Estava observando Lucy, ela havia adormecido, já era bem tarde, eu já estava ali sentado a mais de três horas, Vinci ainda não tinha voltado, também estava preocupado com Jessica, ela estava sozinha esse tempo todo dentro da casa de Jack, precisava vê-la, me certificar que estava bem.

Caminhei pela cabana, procurava manter minha mente focada no que realmente eu queria fazer, dali por diante teria que ser esperto, fazer o jogo de Vinci, pelo menos ele já acreditava no meu teatro, agora precisava repensar na minha idéia de como passar a perna nele, tirando assim as duas garotas desse lugar.

—Já pode sair!—Só percebi que Vinci tinha voltado quando o escutei atrás de mim fechando a porta da cabana.

—Há onde esteve esse tempo todo?—Perguntei curioso.

—Fui falar com meu pai, depois fui ver a outra garota—Franzi o cenho nervoso.

—O que fez com ela?

—Nada, ainda—Se aproximou de Lucy que estava dormindo, talvez pelo cansaço—Saia, quero ficar a sós com ela, tenho muitas coisas em mente, não gosto de platéia—Me olhou friamente, fazendo com gesto com a cabeça para que eu me retirasse.

—Tudo bem—Detestava a idéia de deixá-los sozinhos, mas não podia me impor, ele poderia desconfiar. Sair da cabana fechando a porta, deixando-os sozinhos, deixando Lucy sozinha com aquele doente.

[...]

Fui para casa de Jack, eu já conhecia o caminho muito bem, além do mais, não ficava muito longe da cabana, não demorei muito e já estava outra vez naquela casa medonha, mas agora eu tinha um bom motivo para voltar, Jéssica.

Empurrei a porta velha de madeira que rangeu um pouco, caminhei até as escadas, Jessica estava presa no andar de cima, Passei pelo corredor escuro e empoeirado, havia dois quatros ali, o do casal e um nos fundos do corredor, provavelmente de Vinci.

—Oi!—Abrir a porta vendo que Jessica mantinha seus olhos fixos em mim, assim que eu entrei—Tudo bem?—Ela não respondeu, torceu o canto da boca e virou os olhos encarando qualquer lugar daquele quarto, qualquer coisa, que não fosse a mim.

Abaixei-me na sua frente, observava sua frieza nos olhos, ela me desprezava, pelo menos agora esse era o sentimento que ela tinha por mim. Sentir os olhos marejarem, mas travei as lágrimas que futuramente poderiam cair, teria que ser forte, teria que suportar seu desprezo.

—Ta com fome?

—Onde está minha irmã?—Ignorou minha pergunta.

—Ela está bem—Lembrei que isso era uma mentira deslavada minha—Vinci veio aqui?—Mudei de assunto.

—Sim, veio ver se eu estava bem presa, se não iria escapar.

—Está com fome?—Retornei na pergunta.

—Quero notícias da minha irmã e, por favor, seja sincero, chega de enganações.

—Eu já disse, ela está bem, Vinci não fez nada com ela.

—Ainda!—Completou, e eu sabia que ela estava certa.

—Tudo vai acabar bem Jessica, é uma questão de tem...

—Tempo?—Me interrompeu—Acha mesmo que vamos sair vivos desse inferno? Ainda mais com você ajudando Vinci?—Fiquei mudo, não sabia o que responder para ela—Responde James—Insistiu.

—Não posso te garantir nada, apenas te dou a minha palavra.

—Grande coisa!—Revirou os olhos—Sua palavra pra mim, não significa absolutamente nada James, parei de confiar em você assim que descobrir que era um calculista frio, que foi capaz de entregar seus próprios amigos.

—Jessica me escuta, eu me aliei ao Vinci, mas tudo fazia parte de um plano, enganando ele, eu poderia salvá-las.

—Chega! Não quero te ouvir, chega de inventar coisas, eu não confio mais em você James, nunca mais.

—Precisa confiar em mim.

—Sai daqui agora, prefiro encarar o Vinci a você, pelo menos ele eu já sabia quem era, pois ele nunca escondeu ser quem era. Um doente psicótico, já você nos enganou, fingiu está do nosso lado, na primeira oportunidade me apunhalou pelas costas, você é bem pior que ele—Aquelas palavras feriram meu ser intensamente.

—Não sou assim Jessica—Foi à única coisa que saiu dos meus lábios, não tive coragem para continuar com aquela conversa, me levantei da sua frente e caminhei para fora do quarto, voltando a deixá-la sozinha.

*James narrando Off*

*Jessica narrando On*

[...]

Eu estava faminta, mas não falei para o James, não queria a ajuda falsa dele, preferia morrer de fome, contudo não podia fazer isso, tinha que pensar na minha irmã, sentir nas palavras de James que ele me escondia algo. Claro, ele não iria me contar o que realmente podia está acontecendo, era um traidor, um traidor sem um pingo de vergonha na cara.

Como uma pessoa podia mudar então pouco tempo? Essa pergunta consumia minha mente, eu no fundo não queria aceitar que ele tivesse me traído, mas era a verdade, eu havia visto com meus próprios olhos, estava ferida demais com ele. E ainda teve coragem, de dizer que fez isso para nos salvar, faça mil favores, desculpa esfarrapada, se quisesse nos ajudar, não seria se aliando ao Vinci que ele conseguiria. O que ele pensava que era? Um super herói que poderia enganá-lo assim?—Tolo—Pensei alto.

Acho que agora eu não podia mais proteger Lucy, não presa ali, naquele quarto imundo, o lugar estava praticamente às ruínas, tudo sujo e velho, um cheiro de mofo entorpecia o ambiente. Não havia janelas e uma velha cama estava encostada no canto da parede, toda rasgada, havia um guarda roupa velho próximo a ela. A única coisa que não deixava aquele quarto um breu, era uma lâmpada que estava dependurada no teto, ela ficava piscando algumas vezes, outras horas se apagava de vez, depois voltava a acender.

Estava entediada, sozinha e com fome—Perfeito!—Voltei a pensar alto. Logo voltei a ver a porta sendo aberta novamente, era James, bufei ao vê-lo e ele percebeu, mas ignorou, continuou entrando, trazia nas mãos uma bandeja, acho que com um copo de água e um prato de porcelana.

—Aqui! Trouxe para você—Ele se aproximou, segurando a bandeja na minha frente.

—Quem mandou?—Perguntei fingindo que não ligava para a bandeja na minha frente, mas eu estava desesperada por aquele copo de água, logo vi que no prato de porcelana, continha um tipo de sopa.

—Sei que você está morrendo de fome, só é orgulhosa demais para admitir. Além do mais o Vinci nem desconfia que estou te dando comida, fiz essa sopa escondido no fogão lá na cozinha, era a única coisa que não estava vencida.

—Isso não muda o que você fez—Fechei a cara, mas estava louca para tomar aquela sopa, estava com uma aparência ótima e o cheiro estava maravilhoso.

—Eu sei que não, mas não quero que fique com fome, por favor, não seja teimosa, aceita vai?—Ele fez um biquinho, vencida pela fome, acabei aceitando.

—Vai soltar meus pulsos?—Perguntei.

—Não posso, Vince pode não gostar.

—Aff—Revirei a cara.

—Eu te dou na boca.

—O que?

—Eu te dou Jessica.

—Nem pensar.

—Que comer ou não?

—Ta! Tudo bem—Concordei meio contra a vontade.

[...]

—Satisfeita?—Ele tirou a bandeja da minha frente, colocando-a no chão e se sentou do lado dela abraçando os joelhos.

—Uhum—Eu disse apenas isso, mas na verdade estava satisfeitíssima, a sopa estava maravilhosa, nem sabia do que era, mas pelo menos a fome eu havia matado, tomei um pouco de água que ele me dera, depois de tomar a sopa, para tirar o gosto da boca.

—Que bom—Deu um sorrisinho de canto.

—Qual o seu plano?

—Ta interessada agora?—Rebateu

—Tanto faz!—Dei de ombros, mas sim! Eu estava curiosa, se ele realmente tinha um jeito de ajudar a mim e a Lucy, teria que me contar, era o mínimo que ele podia fazer depois de tudo.

—Tudo bem, eu vou te contar, acho que isso pode diminuir sua raiva por mim?

—Se o plano for bom, quem sabe.

—Pois bem, pensei o seguinte...