Abri os olhos e olhei em volta, assustada. Estava em uma sela, escura, fria e assustadora.

-Sophie.-Escutei uma voz atrás de mim, e fui puxada pra trás.

-Edward?

-Sim.

-Parece que eu estava certa, não é?

-Sophie...sobre isso...me desculpa, por tudo. Eu não deveria ter dito aquelas coisas pra você, e deveria ter acreditado em você, somos uma equipe...desculpa.

-Tudo bem.-Eu ri, sem humor.-Tanto faz. Vamos apodrecer aqui mesmo.

-Onde está a Sophie cheia de esperanças.

-Esse era o seu papel, não era?

 Ele riu baixo, e me olhou.

-Vamos sair daqui, de algum modo, nós vamos, tá?

-Ok.-Fingi um sorriso. Escutei passos no corredor. Era madrugada e as únicas luzes ali eram as das tochas em cada sela. Ed segurou minha mão, como se tivesse notado que eu estava com medo, e sussurrou um “eu tô aqui” , o que me fez sentir segura.

Vimos uma sombra, os passos ficaram mais próximos, provavelmente era um guarda.

Mas eu fiquei bastante surpresa, quase que em estado de choque, quando vi Charlottie.

 Era ela! Eu tinha certeza! A reconheceria em qualquer lugar.

-Lottie!-Chamei baixo, o mais baixo possível.

-Sophie...

-O que você tá fazendo aqui?

-Vou tirar vocês daí. Isso foi culpa minha, e eu vou consertar.

-Eu sabia que você não ia nos deixar, Lottie.-Fui até os portões da sela e segurei sua mão através das grades.

-Preciso destrancar isso, rápido, temos pouco tempo. Alguns soldados estão fazendo uma ronda pelo acampamento e logo virão aqui. O único problema é que eu não sei qual é a chave.

-Então tente, todas que você tem, Lottie, rápido!

 Ela começou a tentar destrancar os portões com as chaves em suas mãos, eram 15 chaves se não me engano, por isso ela tinha que ir rápido.

-Eu não consigo achá-la, Sophie. Tá muito escuro! Pode pegar essa tocha pra mim, por favor?

-Ok.-Peguei a tocha e iluminei, ela conseguiu abrir o portão, sem barulho. Nos abraçamos como se tivéssemos ficado á anos sem nos ver.

-Me desculpa.-Ela sussurrou.

-Você não teve culpa de nada.

 Ed caminhou até perto de nós e parou ao meu lado.

-Temos que ir, Sophie. Você vem, Charlottie?

  Ele estava sendo tão frio com ela! Ela se curvou, como se aquilo a tivesse machucado muito.

-Não. Eu vou libertar meus pais. Podem ir.

 Ele se aproximou dela, a deu um beijo na testa e sussurrou alguma coisa em seu ouvido. Provavelmente a última troca de palavras deles. Aquilo me deixou triste, não queria que se separassem assim. Os dois, tristes, cada um para um lado...mas eu sabia que Lottie tinha que ficar, seus pais eram muito importantes pra ela.

-Temos que ir agora.-Ele pegou minha mão, de novo.-Se cuida, Lottie. Por favor.

-Pode deixar.-Ela sorriu pra ele, controlando as lágrimas, nos abraçamos de novo, e eu finalmente parti, com Edward.

[...]

-Tem certeza disso, Sophie?

-Sim,  e nós precisamos voltar lá imediatamente. Ela precisa de nós, Edward.

  Eu tinha deixado a tocha no chão, solta, e agora o cheiro de fumaça estava matando ali. Coincidência?

Eu estava preocupada com Lottie, e se ela ficou lá, e se não conseguiu correr?

-Vamos logo, anda.-Nós corremos todo o caminho de volta, não tínhamos ido muito longe ainda, mas era o suficiente para nos deixar cansados.

Quando chegamos lá, vimos exatamente o que não queríamos ver. A prisão, totalmente em chamas, guardas correndo pra lá e pra cá, tirando pessoas lá de dentro...Não vimos Lottie no meio daquela multidão. Fiquei tonta ao ver aquela cena terrível, ao pensar que causei aquilo, e teria caído no chão se Edward não tivesse me segurado.

-Eu vou lá procura-la, Edward.

-Não, você não vai. Não te deixo dar um passo a frente, Sophie. Olhe, eu sei que está se sentindo culpada, e você só quer ver Lottie bem, mas temos que ir. Tenho certeza que ela não gostaria de te ver arriscando sua vida.

-Foi tudo culpa minha.

-Não esquenta sua mente com isso agora, vamos sair daqui, vamos fugir pra bem longe. Até esquecerem essa história.

-Abandonar tudo?

-E o que nós temos, Sophie?

 Peguei sua mão, depois de pensar um pouco, e nós voltamos a correr pela floresta, sem direção.