Jack ficou observando a sombra se aproximar dos amigos dele, pensou em correr para ajudar, mas não fez isso, se fosse e morresse junto com eles, não poderia salvar sua irmã.

Os meninos se debatiam contra a porta enquanto as sombras começavam a puxá-los para trás, Jack virou-se e sentou entre duas pilastras do lado da escada, não queria ver a morte dos amigos, pegou o lampião e pôs na frente dele próprio e ficou cantando baixinho para se acalmar.

Ele se perguntava: “Então é assim que meus amigos morreram. E minha irmã, será que as sombras também à pegaram? Onde ela estará? Nem poderei tê-la de novo, não matei meus amigos que acabaram morrendo do mesmo jeito, o que vou fazer agora..”

Porém os pensamentos dele foram interrompidos pelos amigos que subiam as escadas correndo gritando, Jack virou para ver as escadas ao mesmo tempo em que Nicolas passava, ele acabou tropeçando em Jack e levando um susto:

-Não, por favor, não me mate. - gritava ele.

-Xiii, sou eu, fale baixo, vem cá. – Jack fez sinal para ele o segui-lo e foi rastejando pelo chão até uma sala que tinha bem do lado da escada.

Nicolas seguiu-o e entrou bem depois dele, Jack levantou e fechou a porta com cuidado para não fazer barulho, virou-se para o garoto assustado e fez sinal para que fizesse silêncio, depois percebeu que Michael não estava mais com eles.

Jack reacendeu o lampião que tinha apagado quando Nicolas tropeçou nele, percebeu que os fósforos estavam acabando, guardou a caixinha de novo no bolso e começou a olha o lugar:

-Um escritório. – falou ele baixinho. – Pelo menos parece um.

Nicolas fez sim com a cabeça, mas permanecia calado, parecia paralisado com aquilo tudo.

Jack foi andando por aquela pequena sala, tinha uma estante cheia de livros de trabalho, provavelmente o homem que morou ali tinha sido advogado ou algo do tipo, também havia uma escrivaninha de madeira cheia de poeira e com vários papéis em cima, e um tinteiro que incrivelmente ainda estava molhado. Jack se sentou na cadeira que fez um barulho enorme que quase quebrou, levantou na mesma hora. Tinha mais uma janela, e de novo era cheia de madeira com pregos, ele olhou lá para baixo, era o lado da casa. Estava escuro ainda, mas com certeza logo amanheceria.

-Jack, eu prometo... – Nicolas começou a falar, mas parecia estar pensando nas palavras, demorou um tempo pra voltar a falar. – Prometo que acredito se você me contar o que está, bem, acontecendo.

-Promete mesmo, mesmo que pareça absurdo, totalmente improvável, e também promete que vai me ajudar? – falou ele voltando para perto do amigo.

-Sim.

-Tudo bem. – Jack pensou um pouco e começou. - Essa casa é realmente mal assombrada, aqui moram fantasmas e a casa, bem, ela é um pouco viva. Sendo que nós não estamos aqui por acaso, não está acontecendo tudo isso só porque entramos aqui, não estão assombrando porque somos crianças travessas, mas sim porque a casa já sabia que nós viríamos.

-Como? – Nicolas parecia horrorizado.

-Liza, mesmo que pareça impossível, foi ela que queria que nós estivéssemos aqui, ela chamou a gente, nos convenceu e ainda fez ,de uma forma um tanto mágica, que nos encantássemos pela casa, bem, não sei como não deu certo comigo, mas com minha irmã deu, ela parecia totalmente obcecada por este lugar... – A imagem da irmã veio na cabeça de Jack e fez que ele se sentisse mal de novo. – Liza fez isso para a vó dela, que mora aqui, ela fica lá em cima no terceiro andar, eu fui lá há pouco tempo, encontrei essa velha sentada em uma cadeira de balanço, toda de branco, ela me dá arrepios, foi ela que me mostrou que era avó de Liza.

Nicolas apenas olhava abobado enquanto ouvia a história, então Jack continuou:

-Então, quando eu estava lá com ela, um barulho de portas batendo veio lá de baixo, então ela me disse que se eu me livrasse do que fez o barulho teria o que mais queria de volta, então levantei e sai de lá atrás de qualquer informação ou até do que fez o barulho, depois de um tempo fui para biblioteca onde conheci duas crianças, duas crianças mortas, que disseram ter ido me avisar de não vir, tenho certeza que não fui afetado pelo fanatismo da casa por causa delas, elas me ajudaram muito, mas elas foram embora, assim que vocês entraram na biblioteca ,assustaram elas e então elas fugiram. – Jack parou para respirar e percebeu que estava suando frio em lembrar-se de tudo. –E então eu percebi logo, mas não queria acreditar, infelizmente a carta que Liza deixou para mim na biblioteca comprova tudo, quem fez barulho, quem eu tenho que me livrar, são vocês, você Nicolas e o Michael também.

Nicolas começou a dar alguns passos para trás com medo e assustado:

-Então você vai me matar? – Perguntou ele se afastando cada vez mais de Jack.

-Não teria coragem, fique tranquilo, e acha que se eu quisesse mesmo isso, estaria falando?

Nicolas não parecia acreditar totalmente, porém não recuou mais.

Jack começou a procurar algo no bolso, então encontrou, era o papel que achou no chão da biblioteca, de Liza, começou a aproximar-se Nicolas, que recuou um pouco, mas logo pegou o papel e o leu, depois de um tempo ele virou-se para Jack quase chorando e falou:

-Jack, não posso morrer... – falou ele começando a chorar.

-Calma, você não vai morrer, nós vamos ser fortes, vamos sair daqui, acredite em mim. – falou Jack, abraçando o amigo que começava a chorar bem mais.

-Eu realmente não posso, não devia ter entrado aqui, se eu morrer Melissa estará sozinha Jack, sozinha no mundo com apenas 6 anos. – Nicolas caiu no chão no meio do desespero.

Jack então se lembrou da pequena Melissa, prima de Nicolas que morava com eles desde que tinha nascido. A mãe havia morrido no parto e o pai quando descobriu que a menina era doente foi embora, então os tios cuidaram dela, até que há dois anos o pai de Nicolas morreu, deixando a mãe dele sozinha com um filho que hoje tem 14 anos, Nicolas, com Luize de 8 anos irmã de Nicolas e Melissa, que tem 6 anos. Só que há quatro meses a mãe de Nicolas morreu deixado ele sozinho com as duas meninas, eles eram cuidados pela avó muito velhinha que mal conseguia andar, então basicamente ele que cuidava da casa.

Jack se lembrou de como Nicolas adiava programas ou faltava aula para cuidar da prima que estava tendo mais uma crise de asma ou algo do tipo:

-Jack, quando minha mãe morreu, me fez jurar para ela que tomaria conta de Melissa, se eu morrer agora, ela também vai morrer, não terá mais ninguém e...

Nicolas foi interrompido por três fortes batidas na porta, ele se levantou enquanto Jack corria para o final da sala se escondendo de baixo da mesa, Nicolas se pôs rente a porta para que ninguém tentasse abri-la, mais ou menos um minuto depois tudo continuou em silêncio, Nicolas se afastou da porta e Jack se aproximou devagar.

Jack pegou na maçaneta e começou a girá-la, e logo estava puxando a porta, estava tudo escuro lá fora, silêncio, um silêncio pavoroso, eles olharam por um tempo, Nicolas deu um passo para trás para pegar o lampião, mas não o alcançou, então virou para trás para ver onde ele estava e então ele viu.

Uma sombra negra se estendendo pela sala, como se corresse pelas paredes, um grito fino de pavor, um grito feminino se ecoou pelo corredor e Jack saiu correndo deixando Nicolas sozinho. Ele correu para o lado da escada e olhou para baixo, mas não havia nada lá,então começou a gritar:

-Jinn, é você? Sou eu, o Jack! Eu estou aqui, venha! Onde você está? - O grito começou a se tornar distante, cada vez mais distante, até sumir totalmente.

Jack se viu parado, perplexo, então ouviu outro grito, este de Nicolas, vindo da sala de escritório que estava antes, saiu correndo em sua direção, ao chegar à porta viu que estava fechada e ouviu um choro de dor, começou a bater com força, mas ela não abria:

-Nicolas, está ai? – Gritava ele. –Eu estou aqui, me responde! Nicolas?

O choro continuava cada vez mais doloroso, ouviu então um vidro se quebrando e a frecha de luz que vinha de baixo da porta acabando, então foi ai que Jack pensou em olhar por baixo dela, abaixou-se e olhou para dentro, estava muito escuro, porém depois de um tempo conseguiu identificar algo no chão, e logo percebeu que era Nicolas, então ele viu algo se aproximando da porta, um ferro.

Jack jogou a cabeça para trás e não foi atingido pelo ferro por pouco, alguém havia empurrado ele por baixo da porta, então ele se levantou e se distanciou da porta, esperou mais ou menos dois minutos, então ele viu algo estranho saindo pela porta, não conseguiu distinguir o que era, só depois de um tempo.

Ao ver o que era ele caiu no chão meio tonto, um arder passou por todo o seu corpo, um frio, um arrepio, e ele logo pensou, que aquele só podia ser o sangue de Nicolas, escorrendo por baixo da porta.