Dos Dois Lados escrita por Lari Haner


Capítulo 54
Memórias.


Notas iniciais do capítulo

Olá
Eu não morri e nem abandonei a fic.
Fiquei um tempinho sem postar né, mas não foi tanto assim...

Eu juro que eu ia postar final de semana passado, mas decidi que vou fazer os capitulos maiores, pra compensar a demora, então esse é o tipo de dois em um udshasd


é Jake e Zoe.

Aproveitem!
Boa leitura!



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               Jake

Havia apenas uma pequena janela para iluminar aquela sala, ou melhor, aquele porão, se não bastasse isso, eu estava em uma tremenda emboscada, e era muito mais grave do que qualquer coisa que eu vivenciei.

Com um pequeno esforço, conseguia lembrar-se de cada detalha do que me acontecera...

A detenção recém tinha acabado e assim que bateu sinal Tyler disparou em direção à porta, Kayla foi atrás dele. As coisas não estavam muito bem, eu podia jurar que Tyler arrancaria a cabeça de Dean na sala e depois colocaria em exposição com um bilhete “alguém mais?!”. De pensar isso eu comecei a rir sozinho feito um boboca, então Dean disse “perfeito”. E meu sorriso se desmanchou, sim eu sei que ele apenas disse algo e que isso não significava nada, mas vindo dele qualquer “perfeito” podia ser uma catástrofe.

Zoe estava tão ansiosa quanto eu para sair daquela saia cheia de pessoas que não eram nenhum pouco agradável, ela pôs a mochila nas costas e saiu sem olhar pra mim, haviam acontecido algumas coisas em uma semana que não foram muito bem vindas, logo sai atrás dela, não ia ficar ali com os três sozinho.

-Zoe!- a chamei apertando o passo para lhe alcançar, logo quando cheguei ao seu lado perguntei- Vai pra casa?

-Não Jake, vou pra boate beber- ela rolou os olhos

Forcei uma risada

-Nossa Zoe, que engraçado sua piadinha.

-Obrigada- ela disse sem qualquer alteração de voz e isso era um dos melhores cortes que pode se dar.

-é... hm... Posso te acompanhar até em casa?- eu realmente achava que isso seria fácil, bem, eu já acompanhara muitas garotas até em casa- mesmo que durante o trajeto nós sempre parávamos para tomar um sorvete ou algo assim- mas com Zoe era diferente, até porque... bem, ela era Zoe...

-Posso mandar você ir à merda?- ela parou para me encarar.

Eu juro que por mais que ela sempre me xingasse aquilo causou um certo incomodo em mim, um desconforto...

-Ok Zoe, até... Ah, sei lá, Tchau- respondi olhando pro chão

-Você sendo educado? Acho que se contaminou com Jenna que ficou se esfregando com você. Deformou ainda mais seu celebro desmiolado.

Não disse mais nada sai para a direção oposta que ela estava indo, dei uma ultima olhada pra trás e ela fez menção em me chamar, mas depois balançou a cabeça afastando pensamentos e saiu dali.

-Jake! Jake!- uma voz feminina me chamou de trás, não, não era de Zoe, não respondi, o fato é que eu não a queria perto de mim – Jake- então Jenna tocou meu ombro.

-O que foi? Não bastou a encenação na detenção como se nos fossemos amigos?! Fez tudo isso para provocar Zoe né? Parabéns, conseguiu.

-Jake, vamos pro outro lado, eu preciso falar com você!- seus olhos mostravam um nervosismo ainda desconhecido por mim

-E porque eu iria Jenna?

-é-é- ela gaguejou- por favor

Recusei-me a continuar aquela conversa estranha, continuei então para o meu rumo.

Quando sai da escola me deparei com uma cena que eu não queria ver, um garoto com um cabelo cor de chocolate, mais ou menos do mesmo tamanho que a baixinha da Zoe, estava falando com ela.

Não preciso comentar que meu sangue ferveu né? Eu quase fui impedi-los por... Por conversarem, mas então a curiosidade foi maior e eu me aproximei em surdina perto deles. Consegui assim ouvir a conversa:

-Eu estou lhe falando, vou pro outro lado, pra que me trouxe aqui? Eu nem se quer te conheço!- Zoe reclamava

-Só mais um pouco, eu juro Zoe- ele a pegou na mão e se aproximou de uma arvore, logo mais em frente tinha um carro estacionado, ninguém estacionava na parte de trás do colégio! Eu comecei a ligar os pontos, mas já era tarde demais, o garoto que acompanhava Zoe a prensou contra a arvore e logo em seguida tapou sua boca, por fim consegui ver que ele tinha um paninho tampando a boca de Zoe e não demorou muito para eu perceber que ele tinha desacordado a garota que caiu em seus braços.

 Sai correndo em direção daquele cara.

-Seu idiota solta ela- gritei

-você que manda- então ele soltou Zoe que caiu com tudo no chão

Eu não sabia se ia até Zoe ou até o cara, do mesmo modo Zoe não estava sentindo nada, eu acho, então fui à cima do cara. Não foi nada difícil, o menino assim que viu a minha raiva foi para trás e bateu as costas na arvore, o segurei pela gola da camiseta e tentei meu melhor olhar ameaçador.

-Diga, o que, fez, com, Zoe- falei pausadamente.

Os olhos do garoto brilharam e em uma fração de segundo achei que ele estava olhando para trás e não para mim, então, mais rápido do que um bater de asas de um beija flor, uma mão envolveu minha cara e do mesmo modo que Zoe eu fui abordado, demorou cinco segundos para que eu caísse na escuridão completa, nesse tempo ouvi a voz de Dean.

-Será que Jenna nem afastar o loiro consegue?! Que merda, agora terá que leva-lo também!

- O que pretende fazer com eles?- o garoto gaguejou

-Eu não te paguei pra perguntar, agora suma!

E então não pude ouvir mais nada. Mergulhei em um forçado sono profundo.

______

Agora eu estava no porão junto com Zoe, estávamos de costas um para o outro, amarrados em um monte de cordas, uma delas estava em meus pés, a outra em minhas mãos e a ultima estava em nós dois, que passava pelo tronco quase inteiro.

Eu me senti em um filme de ação e suspense, mas sabia que aqui não era nada de ficção e o que aconteceria não seria puro efeito especial, a sala podia muito bem pegar fogo e...  Tentei afastar aqueles pensamentos, Dean não podia ter mais ideias de como acabar com nossas vidas, mesmo que ele não leia pensamentos, eu acho...

-Zoe- sussurrei, mas a morena não dava nenhum sinal de vida, e, me condene depois que eu falar isso, mas, eu estava começando a ficar preocupado com a baixinha. –Zoe se você estiver fingindo estar morta eu vou te matar depois que sairmos daqui.

Novamente nada.

Comecei a me remexer tentando sair do emaranhado de cordas, porém nada que eu fizesse adiantava.

Cinco minutos se passaram e eu quase desistir de tentar sair dali, era uma batalha já perdida, porem uma voz, fez-me melhor instantemente.

Zoe tinha acordado e estava tendo um ataque epilético porque se mexia muito.

-Da pra parar garota!- pedi

-he dolta arri!- ela respondeu, só então fui perceber que a garota tinha uma fita presa em sua boca.

Eu ri.

Sim mesmo naquela situação eu consegui rir, ao menos uma vez Zoe tinha se dado mais mal que eu!

 Vamos deixar o carinho e a compaixão um pouco de lado e aproveitar o momento

-Sábio Dean que fechou sua matraca- e mesmo com todas as cordas a garota me teu um forte belisco nas mãos.

-beu mou te mabar- ela reclamou

-Certo certo, sugere alguma coisa para sair daqui?

A morena não emitiu som algum, não reagiu nem disse às palavras que ficavam todas deformadas por causa da fita isolante.

E se passou três minutos de um silêncio, só podia ouvir o barulho do lado de fora da casa, quando tinha barulho...

Então ela deu um sinal de vida, começou a balançar seu pé enlouquecidamente.

-O que esta fazendo?- perguntei, e novamente nenhuma resposta.

Então escudei um barulho metálico contrastar com o chão e virei a cabeça o máximo que eu pude. A pouca luz fazia com que eu tivesse que forçar a visão, e depois de um esforço identifiquei um canivete.

Duas perguntas: como e por quê?

Como coube um canivete dentro do all star preto de Zoe?

Por que ela tinha aquele objeto junto consigo?

Só sei que mesmo com perguntas rodeando minha cabeça, nada nsegui falar, sabia que o objeto nessas horas seria útil, me desarticulei com muita difucultado até o objeto e com maor dificuldade ainda consegui pega-lo.

Depois de minutos correndo e um silêncio pleno, eu consegui desatar as cordas principais- as que envolviam o meu tronco- agora só restava tirar as coradas indivuduiais, das mãos e dos pés.

Em um movimento na tentativa de começar a cortar a corda das mãos acabei cortando-a, e não a gravidade do ferimento mas o suto que eu tomei quando senti o ardor foi o suficiente para que eu me assustasse e dexasse o canivete fora do alcance de minhas mãos. Zoe que até agora não falava nada, teve mais de um de seus “ateques epiléticos”.

-Tipa isso ba miha bova!

Não pude entender de imediato seus delírios então mais uma vez ela repetiu:

-Tipa isso ba miha boca

Ao entender a palavra “boca” melhor, compreendi o que ela disse.

-Como você quer que eu faça isso? O canivete foi dar uma volta!

Ela acabou me dando um chute desajeitado que nem doer doeu.

-Estou façando sério Zoe, ele foi lá pro outro lado

-Beu imbevil me tipa paqui!

-Então eu vou tirar a fita, mas não me bate depois disso ok!

Ela confirmou.

Em certas situações da vida você sabe que sua ação vai dar totalmente errado, mas mesmo assim insiste em tentar, e esse era o meu caso.

Revolvi meu corpo para ficar frente a frente com a morena, mesmo com a fraca iluminação seus olhos estavam marejados de lagrimas incompreensíveis que eu ainda tinha esperanças de saber o porquê.

-só não me bata- sussurrei antes de completar a ação.

Aproximei-me ainda mais de seu rosto, ofegando ainda mais minha respiração, Zoe foi para trás recuando, mas depois acabou ficando imóvel, tentei ser o mais delicado possível, mas era difícil pois delicadeza e Jake não eram sinônimos, mesmo assim mordi a ponta da fita com a boca, a primeira tentativa de tirar a fita foi falha, acabei dando uma mordida em sua bochecha, mas na segunda consegui, fui puxando a ponta da fita com a boca e cada vez ela se desgrudava da pele de Zoe, fiquei me perguntando se era melhor puxar tudo de uma vez ou ir devagar, mas acabei seguindo com “delicadeza o trajeto” quando a fita estava quase totalmente solta de seu rosto eu tive uma tremenda vontade de aproveitar o momento, e espero que vocês tenham entendido o que eu quis dizer com isso, mas se ela- com certeza- iria me matar por ter trado a fita daquele modo, eu iria morrer duplamente- se é que isso é possível- por dar “um toque final”.

-Eu vou te matar- ela disse, agora com nitidez

-Eu sei. Vai me matar de amor

Por um momento achava que ela iria me bater, pois ela fez uma menção disso, mas como ainda estava presa nas cordas isso não era possível.

-Eu juro que quando eu sair daqui nem seus ossos irão sobrar!

-Estou ansioso- ri dela. – Certo agora tenho que pegar o canivete do a dois metros de nós, alguma sugestão

-Vai pulando

-Aham, ah espera, eu estou com... Cordas amarrando meus pés!!!

-Quem disse que precisa tirar as cordas para pular!- ela ironizou

-Talvez um dicionário de “como não cair”

Ela deixou escapar um pequeno riso

-Idiota- disse ainda com a voz alegre

-Vindo de você isso é um elogio, mi corazon

A morena tremulou, mas conseguiu se manter em pé, e depois foi dando pequenos pulinhos em direção a nossa salvação, se fosse eu já teria caído mas ela –sempre me humilhando- não caiu.

-Certo eu peguei o negocinho agora é só cortar.

A morena se manteve no lugar onde havia pegado o canivete e começou a cortar as cordas das mãos.

-Isso aqui será útil pra cortar as tripas de Dean- ela quebrou o silêncio, sorri. Mas então, ao pensar que nós só estávamos naquela por Dean, e que nem se quer sabia a minha localização entrei em desespero.

-Zoe! Dean pode nos matar. – A garota abaixou a cabeça e seu tom de voz diminuiu

-Eu sei, corremos esse risco.

-Se ele nós matar, eu quero dizer tudo que eu sinto... – comecei fazendo uma voz dramática. Perco a vida, mas não perco o humor.

-Não vou deixar ele te matar Jake- meu coração começou a dar pulinhos, que diabos eram essa sensação?! – Eu tenho que fazer isso, não ele.

Mesmo que ela me irritasse, e me fizesse perder a cabeça, todo mundo sabe que era dela que eu gostava, era ela, só ela. As ameaças eram como uma nova língua de elogios, ou talvez não... Mas o fato era que a baixinha tinha tanto poder sobre mim que fazia odiá-la por isso, mas esse ódio podia ser apenas um antônimo de que eu sentia.

-Ficarei feliz em saber que minha morte estará em boas mãos – disse

Ela riu. E seu riso ficava ainda melhor quando eu sabia que o motivo dele era eu. Então nós nos encaramos.

-é... Zoe- acabei com o momento- Será que você pode cortar as cordas do pé logo?

A morena já tinha desfeito as cordas das mãos, e eu estava com pressa em tirar as minhas e sair logo daquele lugar. A garota começou a agir

-Eu acho que vou me soltar e deixar você ai- disse ela

-Não teria coragem de fazer isso- retruquei

-Sabe que eu tenho.

-No fundo eu sei que me ama

Silêncio. Eu tinha dito da boca pra fora, e algo me dizia que ela não conseguia admitir que me amasse porque ela realmente não me amava.

-Pronto!- ela, que ignorou totalmente a minha ultima fala, tinha acabado de se libertar das cordas. Então, deixou o canivete no chão.

-Ei! Pode me alcançar?

-Ela riu e mordeu o lábio inferior

-Claro... que não.

-Zoe!

-Jake.

Um barulho desviou afugentou toda minha atenção na morena, sabia que corríamos riscos. E eles vieram.

-Escutei barulho!- a Voz de Dean fez com que meu corpo inteiro se arrepiasse, ele já estava próximo de Zoe que nem se mexia. –O que faz em pé?! Ah Zoe, tem alguns truques, venha vamos subir

Ele a segurou firme pelo braço enquanto ela se contrapunha, mas a força de Dean era, inevitavelmente, maior do que de Zoe. Tentei sair correndo e fazer alguma coisa para impedir, mas o que adiantava? Uma vez que eu estava amarrado, ainda, nas cordas?

O desespero me tomou os gritos e apelos para tentar impedi-lo não adiantaram nada, e eu sabia que tinha que pensar em algo, mas Zoe tinha razão eu era um encéfalo.

Enquanto ela era forçada em ir com Dean, flashbacks vieram à tona em minha cabeça, eu estava a perdendo.

A baixinha corria perigo, a minha baixinha.

xxxx

-Jake você é um otário! Sério que fez isso?

Abaixei a cabeça me sentindo realmente um otario.

-Você viu não viu? Claro que fiz.

Ela sentou-se do meu lado.

-Você é um exemplo da Lei de Rudin!- ela ria.

-hã? Não me lembro de ter estudado isso

-Você não estudou mané, mas faz doutorado nela.

-Você me confunde!- excalmei, a morena limpou a garganta. 

-"Em tempos de crise, quando as pessoas são forçadas a escolher entre diversos tipos de opções, a maioria escolherá a pior opção possível."

xxxx

Zoe estava certa, eu nunca fui o tipo de garoto que acertava em suas decisões por isso eu vivia com problemas, ainda vivo, afinal, faço doutorado na Lei de Rudin.

xxxx

-Sai daqui- ela me ameaçava com uma escova de cabelo.

-Não.

-Eu vou contar até três!

Comecei a rir e não sai do quarto dela, minha mãe havia me trazido junto com ela para visitar sua melhor amiga, a mãe de Zoe, e eu, como meu passatempo favorito, fui irritar a moreninha.

-Um... Dois...

-ah meu deus vem o três vou morrer!

-Seu idiota! Três.

Foram cinco segundos, cenas aleatórias, a cara de Zoe de eu-vou-te-matar, uma escova de cabelo sedo atacada em mim, eu tentando desviar sem sucesso, a escova acertando em cheio o meu olho, eu caindo e reclamando e a morena se contorcendo de rir.

-Baixinha irritante!-praguejei

Ela parou de rir e pegou a escova novamente.

-Tem certeza?!

Fui até o canto da porta preparado para correr, então disse:

-Absoluta

Sai correndo pela casa e ela estava atrás.

Acabei caindo da escada, é talvez eu preferisse uma “escovada”.

xxxx

E então flashbacks mais recentes

Xxxx

-Tenho saudades dos seus insultos- falei

–Quer dizer então eu você gosta. – ela riu

–gosto – admiti para ela pareceu ser uma surpresa

Xxxx

–Quer resumir?- disse

–Eu odeio você, tipo mesmo, tudo que você faz nada presta, tipo aquele dia lá que...

–Zoe cala a boca- sorri, o simples fato de ela ter falado comigo já era um avanço não era?

–Desde quando eu te obedeço?

–Você nunca me obedece, por isso já estou acostumado a não te obedecer também.

–Viu eu também odeio isso, você é teimoso, chato, calma eu já falei chato, que mais, ah você... é... besta, retardado mental e completamen...

Zoe me fazia ser impulsivo, e quando se é assim você só age, sem nem pensar que no futuro seus atos terão consequências, e por essa impulsividade que acabei fazendo o que já era pra ter feito há muito tempo.

-... sou completamente... apaixonado por você, Zoe.

Xxx

______

E explicar o que eu sentia, naquele momento, era a mesma coisa de que explicar as cores para um cego.

Eu achava que a perdi, a perdi sem ao menos dizer o que realmente queria. Aquela baixinha irritante, não, ela não poderia ir embora.

Soltei-me das cordas o mais rápido que pude, mas assim que terminei de desatar a corda da mão um estrondo alto percorreu o porão inteiro e me fez estremecer.

Quando vi então a menina na minha frente fiquei desesperado, Zoe tinha sido jogada da escada e a porta fechada, minhas mãos começaram a tremer muito dificultando muito mais o processo para se soltar.

Quando por fim me soltei, o que demorou dois minutos depois que ela tinha voltado fui até ela, correndo.

-Zoe! – a segurei nos braços, ela não se mexia –Zoe, o que fizeram com você? Zoe!

Eu não tinha resposta, meu coração parou naquele momento, pra deixar os sentimentos em seu lugar.

A garota foi abrindo os olhos, que estavam vermelhos irritados.

-Você! – ela riu- Seu bonitinho

-Zoe? Você esta bem?- me afastei por pura reação e ela riu, muito.

Ao a fitar, eu pude então perceber o que havia acontecido.

-Eu não acredito que ele te fez isso- sussurrei perplexo – ele... ele te dopou Zoe!

Ela caiu pra trás e ficou quieta, depois começou a chorar. Eu não aguentava a ver assim, e só tinha uma pequena janela estreita para passarmos, eu não me importava, sairíamos dali mesmo assim.

_____

-Aqui esta e... Pode ficar com o troco é que eu estou com pressa- disse.

Havia acontecido um turbilhão de coisas que eu nunca imaginei que ia passar, conseguimos sair pela janela da casa de Dean, o garoto estava gritando no andar de cima, algum problema tinha, pois se não tivesse ocorrido nada, o garoto estaria com Zoe ate agora, e ele ia fazer muito mais do que só dopa-la, eu sei disso.

Mas o importante é que estávamos vivos. Zoe estava falando coisas sem nexo, às vezes me batia ou tentava me abraçar, horas chorava e hora ria, ela estava bem pirada.

Paramos na frente da casa dela, não havia nenhum sinal de vida ali, nenhuma luz ou som vindo daquela casa. A lembrança veio-me perturbar novamente.

Xxx

-Ela é mesmo assim? Sua mãe, Zoe, sofre problemas?

-Sim- sua voz era chorosa, essa era uma das únicas vezes que a garota tinha se demonstrado fraca em minha frente.

-M-mas não parece- não conseguia acreditar que a mãe dela, melhor amiga da minha mãe, tinha problemas com álcool e drogas.

-Ela parece uma pessoa normal durante do dia Jake, mas é só ela pisar em casa que muda totalmente de personalidade e... E sai, nunca quase a vejo dormindo, mas... Vamos mudar de assunto. Você engordou

-Ei!

xxx

Os caminhos eram lentos e Zoe segurava minha mão com força estava quase sem circulação lá, eu juro.

Bati na porta.

Nada.

Toquei a campainha.

Nada.

Mais Uma.

Duas.

Três vezes.

-Ei- a morena sussurrou- vou  te contar um segredo, mas não conta pra ninguém! Ninguézsinho, nemé, tem uma chave na floreira. –Então ela riu.

E por mais que ela estivesse maluquinha, ao menos uma coisa útil ela tinha dito.

Entramos na casa, que eu já havia conhecido, era muito bonita, quando morávamos na outra cidade, Zoe tinha uma casa de dois andares, muito maior que essa, a casa em que seu pai também havia morado, e por mais que Zoe me dissesse que sua mãe se mudou por causa do trabalho, eu sabia que metade do motivo, real, era para afastar as memorias. O ruim é que na nova casa dela é que o quarto dela é no sótão. Mas o único que podia ter um quarto legal era eu, e ela tendo um quarto no sótão era muito mais legal que o meu.

A escadinha era estreita e eu juro, tentei não admirar Zoe subindo, mas eu tinha que ajuda-la a subir a escadinha, fazendo com que, consequentemente, eu tivesse que ir atrás dela, e consequentemente... Bem, acho que deu pra entender.

Ela se jogou na cama.

-Eu estou morrendo de dor de cabeça Jake!

-Quer um remédio?- perguntei um pouco desconfortável, por estar na casa dela, no quarto dela... ah sei lá.

-Jake, porque você esta aqui?- sua voz mantinha em um tom calmo e doce, a qual eu quase nunca tinha escutado.

Ignorei-a

-Esta melhor Zoe?

-Estou, muito bem, sai daqui

-é... mas

-Não, fica aqui.

Eu ri.

-Eu preciso ir pra casa Zoe, minha mãe deve achar que eu fui sequestrado e... – parei imediatamente de falar, a minha ironia na frase, naquele dia não era ironia. Oh!

-Só até eu dormir, soninho!- ela se atracou em baixo das cobertas. Ela não tinha melhorado, um pouco, mas continuava piradinha.

-Só até você dormir.

Ela se virou para o outro lado, agora só via cobertas até o seu pescoço e seu cabelo negro caindo dobre o travesseiro.

Sentei-me no chão e me pus a observar seu quarto.

As paredes eram claras e havia uma pequena janela, comuns nos sótãos, em sua cama eram pendurados àquele pisca-pisca que eu costumava a colocar na arvore de natal. Não entendi muito o sentido de colocar pisca-pisca ali, mas mesmo assim continuei a observar. Na parede tinha posters de bandas, minha baixinha era fissurada por rock, e... Eu falei minha baixinha? Estou. Virando, Um. Problematico. Enfim, havia um do Green Day, Nickelback, Bon Jovi e Red hot chili peppers. Eu havia apenas escutado uma musica da ultima banda, era “Californication”, então não posso julgar os gostos de Zoe. O armário era de uma madeira preta, e eu juro, era a madeira que era preta e não pintura. Acho que é uma arvore encantada, porque nunca havia visto essa cor de madeira. Era um quarto simples, cama, armário e posters, e aqueles bagulinhos que piscam.

-Jake?- sua voz ressoou novamente, quando eu achava que ela já estava no decimo sono.

-é meu nome- respondi, a menina nem se quer tinha se mexido continuava do jeito que estava: sem olhar para mim.

-Daqui a pouco ela chega, é melhor dar o fora daqui.

-ela quem?

-Minha mãe, Jake.

Resolvi tomar coragem e perguntar.

-Sua mãe, continua daquele jeito,  estou cer...

-Sim, continua.

-Hm, sim, que ... pena.

-Todos dizem que pena, pena, é só isso que sentem, não, vocês não sentem pena, é apenas uma resposta pra livra-os de uma situação desconfortável, as pessoas são assim Jake. Não sabem o que realmente significam o que estão falando. Elas não passam pelas coisas das quais julgam “sentir pena”, elas não entendem!

E aquilo me deixou sem resposta.

Sem ar.

Oi, chão estou te encarando novamente não é?!

-Desculpe. Acho melhor eu ir. – levantei-me e cheguei mais perto de sua cama, pensei em me despedir dela, mas logo desisti, o que iria fazer? Abraça-la deitada? Dar um beijo em sei rosto? Correr risco de levar um tapa.

Eu tinha quase certeza que Zoe não iria se lembrar de nada que estava acontecendo, e isso por parte me deixava triste, nós passamos uma aventura em tanto juntos, e aquilo foi como uma demonstração, não de amor, talvez, mas principalmente de amizade, porque apesar de tudo, apesar de ela ser a baixinha mais irritante que existe, apesar dela ser a quase punk mais idiota, ela era minha amiga, mesmo que por trás dessa amizade, havia muitos mais sentimentos incluídos. Mas para o amor também é necessário à amizade.

-Começou a chover.

Olhei para a janela que quase estava na altura do teto e vi a chuva caindo. Acho que a chuva quer que eu me ferre mais ainda: sozinho, com frio, com sangue do corte na mão, vou levar uma bronca dos meus pais por ter chegado tarde e não vou poder falar o que aconteceu. Maravilhoso.

E no mesmo instante um estronde de porta, muito parecida com a que eu ouvi na casa de Dean, isso me fez arrepiar.

-Zoe!- um grito nervoso ecoou pela casa- você deixou a porcaria da porta aberta de novo! Que merda!

Acho que meu coração parou de bater.

Eu estava muito mais que arrepiado.

Cadê a mãe de Zoe, doce e amável?

Era isso que ela passava todos os dias?

Zoe se cobriu até a cabeça, escutei um resquício de choro abafado pelos edredons. E naquele momento eu senti pena, mesmo que eu não pudesse descrever o que era isso em palavras.

-Sabe quem deixava a porta aberta? Seu pai, o imbecil não sabia fechar uma porta! Era sempre a mesma coisa. Pra que eu fui ter uma filha com ele.

E aquilo doeu, doeu muito em mim, eu não suportaria se minha mãe dissesse isso. O choro de Zoe foi ficando mais alto, apesar de que eu estava perto dela conseguia ouvir, provavelmente a alguns metros de distância isso fosse imperceptível.

-Droga Jake, Vai embora!- ela sussurrou

-Como?! Sua mãe vai nos matar se nos ver!- falei no mesmo tom.

-Saia daqui, eu só quero que você... que você suma!- ela se pôs no choro novamente.

Abracei-a, mesmo que ela estivesse deitada, mesmo que isso tivesse sido difícil.  Eu queria demonstrar, de alguma maneira, que eu estava lá.

-Eu não posso. Tenho medo da sua mãe- admiti, sim eu podia ter falado “eu não vou te deixar” algo muito melhor, mas eu sou Jake, e foi isso que saiu – e ta chovendo – por que eu não conseguia ser fofo com ela?

Porque com ela, eu era o verdadeiro eu.

Da onde veio esse pensamento profundo? Argh.

-Que raiva!!!!!- outro grito de sua mãe – Acabou minha bebida – um barulho de estilhaço deixou o lugar silencioso. – Eu vou sair, se vire, deve ter comida na geladeira, ah foda-se não me importo com você, já te disse, foi um erro um acidente! Você foi um atraso de vida Zoe.

Outro barulho de porta.

Os braços da morena voltaram minha cintura, suas mãos estavam tremulas e agarradas a minha camisa, sua cabeça afogada em meu peito, e seu emocional, abalado, muito mais que isso, estava destruído.

-Agora que você sabe tudo Jake- sua voz era muito mais baixa, até parecia uma ilusão da mente – pode ir, pode nunca mais olhar para minha cara.

-Zoe...- não sabia o que falar. –Não, Zoe. Eu não vou fazer isso.

Silêncio.

E naquele momento o silencio era um apaziguador, as coisas não precisavam necessariamente ser ditas para serem expressas.

A abracei com minha máxima força, Ei eu estou aqui, baixinha. Eu estou com você.

Arrisquei então um beijo no topo de sua cabeça. E em troca não ganhei um tapa como esperado, e sim ela correspondendo ao meu abraço, com a mesma força.

-me desculpe, Zoe

-Pelo que?

-Por ser tão idiota com você, por te irritar, por tudo.

Um fraco riso surgiu, e aquilo foi gratificante.

-Admite ser um idiota

Cara, eu achei que ela estava mal!

-Só fingiu que não ouviu nada. – eu ri também

-Nós estamos abraçados, você esta na minha casa, mas isso não significa nada ok? Eu ainda te odeio.

Eu sorri. Matem-me! Porque ela me xinga, acaba com as minhas esperanças de algum dia significar algo, mas mesmo assim, me faz sorrir completo um bobo. Matem-me logo!

-Eu também te odeio Zoe.

Era um antônimo, a cada vez estava mais certo disso.

-Eu te odeio muito- disse

Também um antônimo.

-Eu também te odeio muito Jake.

E, eu esperava que aquilo fosse um antônimo do que ela sentia.

Essas foram as ultimas palavras que ela me disse até cair no sono, e eu sabia que ao acordar não se lembraria de absolutamente nada, e por esse motivo, eu seria um covarde agora:

-Eu sei que não vai se lembrar Zoe, sei que agora esta dormindo e pode nem se quer estar me ouvindo, mas eu sou covarde demais para dizer isso na sua frente, eu espero, realmente, que um dia tenha coragem, mas enquanto isso continuo sendo um covarde. Um covarde por esconder um verdadeiro sentimento, por substitui-lo por palavras opostas.

Respirei fundo.

-Eu te amo, Zoe.

E ia ser difícil olhar pra baixinha e me lembrar desse momento sem que ela se queira tivesse noção do que tinha acontecido. Lutar com a própria mente vai ser complicado.

E foi com um beijo que eu me despedi. Pronto então para deixar as imagens daquele dia se transformar apenas em memorias.

Memórias secretas. 


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Notas finais do capítulo

Cade os meus leitores que sempre mandavam reviews, Luce, Lua, JJLogan, Fran, Luzinha.... ?!


OKOK
BEIJOS



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