A Diabólica Vida De Eleonora Duncan escrita por Ikuno Emiru


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Sempre que houver uma palavra ou frase que não pode ser do conhecimento de todos, eu vou por um *. Saber o que significa é necessário para o entendimento, claro ^^ O significado delas estarão aqui e nas notas finais.
Olho de Sauron*: Na trilogia Senhor dos Anéis, o Olho de Sauron é descrito como um olho que tudo vê.



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            Dois dias depois, eu estava de volta a escola. Eu teria que ficar 1 semana com uma bota no meu pé, sem contar que Marin teria que sair mais cedo do trabalho para me buscar, imagino que isso traria um certo prejuízo para seus clientes. Íris, ao me ver em tal estado, correu para me ajudar, ela pegou minha mochila e levou para mim até a minha sala. Ela me contou como haviam criado várias hipóteses sobre o que tinha acontecido, uma delas era que Castiel havia me empurrado de propósito e depois me ajudou só para perder aula. Parte da história é verdade, mas eu preferia pensar que não. Eu contei a ela o que realmente havia acontecido.

            – Claro que o Castiel quis te ajudar, ele só ficou sem jeito de dizer isso. Ele é uma boa pessoa no fundo, mas ele não gosta de mostrar isso. É por isso que metade da escola tem medo dele e outra metade corre atrás dele. – Íris me explicou, eu senti um alívio.

            – É bom saber disso. Por um momento, achei que ele só estava me usando.

            – Ih, a Nora está apaixonada, a Nora está apaixonada! – Demon cantava.

            – Eu não estou apaixonada. – Sussurrei para ele, para a minha sorte, Íris não havia me escutado.

            – Você acha mesmo que ele faria tanto esforço só para te usar? Usa a sua cabeça, sua boba.

            – Não sei. – Eu quis sorrir. – Nós nos conhecemos há poucos dias apenas.

            – Isso não importa! – Ela deixou a minha mochila na última carteira, como eu havia pedido. – Agora eu vou para a minha aula. Nos vemos no recreio?

            – É claro! – Respondi e me sentei. Eu sentia que Íris já era uma boa amiga, eu não via a hora de conhece-la melhor para trocarmos mais informações valiosas! Demon cochichou no meu ouvido que gostava de Íris e que achava que ela seria uma boa amiga para mim também.

            A primeira aula de hoje era de biologia, uma das minhas matérias favoritas, era uma das aulas em que eu sentia prazer de prestar atenção e até mesmo responder as perguntas feitas pelo professor. Demon se assustava toda vez que eu me levantava com empolgação para responder às perguntas. Ah, queria eu que todas as aulas fossem assim!

            Para a minha sorte, a segunda aula seria na sala de aula B, que ainda era no primeiro andar. Eu não teria que subir escadas e atrasar todo mundo! Segundo meus horários, a aula era de Filosofia, o que era perfeito! No orfanato, tínhamos alguns livros do Nietzsche, eu os li várias e várias vezes, aprendi muita coisa com eles e eu sou eternamente grata por isso! Me sentei na cadeira do fundo, perto da janela, como de costume e esperei pacientemente o professor entrar. Eu me lembro que, nas outras escolas que estudei, os alunos não ligavam muito para a filosofia, eu acha isso muito ofensivo, filosofia sempre foi uma das minhas matérias favoritas.

            – Por que as pessoas não ligam para a filosofia, Nora? – Então Demon estava cutucando a minha mente? Interessante. – Sim, eu estou cutucando a sua mente, pois a senhorita está muito calada!

            – Porque elas são bobocas, Den. – Falei.

            – Sabe quem mais é boboca?

            – Quem? – Perguntei, levantando uma sobrancelha.

            – Ela. – Ele apontou para a garota loira que entrava na sala, aquela garota que havia me empurrado no outro dia.

            – AH! Aquela menina que te derrubou, não é? – Dei uma risada baixa. – Eu concordo, ela é boboca até demais.

            – Ela está vindo para cá! – Demon se escondeu e eu me ajeitei, torcendo para que ela não me percebesse.

            – Então a novata fala sozinha? Qual o seu problema, garota? E por que o Castiel tem tanto interesse em você? – Ignorei, eu realmente não sabia dar uma resposta a altura de suas indagações, também, não queria arranjar confusão. Abri um caderno e comecei a desenhar qualquer coisa, como se eu nunca tivesse escutado um A saindo da boca dela.

            – Vamos, Ambre, ela é muito medrosa para responder. – Alguém falou, provavelmente seria uma das amigas que a acompanhavam.

            – Eu sou a líder, ok? Sou eu que digo o que fazer, Charlotte! – Ouvi passos, olhei de fininho para o lado e todas elas haviam saído. Soltei um suspiro de alívio, não seria nada ético discutir em uma aula de filosofia, não é?

            – Ela já foi embora? – Demon perguntou.

            – Já sim, pode parar de se esconder. – Ele pulou para o meu ombro e se sentou ali de novo. Ele passou o resto da aula desaparecendo e aparecendo, até que ele sumiu de vez! Não me importei, ele costumava fazer isso quando estava entediado.

            Eu teria que mudar de sala mais uma vez, mas, eu teria que subir as escadas. O corredor estava um caos! Alunos de um lado para o outro, uns enrolando, outros conversando e impedindo o caminho. Passar no meio de tanta gente era complicado com o meu pé machucado. Eu teria que esperar o movimento abaixar para que eu passasse.

            Foi quando eu vi uma cabeleira vermelha no meio de toda aquela gente, fiz um esforço para poder segui-la, ela estava se dirigindo ao pátio.

            – Castiel! – Exclamei, ele se virou, mas não me viu, levantei um braço e acenei enquanto eu passava pelos alunos, dessa vez ele deve ter visto. – Eu me pergunto se você não sabe algum atalho que me leve para o segundo andar. – Perguntei quando finalmente cheguei a ele.

            – Não conheço um atalho, mas sei uma forma mais simples. Mas por que eu diria para você.

            – E qual seria? – Juntei as mãos – Por favooor....

            – Ainda não é o bastante. – Cheguei mais perto dele.

            – Por favorzinho...

            – ...

            – Por favorzinho com açúcar...!

            Após me encarar por um tempo, ele virou de costas para mim.

            – Suba nas minhas costas.

            – O QUÊ?!

            – Suba logo antes que eu mude de ideia!

            Eu cheguei perto dele e me impulsionei com meu pé não machucado. Castiel me segurou pelas coxas e eu agradeci a mim mesma por ter vindo de calça. Nós estávamos passando pela multidão, eu escondi meu rosto nos cabelos de Castiel, esperando que ninguém me reconhecesse, mas eu duvido que funcionaria.

            – Você tem me carregado demais ultimamente. Por quê? – Falei, me sentindo envergonhada.

            – Estou me sentindo caridoso, mas você, não abuse da minha bondade.

            – Eu já acho que estou abusando e não estou retribuindo o favor.

            – Então tem algo que você deve fazer por mim. O Nathaniel, aquele pé no saco, não me deixa em paz. Ele não acredita que eu estava contigo na terça-feira e está me obrigando a assinar uma folha de ausência. Você poderia dizer a ele que eu estava sim com você.

            – Mas... quantas aulas você faltou naquele dia? Além da primeira...

            – Isso realmente interessa?

            – Interessa... é errado mentir...

            – Você quer que eu te deixe aqui? – Estávamos no meio da escada, ele parou de subir. As pessoas começaram a reclamar.

            – Nããão! – Protestei.

            – Então faça o que eu te peço sem reclamar!

            – Ok... – Aquilo era tão errado... mas ele estava sendo gentil comigo, eu não poderia reclamar mesmo. Ele estava me fazendo um favor e agora eu deveria retribuir!

            Saímos das escadas e agora estávamos no corredor.

            – Obrigada. – Ele me soltou aos poucos e eu o soltei também. – Você vai para que sala?

            – Nenhuma. – Ele disse com um sorriso no rosto – E você?

            – Sala D. – Dei um sorriso torto – Aula de química... – Acho que o tédio em minha voz não passou despercebido, por mais que eu tenha tentado esconder. Castiel riu de mim.

            – A sua cara diz que você quer me seguir, mas a sua insistência em ser certinha diz que não!

            – E-eu não quero faltar aula, eu não posso! Se a Marin descobre, ela me mata.

            – É só você dizer que estava comigo, duvido que ela não ficaria contente.

            – Ha ha “Está com Castiel, está com Deus” – Falei na voz mais irônica possível... espera aí, eu havia zombado de Castiel? Ih, acho que essa é a minha deixa! Eu virei de costas e andei rapidinho para a sala antes que ele fizesse mais alguma coisa. Sentei no meu lugar costumeiro e suspirei, Demon havia aparecido e me olhava incrédulo.

            – Você zombou do Castiel? Nora está ficando corajosa, hein!

            – Não me lembra disso, Den, ele vai ficar bravo comigo. Kentin disse que ele não é muito amigável quando está mau-humorado.

            – Então não olha para a porta! – Ele exclamou e se colocou na minha frente.

            – O quê? – Acabei fazendo o contrário do que Demon havia falado, sim, eu olhei para porta. Castiel estava entrando na sala e vindo em minha direção. Será que ele faria picadinho de mim?

            – Por que você saiu correndo? Você é engraçada! – Ele se sentou na cadeira ao meu lado.

            – Você não está com raiva?

            – Por que eu estaria? – Respirei, aliviada.

            – E você vai assistir a aula? – Perguntei, ele balançou a cabeça positivamente. – Eu... eu fiz graça de você, achei que você ficaria com raiva de mim.

            – Quando eu finalmente vejo você fazendo uma piada, você sai correndo, e aí eu descubro que você ficou com medo de mim. Eleonora, você é engraçada mesmo.

            – Eu não achei engraçado. – Demon falou, bufando.

            – Shh, Demon, sua opinião não conta. – Falei baixinho.

            – Demon? – Castiel perguntou.

            – Posso te explicar outra hora? O professor está chegando...

            – Outra hora eu não vou estar interessado.

            – Ok... chegue mais perto. – Ele puxou a cadeira e se sentou ao meu lado. – Na verdade, eu não converso sozinha, eu converso com um... demônio... pequeno, ele fica no meu ombro, mas ninguém consegue vê-lo – Castiel olhou para o meu ombro e balançou a cabeça em reprovação – só eu consigo. – Não fiquei decepcionada, eu não esperava mais que alguém o visse, era um impossível.

            – Eu não vejo nada e você é uma doidinha.

            – Eu não sou! – Bati a mão na mesa com mais força do que eu desejava, todos olharam para mim, inclusive o professor. A minha sorte foi que ele deixou passar.

            – Está bom, doidinha. Já experimentou ir a um psiquiatra, psicólogo?

            – Foi o que eu fiz a minha vida inteira! E eu sou completamente sã. – Apertei meus punhos, eu realmente detesto que duvidem de mim. Será que vai ser preciso implantar um olho de Sauron* em cada um para que as pessoas enxergassem Demon? Acho que sim.

            – Tudo bem... se a senhorita diz! Não precisa ficar irritadinha. – Ele fechou o rosto e voltou a sentar no seu lugar. Acho que agora eu consegui deixa-lo bravo... Fiquei o resto da aula me controlando para não olhar para Castiel, em vez disso, eu prestei atenção. Meus olhos estavam no professor, mas a minha mente estava em um lugar completamente diferente...

            Castiel foi o primeiro a sair após a aula acabar, dei de ombros, a minha preocupação agora era achar Íris. Eu já estava me levantando, quando Íris entra na sala, junto com Ken. Ela me contou que conheceu Ken hoje mesmo quando eles esbarraram um no outro.

            – Íris, posso fazer uma pergunta? – Falei.

            – É claro!

            – Quem é aquela Ambre e porque ela é tão má? Ela pediu para que eu ficasse longe do Castiel e do Nathaniel...

            – Ah! A Ambre é a irmã mais nova no Nathaniel. Os pais dela mimam e a protegem demais, por isso ela ficou assim. Eu ouvi dizer que ela é apaixonada pelo Castiel desde pequena, por isso ela deve ter pedido para que você se afastasse dele.

            – Eu acho que você deveria seguir o conselho dela, Nora. – Ken falou – Vai ser melhor para você.

            – Ken, eu não tenho tanto medo do Castiel como você... Eu não vou me afastar, isso é besteira. – Cruzei meus braços.

            – Isso mesmo, garota! – Íris falou, animada – Quem mais você conheceu na escola?

            – Não muita gente, além dos meninos, conheci a Melody... ela parece ser bem legal.

            – A Melody é sim! Ela é muito responsável, mas, ela sabe ser divertida também!

            – Eu acho que ela gosta do Nathaniel. – Dei uma risadinha – Ela só soube falar bem dele quando conversamos.

            – Ah, ela gosta dele sim. Quer dizer, ela nunca admitiu, mas sempre esteve estampado na cara dela!

            – Falando no Nathaniel, eu preciso falar com ele. – Acabei me lembrando do favor que Castiel havia me pedido. Eu teria que ir logo antes que eu me esqueça. – Vou aproveitar que ainda tenho alguns minutos de intervalo.

            – Nós vamos com você. – Íris falou, puxando Ken pela camisa.

            Consegui descer as escadas sem precisar montar em ninguém, pois ela estava vazia. Os corredores estavam vazios também, os alunos geralmente ficavam no pátio ou no ginásio, alguns até no clube de jardinagem ficam... Ken e Íris ficaram me esperando do lado de fora da sala.

            – Nathaniel? – Ele se virou – Preciso falar contigo sobre o Castiel.

            – Ah. – Ele falou, azedo – Ele fez alguma coisa com você? Porque se ele fez, você pode me dizer.

            – Não, não foi isso. Ele tem me ajudado bastante até. – As sobrancelhas de Nathaniel se arquearam. – Inclusive no dia em que eu torci o meu pé, ele me levou na enfermaria e foi ao hospital comigo e com minha tia. – Aquilo era uma mentira, uma mentira daquelas, mas... mas era necessário. Torci para que eu não denunciasse aquilo. – Então, se você pudesse dar uma justificativa a ausência dele... eu ficaria grata.

            – Se você diz... – Ele pegou uma ficha e escreveu umas coisas, carimbou outras.

            – Obrigada! – Senti vontade de abraça-lo, mas eu não faria isso. – Obrigada mesmo. – Agradeci mais uma vez e saí de lá. Ken e Íris me ajudaram a ir para a outra sala, onde se passariam o resto das minhas aulas. Essas últimas aulas não foram nada interessantes, não vale a pena descrevê-las, só se você quiser saber de uma Eleonora e um Demon extremamente entediados, mas eu aposto que você não queira! A sala inteira já havia saído e eu fiquei sozinha, arrumando meus materiais. Quando desci as escadas e saí da escadaria, encontrei Castiel e Nathaniel  no corredor. Castiel estava segurando a camisa de Nathaniel, que por sua vez, tentava desferir golpes no outro.

            – Demon! O que eu faço?

            – Não sei! Você não pode entrar no meio por causa do seu pé!

            – No meio não... – Castiel estava prestes a socar Nathaniel, eu andei com mais rapidez até ele e segurei sua mão com as minhas. Precisei fazer muita força para que ele não se movesse, ele tentou se desvencilhar de mim ao me empurrar mas eu continuei segurando o seu punho. Ele soltou Nathaniel ao perceber que eu não desistiria.

            – Você está louca? Eu poderia ter te machucado.

            – Eu falei com o Nathaniel mais cedo, eu pedi para que ele justificasse a sua falta, ele fez...

            – Mas você não precisava ter entrado no meio da briga. – Ele estava gritando, tentei me afastar, mas Castiel pegou minha mão com brutalidade. – Marin deve estar te esperando. – Ele puxou o meu braço e eu comecei a andar pelo corredor, em direção a saída. Castiel fez questão de me acompanhar até o carro, me puxando pela mão. 


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Notas finais do capítulo

Olho de Sauron*: Na trilogia Senhor dos Anéis, o Olho de Sauron é descrito como um olho que tudo vê.