The Ascent escrita por Thaina Fernandes


Capítulo 23
Capítulo 22




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Assim que acordei, não tendo dormido muito, segui para o subsolo. Eu precisava fazer alguma coisa para ocupar minha mente. Dessa vez não segui pelos corredores que levavam até onde meu dragão estava, mas sim outro que levava para as salas de treinamento. Entrei na de arco e flecha, apanhando um que serviria para o meu tamanho, assim como uma braçadeira e flechas. Meu tio Charles havia me ensinado a caçar, e eu havia insistido em aprender a usar o arco assim como uma heroína de algum livro que eu estava lendo na época. Isso o deixou furioso, já que de acordo com ele, armas eram muito mais rápidas. Mas mesmo assim eu não aceitei qualquer outra coisa que não fosse o arco.

Eu havia prendido meu cabelo em uma única  trança, o mantendo fora do caminho. Respirei fundo, estabilizando minha respiração e minhas mãos. Levantei o arco até a ponta de meu nariz, mirando o peito do alvo em formato de homem.

A flecha voou até onde o coração ficaria.

Satisfeita comigo mesma, continuei disparando em todos os pontos vitais. Eu sempre tive muito orgulho de minha mira, e fiquei feliz em saber que mesmo sem prática eu ainda conseguia usá-la. Eu não sei por quanto tempo eu fiquei ali, apenas atirando as flechas em todos os alvos, não importando se estavam na minha frente ou não. Apenas parei quando minhas flechas acabaram.

Massageei meu ombro direito, que estava doendo de levantar o arco. Eu definitivamente havia treinado mais do que deveria, mas ajudou a não deixar a angústia em meu peito me possuir. Limpei o suor de minha testa com a costa da minha mão.

—Não sabia que podia atirar, Vossa Alteza.

Me virei para encontrar Robert sentado no banco ao lado da porta. Eu não havia o escutado entrar. Mas bem, ele era o líder da Guarda Real por ser o melhor.

—Meu pa… digo, meu tio me ensinou. Ele me levava para caçar sempre, dizia que ajudava a espairecer.

O Guardião me deu um sorriso.

—Seu tio era um homem sábio. — ele se levantou, pegou o arco da minha mão. Sacudiu a cabeça uma vez, foi até a parede escolheu outro. Ele me entregou, assim como novas flechas.— Teste esse, não cansará tanto seu braço.

Eu o peguei, sentindo seu peso. Puxei a corda, mantendo meu olho no alvo mais longe. A flecha o alcançou, atingindo seu pescoço.

—Eu vou me incumbir de cuidar do seu treinamento físico enquanto Guardião Koutrick não está aqui, está tudo bem para você?

Hesitei antes de responder.

—Tudo bem. — mirei novamente no alvo. —Acha que vão demorar muito antes de conseguirem achar o que foram procurar?

— Não há como saber, porém tenho fé de que James conseguirá achar pelo menos mais pistas. - Ele disse, andando até a porta. — Estava falando sério sobre querer se envolver mais com as questões da guerra?

Atirei outra flecha. — Sim, eu estava falando sério. Não quero mais ser mantida no escuro sobre o que está acontecendo. Eu não sei nada sobre estratégia, ou coisas assim, mas quero ajudar de qualquer jeito que eu puder.

Ele assentiu em aprovação.

— Te manterei informada sobre os ataques então, mandarei uma cópia dos relatórios para você. Agora, queira me desculpar, tenho que ir. E fique com o arco, nunca se sabe se vai precisar dele.

Ele me deu uma curta reverência e foi embora. Senti meu estomago roncar, então decidi que ja a hora de parar com as flechas e segui até meu quarto, para deixar o arco.  Olhei meu relógio, notando que eu havia praticado mais do que havia planejado e já era o meio da tarde. Meu corpo estava doendo das horas que fiquei em pé, e minha cama estava chamando mais alto que tudo.

Assim que coloquei o arco em um canto do quarto, onde sabia que eu não iria chutá-lo sem querer,tomei um relaxante muscular e  tirei meus sapatos, me jogando na cama. Respirei fundo, sentindo o cheiro de James me envolver. Ele ficará bem, eu disse para mim mesma, não precisa se preocupar com ele.

Tentei afastar a sensação de angustia que começou a tomar conta novamente. Eu não precisava disso agora, eu tinha que descansar para poder ficar apresentável para o encontro com as fadas hoje. Me foquei no cansaço dos meus músculos, e o sono logo me encontrou.

O relaxante muscular havia feito seu efeito, pois quando Lizbete me acordou já eram 10:30 . Eu havia dormido sem ter nenhum sonho, coisa que eu precisava. Ela me enfiou no chuveiro antes de eu ter chance de atacar a bandeja com comida que ela havia me trazido, murmurando algo sobre eu ter que lavar o ninho de rato que ocupava o lugar do meu cabelo. Eu a obedeci, sabendo que era sempre melhor fazer o que ela mandava.

Quando eu sai do banheiro, cabelo molhado e completamente limpa, ela o secou com um difusor, mantendo o ondulado dele intacto. Ela prendeu minha longa franja em duas tranças, as prendendo atrás. Era quase uma coroa. Ela não me encheu de maquiagem, como sempre, apenas milagrosamente cobriu minhas olheiras, deixando minhas sardas aparecerem. Um pouco de rímel e um um batom um tom mais rosado do que minha boca, e eu estava pronta.

Me olhei no espelho Eu parecia eu mesma, e não a boneca que ela sempre me transformava. Sorri para ela, grata. Eu havia tocado meu colar inconscientemente, atraindo sua atenção para ele. Ela abriu um sorriso, indo no meu armário e pegando um vestido que eu tenho certeza que nunca vi na vida.

— Ouvi dizer que a Rainha dos Seelie adora verde. Sorte a nossa, não é?

Ele era no mesmo modelo do que eu havia usado ontem. Mas esse tinha um decote em v um tanto quanto profundo, que se destacava mais já que o vestido era extremamente justo até a cintura. Suas alças eram feitas com um trançado em dourado, que contrastava com o verde escuro do vestido. Era dois tons mais escuro que meu colar, o fazendo brilhar mais ainda. Assim que o coloquei me senti mais confiante. Ela me entregou um par de sapatilhas delicadas da mesma cor, que ficavam escondidas pelo vestido que descia fluidamente até meus pés.

— Eu quero que me enterrem nesse vestido. Obrigada, Lizbete.

Ela pareceu envergonhada, já que disse algo sobre não ser nada demais e saiu dali rapidinho.  Me olhei mais uma vez, gostando da sensação do vestido de seda em minha pele. Fui comer então,  a agradecendo por ter trazido. Eu já havia devorado meu segundo sanduíche e estava terminando meu achocolatado quando Caspian bateu na porta.

— Está aberta, pode entrar, — eu disse, me levantando e indo ajustar meu batom no espelho.

Ele veio em minha direção, sua cabeça virada para o arco em cima da minha escrivaninha.

—Ei, sabia que…— Ele parou no meio da frase assim quando parou de andar de supetão. Seus olhos violáceos varreram minha roupa, surpresos. Admirados. Me senti satisfeita com essa reação, eu sabia que estava muito bonita. Ele quebrou sua imobilidade então, sorrindo para mim. — Você está parecendo uma fada, sabia? Deveria se vestir assim sempre, é muito melhor que todos aqueles vestidos que geralmente te colocam.

Bufei para ele. — Não torne um elogio em uma critica, Cas. E você também parece uma fada, pelo menos um saído dos livros de romance que eu li. Ou um pirata, também.

Seu cabelo estava solto, para variar, caindo até seus ombros. Fazia seu maxilar bem desenhado se sobressair, assim como seus olhos ficarem mais chamativos. Ele vestia uma camisa solta de manga comprida, com a gola em v que se fechava com um cordão. Ela e sua calça preta e botas o fariam parecer um pirata, se seu rosto mtivesse os traços um pouco menos delicados. Notei então o colar vermelho em seu peito, muito parecido com o meu.

Ele me interrompeu antes que eu pudesse falar algo sobre isso.

—Há regras que você deve seguir quando  tratar com uma fada — ele começou a me explicar. —Nunca as agradeça, pois elas focam ofendidas. Sempre demonstre o máximo de respeito, nunca dance com uma fada. E o mais importante, nunca, nunca mesmo, faça barganhas com elas. Se fizer, faça-a deixar tudo o mais claro possível. Elas são criaturas pegajosas que vão torcer suas palavras para o benefício delas. Lembre-se disso quando for pedir a ajuda da rainha.

Eu fiz uma careta. Isso era bastante coisa para lembrar. Comecei a me sentir nervosa novamente. Eu precisava conseguir a ajuda deles.

—Você acha que ela irá aceitar?

Ele pareceu pensar sobre isso novamente.

—Não acho que ela iria nos chamar lá se fosse dizer não. Deveríamos nos preocupar com o que ela vai pedir em troca. E se vale a pena dar isso para ela.

Suspirando, fui até o banheiro tirar meu bafo de achocolatado. Caspian me seguiu, parando na porta para me observar. Ele parecia estar achando isso muito  divertido. Eu não achei estranho tê-lo ali, no meio de minhas coisas pessoais. Parecia quase certo. Notei então que quando casássemos séria assim. Por um segundo não me pareceu tão ruim, então empurrei a ideia para longe. Eu precisava me manter focada na nossa tarefa.

Ele olhou seu relógio. —Está na hora. Pronta?

Suprimi um suspiro, dando uma ultima olhada no espelho.

—Tanto quanto o possível. Vamos acabar com isso logo.

Saímos pelos corredores lado a lado então. Fui arrastando minha mão direita pelos relevos das pedras na parede, sentindo sua energia fluir para mim, quase como se estivessem me dando apoio.  

Com o canto do olho notei me olhando do mesmo jeito que havia olhado antes, como se estivesse analisando alguma coisa. Assim que entramos na floresta me lembrei de quando Noah havia aparecido para mim aqui. Olhei em volta, tentando achar alguma indicação de que não estávamos sozinhos. Inconscientemente me movi para mais perto de Caspia, fazendo nossos braços encostarem um no outro.

—Mesmo que ele aparecesse aqui, eu não o deixaria chegar perto de você. — ele deve ter visto minha cara de quem pensou como a compulsão dele não faria Noah sair de perto de mim, já que acrescentou: —Há mais do meu poder do que eu deixo mostrar. Eu posso entrar na mente de alguém e destruí-la, se eu quiser.

—Não sabia disso. — eu disse, me sentindo culpada por tê-lo ofendido de algum modo.— Espero que não faça isso comigo quando tivermos alguma briga sobrem quem vai comer a última tigela de cereal.

Ele me deu um meio sorriso como resposta, e eu soube que estava tudo bem novamente. Andamos mais um pouco em um silêncio comfortavel. Estar com Caspian tinha quase um efeito relaxante em mim. Era diferente de toda a tensão que eu sentia quando estava perto de James.

Evitei pensar em James. Eu não iria me preocupar com ele, me lembrei.

Caspian olhou em seu relógio novamente, e eu dei uma espiada. Faltavam cinco minutos até o horário marcado. Havíamos entrado em uma clareira pequena. Seu chão era de um verde lindo. As árvores em volta dela já estavam completamente floridas, ao contrário das árvores fora daqui. No centro dela havia um cipreste enorme, com um tipo de abertura. O tronco. Olhei para Caspian expectativamente.

—E agora?

—Agora esperamos. Um deles virá nos buscar.— seu olhar foi para longe de mim então, focando nas árvores.— Soube que James foi procurar Noah. Você está bem?

Foi minha vez de desviar o olhar.  —Sim, estou. Eu sei que ele precisava ir e que voltará logo.

Ele abriu a boca para me responder, mas parou quando a abertura na árvore começou a brilhar. Dei um passo para perto de Caspian e segurei sua mão. Ele a apertou, como se me assegurasse de que tudo daria certo. Me senti mais calma instantaneamente.

Um homem alto apareceu entre a luz, seu cabelo dourado comprido descendo até sua cintura, contrastando com a camisa vermelha que usava, com um colete de couro preto por cima. Ele era alto, notei. E provavelmente uma das pessoas mais bonitas que vi na vida.

—Caspian. Achei que nunca mais o veria entrar em Seelie depois do que houve da última vez. — seus olhos se viraram para mim então. Tive que me segurar para não desviar o olhar. — E você deve ser a companheira dele, a princesa de que ouvimos falar. Nossa Rainha a espera.

—Sim, Warren. Esta é Sophia. — eu inclinei minha cabeça como sinal de saudação para ele. — Acho melhor não a deixarmos esperando.

Ele deu um passo para o lado então, mostrando a passagem aberta. Com um gesto indicou que deveríamos ir em frente. Caspian me guiou até lá, mas antes de entrarmos Warren colocou uma mão em meu ombro e outra no de Caspian, nos dando um leve empurrão para darmos o passo necessário para atravessar.

—Fechem os olhos. — ele avisou, e eu logo obedeci.

Parecia que eu estava caindo do meio da Terra. Apertei a mão de Caspian, me certificando que ele estava ali ainda. A sensação não durou muito, já que a mão de Warren deixou meu ombro.

Cautelosamente abri meus olhos. Estávamos em frente a uma porta redonda enorme,feita de madeira branca. Nela estava entalhado um mapa, e em cada divisão havia um desenho ao invés de um nome. Apenas as partes ao sul estavam coloridas, cada uma com um sol e uma flor entalhada dentro. Nas escuras haviam um floco de neve e uma lua. A corte Seelie e a Unseelie, percebi.

A  porta se abriu, revelando uma sala que parecia estar dentro da floresta ainda. As paredes eram cobertas por vinas. Haviam pequenos lagos espalhados pelo chão de grama, assim como algumas árvores floríferas. Caspian me guiou até o fim da sala, onde alguns feys estavam reunidos, percebi. Havia um trono ali, onde uma mulher esguia estava sentada.

A rainha Seelie me olhou dos pés a cabeça. Delicadamente colocou uma mecha de seu cabelo escarlate atrás da orelha.

Seu cabelo era escarlate, assim como seus lábios, que se abriram em um sorriso frio quando me viu.

—Você deve ser Sophia, a princesa que está causando tanta confusão. Eu esperava mesmo te conhecer algum dia. Você é igual sua mãe.

Inclinei minha cabeça para ela, achei que seria uma boa forma de mostrar respeito.

—Aprecio o fato de você ter aceitado conversar comigo. Caspian não exagerou ao falar de sua beleza.

Sua risada ecoou pela sala, suave como sinos de vento. Ela voltou seus olhos de um azul elétrico para Caspian.

—Caspian, faz meio seculo que não te vejo. É bom saber que suas maneiras melhoraram desde sua última visita. — seu sorriso gélido ainda continuava intacto. —Devo parabenizá-los pelo noivado. Vocês são um par e tanto. Os dois partilham do mesmo destino de ter que tomar conta de milhares de pessoas, a mesma solidão. E os dois compartilham da mesma força de querer fazer o bem. Agora, Sophia, me diga o motivo de achar que devo lhe ajudar.

Tentei me acalmar para formular melhor minhas palavras.

—A guerra está próxima, e se não for impedida antes de estourar completamente todos serão afetados. Lycans, bruxos, vampiros e até mesmo fadas sofrerão. Noah não se contentará até ter tudo, ele mesmo me disse. Ele quer que eu traga de volta alguém muito poderoso, que o ajudará a conseguir tudo isso. No momento da minha ascensão eu vi a guerra. E nela lutávamos juntos. Gostaria que isso se concretizasse.

Tive que me segurar para não respirar fundo depois de falar tanto. Meu coração batia tão forte que me perguntei se todos estavam o ouvindo.

A Rainha nos observou por alguns segundos. Seus olhos iam de mim para Caspian, do meu colar para o dele.

—Esses colares foram feitos por nós, como um presente de casamento para um Dragomir e um Alighieri que iriam se casar. Eu os fiz prometer que o passariam para frente apenas para quem fosse merecedor dele, afinal, as pedras foram esculpidas com mágica. Eles estavam em guerra também, e precisavam que seu poder pudesse ser usado completamente. É isso que esses colarem fazem. Diga-me Caspian, o colar o reconheceu quando o colocou? Ou quando Sophia o usou pela primeira vez?

O cenho de Caspian se franziu, sua mão ainda na minha me pareceu mais rígida.

—Eu senti uma flutuação de poder nele na noite que Sophia começou a usar o dela, se é isso que quer dizer.

Ela suspirou um tanto alegremente.

—Sim, um ótimo par de fato. — seus olhos se voltaram para mim novamente. — Quando você nasceu sua mãe veio até aqui pedir para que eu a escondesse. Eu não permiti, não queria minha corte envolvida nos problemas dos vampiros. Sua mãe não me culpou, entendeu. Ela também era uma rainha que precisava pensar nos seus súditos. Soube então que quando ela morreu seu irmão tentou fazê-la lhe contar como chegar até aqui, mas ela não nos traiu, mesmo depois de negar ajuda a ela. Eu tenho uma divida com ela desde então, acho que está na hora de pagá-la.

—Aceita fazer a aliança então? — Caspian perguntou. Eu pude ouvir a suspeita escondida em sua voz. — Sem nenhum porém?

Ela se levantou do trono, andando graciosamente até nós. Ela parou em minha frente, esticou sua mão até seus dedos pálidos tocarem levemente a minha bochecha, tracejando meu rosto.

—Eu não disse isso. — ela disse, sem o olhar. Sua atenção estava toda focada em mim. Eu mal me permiti respirar. — Tão bela, não acha Caspian? Aposto que quando sorri fica mais bela ainda. Tão jovem e sobreviveu a tantos incêndios que já não sabe mais se está viva ou apenas queimando. Sim, achar uma memória boa para sorrir deve fazer o sorriso brilhar mais ainda.

—Qual a sua condição? — eu perguntei, odiando a sensação de seu toque no meu rosto. Odiando ela achar que me conhecia.

Seu sorriso não alcançou seus olhos.

—Queria uma memória feliz sua. Me dê, e eu a darei um meio de me chamar quando precisar de ajuda.

—Não. — Caspian respondeu por mim, me fazendo olhar para ele. — Pegue uma minha, se deseja uma memória. Não uma dela.

Ela fez tsc, o reprovando por falar sem ser chamado.

—Você tem tão poucas e eu já vi todas elas, não tenho interesse nelas. As de Sophia sim são valiosas. Uma memória pelo meu exército ao seu chamado. — sua voz ficou tão docê quanto veneno. — Não acha que é um bom preço a se pagar pela segurança do seu povo? Ate mandarei alguns para reforçar seus números agora mesmo.

Não hesitei em responder.

—Eu aceito. Uma memória pela sua ajuda.

Ela trouxe seus lábios para junto de meu ouvido.

—Menina sábia.

Ela me olhou nos olhos então. Senti como se alguém estivesse desconectando minha mente e a sacudindo por todos os cantos da minha cabeça. A dor era pior do que mil enxaquecas de uma vez. Parecia que ela tinha aberto meu crânio com uma serra elétrica e depois pisoteado meu cérebro com seus saltos mais altos. Quando a dor parou e eu finalmente abri os olhos. Eu estava nos braços de Caspian, que me segurava fortemente. Percebi que eu estava chorando apenas pelas manchas de lágrimas que eu havia deixado em sua camisa. Ainda sentindo um pouco de dor, virei minha cabeça para ela.

—Pronto?

Ela bateu palmas, parecendo muito satisfeita consigo mesma.

—Essa memória foi maravilhosa, maravilhosa mesmo! — ela então estendeu sua mão vazia. Mas não tão vazia, percebi. Nela um objeto estava se formando. Era um pequeno sino de prata. — Quando chegar o momento, soe o sino e minha corte irá ir ao seu resgate. Agora, queiram me dar licença. Foi um prazer conversar com você Sophia. Caspian, diga ao seu irmão que mandei lembranças. Adeus.

E com isso ela simplesmente desapareceu. E nós estamos de volta a clareira, o barulho noturno da floresta alto demais para minha cabeça que ainda doia.

Pisquei algumas vezes, tentando entender como isso aconteceu. Eu estava tremendo com o choque de ter ela em minha mente. Caspian acariciou meu cabelo.

—Pelo menos conseguimos a aliança.— eu lhe disse. — Pode guardar o sino para mim? Não quero deixa-lo em meu quarto, seria muito fácil de alguém o roubar lá.

Sua mão tracejou o mesmo lugar que a Rainha havia tocado, sua pele quente contrastando com o rastro gelado que ela havia deixado.

—É claro que sim. Você está bem? Devia ter barganhado alguma outra coisa com ela, Sophie. Memórias são muito valiosas para uma fada. E para nós também, você não deveria ter que perder algo que te dá alegria.

Sacudi a cabeça para ele. —Ela não iria aceitar outra coisa. E se o meu povo ficar mais seguro com isso, valeu a pena.

Eu me senti cansada então, mesmo tendo dormido a tarde inteira. Acho que ter sua mente violada faz isso a você. Caspian deve ter percebido que eu estava querendo descansar, pois assim como me guiou pela sala do trono ele me guiou até meu quarto.

Não devíamos ter ficado mais de meia hora lá, porém aqui já era meio da madrugada. Todos estavam fora do caminho, o que foi un alivio para nós.

Assim que chegamos a minha porta, eu coloquei o sino na mão dele, fechando a minha em cima.

— Obrigada por ter ido comigo. — eu disse, então notei que o molhado de minhas lagrimas ainda não haviam secado completamente de sua camisa. Lembrei de ele se opondo ao que ele sabia que ia acontecer. Mesmo sabendo ele ainda queria que ela o deixasse tomar meu lugar. Antes que eu pudesse me impedir, meus braços estavam ao redor de seu pescoço, o abraçando. Enterrei minha cabeça em seu ombro. — Obrigada por se oferecer no meu lugar.

Suas mãos que haviam ido até a minha cintura a apertaram levemente.

— A qualquer hora, Sophie. Não se esqueça que eu vou lhe ajudar sempre. Boa noite.

Ele então se afastou do meu abraço, e foi andando pelo corredor. Toquei meu colar, me lembrando do que a rainha disse. Eu podia sentir mesmo ondas de poder vindo dele. Era isso que me acalmava. O poder de Caspian. Me perguntei se ele estava fazendo isso de propósito.

Nem ao menos me dei o trabalho de colocar pijamas, apenas me deitei na cama e dormi. Eu ainda podia senti-la vasculhando minha mente.

Reconheci instantaneamente o penhasco da primeira vez que James tinha me feito sonhar com ele. Olhei em volta, o procurando. Seu braço forte circulou minha cintura oor trás então, seu nariz tocando meu pescoço.

—Você está muito bonita. — ele disse, me virando para ele. — É esse vestido que está usando para dormir?

Concordei.

—Fiquei com preguiça de me trocar. Caspian e eu fomos até a corte Seelie. — sacudi a cabeça para ele antes que pudesse me interromoer para pedir mais detalhes. —Me conte primeiro como foi seu dia.

Ela bufou, e me levou até uma tenda, me fazendo sentar em almofadas coloridas.Rolei os olhos para James e sua imaginação.

— Rastreamos o máximo que podíamos hoje, de manhã começaremos novamente, temos que fazer isso para garantir que não há mais nenhum rastro que nos leve para outro local que não seja o indicado. Me conte o que aconteceu lá, a última vez que eu vi a Rainha Seelie foi cinquenta anos atrás.

Eu lhe dei a versão condensada, deixando de fora as partes sobre o colar ou sobre ela achar que eu e Caspian combinávamos.

— Ela aceitou a aliança, mas com o preço de uma de minhas memorias mais felizes. — estremeci, lembrando da sensação. — foi terrivel, tê-la em minha mente. Eu nem ao menos sei que memória ela levou.

Ele deu de ombros. — É apenas uma memória Tess. Um preço pequeno a se pagar pelo que estava pedindo. Você fará outras memórias, não se preocupe.

Senti meu cenho se franzir. Eu esperava que ele tivesse a mesma resposta que Caspian, sobre como eu deveria ter barganhado mais, já que memórias são preciosas.

Empurrei essa comparação entre os dois para longe.

O olhei então, lembrando que eu estava preocupada com ele o dia inteiro. Acariciei a cicatriz em seu maxilar.

—Senti sua falta.

Ele me puxou para perto dele, sorrindo travessamente. Não pude evitar sorrir de volta. Ele estava bem, inteiro. Eu não precisava me preocupar com a segurança dele.

—Sentiu é? Melhor darmos um jeito nisso então, não acha?

Assenti, deixando seus beijos levarem para longe a sensação de geleira que eu estava sentindo em meu peito desde que eu havia saido da corte Seelie.


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