Voltei para o quarto de Abby após falar com Ty, eu não quis explicar direito o que ia acontecer com By, eu não conseguia, mas ele disse que daqui a pouco estaria no hospital para que pudéssemos conversar melhor, o jeito era ficar calma e fingir que nada aconteceu, por enquanto.

-Você não foi! Achei que tinha voltado pra casa!- disse Abby no tom animado de sempre

-Não, só fui resolver uns problemas- eu disse tentando parecer calma.

-Problemas, que tipo de problemas?- ela se levantou e abriu a janela do hospital deixando uma leve brisa entrar no quarto, e continuou ali na janela olhando os pássaros como sempre fazia. Sentei-me na cadeira que tinha no quarto do lado do criado mudo, aonde Abby proibiu de mexer, era lugar da Georgia, a alma que me perturbava, resolvi então começar um novo assunto:

-Abby aquela alma ruiva, apareceu novamente?

-Sim, hoje de manhã quando eu acordei, seu nome é Taline, ela disse que...

A interrompi:

-Taline?! Ela me disse que era Georgia, calma estamos falando da mesma alma?

-Eu acho que sim, mas não, o nome dela é Taline – disse Abby se virando para me ver- T-A-L-I... é M ou N?

-Seria N, mas, isso esta muito estranho- fiquei em dúvida, será que falávamos da mesma alma? Eu tinha certeza que sim, era estranho eu ter essa certeza, mas era como afirmar que meu nome era Kayla, eu sabia, de algum jeito, que falávamos da mesma alma.

-Bom dia- Ty entrou no quarto cumprimentando Abby com um beijo na testa, e me dando um selinho, Abby dessa vez não reclamou.

-Dois problemas?- ele perguntou a mim

-Três, agora- disse respirando fundo. Abby ficou quieta só nós observando

-Quer contar?- ele disse

-Primeiro, alguém já esta com Alopécia- disse tentando manter-me calma

-Q-quem falou isso pra você Yla- Ty olhava serenamente para Abby

-A enfermeira- disse

-O que é Alo... Alopé... Esse nome estranho...?- perguntou Abby

Olhei para Ty, por um lado eu e ele já achamos um jeito de falar para ela sobre a Leucemia, poderíamos agora falar do cabelo, mas do outro eu não conseguia, aquilo era forte demais para eu aguentar.  Ty compreendeu, tudo transmitido apenas com um olhar, e me deu a resposta, não com outro olhar, mas agora com palavras:

-Yla se importa se eu falar com Abby sozinho?- ele me perguntou balancei a cabeça e sai.

Caminhei até a sala de jogos do setor, onde muitas “cabeças de ovo” como Abby diz, estavam brincando, sorrindo. E talvez não fosse tão ruim, isso era normal para quem abrigava “Leo gato do mau” no corpo.

-Desculpe- sussurrou uma voz atrás de mim, me virei para trás, Taline ou Georgia, me encarava com uma expressão culpada no rosto. Sabia que eu não podia sair falando com ela, ou eu teria que ser internada no hospital com problemas psicológicos, mas tive uma ideia, que particularmente foi boa, coloquei meu celular na orelha, assim as pessoas acharia que eu estava em uma ligação, porem eu falava com uma alma.

-Por que?- perguntei

-Eu menti, menti meu nome para você- ela disse, na verdade não fiquei surpresa com isso, eu meio que já esperava.

-Mas por que você fez isso?

-Eu achei que se vocês achassem que eu fosse uma alma diferente, não me culpariam.- ela olhou para baixo.

-Culpar você pelo o que, desculpe, mas você esta falando as coisas muito superficialmente.

-Você saberá, num futuro próximo, até logo, poderemos então conversar melhor- ela se despediu com um sorriso de alivio e culpa, como eu já disse, nela era possível dois sentimentos opostos ocupar o mesmo espaço. 

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-Yla, Ty esta me irritando!- disse Abby, eu já tinha voltado ao quarto e vendo os dois brincar como se fossem criancinhas de oito anos, ou melhor, vendo Ty se comportar como uma, já que Abby, era uma. 

-Por que?- ri

-Porque ele fica falando “cabeça de ovo, cabeça de ovo”- ela imitou a voz de Ty, o que me vez rir mais ainda, porem senti um alivio percorrer meu corpo, encontrei o olhar de Ty, um agradecimento rápido, tudo deu certo

-Mas você ainda não é uma cabeça de ovo- eu disse.

-Mas vou ser- ela veio até meu ouvido e sussurrou: - Ty me disse que como eu sou uma agente secreta vou ter que usar perucas pra disfarce não é? E ai fica mais fácil coloca-las, se eu virar cabeça de ovo.

Ela colocou um dedo na frente da boca, não era pra contar o novo segredo dela, concordei com a cabeça, e me senti como uma criança que acabou de ganhar um doce, ou como eu me sinto quando como algo doce, meus olhos estavam brilhando, e fui direto abraçar Ty.

-Obrigada- disse em seu ouvido- mesmo.

-Nós temos que cuidar da nossa maninha não é?- ele me deu um beijo na testa, quando fechei meu olho uma lágrima em cada olho caiu, de felicidade dessa vez.

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O ponteiro do relógio marcava três horas da tarde, eu estava em casa, fazendo a faxina que estava precisando, sozinha, sim corro riscos, mas isso todo mundo já sabe.

-Olá- então recebi uma visita, sim de uma alma, não, não de Loren, graças... Mas de Georgia, ou Taline.

-Oi- respondi.

-Olhe, você não precisa confiar em mim, mas eu quero te ajudar, Abby vai... vai passar por uma fase difícil, mas olhe, eu vou fazer de tudo para que não aconteça o pior.

- Que tipo de fases difíceis, como pode ter certeza?

-Eu não posso te contar, só confie em mim, é tudo que eu preciso.- então saiu, do nada, sem explicações, me deixando curiosa.

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Liguei para Ty, depois de tudo que aconteceu eu acabei esquecendo de que ele tinha que me contar um de seus problemas e eu para ele.

-Alô?- ele atendeu

-Como assim Alô, não sabe quem é?- perguntei rindo

-Desculpe não vi o numero- ele riu – o que devo a honra de sua ligação?

-Preciso, contar, coisas – disse

-Você acha que é seguro pelo telefone?- ele perguntou

-Na realidade, não, mas...

-Vem aqui então- ele me convidou, meio que me obrigando

-Que horas?- perguntei

-As três e quarenta e cinco – respondeu

-Mas agora são três e quarenta e cinco- disse e ele não respondeu- ah, entendi, ok até daqui a pouco

-Garota esperta- então desliguei o telefone e corri para a casa de Ty.

Quando entrei nela May estava na cozinha e Matt estava trabalhando, bem era domingo, mas nada impede, eu acho.

-Oi May- disse

-Ayla, meu anjo, que saudades!- ele veio a minha direção e me deu um abraço apertado, me senti culpada naquele momento, eu estava lendo seu diário, invadindo sua privacidade, não tinha, até onde eu li, coisas comprometedoras, só sobre as almas, mas mesmo assim, era como se eu tivesse traindo sua confiança, teria que falar a verdade, mas não agora, não assim

-Também estava- respondi

-Olhe um dia eu ainda preciso conhecer Abby, Ty não para de falar dela, meu pêsames pela doença...

-Você precisa mesmo conhecer, pra ela aquilo não é nada May, Abby é realmente incrível.

Depois de conversar um pouco com May sobre Abby, eu e Ty subimos, para poder conversar a sós, me deitei em sua cama e fechei os olhos

-Quem começa contando?- perguntei

-Par- disse ele rindo

-Par?- não entendi

-Você esta muito lerda hoje Yla, par!- abri os olhos para tentar entender melhor o que ele queria dizer com par, mas não demorou muito e eu me toquei, acabei então rindo

-Ah, agora tudo faz sentido, impar

-Um

-Dois

-Três

-Já

-Oito, ganhei- ele comemorou

-Não, eu tirei cinco e não quarto

-Você tirou quatro sim, igual eu- ele riu

-Não eu tirei cinco- falei, porém eu tinha tirado quatro, segredo...

-Calma, estamos discutindo para quem vai contar algo ruim primeiro?- ele franziu as sobrancelhas.

-pior que sim- ri- vai, conte- fiz uma figa para trazer sorte.

-Não você conta primeiro, vamos deixar a pior por ultimo- ele disse, senti um arrepio percorrer meu corpo

-Ok, primeiro eu ia contar pra você sobre Abby ter de virar cabeça de ovo, mas você já solucionou o caso.

-E você esta falando como uma agente secreta- ele riu, dei um tapa de leve em seu ombro.

-Continuando, a outra coisa, bem, quando eu estava no hospital, Georgia me visitou, mas ela se apresentou como Taline para Abby- contei, e ouvi Ty sussurrando “eu sabia”...

-Espera, mas por quê?- ele perguntou, então contei a ele de todos os meus encontros com Georgia, de como ela me confundia, e falava as coisas tão superficialmente, que me dava insegurança, eu sabia que ela era de alguma forma poderosa, sabia exatamente o que estava falando, mas não deixava-nos saber o que ela falava...

-Isso é muito estranho, seja o que for, não confie nela- Ty avisou

-Mas, ela não me parece ser ruim- entreguei- eu acho que ela é do bem Ty

-Yla, as almas são traiçoeiras ok? Você não pode confiar nelas, sabe o poder que elas têm, não confie, por favor – ele pareceu desesperado.

Por mais que Ty tivesse razão algo não me deixava seguir o que ele disse, algo que eu não conseguia saber, era como se fosse uma força interior.

-Não vamos falar nisso- eu tentei parar- sua vez, ele segurou minha mão

-Lembra de Adam?- ele me perguntou, assenti, depois que ele mencionou Adam senti meu coração pulsar cada vez mais rápido. Pra que voltar no passado? Aquele homem realmente era uma de minhas dúvidas, como podia saber tanto sobre as almas se nunca as viu, eu até tinha curiosidade de falar mais com ele, mas não, eu nunca ia voltar naquela casa, onde a velha alma já morou, quando eu relembro disso, tenho cada vez mais esperanças tanto sufoco que passei com aquela velha, e ela foi em bora da minha vida, espero que assim seja com Loren. Ty olhou para o edredom da cama, como se estivesse calculando as palavras.

-E o que tem ele?- o apressei

-Ele morreu- levei um choque, não literalmente, mas, como assim ele morreu? sim ele era idoso na época que eu conheci, mas... ah não consigo explicar o que sentia aquele momento.

-C-como você sabe?- perguntei de pressa

-Ele me visitou, Yla não fale nada até eu terminar, por, favor- Ty respirou fundo, eu não tinha muitas forças pra falar mesmo, aquilo estava sendo realmente a pior notícia... Ele estava ainda segurando a minha mão, conseguia perceber o quão nervoso ele estava em me falar aquilo. Suas mãos estavam tremulas e suando. Eu tinha que dar um tempo para ele, sabia que não era nada fácil o que ele ia me falar, não sei como mas previa que não ia ser.

-Adam, ele, ele veio aqui de noite um pouco depois de eu voltar da praça. Me disse que sabia que eu via almas, graças a ele, e disse também que...

-Que...- ele colocou as mãos na cabeça, vi o quanto a notícia o intrigava, o puxei para um abraço, assim como ele fazia na maioria das vezes quando eu era que estava incomodada com algo.

-Que, que ele tem uma solução para parar de enxergar almas.

Sim aquela era uma notícia, mas eu ainda não decidi se era boa ou não.

-Ty... Você não pode confiar nele- falei sem pensar

-Viu, era esse meu medo, você não queria que eu visse as almas, não vai querer  confiar em Adam de novo.

-Você mesmo me disse que não era pra confiar nas almas!- comecei a tremer, fechei os olhos e tentei respirar fundo.

-Não Ty, isso é loucura!

-Nós estamos no meio de uma loucura!