Eu estava na minha casa com Ty, tínhamos deixado Abby no hospital, Clarie e Brandon foram levar as coisas para ela passar a noite, e pelo jeito iam ficar lá dormindo com ela, foi difícil pra mim não poder estar com Abby, mas eu tinha escola no dia seguinte, ao menos Ty estava comigo para eu não ficar sozinha, ao menos isso... Meus pensamentos se misturavam meus sentimentos também, eu me sentia segura com Ty, mas ao mesmo tempo insegura já que a presença dele só atrai ainda mais as almas, eu pensava em Abby também, tão pequena, e vem tendo duas doenças graves, a de ver alma, que apesar de não ser uma doença eu considero como, e a leucemia, ela é muito jovem para tudo, muito jovem pra passar tudo isso, e era incrível como apesar de todas essas circunstancias, ela sorria como nenhuma outra pessoa, outras pessoas também invadiam a minha cabeça, Jake e Zoe, a ultima briga deles... Eu só sei que não foi como as outras, e parece que ambos saíram bem magoados, a amizade, ou quem sabe o amor deles, não pode acabar, ah não vai, eu não vou deixar isso acontecer.

– Yla? Você não prestou atenção no que eu te disse não é?- Ty tirou a minha concentração nos diversos assuntos da minha vida, mas ele pode. Balancei a cabeça negativamente, peguei o chá que estava no criado mudo do lado do sofá, onde eu e ele estávamos deitados “assistindo” Tv de baixo de um edredom quentinho, aquela noite fazia muito frio.

–Desculpa, é que... ta tudo dando um nó na minha cabeça sabe Ty, são tantos problemas- resmunguei minha vontade era de falar “cansei disso quero uma vida normal” mas nada adiantaria – Pode repetir o que ia falar?

Tentei fazer uma carinha fofa “like a Gato de Botas”. Ele deu um sorriso do tipo “não deu certo, mas você tentou” só que num sentido carinhoso, ah não sei explicar.

–Eu estava falando que as vezes eu acho que nosso namoro esta se baseando apenas em almas, e almas pra cá e almas pra lá, sabe, quando estamos juntos falamos apenas das almas, eu sei que isso é inevitável pra nossa sobrevivência e tal, mas...- não deixei ele terminar de falar, lhe dei um selinho demorado, era só para ele calar a boca, a besteira que ele falou, bem, eu até concordava que nos falamos muito das almas, mas não é por causa delas que eu estou junto com ele.

–É disso que eu estou falando- ele disse e rimos juntos

–Então puxe um assunto- disse e ele balançou a cabeça, não tinha nenhum.

–Jake e Zoe?- sugeri

–Esse dois se amamodeiam ao mesmo tempo- disse ele

–concordo, porém a ultima briga deles, não sei não foi muito normal sabe

–Eles vão voltar a se falar, eu acho que vai demorar, mas vai ter o ponto limite deles, um precisa do outro Kay, e às vezes a saudade vence o perdão, você vai ver, nem que a gente precise influenciar um pouquinho nisso...

–Tem razão, você sempre tem razão- dei ênfase no sempre.

–Você diz isso como se não suportasse- ele riu

–mas eu não suporto, porque não tem graça, Tyler sabe, Tyler faz tudo, bla bla bla- falei com aquelas vozes de quando a gente esta imitando alguém

–Você é uma boba sabia- ele riu mais ainda

–Se você diz, tem razão- ri com ele- Ty, obrigada por me ajudar hoje, com... Abby se saiu muito bem capitão

–Você também, tenente Sullivian- ele me deu um beijo na testa – amanhã acho que vou visitar Abby, você vai comigo, não é?

–Como assim visitar Abby?! Eu que sou irmã dela, eu conheço mais tempo ela...

–Na verdade não - ele riu

Era verdade nos “conhecemos” Abby no mesmo dia, aquela linda garotinha com os olhos azuis...

–Não te dou toda essa liberdade- eu ri

–Abby me da- ele deu a língua, então eu levantei e sai da sala- ei onde esta indo?

Não respondi, apenas subi para o quarto da Abby correndo e me escondi em baixo da cama, momento criancice mode on

–Ah qual é Yla?!- Falou Ty bem alto, para que eu escutasse, de qualquer lugar. – é esconde-esconde agora? Você não acha que esta um pouquinho grande pra isso?- podia escuta-lo subindo as escadas, e como uma criancinha de cinco anos me concentrei pra fazer o mínimo de barulho possível, quase comecei a rir quando ele falou por brincadeira:

–Na boa, mas eu acho que até Abby é mais madura que você- ele entrou no quarto de Abby, prendi a minha respiração. Ele andou pelo quarto pude ver apenas seu pês, ele abriu os armários e olhou atrás da porta, depois ele estava se agachando para ver em baixo da cama e eu sai pelo outro lado:

–Yla! Volta aqui!- ele disse correndo atrás de mim, desci as escadas com ele ainda me perseguindo, havia uma distância ainda considerável entre nós, mas sei que não ia ficar assim por muito tempo, Ty é muito rápido. Como eu disse em pouco de uns vinte segundos correndo pela casa, ele conseguiu me impedir de que eu corresse mais, por forças do além ele ficou na minha frente, me barrando, quando eu fui virar pra trás ele me segurou pela cintura:

–Deu né- ele me puxou e me prendeu em seus braços, eu não conseguia me mexer

–Me solta Ty- disse rindo, apenas balançou a cabeça negativamente, então me pressionou contra a parede, e sem dizer nada apontou um dedo para sua boca, eu entendi o que ele queria, não eu não ia beija-lo, fiz que não, então ele fez um biquinho, do tipo “por favor”, novamente neguei, ele levantou a sobrancelha “esta me subestimando ou é impressão minha” foi mais ou menos isso que eu entendi, eu estava quase me rendendo, mas então algo mais importante aconteceu, ao menos eu achava importante, era como uma resposta para minha duvida de quando eu estava o colégio de manha, aquela garota ruiva que eu vi, era sim uma alma, e estava atrás de Ty sorrindo.

Ela era linda, seus cabelos tinham uma cor indescritível, era uma cor de ferrugem que brilhava, é confuso imaginar isso mas era assim, ferrugem não é uma das coisas que nós gostamos de apreciar ou algo parecido, mas chega até ser irônico, o cabelo da mesma cor era simplesmente perfeito, ela tinha os olhos dourados, era como um olho de mel, lindo brilhoso e reluzente, transmitia poder e segurança, aqueles olhos eu já havia visto antes, Jake tem olhos dourados, eu acho que nunca disse isso, então muitos pensão que Jake tem olhos azuis já que quando se fala em loiros os olhos azuis são imediatamente pensados, mas vou continuar falando da garota a que tanto me intrigava, ela tinha um sorriso lindo e estranho, não era estranho mas era como se misturassem sentimentos totalmente opostos passava segurança, mas ao mesmo tempo ameaçava, aquela menina em si me trazia essas coisas como se todos os opostos do mundo fossem possíveis juntar e pô-los nela.

Ty percebeu quando eu fiquei parada olhando para um ponto fixo, e ele também a viu, mas a garota fazia a mesma coisa de que fez antes, olhava para nós, mas nada dizia, cheguei a lembrar do pai de Ty, mas ela parecia diferente, o pai de Ty tinha um brilho triste no olho, como se quisesse falar conosco, mas não conseguisse, ela parecia conseguir só que não queria, soava com um ar um tanto misterioso e desafiador, aquela garota passou a ser uma coisa estranha pra mim, a qual eu não consegui ter nenhum pré-julgamento, de como eu geralmente tenho, não conseguir ao menos a decifrar, nada estava claro na minha cabeça.

Quando eu e Ty estávamos olhando pra ela, ela reagiu, assentiu com a cabeça, provavelmente cumprimentando, e depois olhou diretamente no fundo dos meus olhos, e aquele olhar... eu não sei, não consigo descrever nada nela, e assim ela dissipou, como se deixasse ainda fragmentos de duvida que penetravam na minha cabeça com muito impulso.

–Você também viu?- perguntei a Ty, ainda estávamos olhando para onde ela estivera há segundos atrás.

–Mais um problema?!- ele pareceu extremamente bravo, bravo não revoltado.

–Eu acho esquisito muita coisa Ty, algumas almas parecem que tem contato direto conosco sabe, e outra são indiferentes, eu não ligo muito pela presença delas, eu já tinha visto ela antes, mas havia pensado que era uma estudante do colégio- disse entrando na cozinha e pegando um copo com suco, dei um longo gole, um alívio parcialmente instantâneo.

–Eu não sei Yla, mas não peguei muita confiança nessa alma, anote: ela trará mais problemas- ele disse firme, como se tivesse cem por cento de certeza do que estava falando, eu ainda continuava em duvida ela não parecia me afetar tanto assim, talvez eu estivesse um grave perigo, pois eu não queria me afastar dela pra não ter mais problemas, mas eu queria me aproximar, tentar ao menos desvendar um conflito da minha mente. Bati com força na mesa, tendo um dos meus “pitis”

–Por que isso Ty? Pra que isso? Poxa vida, só porque a vida delas acabou não quer dizer que elas precisem se intrometer na minha!

–Você esta com atitudes muito infantis dona moça- Ty deu um sorriso de canto, acho que era só ele dar aquele sorriso que eu sorria imediatamente, era um colírio para os olhos, e que colírio.

–Eu até que concordo- falei meio sem jeito, a coisa da ruiva começou a me incomodar – Ty, nós precisamos saber quem ela é

O telefone tocou, como nos filmes de terror: dois adolescentes sentados à mesa, na cozinha conversando de algo importante e então o telefone toca, me levantei e atendi:

–Alô?

–Ayla, minha querida- era May, meu coração deu um pulo ao falar com ela, desde o acampamento eu não a via, ou ouvia, sua voz confortável e segura- bem eu tenho que ser um poucochinho rápida, mas então, você vem um dia aqui em casa não é? Estou morrendo de saudades, e outra coisinha, Tyler esta ai?

–Está sim May, você quer falar com ele?

–Não não, eu vejo ele todo dia meu amor, esse chato ai, só você o aguenta – ela brincou, adorava isso, uma mãe muito mais que mãe e sim uma amiga, como eu costumava ser com a minha mãe, e como May esta sendo pra mim, dei uma gargalhada- mas então se cuidem, em todos os sentidos- ela riu- beijinhos

Desliguei o telefone, estava um pouco corada, Tyler estava rindo incrédulo:

–Ela não precisava ter dito “em todos os sentidos”- disse ele, com a mão na testa rindo, eu até riria com ele, porém fiquei mais assustada:

–Como você ouviu?

–Yla, eu sou um vampiro- ele disse fitando o chão e se manteve sério

–E eu um panda!- disse, então ele oprimindo o riso, era obvio que ele não era um vampiro, calma, a minha vida não é tão sobrenatural assim, eu acho...

E mais uma vez, mais um filme, era um filme de ação, já eram quase onze horas, e nos deu vontade de assistir, quer dizer Ty disse que ia botar um filme, eu até que assisti o começo, depois cai no sono, provavelmente Ty só percebeu quando o filme acabou, mas só sei que aconteceram aquelas mágicas que você dorme no sofá e acorda na cama, confesso há muitos anos essa mágica não acontecia comigo, mas naquele dia em especial aconteceu, acordei na minha cama, porém aquele foi a magica do mágicos chefões pois além de acordar na minha cama, Ty estava dormindo nela também, eu quase expeli arco-íris, ok nem tanto, eram cinco horas da manhã, ainda podia dormir mais um pouco.

–Você tem certeza disso?- perguntou Jake, já estávamos na saída do colégio, sim eu e Ty fomos juntos para o colégio, e bem aconteceram as aulas normalmente, assim como todas são, Jenna foi convidar Tyler pra ir na festa de Cristy mas ele obviamente não aceitou, isso é outro colírio para os meus olhos, tenha certeza disso, enfim, eu estava conversando com Jake, Ty estava em outra aula, e como o professor de química faltou, a aula foi livre, então eu fiquei falando com Jake, ele havia me perguntado se Zoe ainda iria a festa com ele, e eu respondi que sim, apesar de não saber o certo.

–Tenho Jake, olhe se vocês não se olham na cara agora, você sabe, teve um motivo...

–Correção: Zoe não olha pra minha cara, nem se quer fez mais um de seus comentários carinhosos sobre a minha pessoa Kay!- disse Jake

–As vezes você parece estar se importando demais, se é que você me entende, na boa Jake quando você vai realmente assumir que gosta dela?

Ele não olhou pra mim novamente, e enfim respondeu bem baixinho de forma que eu tive que fazer esforço para ouvir:

–Eu não sei o que acontece Kay, eu não sei o que eu sinto por ela realmente, digo que odeio, mas não é ódio, é outra coisa, eu não sei muito bem, deve ser...

–Amor- disse, ele não apoiou, mas também não contrariou a ideia.

–Kay, será que eu devo falar com ela do tipo, falar mesmo?

Isto esta mais fácil do que eu imaginei, achei que eu teria que convence-lo disso, mas não há duvidas que com Jake tudo é mais fácil do que com Zoe.

–Eu até poderia dizer pra fazer o que seu coração mandar, mas sinceramente não te ajudaria em nada, não sei como vai ser, mas fale, ou não, você tem que estar preparado, tomar confiança e ir, não vai adiantar nada ir com insegurança, mas tente, porque você sabe que a magoou dizendo aquilo pra ela, sei que não fez por mal, mas nós cometemos esse erro algumas vezes, e não ai ser tão fácil fazer ela ficar de boa com você novamente, olhe só você consegue mexer com ela o suficiente, então... Faça o que seu coração mandar

Ok, eu disse que não ia dizer para ele fazer o que o coração mandasse mas...

Eram três horas da tarde, eu e Ty estávamos no quarto da nossa pequena recruta, meus tios foram almoçar, aproveitando que nos estávamos com Abby pra não ter que deixar ela sozinha, a garotinha de cachinhos louros, nos mostrava o quarto com alegria.

–E essa janela, da pra ver tudo no universo, e ali tem uma árvore onde tem um ninho! Tem passarinhos nela sabia!

Nós conversamos um pouco, então Ty teve que sair do quarto para pegar água pra Abby. Ficamos sós eu e ela, ela corria de um lado pelo outro, por um momento pensei em impedi-la, mas seria aquela pessoa chata, como abby mesmo diz, ela estava com uma roupa do hospital rosa bem clarinho, tinha uma meia colorida ate os joelhos, e seu cabelo estava solto, ela entrou dentro do cobertor como se fosse um túnel, e saiu do outro lado:

–Sou uma toupeira- ela disse rindo

–Achei que fosse um pássaro- respondi rindo também

–Mas eu sou um pássaro, mas como eu sou uma agente secreta, posso ser um pássaro disfarçado de toupeira não é?

Não aguentei e ai na gargalhada.

–Posso saber do que as mocinhas estão rindo?- Ty chegou com a garrafinha de água e a colocou no criado mudo

–Não coloca ai- disse Abby pondo a mão na boca como se tivesse espantada

–Ué por quê?- perguntei

–Ontem eu recebi uma visita, e então ela disse que o criado mudo, essa mini mesinha ai do lado da cama sabe? Então que ele seria o seu banquinho, pra que ela pudesse finjir ser normal e “sentar” nele – ela própria fez com aspas, e eu não entendia nada, Ty tirou as palavras da minha boca:

–E quem veio te visitar?

–Uma garota, oras- ela deu ombros e se escondeu em baixo do cobertor, só deixando a meia colorida aparecer.

–E porque ela não pode sentar?

–Ela é uma alma- disse Abby reaparecendo – eu sei que disse pra você que não ia nunquinha mais falar com as almas, mas ela disse que se eu a ajudasse ela podia me ajudar indiretamente, seja lá o que indiretamente significasse.

Troquei um olhar com Ty, ele sentou na cama de Abby.

–Você pode dizer como que é essa alma?- perguntei

–Ela tem um cabelo bem legal, ruivo, olhos cor de mel, sabe aquele que abelhas fazem que é muito bom? Então, ela é bem linda, e parecia triste, mas disse que também estava feliz...

Não havia duvidas, a mesma alma que eu vi no dia anterior era a que falou com Abby. Agora só restava saber de que lado ela estava.