Era pra ser um dia monótono até que recebi uma ligação do meu tio avisando que me buscaria para visitarmos minha mãe no hospital, alegando que havia sofrido um acidente de carro "complicado" - ele usou essa palavra. Quando vi minha mãe percebi sua pele estava pálida, seus olhos pesados e sonolentos, ela estava tão desnorteada que me perguntava se poderia me reconhecer:

—Mãe? Você está bem?- minha voz saiu trêmula e no mesmo tempo em que disse percebi que era ridículo perguntar se ela estava bem. Seus lábios formaram um fraco sorriso e seu olho lacrimejava com delicadeza. 

—Yla, esqueci de passar batom hoje, você não deveria me ver assim- conseguiu dizer, ela era forte, uma leoa, ignorava todos os problemas com doçura. 

Passei os próximos momentos trocando carinho na sua pele e me afastava de vez em quando para uma enfermeira fazer algum procedimento nela. Repetia “vai ficar tudo bem”, “vai ficar tudo bem”, “vai ficar tudo bem”, “vai ficar tudo bem”... Mas confesso que estava com dificuldade em acreditar.

A tarde foi passando e ela me perguntava coisas do tipo ”você não deixou seu quarto bagunçado antes de vir não é?”, podia perceber a tentativa dela de passar por isso como se não fosse nada, até o momento em que um médico entrou novamente para solicitar uma cirurgia de emergência após sair um resultado de um exame. 

—Ayla, se eu não voltar, imagine que eu fui em uma viagem, uma viajem para o melhor lugar que existe, e não tenho planos para voltar- uma lágrima escorreu em seu rosto

E assim ela se foi, rumo a uma viajem sem fim.