Eu não resisti, comecei a chorar, sabe quanto tempo eu passei esperando que um dia pudesse reencontrar meu pai, e lá estava ele, num passe de mágica, passo a me comunicar com as pessoas que eu mais sentia falta. Ele se virou e sorriu.

—Filha quanto tempo- a voz dele parecia mais velha, será que os mortos envelheciam? Envelhecendo ou não, a única coisa que eu estava preocupada em fazer era dar um abraço no meu pai. - Como você cresceu esta muito bonita, pensei que já havia esquecido de mim – ele soltou uma gargalhada contagiante, como se estivesse muito feliz.

—Eu nunca vou esquecer as pessoas que eu amo papai, eu nunca te esqueci- eu tentei toca-lo, mas a minha mão atravessou seu corpo, eu queria senti-lo, eu queria tantas coisas, principalmente que as duas pessoas que eu mais amo no mundo estivessem ao meu lado, me dando broncas, ou me confortando com abraços.

—Filha, eu só vim aqui pra te desejar feliz aniversário adiantado, provavelmente essa é a ultima vez que posso falar com você, eu vou escolher outra vida, por enquanto nenhuma alma te fez mal, mas se você continuar, elas vão chegar.

—O que você quis dizer com “eu vou escolher outra vida?”- perguntei então ele se sentou do meu lado, e tentou passar a mãe em meus cabelos.

—Eu vou te explicar tudo o que eu sei, bem, tudo que você precisa saber em relação aos mortos- Ele disse, e cada palavra parecia acertar meu coração, apenas assenti e ele prosseguiu.

—Quando as pessoas morrem, elas ficam um tempo vagando sem rumo, vivendo no mundo que não as pertence mais, mas com o tempo, há como renascer.

—Renascer?

—É podemos ser outras pessoas, e literalmente morrer, assim que nascemos de novo, nos só temos lembrança da vida passada até começar a falar, após a primeira palavra nos esquecemos tudo a vida passada pra começar a viver uma nova, e é por isso que as vezes vem na nossa mente coisas que nos nunca vivemos nessa vida, mas com certeza são coisas que já presenciamos na vida passada- aquilo me deu um choque, eu fiquei parada, apenas esperando, com certeza isso não ia ser a pior coisa.

—Mas por que você vai renascer, você agora tem a mamãe e eu para conversar.

—Filha- ele respirou fundo- depois que morremos, é muito difícil de encontrarmos as almas que conhecemos, é como se elas fossem invisíveis, eu não poderia ver a mamãe se você a botasse na minha frente, assim como ela não conseguiria me enxergar.

—Então como você me vê?- perguntei

—As pessoas vivas se da pra enxergar. Continuando, você tem que parar de conversar com os mortos, bem eu vim aqui, pois é um caso raro, mas eu quero seu bem, filha, você quase morreu um dia, e por isso vê os mortos.- Muito bem outro choque, ninguém nunca havia falando isso pra mim que eu quase morri, e eu conhecia muitas pessoas que quase morreram, e não parecem ter problemas algum. Falei exatamente o que eu pensei ao meu pai. E ele disse:

—Quando eu digo quase morrer, é ver a morte mesmo, aconteceu no seu parto, você quase morreu, seu coração estava por um triz de parar, você ficou roxa, jurávamos que você morreria, mas pareceu um choque, e tudo voltou a normal.

—Então é esse choque que define quem vê os mortos?

—É, poucas pessoas tiveram essa chance, de voltar a vida sem morrer, mas nelas há a consequência, e ela você esta sofrendo agora.- ele disse, mas minha mente se clareou, poucas pessoas?

—Então há pessoas como eu?- perguntei por fim

—É nisso que eu quero chegar, existe uma pessoa próxima que você conhece, ela conseguiu se curar disso.

—Quem e como?

—Eu não posso dizer como isso você terá que perguntar a pessoa.

—Quem é a pessoa?

—Pegue um papel e uma caneta- ele mandou, assim que eu peguei ele soletrou:

—R-u-a-n-o-b-i-l—j-a-c-o-b—m-e-l-l-a-r-c-1-2-5-6 – assim eu li: Rua Nobil Jacob Mellarc 1256

—eu te amo filha- meu pai desapareceu sem mesmo que eu pudesse responder mais isso não foi o pior, e eu entrei em choque, Rua Nobil Jacob Mellarc 1256, era a casa de Tyler.