Dos Dois Lados escrita por Lari Haner


Capítulo 58
"Sentir na alma"


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores (se alguém tiver lendo isso ainda)
então, a fic tava até criando teia de aranha, eu lembro que tinha dito que o capitulo ia ser logo logo, eu juro, postaria se aqui não tivessem inventado, de uma hora para outra, de viajar, e ai foi uma correria até o ano novo
Desejo a todos vocês um ótimo ano, mesmo que desejando não vai mudar seu ano, então faça você mesmo, o destino é moldado pelas próprias mãos



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Tyler

Em muitas das situações temos que perdoar, mesmo que não se mereça, pois a ausência daquela pessoa é pior do que o erro que ela cometeu.

O perdão era necessário, mesmo que eu me sentisse traído, eu nunca a abandonaria, por isso não posso deixa-la de uma hora para outra. E por mais obscuro que seja esse mundo das almas, apenas fico feliz em saber que ela esta sã e salva, talvez não sã e salva, pois alguém que vê almas esta a mercê da morte, mas esta com menos riscos de morrer.

Desde que ela acordou no hospital, suas ideias e pensamentos ainda estão embaralhados, ao menos é o que parece, já que momentos simples com Abby ou ate mesmo uma tentativa minha de relembrar um momento nosso no primeiro ano do ensino médio foi totalmente falho, como se ela estivesse passando por uma amnésia temporária, por conta disso foi solicitado para que ela ficasse um dia a mais e os médicos fizessem exames extras.

Era o terceiro dia depois do ocorrido, estávamos voltando para casa agora, o relatório não tinha nada, assim foi recomendado consultar um psicólogo, segundo eles o fato foi muito chocante para ela.

O problema de ir ao psicólogo é que isso esta simplesmente fora de questão, a não ser que quiséssemos ser taxados como loucos e encaminhados para o hospício, ou ainda, sair na primeira pagina do jornal como “os paranormais”.

No caminho para casa a senti cada vez mais afastada e quieta, evitava olhar-me nos olhos. Quando chegamos, fomos recebidas pelos seus tios, e claro, Abby. Parece que qualquer problema que eu tenha venha a evaporar após ficar perto da garotinha.

Os cumprimentos foram rápidos, sem muita cerimonia, nada de explicações afinal à situação era tensa para todos.

–Tyler, eu vou dormir. – ela me deu um abraço que pareceu de contragosto e subiu as escadas.

Clarie me abortou por trás, colocando uma das mãos em meu ombro:

–Ty querido, ela esta passando por um momento difícil. Não se preocupe o boletim de ocorrência já foi encaminhado pela polícia.

Troquei um olhar com Abby.

–Polícia?!

–Algum... Algum problema nisso?- Brandon interferiu na conversa me deixando sem escapatória.

–Eu... É difícil aceitar esse problema, quem fez isso com ela tem que pagar, realmente, mas não acha que devemos deixar a poeira abaixar? Se insistirmos nesse assunto com Kayla ela pode chegar a ter traumas.

Os dois trocaram olhares, Clarie comprimiu os lábios e olhou para baixo, já Brandon não estava parecendo que mudou de ideia:

–Realmente Ty, o que você diz faz muito sentido, mas estou aclamando por justiça! Não é a primeira vez que fatos estranhos acontecem, que Kayla se machuca, alias vocês dois já passaram por situações delicadas, por favor, Tyler, não tente contornar o assunto, ou vou começar a suspeitar de você.

Assenti e fiquei quieto, ele estava com uma ambição tão grande que resolvi não fazer mais comentários.

Antes de ir embora resolvi ao menos falar um pouco com Yla, assim pedi licença e subi para o quarto, Abby vinha atrás sem dizer nada, apenas com aquela típica expressão de criança que esta atenta em tudo do que acontece ao seu redor.

Quando fui entrar o quarto de Kayla estava trancado, chamei seu nome duas vezes sem nenhum resultado.

–Ela deve estar dormindo – Abby segurou minha mão, respirei fundo.

–Ou contando as estrelas.

–Por quê?

–é... é uma longa história.

–Mas! Ei, eu quero saber.

–Certo, vamos ao seu quarto.

Abby guiou-me até o quarto, tudo era extremamente bem organizado lá.

–Já tomou banho pequeno pássaro? Acho melhor você dizer que sim, pois a historia que vou contar vai ser uma historia antes de dormir.

Ela deu um sorriso de lado.

–Se importa se eu correr fazer uma coisinha rapidinha?

A menina tirou-me uma gargalhada.

–Vou contar no relógio.

Sem mais delongas ela correu para o armário abriu as gavetas e puxou de lá o pijama felpudo. Entrou no banheiro e, em poucos segundos, o chuveiro tinha sido ligado.

Sentei-me na cadeira da escrivaninha e comecei a girar, acho que quando estamos com crianças temos tendência a agir parecido com elas. E não importa o quanto maduro e culto somos, da um alívio para a alma fazer esses pequenos gestos tolos.

Meu celular começou a vibrar no bolso.

–Alô?

– Estamos preocupados! Quase tive um ataque quando descobri o que houve com Ayla- a voz de Zoe, e sussurros de Jake ocupava o outro lado da linha.

–Veja se não é o maravilhoso casal.

– Mande ele passar pra Kayla, não quero ficar ouvindo besteiras como essa- disse Jake.

–Ele consegue te ouvir, idiota.

–Sério?

–Sim- respondi – Kayla esta... Trancada no quarto, provavelmente pegou no sono, voltamos pra casa, no momento estou com Abby, na realidade ela esta tomando banho.

–Podemos visitar amanhã?- perguntou Zoe.

E mesmo nessa situação era inevitável não tirar sarro dos dois.

–Quer dizer então que já estão começando a incluir o outro na programação diária de vocês?

–Tyler, você já foi mais legal- falou Jake.

–E você mais corajoso, Jake

–Argh, pare de ficar falando a respeito de coisas que eu não entendo!- disse Zoe

–Um dia você entenderá Zoe, é só esperar seu pseudo irmãozinho criar coragem.

–Amanha esteja disponível, vamos o visitar e tudo mais ...

E assim o telefone foi desligado me deixando mais uma vez sozinho. Mas não demorou muito até que Abby saísse do banho. Ela pulou na cama e se cobriu, sem falar nada, estava no olhar dela o que ela queria naquele momento:

–Pronta?

A garota assentiu.

–Quem pode te contar essa historia melhor é Kayla, mas juro que vou me esforçar. –dei um suspiro- Se há uma coisa certa na vida é que vamos morrer, é simples assim, nós nascemos para morrer, o que muda é o quanto podemos aproveitar a vida. Certo dia, uma pessoa ficou revoltada, não quis aceitar a morte, ela perguntava: por que enquanto vivemos podemos criar sorrisos, esperanças e podemos fazer nossa parte no mundo se depois morremos? Assim ela concluiu que pessoas boas viram estrelas, pois uma pessoa que passou o tempo inteiro dedicando a vida aos que estão ao redor e criando coisa boas são recompensadas lá no céu, assim toda vez que elas quiserem podem ver, lá do alto, gestos de felicidade e de amor, e podem ficar velando por quem elas gostam. Por isso uma pessoa que morreu vira uma estrela, é uma recompensa por ter sido uma boa pessoa.

A menininha me encarava, mesmo depois de toda historia, ela ainda estava bem acordada.

–Pois bem, hora de dormir, não acha? –perguntei, porém foi totalmente insignificante um vez que ela ignorou a pergunta:

–Ty, você acha que vou virar uma estrela?

–Eu tenho certeza, pequena, eu juro que não quero estar aqui pra ver, quero estar lá- apontei para a janela- quero esperar você lá no céu, e aposto, você será a estrela mais linda.

Dei-lhe um beijo na sua cabeça, que já ia crescendo alguns fios de cabelo. Quando ia saindo sua voz , quase de despercebido me conteve.

–Quantas estrelas você conheceu, Ty?

Eu sorri, e sentei-me na porta.

–Exatamente eu não sei, mas a mais importante foi meu pai.

Eu já ia saindo, mas acabei voltando para o quarto e contando a historia do cordão

–Por falar em pai, quer escutar outra historia?

Ela deu um sorriso sincero, e assentiu. Assim sentei na ponta da cama.

–Certa vez, eu estava no hospital, sabe por quê? Fui atacado por uma alma, só que naquela época eu era apenas amigo da Yla, sabe sem beijinhos – nesse momento ela fez uma careta e riu – e, eu achava que ia morrer sabia? Então Yla apareceu pra me visitar, e cara, eu já gostava dela, muito muito muito, só não tinha coragem de dizer, depois de um tempo, eu dei a ela aquela corrente que ela sempre usa, mas na verdade tem uma historia, que eu nunca contei pra ninguém, meu pai me deu essa corrente e me disse “filho, isso aqui é mais que um simples objeto, é um símbolo, desde a época do meu bisavó de sua mãe, essa corrente é passada de geração em geração, o objetivo dele era que o amor nunca acabasse, assim cada pessoa que recebesse a corrente tinha que repassar para alguém que ela amasse, sua mãe repassou pra mim, e estou te dando ela agora, pra quando no futuro, quando você tiver a menina de sua vida, ai você dará pra ela.” Sabe o que eu respondi? – ela fez um não com a cabeça – Falei que nunca ia ter uma namorada- então rimos, afinal isso era uma coisa de criança. –E foi naquele momento em que eu passei a corrente pra yla é que eu iria falar “ei, eu te amo” e então contar toda a historia, só que interromperam, e nunca mais contei, foi tanta correria...

–Ty, eu to com sono. – ela abriu um bocejo que me fez bocejar também- Você volta amanhã?

–Vou ficar por aqui, pequeno pássaro, tenha bons sonhos- despedi-me com outro beijo na testa e encostei a porta do quarto.

Enquanto contava aquela historia a Abby me surgiu uma ideia, afinal, já estava na hora de falar o que aquela corrente significava, e, mais do que isso, reforçar o que ela significava pra mim.

Desci as escadas com o objetivo de falar com Clarie, ou ate mesmo Brandon, pra pedir a permissão deles de passar aquela noite aqui. Quando falei com Clarie, ela riu da minha cara, o que foi confuso de entender se era um sim ou um não. Porém ela completou “Você é namorado dela, Ty. A casa é sua. E a propósito, Abby já dormiu?” respondi com um “e tomou banho”; depois de mais algumas palavras trocadas Clarie me pediu pra ficar de conta da Abby, se caso ela acordasse, pois ela e Brandon iriam sair pra relaxar. Aceitei.

Agora era a hora de mexer com a fera, que estava trancada no quarto, antes achava que ela estava em pleno silencio, mas após ficar pouco tempo na porta, pareceu-me que ela estava sussurrando com alguém, o que, com certeza foi imaginação.

Chamei-a na porta umas duas ou três vezes, e estava quase desistindo quando ela abriu me puxou e trancou a porta novamente.

–Por que ainda esta aqui?

–Precisava conversar com você.

Ela sentou na cama, e ficou parada.

–O que esta esperando?

–Ah... bem, eu...

Antes eu estava confiando, mas as palavras entalaram, era como se eu ainda fosse seu amigo prestes a me declarar.

–Desembucha

Foi realmente engraçado, que acabei rindo, ela falava poucas coisas desse tipo, ainda mas com aquele tom de “fala sério”

–Sabe aquela , ou melhor, essa corrente que você usa tanto? Que eu te dei quando estava quase morrendo?

Ela deu um sorriso meio que forçado e balançou a cabeça, sem olhar pra ela eu contei a historia. Quando terminou ficamos segundos em silencio até que voltei a olha-la.

–Anw, que fofo você é Tyler.

E isso soou totalmente estranho, como se ela não tivesse nenhum sentimento sobre mim, e só admirasse o que eu tinha feito.

–Desculpa Yla. Mas você esta estranha.

Sua careta foi incompressível, ela arregalou os olhos e limpou a garganta.

Assim veio em passos lentos e me abraçou.

–Eu te amo, Tyler.

Sorri e a abracei mais forte. Quando nossos olhos se encontraram não consegui fazer outra coisa a não ser beija-la, o que foi estranho, pois aquele beijo apaixonado e carinhoso da Yla se tornou selvagem, como apenas aconteceu uma vez...

Mas estava acontecendo novamente e eu estava delirando, e foi quando ela passou a mão por baixo de minha camiseta que eu não soube mais o que fazer. Estava sendo tomado por desejos e emoções e não mais por razoes.

Deixei-me levar.

_____________

Kayla ao ver aquela cena foi como se o corpo não fosse dela, foi como se visse Tyler a traindo por outra garota, e não soube mais como confiar em Geogia depois que ela tecnicamente a traiu. Traição, era isso que Tyler estava sentindo após ela o trair? Bem, ele queria acreditar que não, pois era diferente, era tudo diferente! Aquele momento único nunca seria dela. Ela então se afastou de lá, foi ao quarto de Abby. A menina dormia.

Foi então que viu um relógio, o que foi o suficiente para ela ficar desesperada, faltava nove horas e três minutos pra que as duas trocassem de lugar novamente, e ela tinha que ser precisa ou nunca mais sentiria o toque ou as palavras de Ty para ela, ou ate mesmo, nunca mais poderia conversar com Abby.

Um minuto a mais, uma vida perdida.


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Notas finais do capítulo

me empolguei novamente pra escrever, não prometo, mas pode ser que seja mais rápido c:
xoxo



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