Here Without You escrita por lawlie


Capítulo 18
Homecoming.




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O garoto levantou-se do chão que repousava. Kakashi apertou os olhos para enxergar na escuridão. Respirou profundamente com uma sensação de tristeza. Ele tirou o casaco de seu terno e o jogou sobre os ombros. Estava frio, mas ele pouco se importava. Não tinha nenhuma estrela no céu e um vento cortante de vez em quando soprava do leste.

 

Ele ergueu o olhar para o céu. Depois, abaixou o rosto e, olhando para o lado viu que Anko e Genma se beijavam encostados no muro.

 

- É. Eles se acertaram. – disse ele para si mesmo. – O jeito é voltar para casa.

 

O garoto foi caminhando pelo estacionamento dos carros. Chegou próximo ao carro de seu pai e abriu a porta. O garoto sentou-se no banco de couro e ligou o aquecedor. Lentamente o carro foi ficando quente. Kakashi abaixou a cabeça e encostou a testa no volante.

 

“Por que dói tanto?” pensava ele “Por que eu estou sentindo essa sensação? Meu peito parece que vai se romper de tanto que ele se contrai. Meu coração dói. Isso machuca...”

 

Ele levanta o rosto, e gira a chave retomando o caminho de volta. Ele dirigia depressa. Ele pensava que se chegasse rápido em casa seu desapontamento passaria mais veloz.

 

“Eu realmente desapontei você, não é pai? Divirta-se no baile... Essa foi sua recomendação...” Kakashi pensava tomado pela ironia.

 

O garoto chegou em casa. Guardou o carro na garagem e entrou. Subiu as escadas para seu quarto. Tirou o terno e foi para baixo das cobertas em sua cama. Kakashi desligou as luzes e trancou a porta de seu quarto. Não desejava falar com ninguém.

 

- x –

 

A garota corria desenfreada pelas ruas mal iluminadas da cidade. Estava frio demais e ela sequer havia levado um agasalho. Takari chorava incontroladamente. Às vezes tropeçava pelo caminho, tinha medo dos olhares à sua volta e sua mente estava uma completa bagunça.

 

As ruas estavam escuras o seu rosto já estava ressecado de tanto chorar e as lágrimas salgadas secarem devido ao vento frio que soprava. A garota chega finalmente à uma praça sombria e deserta com árvores mortas, bancos quebrados e pichações por toda parte. Takari se aconchega no meio fio e lá se repousa por alguns minutos.

 

Lá, a garota abraça fortemente as próprias pernas e encosta sua cabeça nos joelhos. Permanece assim durante alguns minutos, soluçando e chorando sem cessar. Após isso, toda sua maquiagem dos olhos já estava borrada, seus cabelos despenteados e sua aparência muito apática.

 

Ela ergueu o olhar para cima implorando por uma misericórdia que ninguém mais conseguia ver ali.

 

“O que eu vou fazer agora? Se ele descobrir isso, ele é capaz de...” pensava ela.

 

Num repente, Takari pôs-se de pé naquela praça velha e sombria e retomou seu caminho, com cara de choro ainda vertendo lágrimas pelo caminho de casa. A garota andou por alguns minutos até chegar numa casa mais afastada em uma rua deserta. Um muro, coberto por plantas trepadeiras, que se erguia ao redor da imensa casa, fazendo com que ninguém do lado de fora pudesse supor o que haveria ali dentro.

 

Aquela casa tinha uma impressão estranha. Era como se fosse um jardim secreto escondido em plena Middletown. Mas nesse triste jardim só brotava a discórdia e as dores. Não havia como encontrar a paz em nenhum canto daquele amaldiçoado lugar.

 

Bem escondida, depois de percorrer longos metros de muro coberto por plantas, encontra-se a figura de um pesado portão de ferro. Era negro, com adornos formando caracóis, num trabalho bem detalhado e minucioso. Tinha aparência de um antigo portão do século passado, dando um ar de antiguidade e classe ao local. Contudo, em alguns cantos notava-se a formação de ferrugens devido ao tempo que se passara.

 

Takari força o portão para abrir, mas pelo visto estava trancado. Alguma coisa não tinha corrido como o planejado. Mikoto, a esposa de Fugaku, dissera-lhe que manteria o portão aberto para ela poder ir ao baile sem mais complicações. Fora a mulher de seu irmão sua cúmplice e ao mesmo tempo quem a persuadiu para ir aquela festa. Takari agora tinha a certeza que jamais poderia ter saído daquela casa.

 

Não havia mais jeito. O tempo começava a ficar cada vez mais frio e o desejo da garota de se aconchegar em um ambiente quente era inevitável. Se ela não saísse daquele tempo, com certeza contrairia uma forte pneumonia e quem sabe morreria de vez. Uma morte acidental não causaria impacto em ninguém próximo a ela. Pois, afinal, para Takari viver estava sendo um fardo que pesava-lhe sobre as costas há um bom tempo.

 

 Ela tocou a campanhinha. Depois de alguns minutos, uma das empregadas veio atender. Era ríspida como todas as outras. Talvez por ordens de Fugaku.

 

Fugaku, irmão de Takari era a pessoa perfeita para ser taxado como monstro. Era simplesmente o tipo de pessoa que qualquer um, conhecendo-o bem, deseja manter distante. Um homem de aproximadamente trinta e cinco anos, com rosto rude com uma ruga veemente no meio da testa. Ele mal sorria. Na verdade, Takari nunca o vira sorrir. Muito menos chorar. Parecia inabalável com os sentimentos dos outros. Fugaku era incapaz de demonstrar compaixão, solidariedade ou qualquer traço que pudesse o deixar mais humano. Ele quase não conversava, mas quando o fazia podia ter certeza que era alguma palavra envenenada para acabar com qualquer fio de felicidade que a pessoa pudesse ter. Era frio, até mesmo com a esposa e os filhos. Takari não conseguia entender o motivo que Mikoto tivera para casar com um homem daquele. Ao contrário do marido, ela era uma bela mulher, doce e gentil. A única que conseguia compreender Takari realmente naquela casa de vidro, que a enlouquecia a cada dia que se passava.

 

A garota caminha por um jardim sem luzes, com a grama bem aparada, conservando algumas cerejeiras que perderam todas as folhas e agora eram apenas galhos secos. As flores que Mikoto gostava de cultivar não existiam mais. Tudo estava morto naquele local. A grama já estava escura, preparando-se para receber a neve que em breve tomaria conta da cidade.

 

A casa dos Uchiha ficava logo depois de uma fonte também estática no meio do jardim. No inverno, aquela casa parecia mais morta do que costumava ser nas outras estações. Uma escada de mármore erguia-se de modo a apresentar a entrada. A garota subiu por aqueles degraus e se deparou com sua conhecida maçaneta de latão e com a pesada porta de carvalho colonial.

 

Pouco antes de entrar, ela fechou os olhos e inspirou profundamente, não conseguindo conter as lágrimas que ainda caiam daquele roso tão pálido. Preparava-se o máximo possível para o inferno que enfrentaria por detrás daquelas pesadas portas de carvalho.

 

Takari girou a maçaneta e empurrou a porta. Estava dentro da casa. Uma casa que ela jamais conseguiria chamar de “sua”. Estava no hall de entrada. As luzes permaneciam pouco acesas, dando uma claridade fraca e amarela ao local. A tapeçaria de sempre estava em seu devido local, as esculturas medonhas, os quadros abstratos e a imponente escada que dava acesso aos aposentos da dita “mansão Uchiha”.

 

Ela suspirou mais uma vez e agradeceu por não ter ninguém a sua espera. Aproximou-se da escada para dirigir-se sem dar mais explicações para seu quarto. Lá se perderia em meio a suas tristezas e se afogaria mais uma vez em lágrimas de lamentações. Porém, não foi bem assim que aconteceu.

 

- Por onde você andou? – perguntou aquela voz conhecida vinda do corredor escuro que dava acesso à sala de estar.

 

A garota se assustou no meio do primeiro degrau da escada. Virou-se rapidamente e viu aqueles olhos a encarando. E ainda ouviu passos descendo pela escada.

 

_ Onde você estava? – continuou a indagar a voz de seu irmão, Fugaku. – Não me faça perguntar de novo! – diz ele num tom de ameaça. Fez-se silêncio. Mikoto apareceu descendo as escadas, para possivelmente dar um apoio à Takari.

 

A garota se encaminhou para o centro do hall, assim como Fugaku, permanecendo cara a cara com a irmã. Mikoto ficou do lado direito da cunhada.

 

- Eu estava por aí. – respondeu ela olhando para o chão.

 

- Por aí?! – tornou a repetir Fugaku aumentando a voz e seu tom de rispidez.

 

- Sim. – respondeu firme Takari.

 

- Como assim por aí?! Você saiu sem a minha permissão! Sumiu pela noite! Estou esperando sua resposta. – agora ele parecia realmente bravo.

 

- Eu saí. – respondeu Takari ainda com o tom indiferente.

 

- Takari. Já não havia ficado bem claro que você só sairia dessa casa com o meu consentimento? E o que você faz com essas roupas indecentes?! – grunhiu Fugaku.

 

- Eu já disse que eu não estava em lugar nenhum! – falou Takari não conseguindo manter a calma e caindo em pranto mais uma vez.

 

- Onde foi que você conseguiu esse vestido curto e decotado? Quem te deu ele? O que você andou fazendo para consegui-lo? – a ira de Fugaku aumentava ainda mais.

 

- O que você está insinuando sobre mim, Fugaku? – gritou Takari entre lágrimas apontando o dedo para ele. – Eu não admito que você fale assim comigo!

 

- Eu é que não admito você freqüentar a minha casa com essa roupa depravada! Você chega toda descomposta, aos prantos, descabela, parecendo uma vadia qualquer... E o que você quer que eu pense?! – esbravejou Fugaku.

 

- Cale a boca! – gritou Takari. – Você não tem o direito de falar assim comigo!

 

- Claro que eu tenho! – bradou o irmão no mesmo tom. – Esqueceu-se que você sempre esteve sob minha custódia?

 

- Não Fugaku! Eu nunca esqueci! Você não me deixa esquecer isso nunca! – disse irônica em meio a soluços.

 

- Eu cuidei de você, Takari! Eu fiz essa promessa ao meu pai e à minha mãe, que mesmo não sendo sua mãe legítima, sempre te quis como uma filha! Eu prometi para ela que faria tudo por você em seu leito de morte! Você sabia muito bem da incapacidade que ela tinha de ter mais filhos. E do sonho que ela tinha de ser mãe de uma garotinha. Eu prometi a ela que cumpriria todos os sonhos que ela teve pra você. Mas você, Takari, sempre foi um desastre. Apesar de tudo que eu fiz por você, você foi uma mal agradecida. Eu estava certo. Você nunca seria capaz de ser uma Uchiha. Sua bastarda!

 

- Fugaku... – murmurou Mikoto tentando pedir o marido para não falar tais coisas. As lágrimas escorriam violentamente agora do rosto de Takari. Ela chorava não mais de tristeza. Apenas de revolta.

 

- Não se intrometa, Mikoto. Esse assunto diz somente respeito a mim e a Takari. – disse seco. – Você, Takari. Terá o mesmo destino maldito da sua mãe. Ela era apenas uma secretária qualquer que teve um caso com o dono da empresa. – ele ria debochadamente parecendo se deliciar com suas palavras envenenadas.

 

- Cale-se! – gritou Takari. Em vão.

 

- Cale-se você Takari! Esta é sua hora de ouvir tudo que eu havia preparado para lhe dizer. Eu fui obrigado a te criar, garota! Você me deve respeito! Eu faço de tudo para te proteger dos boatos, porque, afinal, seu nascimento quase arruinou tudo. Por sua culpa Takari! Se você não tivesse nascido, tudo seria diferente. Você não se sente culpada?

 

- Fugaku! Olha o que você está fazendo com a menina! – pediu Mikoto implorando ao ver o estado que Takari já se encontrava. A garota ofegava chorando sem parar. Ela levou as mãos na cabeça e apertou os olhos, esperando que aquele momento fosse embora. Era essa sua verdadeira dor, sua cicatriz que jamais fecharia.

 

- Ela tem que ouvir isso! Essa bastarda que desonrou o nome da família Uchiha! Você não devia ter nascido Takari! Mas como você o fez eu estou ordenando que você cumpra minhas ordens e fique calada! Eu te proibi de sair de casa! Eu fiz de tudo para te manter longe daquelas pessoinhas medíocres dessa cidade. Se fosse a meu gosto já teria te mandado há tempos para um internato. E eu repito: você é uma ingrata que só sabe andar pelas ruas à noite fantasiada como uma vadia qualquer!

 

- Cale a boca Fugaku que eu não vou mais seguir ordem nenhuma sua! Eu cansei de tudo isso! Você não tem coração! Logo, você é a última pessoa capaz de me controlar por meio dessas suas regras estúpidas! – gritou ela com voracidade. – Afinal, você não é o meu pai!

 

- Ora, sua... – rosnou Fugaku erguendo a mão.

 

- Não... – exclamou Mikoto tentando intervir.

 

Tarde demais. Fugaku erguera a mão para Takari e num rápido movimento dera-lhe uma bofetada na face. Foi um golpe tão forte e hostil que fez a frágil garota cair ao chão. Ela debruçou-se sobre o assoalho gélido, com seus cabelos negros caindo no seu rosto. Sua bochecha ficara rubra por causa do tabefe. O canto de sua boca sangrava e Mikoto ajoelhou-se no chão para ajudar Takari.

 

- Agora você vai me responder ou não onde você esteve? – perguntou Fugaku irredutível.

 

- Você quer mesmo saber? – respondeu Takari do chão.

 

- Eu não preciso de sua confirmação, sua tola. Eu só quero ouvir sua confissão. Vamos. Você esteve no baile de inverno, não foi?

 

- Foi! – bradou Takari com ódio no olhar. Fugaku lentamente abria um sorriso no canto da boca, adorando ver o estado da meia-irmã.

 

- Ora, ora, que lindo... Você foi nesse maldito baile. Agora me diga mais uma coisa. Quem é ele.

 

- Ele? – a voz de Takari tremeu.

 

- Exatamente. O único motivo pelo qual você deve ter ido nesse baile é que havia alguém esperando por você lá. – disse ele firme.

 

- Não havia ninguém! – falou Takari brava.

 

- É claro que havia. – Fugaku esboçou uma expressão de nojo.

 

A garota permaneceu muda fitando os pés. Como ele conseguia decifrá-la tão claramente?

 

- Você não vai falar quem é o garoto que você está se encontrando? – falou mais uma vez o homem sorrindo.

 

- Não há ninguém. E mesmo se houvesse não seria da sua conta. – disse Takari firme.

 

- Haha! Veremos então! – disse Fugaku debochadamente, o que fazia a raiva de Takari aumentar ainda mais. – Quem sabe se você não desaparecer durante alguns dias esse tal garoto não aparece...

 

Ele se aproximou da garota caída ao chão e a segurou pelo braço.

 

- O que você está fazendo?! – bradou Takari.

 

Fugaku a ergueu violentamente foi arrastando Takari pela escada. A garota estava fraca e com os olhos muito inchados. Ele apertava o braço da garota com força e a conduzia para o quarto dela.

 

- Me solta! – gritava Takari. – Você está me machucando!

 

Fugaku chegou até a porta do quarto da garota e a abriu. Logo tratou de empurrar Takari lá para dentro. A garota se desequilibrou e caiu mais uma vez no chão. Sentada sobre os joelhos, Takari viu seu irmão fechar a porta e trancá-la do lado de fora.

 

- Você só sairá daí quando toda essa história se esclarecer. – disse ele fora do quarto dela. – Enquanto isso, tenha uma boa estadia em sua clausura.

 

Takari não escutou mais nada. Era difícil suportar o sarcasmo de Fugaku e todo seu jeito prepotente e arrogante. Seria pior se ele descobrisse qualquer indício a respeito de Kakashi. Seria muito pior.

 

Ela via-se mais uma vez sozinha, trancafiada naquele quarto de tristezas e culpas. Todos seus piores momentos ela passara ali e ela mal podia fazer nada. Apenas esperar por uma salvação daquele lugar amaldiçoado. Por fim, ao chão, Takari traduziu seus sentimentos em apenas mais lágrimas.

 


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