sobre o trabalho que fazim.

-Eu quebro pedras-grunhiu o primeiro.

-Faço blocos para poder sustentar minha família-disse o segundo,sem entusiasmo.

-Trabalho na construção de castelos e catedrais-disse o terceiro,orgulhoso e feliz.

Encolhi as pernas e abracei os joelhos.

-Já conhecia essa história,mas não me lembro de onde-comentei.

-Eu também não me lembro de quando a ouvi pela primeira vez,mas ela é bem adequada para mostrar diferentes perspectivas em relação ao trabalho.

-O difícil é chegar ao ponto de achá-lo divertido,como as brincadeiras da infância-desabafei.

-Ser criança é ver o mundo em toda a sua exuberância.É mergulhar nele com intensidade.Tudo é sempre novo e maravilhoso.As crianças possuem uma energia inesgotável e não conhecem bloqueios...Lembra-se dos seus primeiros anos na escola,quando a professora pedia um desenho qualquer?Não havia problema.Você pegava sua caixa de lápis de cor,e em poucos minutos lá estava sua obra de arte.Ou quando ela pedia uma redação?Era só pegar a caneta,e logo o texto já estava no papel.Declamar,dançar,representar,cantar...Quando somos crianças,sabemos e podemos tudo-argumentou.

Ela pegou pela haste uma folha que estava caída no chão e girou-a entre os dedos como se fosse um brinquedo.

-Você já viu crianças de diferentes nacionalidade quando se encontram?A língua não é barreira para elas.Quando menores forem,mais rápio começam a brincar juntas.Elas conhecem a linguagem universal.

Continuou brincando com a folhinha enquanto falava.

-Quando crescemos,complicamos demais o mundo.As divertidas brincadeiras se transformam nos sofridos empregos,e as grande amizades da infância são substituídas pelos relacionamentos superficiais.Já não sabemos mais desenhar nem contar histórias.Cantar?Temos vergonha.Declamar uma poesia?Nem pensar.Para dançar,precisamos entrar numa escola.Representar passa a ser uma atividade de profissionais.E o pior:os adultos estão sempre cansados...até mesmo nas férias.

-Existe alguma solução?

-Basta manter a perspectiva da criança sempre viva.Não ter medo de fazer.Não deixar que a palavra"adulto" signifique "adulteramento" para indicar uma criança estragada,falsificada.

-Fugir do hospital para passear na praia é uma excelente travessura,não é?-provoquei-a.

-É um bom começo.Devemos construir castelos de areia também-sugeriu,olhando as crianças.

-Boa ideia.Mas só mais tarde,quando osol não estiver tão forte.Se formos agora,ficaremos muito queimados e nossos pais não nos deixarão brincar juntos por um bom tempo-adverti.

-Você está se mostrando uma criança bem responsável,sabia?

-É porque sou mais velho que você-brinquei.

-Tem razão...então vou obedecê-lo-disse,abrindo um largo sorriso de cumplicidade.


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Notas finais do capítulo

Seja feliz e brinque como se nada do mundo importasse neste instante



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