Passaram-se quase oito meses e os amigos não trocavam uma palavra desde então, mas o casamento estava perto e o encontro seria obrigatório.

- Você não aprende né Bianca. – Martelava Peter, na mente de sua protegida. Ela estava sentada no banco da igreja enquanto Luke estava perfeito, no altar, ao lado do padre da cidade, que conhecia todos ali dentro, mas principalmente Jensen e Westerfield.

A garota vestia um vestido azul claro, bem adolescente, nada muito adulto. Ela queria chamar a atenção de Luke com ele, afinal ela havia usado a peça no baile da escola, quando eles foram juntos e se embebedaram pela primeira vez. Se ele não lembrasse de nada daquilo ela ficaria chateada demais para que qualquer maquiagem a salvasse. O sapato, de um azul mais claro, machucava quase que tanto quanto os machucados do acidente de meses atrás.

Luke estava parado um pouco mais a frente conversando com Charlie e Joe, dois amigos da escola, essa que havia acabado três meses atrás. No fim havia sido comum, uma formatura normal, sem muita felicidade para os dois. Luke e Caroline eram os mais lindos e perfeitos da festa, o que os fez ganhar como rei e rainha do baile. Bianca nem se quer tinha ido à festa, mas soube das fofocas pelas redes sociais, como o fato de Linda, uma patricinha do segundo ano, ter se embebedado muito e seu parceiro, Joe, ter ficado com ela e com Ruth na mesma noite, ou a história das inimigas Monique e Sabrina terem ido com vestidos idênticos.

Bianca tentava se comunicar com Peter, mas somente ele conseguia falar, pois ele estava ignorando qualquer resposta negativa dela. E eram justos essas que Bianca teimava em dar.

- O que mais eu tenho que fazer pra você se levantar e tirar seu amor dessa roubada? Bianca, eu devo dar-lhe suas opções, porém estou te dizendo o melhor pra você. Por que não simplesmente aceita isso e o faz? – Peter já estava estressado por não vê-la mudar de opinião, muito menos deixá-la balançada, por mínimo que fosse. – Por quê?

- Peter, se pode me escutar, eu estou indo ao toalete. Me encontre lá. – Disse ela, baixinho, com medo que alguém ouvisse e achasse que ela estava enlouquecendo. – Vá agora, seu chato.

- Você nunca me disse o que fazer. O que mudou agora? – Perguntou ela, ao ver o seu protetor sentado sobre a pia de mármore cinza do banheiro.

- Toalete? Desde quando você fala “toalete”?

- O que você quer Peter?

- Que você o salve. Isso é a sua opção agora. A única.

- Não, anjo. Não.

- Por que não?

- Porque eu não quero isso pra ele. Deixe que ele resolva isso. Se ele quiser, ele não casa ué. Ele não é obrigado a fazer nada, certo?!

- Errado. Ele está sendo obrigado e você sabe muito bem disso. Resolveu esquecer tudo isso foi?

- Não, eu não esqueci. – Ela gritou, e após notar sua situação – gritar com um ser que provavelmente nem sequer existia, ele podia muito bem ser fruto de sua imaginação – baixou a voz. – Eu amo ele, mas logo vamos superar e ser adultos.

- Bianca, só me responde porquê está desistindo dele tão fácil.

- Peter, só eu sei o que é viver sem um pai. O meu morreu, mas como Luke se sentiria sabendo que tem um pai, ele tem um coração que bate, mas que não quer saber dele? Não é justo com ninguém isso, anjo. Ninguém. Entenda-me, por favor.  – Bianca saiu do toalete e voltou à igreja, onde a maioria dos convidados agora haviam chego.  Muitos das pessoas ali presentes eram loiras de olhos azuis. “Família da vaca, só pode” pensou ela.

A garota se sentou no mesmo lugar de antes, onde agora havia Teresa. A maquiagem da mais velha estava bem feita, em tons de verde, combinando com o vestido e o sapato. Os traços da mulher eram de cansaço, talvez pelas noites mal dormidas nos últimos dias, por ouvir o choro da filha vindo do quarto ao lado. Sim, Jensen chorava as noites que haviam antecedido o dia fatídico do casamento.

- Como você está, meu amor? – Perguntou a mãe.

- Mãe, se você me perguntar isso mais uma vez, eu juro, eu vou chorar. Eu estou bem, na medida do possível.

- Mentira. – Disse Peter, em sua mente.

- Fica quieto. – Ela disse, bem baixinho.

- Oi querida. Como está? – Perguntou Elisa, mãe de Westerfield.

- Oi Lisa. – Ela preferiu não responder para que as lágrimas não viessem à tona.

- Podemos conversar lá fora? – Elisa tinha uma expressão de carinho no rosto, porém a garota temia o assunto que seria tratado da mesma forma.

- Claro. Já volto mãe.

As duas se encaminharam para fora de igreja, que ficava no centro da cidade, então não havia nenhum lugar muito calmo para se ter uma conversa decente. Elas optaram por um banco de madeira branco, um pouco antigo, e com pintura já desgastada. O dia estava nublado e sem nenhum pedacinho de céu azul. “Que dia para chover...nublado como minha cabeça” pensou Bianca.

- Que dia para chover, não é?! – Disse Elisa.

- Pensei a mesma coisa.

- Bi, meu amor, eu queria conversar com você.

- Lisa, se for sobre o Luke, pode ter certeza, eu não vou estragar a vida dele e tentar arruinar o casamento. Não se preocupe. – Bianca se adiantou, fazendo a mais velha arquear uma das sobrancelhas.

- Pois o assunto é esse mesmo, porém eu queria te pedir o contrário.

- Pode deixar que eu não vou... O QUÊ?- Bianca se apavorou. Como que Elisa pedira que ela atrapalhasse o casamento?

- Isso mesmo Bi. Luke me contou tudo.

- Tudo o quê?

- Que vocês se amam e que você não aceitou ficar com ele por receio de Felipe.

- Luke devia aprender a ficar calado às vezes... – Ela pensou em voz alta.

- É, mas dessa vez foi para o bem. – Respondeu Elisa, com um sorriso no canto do rosto.

- Mas Lisa, por que só agora me pediu isso?

- Porque foi vendo ele se arrumar e com o olhar perdido que notei que estávamos destruindo a vida de nosso filho. – Bianca sorriu ironicamente ao lembrar das palavras do amigo... “E faço questão de guardar um lugar na igreja pra você”.

- Vocês gastaram horrores e agora vão cancelar tudo. – Bianca disse.

- Foram os pais de Caroline que pagaram. Eles merecem isso por terem obrigado os dois à isso. Que palhaçada foi essa de inventar um casamento com dezoito anos? Malucos. – Elisa levantou-se com seus olhos bem maquiados e marejados e foi em direção à escadaria da igreja. Bianca continuou sentada, engolindo todas as informações que caíram sobre ela como uma tempestade de menos de cinco minutos. Suas opções estavam em sua frente, mas dessa vez não havia Peter que parasse o tempo pra ela. Ou pelo menos, ela acreditava que não.

- Viu, até ela está comigo nessa. Eu te disse, não disse? – Perguntou o anjo em seu ouvido. Peter estava sentado ao lado dela, só que por alguma razão somente ela o via.

- Se eu te responder vou parecer maluca. – Bianca pensou, tentando se comunicar com Peter sem parecer uma garota de dezessete anos com problemas mentais.

- Meu amor, você já parece maluca. Não precisa da minha ajuda pra isso. – Disse ele.

- Por quê? – Perguntou ela, indignada, atraindo alguns olhares para si.

- Porque você pretende deixar sua chance de ser feliz, ir embora pra Brighton, e né, sem você.

- Ele vai morar em Brighton com ela? – Bianca sentiu uma facada em seu peito. Aqueles eram planos dele com ela, não com a vaca da Caroline.

- Você realmente vai pagar pra descobrir se sim ou não?

- Acho que não...

- Vem. O casamento vai começar.

A menina adentrou a igreja. Ela estava com borboletas no estomago, e ver Luke tão lindo, com seus cabelos cacheados e seus olhos verdes brilhantes parados lá em cima, sozinho e desesperado só piorou a sensação de ansiedade dela.