As Histórias De Thalia escrita por GiGihh


Capítulo 62
Por enquanto, não fazemos escolhas




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PERCY

Ver minha prima encolhida na poltrona de um hospital foi estranho e incomodo. Ela não chorava como a maioria dos acompanhantes normais ou família fariam, mas isso não queria dizer que não havia dor nos seus olhos. Eu quase conseguia ver, tão claro quanto vejo as engrenagens girando em Annabeth, a sensação de culpa e a vontade dela de estar no lugar dele. Comecei a me sentir culpado também. Poxa, somos semideuses e só por termos contato com outros estamos os colocando em risco? Eu mal consegui acreditar na sorte de nunca terem atacado minha mãe.

Agora, ficamos vendo o menino sumir pelo interior do colégio. Thalia olhava para onde o menino tinha estado segundos antes. Um rapaz loiro de olhos esverdeados saiu da sombra com um sorriso dedicado a minha prima. Não sei como explicar, mas me senti alerta, em um estado de defesa; meu corpo ficou tenso e minha mãe notou essa reação.

–Thalia, minha princesa! – ele chegou querendo abraçar minha prima; o que era algo estranho já que nunca tinha visto nenhum menino conseguir essa proeza. Lia esquivou.

–Primeiro: eu não sou sua; não sou de ninguém. – Thalia rosnou e eu o vi se encolher – Segundo: eu não suporto que me chamem de princesa, Lion. – o menino chamado Lion recuou um passo.

–Mas ontem...

–Nos divertimos um pouco; nada mais que isso. Não invente fantasias. – ele travou o maxilar com raiva e começou a se afastar, mas lançou um olhar fulminante para Thalia. Tive que segurar o riso pensando no olhar que Thalia daria a ele.

–Vai se arrepender por ter me dispensado.

–Vai embora. – me intrometi mantendo a voz firme. Ele cerrou os olhos, mas saiu. Um silencio tenso se instalou sobre nós três.

–Acho melhor eu ir. – Thalia quebrou a tensão.

–Precisa de carona? – minha mãe perguntou.

–Muito obrigada, senhora Jackson – ela esboçou um sorriso – mas eu fico ali na frente. – ela apontou para o internato feminino. Ela acenou para nós e começou a se afastar, mas me lançou um ultimo olhar provocativo – Vou dizer pra Annie que você mandou um oi, Cabeça de Alga.

Eu fechei a cara, claramente incomodado com o apelido, mas eu senti minhas bochechas queimarem. Talvez tenha sido por isso que Thalia riu. Por mais incomodado que eu me sentisse dela rir as minhas custas, não consegui deixar de pensar no quanto aquele som melodioso era raro e muito agradável, vindo de Thalia. Acho que parte da culpa que sentia sumiu quando ela riu.

–Thalia é uma menina muito bonita. – minha mãe comentou observando minha prima correr pelo gramado do outro lado da rua. – E bem estranha também.

–Ela é especial. – comentei distraído, mas sabia que minha mãe sorria. – Ela é como uma irmã pra mim. – voltei meus olhos para a minha mãe – Não conte a ela que eu disse isso.

Sally riu.

–Não conto, querido. Vai me contar mais sobre sua “irmã” Thalia ou vai me contar sobre esse “oi” para Annabeth? – senti meu rosto queimar mais uma vez.

–Acho melhor eu te falar o que sei da Thalia. – ela voltou a rir e nós entramos no carro.

THALIA

Eu mal havia entrado no prédio da escola e meu celular já tocava. Não precisei de nada para saber que era Felipe.

–Oie. – disse sem qualquer animo.

–Lia, me conte tudo e não esconda nada. – a voz empolgada deveria ter me envolvido e contagiado como sempre, mas hoje não.

–Tudo o que?

–Oras, por que foi tão ríspida quando falou do seu pai?

–Felipe, você acha que minha vida é maravilhosa por eu ser filha de um deus? Eu nunca vi meu pai, nunca escutei sua voz, não sei nada sobre ele que não venha de livros de história...

–Thalia, mas...

–Mas o que?

–Ele deve der algum motivo...

–Chamado Hera e mais e mais chatices. – o vácuo no telefone e o som de folhas se movendo me deram a certeza de que ele estava com um livro sobre mitologia nas mãos.

–Ela não deve ser tão ruim assim. – eu ri com sarcasmo.

–Nunca ouviu falar dos desafios de Hercules? Você ouviu o que eu contei sobre o monstro do parque?

–Tá bom. Ela é horrível.

–Obrigada. – eu já estava quase no meu quarto quando decidi perguntar algo que me perturbava – Fê, a Pâmela também vê?

–Não. Ela nunca viu nada disso; inclusive me chamava de louco.

–Não conte nada a ela.

–O QUE?

–Você está com duas costelas quebradas por minha culpa...

–Não. Foi aquela tal de lamina ou sei lá o que, que fez isso comigo.

–... Porque você é meu amigo e está sempre por perto. Monstros me atacam sempre e eu estou colocando você, a Pam e a Celine em risco. – eu abri a porta do quarto; as meninas já estavam acordadas e focaram seus olhos em mim - Não posso... – minha voz sumiu e eu me joguei no colchão.

–A loirinha, aquela Annabeth, ela também é...?

–É. Super inteligência, descubra agora de quem. – as folhas voltaram.

–Atena?

–É. – suspirei – Não posso te ver mais, pelo menos por enquanto.

–Qual é, Lia? Não faz isso não!

–Isso já é difícil sem você implorar. – eu parecia ter atraído a atenção das meninas. – Não posso arriscar você de novo. Me desculpa. – não dei tempo de ele responder ou algo do tipo; desliguei ligação e logo em seguida o telefone.

–Que drama foi esse, menina? – Pam chegou pulando na minha cama.

–Nada importante. – menti – Eu “terminei” com o Lion.

–Ai meu deus! Conte tudo. – Celine pulou para a minha cama também; agora todas elas vestiam moletons, Annie veio logo depois.

–Eu fui ao Central Park de manhã. Encontrei o Percy por lá... – elas deram risadinhas – e o Fê... – minha voz pareceu travar e eu fiquei alguns segundos sem emitir qualquer som. Eu teria que mentir – Um galho grande e pesado caiu em cima dele e nós o levamos para o hospital; o Lipe quebrou duas costelas. – falei olhando mais para Annabeth que compreendeu que não havia sido um acidente. Continuei contando até o momento constrangedor em que eu discutia com o menino. –Annie, o Percy te mandou um oi. – eu disse e logo em seguida mordi o lábio inferior; a menina ficou com as bochechas rosadas e nós rimos. – O que aconteceu com vocês ontem à noite? Chegaram a um estado lastimável!

–Eu sei que a Celine fez um show! Só não fez pole dance... – Pam contou em tom de choque.

–E a Pam quebrou uma garrafa de cerveja na cabeça do DJ. – Annie contou e meu queixo caiu.

–Não! A novidade foi a Annie. – Celine disse em um tom meio malicioso – Ela tava de beijinhos com menino muito gatinho. - olhei para as bochechas rosadas das meninas; todas constrangidas com os efeitos das pequenas, médias e grandes dosagens de álcool que ingeriram.

–Mas e você? – Annabeth perguntou o que eu não queria que perguntasse. – Saiu e ninguém te viu.

O que eu ia dizer? Não queria mentir para Annabeth, mas não contaria a verdade; não conseguiria dizer que Luke esteve aqui e que isso mexia muito comigo. Parando para pensar, os meus sentimentos por Luke só eram de conhecimento dos deuses (isso porque eles são muito bisbilhoteiros) e eu não me sentia preparada psicologicamente para revelar isso a mais ninguém. Esse sentimento era uma fraqueza e eu sabia que ela poderia ser usada contra mim. Não. Eu não contaria nada a Annabeth.

–Me senti um pouco mal. Não gosto muito de lugares fechados ou com tantas pessoas... – dei de ombros – Me sinto sufocada, quase sem ar.

Olhei para o relógio, 18h00min da tarde e eu me sentia acabada. Celine correu para o banheiro, provavelmente ia vomitar mais um pouco, Pâmela pegou seu celular e estava ligando para o irmão.

–Quer invadir a cozinha? – a loira me perguntou. – Tenho certeza de que você não comeu nada o dia inteiro.

–Você está certa – ela sorriu; ela adorava estar certa – Mas não estou com fome.

–Vem, vamos preparar alguns hambúrgueres.

–Por que não disse logo?- ela riu e nós corremos para fora do quarto.

LUKE

Não tinha fechado os olhos desde a noite em que vi minha pequena. Ela estava tão diferente e tão igual à antes... Deveria ter insistido, eu tinha que ter ido atrás dela, mas não. Eu deixei que ela corresse para longe de mim.

A espada pareceu pesar na minha mão lembrando o que eu estava fazendo, movimentei-a em um golpe perigoso para o meu “oponente” e vi palha voar. Não vou negar que estava com raiva de Thalia. Ela não devia ter fugido! Tanto esforço, tanta espera... Pra nada. Travei o maxilar e lancei Mordecostas na direção do monstro mais próximo: um demônio que não parava de gemer... Só sobrou o pó e minha espada no chão.

Saí da pequena arena improvisada, peguei Mordecostas e fui para meu quarto. Estava cansado demais para pensar em um banho ou trocar de roupa; joguei-me no colchão e fui embalado pelo vai e vem das ondas... Mas eu não posso controlar meus sonhos, nunca pude.

Estava em alguma floresta escura e fechada que não me permitia ver o céu noturno. Olhei ao redor procurando qualquer coisa que me mostrasse o motivo de estar ali... Nada. As arvores pareciam se fechar cada vez mais me empurrando para trás, para... Havia uma rocha bem irregular as minhas costas. Voltei os olhos para cima procurando um lugar alto, mas não dava para enxergar. Apalpei a superfície até encontrar um vão. Não. Não era um vão; era uma caverna.

Apoiei a palma da mão na rocha e entrei na escuridão... Dei dois passos cautelosos para frente e ouvi pedrinha rolarem; parei e fiquei atento a qualquer um que se atrevesse a me atacar, já que eu havia denunciado minha posição. Segundos se passaram e nada. Minha visão clareou indicando que eu já estava acostumado com a escuridão. Dei mais dois passos e notei que eu descia por uma superfície íngreme e pedregosa. Ignorei a precaução e segui andando um pouco mais rápido levantando pedras comigo a cada passo; sem perceber eu corria pela descida.

... O murmúrio de uma canção fez com que eu parasse minha corrida de forma abrupta; tropecei em alguma pedra e cai de cara naquele chão. Senti o gosto de terra e pedrinhas na boca, mas me forcei a escutar melhor. Alguém cantarolava uma canção sem qualquer significado; apenas sons, sem palavras, mas era óbvio que eram de um significado doce. Tinha algo de mágico tanto na voz quanto naquele lugar... Cuspia terra da boca e me levantei.

Voltei a andar mais calmo e prestando cada vez mais atenção nas vozes. Tinha percebido que eram mais de uma, mas isso não importava tanto. Uma bifurcação se erguia a minha frente e eu teria que escolher para onde seguir: em frente ou à direita. A melodia parou quando eu parei e isso me incomodou. Como acharia as donas de tal voz?

Optei pela direita. Cada passo era uma tortura em silencio e a vontade de saber o que existia no caminho em frente aumentava... O lugar foi ganhando uma leve claridade e notei um pequeno lago ao meu lado, ele sumiria na medida em que eu seguia o túnel, mas havia alguém ali. Era uma mulher. O vestido rosa e longo chamava atenção, mas foram os olhos violetas que me prenderam. Era uma deusa. Era Afrodite.

A deusa colocou uma mecha lisa de cabelos loiros para trás, mas não expressou nada enquanto me olhava.

–Sabe que existe uma guerra os separando. – a voz nunca pareceria de Afrodite – Thalia não escolheu seu lado, mas seu pai espera que você mude sua escolha.

Pai? Que pai? Nunca tive um, esse deus era só um retardado que colocou mais uma criança nesse mundo; nada mais. Não me importei em responder e segui o túnel para longe da deusa e para longe do lago. O som voltou e a escuridão também. Andei por horas e quando pensei que seria inútil continuar, a claridade voltou, mas não aquela luz da deusa, era o brilho prateado da lua.

O lago voltou a aparecer, mas dessa vez estava abaixo de mim, cortando o caminho por onde seguia. Havia uma “ponte” completamente natural que ligava a continuação do túnel. Um tronco velho preso por diversas raízes dos dois lados era a ponte feita pela natureza. Não havia mais uma rocha ou terra no teto, não havia vegetação; era o único lugar onde se dava para ver a lua minguante e prateada num céu sem estrelas... O brilho de pra parecia cair de forma particular sobre o meio da ponte, sobre a moça que cantarolava. O vestido longo, simples e de mangas curtas, azul escuro destacava seus cabelos escuros e lábios vermelhos. Mais uma vez eu não via o semi de semideusa nela; não havia como dizer isso dela.

–Thalia? – dei um passo à frente e ela parou de cantarolar.

–O que pensava quando resolveu aparecer? – não consegui responder tamanha a força de suas palavras – Que eu correria para seus braços e te enchesse de beijos?

Eu não sabia o que responder porque não sabia o que esperava dela. Seus olhos faiscaram me impedindo de me aproximar. Na base da rocha, onde terminava meu caminho, fiquei olhando para aquela moça de aparência impecável e perigosa.

–Você... Eu só... Eu queria que tudo voltasse a ser como antes.

–Como antes? – a ar vibrou ao meu redor com força devido a sua raiva – Você deu as costas ao “antes”, quis esquecer o passado e optou por um novo futuro.

–Não me esqueci...

–Tem que se decidir do que quer: o passado ou o futuro. O seu presente depende dessa escolha. Ter a Thalia na sua vida depende de escolhas.

–Thalia? Mas você...

–Você sabe no fundo de si que eu não sou ela; não totalmente. Sou sua consciência, a parte em que ela sempre continuou viva. Pareço-me com ela porque é apenas a ela que você decide escutar.

Fechei meus olhos, incapaz de dizer algo. Voltei a sentir a raiva que senti mais cedo. Thalia não tinha o direito de me perturbar daquela forma. Eu não seria mais assombrado por memórias ou por sonhos com ela. Se ela não voltar para mim, não tenho duvidas do que farei... Afinal, estamos entrando em uma guerra... Lia, a minha Lia, teria que morrer... Mas ainda não; por enquanto, não. Eu tinha que deixar ela escolher; as escolhas nunca foram feitas de um só lado.

Por enquanto, não...


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Notas finais do capítulo

Pessoas =D
Digam amores, ficou legal? achei que eu podia melhorar um pouco mais, mas estava sem ideia e sem tempo...
Bjss