As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 93
Tecemos, guiamos, cortamos


Notas iniciais do capítulo

Oie ~acena~ tive dificuldade em colocar no word esse momento pré batalha, mas está aí.



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LUKE

Sabe a sensação de se apertar contra quatro paredes, aquela sensação de sufoco que você encontra quando precisa passar por um lugar pequeno, apertado. Você simplesmente não pode respirar: por não haver ar, por estar assustado demais, ou por não lembrar como se faz isso. Lutar, resistir contra o titã era assim. Claro que podemos multiplicar esse desconforto por números altíssimos.

Mas eu não podia por muito tempo. Minha alma fragilizada na maior parte do tempo era guiada até o Tártaro; vi coisas terríveis para se descrever e que, embora me esforce, não consiga mais lembrar. Naquele buraco criado para mim, existiam mais duas almas, ou quase isso. Eles eram bem mais “diluídos” que eu. Não passavam de crianças: o menino tinha seis anos no máximo, roupas imaculadamente brancas, suor escorrendo por sua testa. A menina era bastante dependente dela; com não mais que quatro anos, seu vestido era como as roupas do garoto. Branco. Uma das alças estava rasgada e caía por seu ombro. Os dois descalços, com os pés sujos e queimados. O menino trazia consigo uma faca de bronze celestial.

Imagens medonhas apareciam direto e faziam os dois chorarem. O mais velho fazia o possível para acalmá-la e protegê-la, mas não podia, já que estava tão assustado quanto ela. Minha luta era para ainda mantê-los “vivos”: puxava-os para abraços protetores e me concentrava naqueles olhos azuis que ambos tinham. Eu sabia que havia algo neles que eu jamais poderia esquecer.

–Por que está nos protegendo? – o garoto perguntou um dia, uma semana, não tenho noção do tempo.

–Porque eu os amo. Não vou deixar de lutar por vocês. Não vou perdê-los.

THALIA

Eu já havia treinado as meninas por hoje, já havíamos conseguido novas meninas para nossa causa e, agora, patrulhávamos uma parte da floresta. Caçávamos qualquer monstro que pudéssemos matar e para sangrar as novatas e introduzi-las na arte de uma batalha. Em grupos separados compostos por cinco caçadoras cada, cobríamos uma quantidade mais de quilômetros. Vinda do céu, uma ave descia até pousar em meu ombro; não era nenhum dos nossos falcões de batalha, mas um águia que eu já me acostumara a ver rondando meu céu. Ela trazia uma pequena carta consigo.

–De quem é?

–Algum dos deuses – respondi abrindo o envelope. A escrita era rápida e garranchosa; Ares. Meu irmão relatava o quanto havia amado nosso pequeno massacre muitos dias atrás, meses; não nego meu choque. Fazia meses e ele se manifestava só agora? Continuei lendo e compreendia que não era aquele o propósito da carta. Todo o dinheiro roubado havia sido investido em mercenários que guardariam toda a costa de NY. Nem era tanto dinheiro quanto pensávamos, pelo menos não o suficiente para podermos nos garantir mais.

–E então? Algo importante?

–Só mais detalhes dos preparativos para a Batalha – acariciei a águia com um dedo – Obrigada – ela levantou voo e sumiu – Devemos continuar; duas de vocês precisam ser testadas e nós precisamos de toda experiência possível.

Houve um momento, tempo depois, em que as árvores estavam mais curvas, os troncos, mais escuros assim como as folhagens. Não fazia muito sentido: a primavera é a estação das cores fortes e vivas, mas de algum modo lá era escuro e sombrio como o final do outono.

–Ai minha deusa, aquilo é uma...

–Uma casa – completei o pensamento por ela. Velha demais, com a madeira apodrecendo e quase sem telhado, lodo e ervas daninhas brotando pelas paredes, havia também uma névoa espessa quase encobrindo-a por completo. A atração que senti por ela era facilmente comparada ao feitiço do final do filme A Bela Adormecida: eu caminhava para lá, ignorando completamente o chamado das outras quatro meninas.

Lá dentro era outra história bem diferente. Senti como se entrasse em um mundo novo. Embora tudo realmente estivesse aos pedaços e a escuridão reinasse, meus olhos viam as três ali, cada qual em seu canto cuidando de seu serviço. Estava pasma, queria dar meia volta e fugir, mas o som da tesoura cortando o fio dourado congelou-me.

Uma risada estranha ecoou pelas paredes.

–Temos visitas, irmãs.

–Sim, percebo...

–E bem nobre – outra risada. Sua imagens mudavam: ora eram mulheres jovens e castas ora eram velhas de pele enrugada. De qualquer forma, eram todos de um aspecto fúnebre. Não importava minha aparencia para elas; eram cegas, de olhos enevoados e opacos.

–A prole de Zeus finalmente se apresentou a nós.

–Aguardamos-a a tanto tempo, criança.

–Me aguardavam? – soei tão baixa que nem eu mesma ouvi, embora elas sim – Por quê? – disse mais alto.

–Sabe muito bem que podemos contar-lhe o futuro.

Outro riso.

–O seu. O dele.

–Não quero saber.

A risada tornou-se fria e cortante.

–Mentirosa! – uma delas ronou, no susto pulei para trás – Quer saber do que será seu mundo sem ele. Quer saber se o fio foi cortado.

–Aproxime-se, criança. Venha até mim – Era Cloto, a primeira irmã. Segurava o fuso e tecia o foi dourado; a vida de alguém. – Aproxime-se!

Posso dizer que nunca se diz não as Parcas; nunca. Assim que me coloquei a seu lado o fio diluíu. Imagens passavam em minha mente como um filme rápido demais para que eu pudesse reconhecer os atores com facilidade: uma criança recém nascida, uma menina correndo...

–Caminhe até mim, querida, aprecie – Láquesis puxava e enrolava o fio da vida que eu observava, o fio da menininha passava por uma série de altos e baixos.

...Ela crescia e, eu mal podia decifrar mais do que seus cabelos negros. Pessoas entravame saiam da sua vida muito rápido, o cenário mudava. Suas paixões passaram rápido, até haver depois uma criança em seus braços, o homem sumiu e a criança também. O foco não era eles. Era ela.

–Veja o fim dela, criança. Veja a morte junto a mim – Átropos segurava e tesoura, abria e fechava o instrumento fazendo soar um som irritante e estranhamente fúnebre. Sem perceber meus movimentos, eu passava de irmã em irmã contemplando aquela mulher hipnotizada.

... Diversas coisas cristalinas reluziam junto ao seu chão, fumaça saia de sua boca, sua beleza ia desaparecendo e ela envelhecia muito rápido; não apenas por conta do frio, mas pela quantidade de drogas que usava. A mulher dirigia um carro. Do lado de fora de sua janela uma da Queres, as filhas de Nix responsáveis por mortes violentas, sombolizam o destino cruel e inevitável... O carro capotou. Por culpa de um outro, mas...

A imagem foi cortada tão terrivelmente rapida que caí no chão devido ao choque. As Parcas riam, gargalhavam. Meus olhos estavam cheios de lágrimas sem que eu soubesse o motivo. No chão havia diversas linhas brilhantes e reluzentes, uma delas era engraçada: a linha parecia se partir ao meio; durante o princípio era bem juntinha, como se fosse uma só, mas ia se distanciando e... Mesmo distantes aquelas pontas atraiam uma a outra.

–Escute, criança.

–Não acabamos com você.

–Podemos te mostrar mais. Muito mais!

Egui-me em choque tentava andar até a porta, mas elas exerciam uma força sobre mim que fazia ficar.

–Nós tecemos o fio. – disse a primeira.

–Nós o guiamos em seus altos e baixos. – disse a segunda.

–Nós o cortamos – disse a última irmã; outra vez, ela abria e fechava a tesoura.

–Mas são vocês que decidem seu fim. Tecemos, guiamos, cortamos. – diziam juntas em uma só voz – Mas são vocês que traçam seus caminhos. Tecemos, guiamos, cortamos. São vocês que decidem o que fazem. Tecemos, guiamos, cortamos. A culpa não reside em nossos ombros. Tecemos, guiamos, cortamos.Tecemos, guiamos, cortamos. Tecemos, guiamos, cortamos!

Consegui me mover. Corri para fora assustada com tudo aquilo. Encontrar com as *Moiras não era bom presságio. Elas riam e o riso ecoava em cada passo meu. Quando saí da névoa, as cinco meninas estavam exatamente no mesmo lugar gritando para que eu não fosse.

–Que bom que nos ouviu.

–O que? Ah, esquece. Não tem nada valha a pena ir ver. Precisamos ainda sangrá-las, não garotas.

Saí de lá sem olhar para trás, com normalidade, mas com o coração aos saltos.




Nesse instante, Perseu está em um carro com uma amiga ruiva, prestes a seguir com a guerra. Annabeth, no Acampamento, revira seu chalé em busca dos papéis com as idéias de Dédalo; gostava bastante de estudar aqueles papéis. No Submundo, Nico interrogava Caronte, a espada de ferro estigio na garganta do servo de seu pai. O corpo de Luke Castellan estava no navio, os olhos reluzindo em dourado, gritando ordens para os tripulantes enquanto amolava sua foice. Sobre uma rocha do outro lado do país, mas de frente para o mar em um altitude mais elevada, Thalia sentia o vento levantar-lhe os cabelos, fazendo-os dançar. O cheiro da maresia a mantia lúcida. As caçadoras lutavam atrás de si, treinavam novos movimentos; seus lobos rasgavam a carne de uma presa fresca não tão distante e os falcões sobrevoavam por ali. Uma águia desceu de seu voo e pousou no ombro da garota. Olá, murmurou ela olhando para a ave que trazia consigo um miléssimo da essencia do pai e voltou a olhar para longe. A altura ainda a incomodava, mas não tanto quanto antes; e sendo mais profundo, a moça tinha dores piores.

O nervosismo corroia a todos; de formas diferentes, mas corroia. Ali, estavam todos inquietos e com um pensamento em comum: começou. A batalha já começou.É vencer e viver ou... É perder e morrer.

–Não ganho nada vivendo e não perco nada com a morte. – sussurrou para o vento que lhe cantava ao pé do ouvido – Pra mim não faz diferença . Acho que nunca fez.

Difícil não é lutar pelo que mais se quer, mas sim desistir daquilo que mais se ama. Não por não ter mais força, mas sim por não ter condições de sofrer. Ela se pegava pensando em uma grama mais verde, as luzes mais brilhantes, nas noites maravilhosas com os amigos ao redor.

Por que isso caiu em meus ombros? Ela se perguntava. A águia “gritou” fazendo a moça olhara para ela. Grandes batalhas só são dadas a grandes guerreiros. E seu eu não for grande? Você é, vocês todos são. Acredite sem si, filha.

E ela acreditou.

No Tártaro três espiritos fragilizados quase inexistentes, lutavam para existir. Não abririam mão da vida que tinha sido predestinada. Não desistiriam um do outro, não desistiriam dela.

Que a Guerra venha. Que teste a todos. Que as Parcas cortem os fios da vida. Que venha o que vier... Ninguém irá desistir. Ninguém irá recuar.


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Notas finais do capítulo

*Moiras = Parcas
Entenderam esse momento com as Parcas? Sabem de quem era a vida mostrada? Eu achei claro, mas vai de vocês.
Gostaram? Sim? Não? Sugestões? Tudo é muito bem vindo.
Nos próximos caps são realmente a batalha do ponto de vista da Thalia, okay? Okay.
Bjss ;)