Acordei com uma animação e disposição incríveis. O sol que batia no meu rosto não me incomodava, nem a música barulhenta que vinha do quarto do meu irmão. Essas pequenas coisas eram simples detalhes que eu esquecia sem esforços.

Levantei-me da minha cama e fiz tudo o que eu tinha que fazer sem reclamar: arrumar a roupa, esperar o meu pai terminar de usar o banheiro e arrumar a bagunça que eu fiz no banheiro. Tudo com um sorriso no rosto, que estava tão estampado que todo mundo me perguntou “você está bem?”. É claro que eu estou bem! Estou ótima.

Enquanto eu tomava o café da manhã o celular do meu irmão começou a apitar.

-O que eu já disse sobre as mensagens enquanto nós comemos? - disse minha mãe, se fingindo de brava; mas eu sabia que ela não estava realmente brava, por que ás vezes ela também mandava mensagens.

-Só dessa vez – disse meu irmão, quase automático. – Hum, é do Peeta.

Como eu queria poder ver a mensagem! Mas, quase como se ele lesse meus pensamentos, ele disse praticamente tudo:

-Ele quer conversar sobre algo importante – ele disse, tentando analisar a mensagem e pensar em algum assunto pendente.

Tive vontade de rir, mas não podia.

-Nós vamos esperar eles hoje? - eu disse, tentando mostrar desinteresse.

-Sim – ele disse, mas focado em seu celular. Ele provavelmente deveria estar respondendo a mensagem.

-Hum – então eu tomei o meu último gole de café e fui terminar de me arrumar, feliz porque Peeta me esperaria para contar tudo.

Fiquei mais feliz ainda quando, fui olhar a hora no meu celular e vi que havia uma mensagem nova.

“Mandei uma mensagem pro seu irmão. Será que ele vai ficar bravo?”

“Não! Impossível”

Por um momento eu senti medo, também, afinal eu não tinha a mínima ideia de como ele iria reagir. Uma coisa é ele estar tentando me persuadir a largar o Gale e ficar com quem realmente gosta de mim. Outra é ficar com alguém que realmente gosta de mim.

Mas logo deixei esses meus pensamentos de lado e fui me arrumar. Dez minutos eu já estava descendo as escadas, e podia ouvir as vozes lá embaixo. Madge veio ao meu encontro, e ela começou a falar animadamente sobre o gatinho que apareceu na casa dela ontem. Não pude me conter e, olhei na direção de Peeta, que sorriu para mim.

Logo que nós saímos da minha casa e começávamos a chegar no final da minha rua, Peeta veio para perto de mim e disse:

-Nós precisamos conversar – dirigindo-se para o meu irmão.

Marvel olhou para mim e em seguida para Peeta.

-Manda.

-Eu e a sua irmã...

-Você conversou com ela? - ele disse um pouco confuso.

-Sim, e...

-Quando?

-Ontem a noite.

-Vocês estão namorando? - perguntaram Madge e Marvel, ao mesmo tempo.

Fiquei com um peso na consciência por não ter contado nada a Madge, mas o que eu poderia fazer¿ Queria que Peeta estivesse ao meu lado quando eu fizesse isso.

-Sim – eu disse, finalmente.

-É – então Peeta sorriu.

Madge me abraçou, animada, e eu tinha certeza de que ela queria mais detalhes depois. Marvel apertou a mão de Peeta e disse:

-Bem vindo.

Peeta fez que sim com a cabeça.

E chega aquele momento pelo qual eu esperei tanto. Foi o momento em que nossas mãos se encontraram e que nós poderíamos nos exibir sem nos preocupar com namorados ou com os outros. Eu estava definitivamente feliz e nada poderia estragar isso.

 Nada durou pouco. Logo que nós chegamos no colégio fomos obrigados a nos separar por causa dos olhares ameaçadores de Gale. Eu podia ver o quanto ele estava furioso comigo e em como ele não me perdoaria tão cedo por tudo que eu estava fazendo com ele.

Um dos amigos dele falou algo, e, logo em seguida, ele se aproximava de mim e de Peeta.

-Parabéns, para vocês dois – ele disse ríspido. – Você foi rápida, Katniss! A gente mal terminou e você já está com outro.

Ele dizia tudo isso em voz alta, e, logo que ele terminou a frase, conseguiu chamar a atenção de todo mundo que estava em nossa volta, inclusive a de Clove. Todo mundo me encarava com desprezo, e eu nem queria saber o que Gale disse para todo mundo logo que chegou aqui.

Eu não estava fazendo nada de errado.

-Nós namoramos Gale. Mas isso não significa que eu amava você! – e eu logo me arrependi.

Foi merecido essas palavras, é claro, mas eu não havia imaginado os danos que ela poderia causar na minha vida e na de Peeta. Gale se encheu de ódio, e, como um sussurro, disse:

-Vadia – e, em seguida, com um sorriso presunçoso.

Peeta já ia avançar na direção de Gale, mas eu e Marvel seguramos ele, impedindo que ele continuasse.

-Dome o seu namoradinho – disse Clove, entrando na roda. – Porque eu sabia segurar as rédeas. Já não sei você!

Peeta começou a me puxar, e eu fui junto com ele. Logo que nós saímos, a roda se dispersou e só restava Gale e os seus amigos conversando sobre, provavelmente, nós.

Ficamos em um canto, conversando por alguns minutos, até que nossos amigos nos achassem e começassem a nos dar os “parabéns”, fingindo não ter visto aquela cena ridícula. Eu também estava me obrigando a esquecer.