- Você perdeu, vai ter que me pagar um lámen amanhã, teme!

- Tá, tá.

- E ainda vai ter que me mostrar aquele lugar novo que abriu aqui na vila!

-

                Acho que estava em uma tentativa falha desde que conheci Sasuke. É como um passo que fica preso no chão, e por mais que você tente sair de lá e saiba que pode sair de lá, você acha que tentar mais uma vez pode ser aquela que não vai te machucar.

                Chamo-me Uzumaki Naruto, luto contra Papulose Atrofiante Maligna (Doença de Degos), é uma rara afecção que causa lesões no corpo tornando a doença letal e sem cura. Posso dizer que estou acabado; tenho manchas avermelhadas e roxas em minhas pernas e sintomas que me incomodam.

                As pessoas têm sido muito boas comigo. Principalmente Sasuke que me ajuda fingir que não tenho nenhum problema, e que tenho somente uma doença que pode ser curada. Estar com Sasuke é como parar no tempo, no melhor instante da sua vida. Porém, parece que aprecio esses momentos melhor que ele.

                Mas, se não fosse essa doença, que me mata dia após dia com medicamentos caros e excessivos, não teria aproximado tanto de Sasuke. Não sei se devo agradecer, mas sinto-me bem melhor quando o tenho ao meu lado.

                Enfim, voltava para minha casa mais cedo. Finalmente tinha saído do hospital e o teme não levou dinheiro para podermos comer fora! E minha casa estava como sempre, pequena e confortável, um pouco empoeirada – talvez.

                Suspirei, acho que nunca me senti tão sozinho. Não tinha meus pais e não tinha meus amigos, pelo menos não naquele momento. Estou tão imundo ultimamente, me sinto tão sujo com essas manchas e tão... Dependente.

                Lembrei-me de Sasuke. Tornamos-nos tão amigos neste tempo que não é possível descrever quando começamos, acho que nem me lembro direito. Cara, se eu pudesse esquecer todos meus medos; meu medo de perder Sasuke e meu medo de morrer, eu contaria para ele tudo. Tudo que eu sinto.

                Meu celular vibrou em meu bolso duas vezes antes de começar com o toque berrante. Minha casa silenciosa ecoou o barulho e percebi que Sasuke acabara de me ligar. Teme! Tem dinheiro para comprar a vila inteira, mas não pode colocar crédito!

                Liguei novamente, já que Sasuke não é daqueles que usa muito seu telefone. Demorou somente uns segundos para que ele atendesse e meu coração quase pulasse para fora.

                - Naruto, estou passando mal. – Ele disse enquanto suspirava forte, com a voz dolorida e fraca.

                - Você não cansa de dar trabalho não é? – Perguntei um pouco cansado e irônico, já que Sasuke acompanhou-me enquanto estava internado no hospital. – Vou ir aí, tudo bem? – Perguntei preocupado, escutando Sasuke reclamando da dor.

                Doenças. Acho que somente essa palavra deixou-me tão medroso que não consigo encará-las mais. Estou preso naquele passo novamente, questionando se devo ir realmente, ou se fico neste raciocínio sem fim.

                Sem perceber, meus passos rápidos destravaram que cheguei até a casa do Uchiha, aquela casa grande e elegante, carregando uma atmosfera de riqueza e respeito. Arrumei minha blusa e toquei a campainha, mas o idiota não atende a porta!

                Demorou alguns segundos para Sasuke me atender, olhei para seu rosto pálido e sua boca seca, sem contar que em seus olhos surgiram olheiras grandes e fundas como se estivesse morrendo. Morrendo. Tossi duas vezes para melhorar a garganta, e decidi levar Sasuke para seu quarto.

                Deixe-me contar um pouco sobre Sasuke. Ele é um ótimo amigo, porém é uma pessoa triste e confusa; não costuma mostrar seus sentimentos e não se mostra nem um pouco interessado no amor, e muito menos em mim. Sasuke é aquela pessoa que você espera ansioso para que – quando você diga um simples tchau – ela vire para trás. Olhe em seus olhos.

                Estava tão cansado quanto Sasuke, sentia meus olhos pesarem e minhas mãos começavam a tremer, precisava descansar um pouco. Eu olhei o corpo do mesmo, magro e quase não ocupando espaço na cama, dizendo-me para esquentá-lo.

                Deitei com ele. Senti a cama afundar com meu peso e os lençóis se desarrumarem; senti a pele com febre de Sasuke e o abracei. Ele não reclamou, e acabou dormindo em meus braços.

                Enquanto o via com seus olhos fechados, sua boca seca e suas mãos frias, o abraçava tomando alguma coragem para dizer as palavras que sempre quis dizer, que sempre fizeram me arrepender sem ao menos serem pronunciadas.

                - Sasuke, eu te amo. – Eu disse me acostumando com o quarto abafado, sentindo uma dor de cabeça surgir e um calafrio espalhar calor em meu corpo. – Amanhã nós vamos tomar lámen juntos, não vamos? – Sentia meus olhos encherem de lágrimas, enquanto sussurrava em sua orelha.

                Mas, ele estava dormindo. Eu sempre soube que atos de carinho não eram funcionais quando a pessoa estava descansando, mas precisava dizer para Sasuke que eu o amava e principalmente assim; sussurrando em seu ouvido, estando abraçado com ele e esperando que as coisas melhorem.

                - Aquele lugar que você comentou parece divertido. – Falei sorridente, deixando que as lágrimas escorregassem e se desviassem de meu sorriso. Estou tão feliz! Tão feliz que poderia morrer nesta situação. – Acorda logo, teme! – Eu disse ficando nervoso, balançado seu braço.

                Ele não respondia. Eu segurava em seus braços, mas ele continuava dormindo calmo, tendo os melhores sonhos enquanto eu o amava. Sim, estava me livrando daquele passo que me prendi; essa era a oportunidade de tê-lo.

                Minha cabeça continuava a rodar, e meu estômago revirava como uma mistura de borboletas e órgãos, uma dor em cada parte de meu corpo manchado, e por fim, sentia minhas pernas travando e câimbra por todos os lados.

                - Eu quero voltar ao zoológico teme! E quero ir com você! – Eu falei continuando a conversar com Sasuke, o balançando e tentando-o acordar. – E acorda logo, seu retardado! Se você melhorar, eu dou um jeito e fico melhor também! – Respondi, continuando a chorar.

                Choro como uma criança. As lágrimas salgadas descem e caem por todo meu corpo, vejo minha blusa molhar de leve com meus prantos e percebo que venci um medo. Agora estava satisfeito, e Sasuke-kun sabia que eu o amava.

                Sasuke finalmente olhou para trás. Abri um último sorriso, percebendo que ele não precisaria me pagar um lamén amanhã, e que não haveria uma visita para o lugar mais legal da vila.

                Não haveria zoológico, passeios, nem um almoço fora, nem uma piscina com os amigos, nem eu e nem você juntos. Não haveria nada.

                Senti lábios quentes e amargos encostarem-se aos meus, acho que tive o beijo que sempre quis em toda minha vida enquanto estava inconsciente. Enquanto pensava nas coisas que não iriam acontecer e nas palavras que finalmente disse.

                - Eu te amo. – Ele respondeu pela primeira vez de um modo carinhoso.

                Sorri.

                Pela última vez.

Fim.