E não havia mais nada. Nada além de sensações, e de realidades que não eram para ser.

Aqueles olhos dele, sempre tão desatentos quando se moviam livremente de um ponto a outro, agora se fixando nela de uma forma tão intensa (e tinha aquele brilho dançando na íris, com um quê de medo e de quem sempre escondeu algo a mais, só que agora era muito tarde). E ele a beijava, e acariciava seu rosto e ainda depois brincava com seus cabelos. Então ele parava um pouco, e ficava só olhando; porque Rinto tinha aquela ideia boba de que ela sumiria quando ele fechasse os olhos, que a garota iria se esvair como um sonho.

E ela até podia. Ela podia empurra-lo, e chorar, e gritar com ele. Podia sair pela porta e nunca mais falar com ele, e estaria com toda a razão. Porque ela estava fragilizada e triste, e tinha ido buscar apoio nele. E então Rinto ficou ainda mais desesperado, e acabou desabando em cima de Lenka. Depois a beijando, e estragando tudo, porque aquilo não era para acontecer, e ela devia estar tão assustada e enojada agora!

Porque Rinto era irmão de Lenka.

E ele estava todo errado. Sentindo coisas que não devia sentir, pensando coisas que não devia pensar e fazendo coisas que não devia fazer. E mesmo assim ela não o repeliu, não sentiu repulsa por ele a amar além do que era permitido.

Porque Lenka era tão gentil.

E por isso ela o abraçou, e deixou que deitasse a cabeça em seu ombro. E os dois estavam tremendo, os dois estavam com medo. E daí foi só um passo para que alguém começasse a chorar, e nenhum deles se lembrou quem, mas nem importava, pois logo ambos derramavam lágrimas.

"Isso não. Não vai embora. Por favor. Não me deixa. Fica comigo. Não vai. Eu imploro- Eu!"

Rinto pedia repetidamente com uma voz quebrada. Mas não era escolha dela, e mesmo assim ele tinha que implorar. Tinha que recorrer, pedir que alguém, alguém aí com esse poder mude as coisas, que tenha piedade. E que se não houver como mudar os rumos do destino, que pare o tempo então! Que não a levem dele e o deixem se afogar eternamente no calor daquele abraço (que era doloroso, mas ainda tão reconfortante por estar nos braços dela).

Mas a realidade não mudou, e o tempo não parou. Naturalmente, pensou, quem ouviria os desejos egoístas de um pecador?

Aquele homem posando ao lado de sua irmã. Admirar aquela cena era seu novo tipo de tortura, observar o quão adequado ele vinha a ser. E não era só Rinto quem notava, todos no salão falavam sobre o casal perfeito. O pretendente rico que salvaria a família da falência, que tinha o direito de declarar, em alto e bom som, toda a sua paixão pela garota sem a desaprovação da sociedade, sem o familiar sentimento autodepreciativo.

O tempo era cruel, pois além de não parar, continuou correndo com a velocidade de sempre. A igreja parecia até vazia quando ela entrou, e por um momento foi como se ela estivesse sozinha ali, vestida de branco; etérea e inalcançável como um anjo. E então a marcha nupcial tocou, e finalmente deu-se conta da movimentação ao redor de si, levantando também. Lenka andava sobre o tapete vermelho, parecendo-lhe mais rápida do que realmente era, recebendo sorrisos de todos por quem passava.

Mas ele não pode sorrir.

No momento em que ela passou por ele, quis fazer muitas coisas. Quis agarrar o anjo pelo braço, quis dizer as palavras impronunciáveis. Só que ela parecia mais inalcançável do que nunca. Aquele dia no qual se permitiu toca-la parecia cada vez mais com alguma fantasia traiçoeira de sua mente. E então logo ela já havia ido, deixando um vazio imenso preencher todo o seu ser.

Rinto abaixou a cabeça. Ele não viu. Ele não viu o momento no qual Lenka olhou para trás.