Amigos E Rivais escrita por Caelum


Capítulo 1
Amigos & Rivais


Notas iniciais do capítulo

Puxa, há tantas coisas a se dizer.
Eu nunca fiz uma one-shot antes, nunca mesmo, e eu teria publicado-a mais cedo se não tivesse ficado horas editando o texto rsrsrs. Meio nervosa.
Levem em conta que eu não escrevo há séculos, e estou meio "enferrujada".
Eu acho que talvez tenha ficado um tanto confuso no começo, não sei. Falarei mais nas notas finais! Por favor, leiam as notas do término do capítulo.
Aproveitem! ;)
Ps: Por alguma razão, os nomes americanos "TK" e "Davis" me pareceram meio... inapropriados, não sei. Gostei de usar os japoneses, pra variar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/320728/chapter/1


–Você quer ser minha namorada, Hikari?

-E-eu... Me desculpe. Não posso aceitar... Não é você quem me faz feliz. E-eu sou apaixonada por outra pessoa... Sinto muito... Por favor, me perdoa.


~~~~~#~~~~~

-Que saudade. Não posso acreditar que já faz assim tanto tempo desde que chegamos aqui pela primeira vez.

Ao ouvir a voz familiar se pronunciar às suas costas, um adolescente de aspecto forte, cabelos castanhos espetados, olhos da mesma cor e com um par herdado de óculos de aviador na cabeça, de 16 anos de idade, virou-se perplexo.

Ele poderia jurar que havia vindo só, porém, pelo visto, o outro o seguira, daquela forma silenciosamente irritante que apenas ele possuia a capacidade de fazer. Ao longe, teve o vislumbre divertido de seus parceiros brincando alegremente perto de um lago. Mais à frente, vinha uma pessoa em sua direção - o dono da voz.

Olhou por um segundo o jovem loiro, igualmente forte e musculoso, de belos olhos azuis e de pele clara que se aproximava com semblante determinado, e, o mais importante, pacífico. O moreno desviou o olhar com uma careta de deboche, quase amarga. Esperou-o ficar ao seu lado para dizer-lhe, exibindo seu melhor - e mais aperfeiçoado ao longo dos anos - sorriso arrogante:

-Não seja tão sentimental, TJ. Por favor, não comece a chorar, não tem nenhum berçário aqui por perto. - Provocou com um sorriso malicioso, apesar de, na verdade, concordar.

Não que Daisuke Motomiya fosse admitir algum dia, mesmo sob a mais cruel das torturas, que concordava com seu amigo-rival, Takeru Takaishi.

-Esse lugar significa muito para mim, seu idiota. - O loiro disse secamente, quase surpreendendo o moreno com o tom utilizado. Daisuke pensara que Takeru aprendera (sob a pressão de seus comentários debochados ao passar dos anos), com seu temperamento calmo, a não se irritar mais com ele - o filho mais novo dos Motomiya simplesmente era assim, e todos já haviam se acostumado e aprendido a tanto amá-lo quanto aturá-lo quando necessário.

Levemente incomodado com a singela irritação do velho companheiro de aventuras, porém sem deixar transparecer, sentou-se na grama, e Takeru o imitou.

- Para mim também. - Assegurou-o com firmeza, sem encará-lo e incapaz de revidar o xingamento, como normalmente teria feito. O sol brilhava, o céu estava azul turquesa, sem nuvens. Naquele campo, na companhia um do outro, num silêncio um tanto incômodo e repleto de pensamentos, enquanto um desejava a coragem do outro para dizer algo, os dois puseram-se a contemplar a beleza sobrenatural, exótica e composta por dados que se estendia por quilômetros incontáveis; todo um mundo.

O Digimundo.

E, sim, Takeru tinha razão - era impossível dar-se conta de quanto tempo havia se passado...

"Como pode fazer tanto tempo?"

Ele interrompeu bruscamente seus pensamentos. Não fazia tanto tempo assim, afinal. Havia se passado cinco anos. Isso não era tanto tempo assim, era? Cinco anos para ele, e oito para Takeru. Agora, seus amigos encontravam-se atarefados com suas vidas normais, com problemas e assuntos adolescentes e mesmo de jovens adultos. Foram obrigados a deixar o Digimundo em segundo plano. E havia milhares, senão milhões de Digiescolhidos ao redor do mundo, todos com seus parceiros e com acesso ao Mundo Digital. Todos poderiam usufruir das oportunidades de possuir um Digivice. Não era mais como antes, quando apenas eles tinham o poder requerido para abrir um portal e vivenciar uma aventura ou salvar os mundos.

Uma estranha e forte sensação veio ao encontro do líder da segunda geração de Digiescolhidos, agora já com 16 anos: nostalgia. Daisuke pôs-se a pensar; Quantas aventuras eles viveram ali? Quantas criaturas horríveis tiveram que vencer? Quantas vezes tiveram que provar a força de seus corações? Quantas amizades ali se formaram e se consolidaram? Quantas situações foram vividas em tempos que não voltam mais...? Nunca mais... Nunca mais...

Nunca mais.

Quando se deu conta de que agora era ele quem estava sendo sentimental, Daisuke bufou de irritação, o que fez Takeru olhá-lo com curiosidade, porém o loiro nada questionou. Em vez disso, quebrou o silêncio com um pedido inesperado:

-Desculpe.

Daisuke piscou, movendo a cabeça bruscamente para encará-lo, confuso.

Dois olhos azuis brilhantes o fitavam.

-Hã? Quê? Desculpe...? - Daisuke repetiu, completamente atordoado. Ele nunca fora bom interpretando o comportamento alheio, nem das pessoas mais próximas. Takeru esforçou-se de leve para não rir com a expressão confusa do sucessor de Taichi.

- Sim. - Assentiu, sério, porém tranquilo. Virou-se para Daisuke. - Desculpe.

Sem saber o porquê do pedido e desprovido de qualquer ideia para lidar com a situação, resolveu provocá-lo, como nos velhos tempos.

-O quê foi, TD? Finalmente percebeu a sua inferioridade a mim e está se desculpando por não conseguir ser alguém tão incrível quanto eu? Sem problemas, eu te desculpo, eu sou generoso e piedoso, você sabe! - Disse em tom orgulhoso.

Takeru encarou-o aturdido por um momento, antes de começar a gargalhar alegremente.

-Qual é a graça, posso saber? - Daisuke rosnou, rangendo os dentes, enquanto Takeru tentava parar de rir. Mirou-o simulando raiva intensa, apesar de não realmente senti-la e saber que não seria capaz de enganá-lo. Ele estava bem irritado, coisa comum por seu temperamento difícil, mas não tão furioso como estaria anos atrás. Ele havia crescido.

O outro respirou fundo antes de dizer:

-Eu tinha esquecido como você pode ser arrogante quando quer.

-E porque isso é engraçado? - Bufou, consternado.

Takeru deu de ombros.

-Traz boas memórias. - Disse simplesmente, num tom suave, para logo acrescentar em tom provocador: - Não que eu espere que você vá compreender o que eu digo, com a sua mente limitada.

Daisuke apertou os punhos e resmungou alguma coisa sob sua respiração, no que o Digiescolhido da Esperança entendeu como Estúpido loiro azedo. Reprimindo tanto um sorriso quanto um olhar irritado, forçou-se a continuar, determinado a se desculpar com aquela pessoa que tanto adorava e tanto odiava.

-Você não entendeu meu pedido de desculpas, entendeu? - Takeru questionou, arqueando uma sobrancelha.

Relutante, Daisuke negou com um movimento rápido e brusco de cabeça, no qual os óculos há muito dados por Taichi chacoalharam e quase caíram. Takeru, por sua vez, cobria seus fios dourados pelo costumeiro e antigo chapéu branco de pescador. Mesmo após os anos, era difícil livrar-se dele; continha memórias preciosas demais para tal ato.

-É pelo modo como venho agindo com você. - Explicou, suspirando, para logo dar um sussurro quase inaudível - E, principalmente, pelo que aconteceu ontem...

"O que aconteceu ontem".

Então Daisuke compreendeu do que se tratava o assunto, e toda a nostalgia que sentia segundos atrás desapareceu. Ela deu lugar ao nervosismo, à inveja, à fúria...

E à tristeza.

-O modo como você vem agindo. - Repetiu lentamente, fingindo não ter ouvido o sussurro. - Como assim? - Ele questionou, apesar saber ao que o amigo-rival se referia. Ele observou quando rosto do loiro contorceu-se numa pequena careta, expressando tanto arrependimento quanto impaciência. Não, não era arrependimento...

Seriedade, apenas.

Takeru importava-se com aquela conversa - e com Daisuke.

-Você sabe. - Ele encolheu os ombros, dando-lhe um olhar tímido. - Eu tenho me irritado bastante com você ultimamente. Acho que devo me desculpar, principalmente depois do que aconteceu ontem à tarde... - Sua voz morreu, foi arrancada pelo vento que soprava. Daisuke pensou no que aconteceu por um segundo, antes de, irritando-se, afastar o pensamento de sua mente. Resolveu, então, contornar a situação, pois ele sabia exatamente ao que o amigo-rival se referia, e esperava não conversar sobre aquilo.

Pelo menos, não tão cedo - ele havia ido ao Digimundo com a finalidade de esquecer o ocorrido.

-Não ligo quando você me chama de idiota. - Esquivou-se, tenso, dando de ombros. Takeru deu um suspiro, trincando os dentes e fazendo ao máximo para não deixar sua paciência se esgotar. Daisuke era bastante insolente quando lhe convinha.

"E quando não lhe convém, também." Pensou quase divertido, antes de prosseguir.

-Você sabe que não é sobre isso... - Disse, com firmeza. Daisuke sabia. - É sobre outra coisa. - Daisuke viu-se obrigado a desistir. - Uma pessoa.

-Hikari.

Daisuke percebeu que a simples menção do nome fez o brilho dos olhos de Takeru aumentar consideravelmente.

Takeru Takaishi amava Hikari Yagami - e agora ele sabia que o sentimento era recíproco.

-Sim... - Murmurou lentamente. - Sinto pelo que aconteceu com você... Sobre a Hikari... Sinto muito.

Ele estava sendo sincero.

E doeu mais do que doeria se ele tivesse dado um soco.

-Eu não me importo. - Daisuke mentiu miseravelmente, desviando o olhar e fixando-o na grama verde-oliva. No céu, uma tempestade começava a se formar aos poucos, como uma materialização dos sentimentos que estavam sendo postos à tona naquele diálogo. - Não me importo com o que a Hikari disse.

-Sim, você se importa. - Replicou Takeru, coçando a nuca. - Eu sei que você se importa, e... - Sua voz morreu novamente, desvaiu-se num pequeno engasgo.

-E...? - Instigou-o a prosseguir, voltando a encará-lo.

-Eu simplesmente tenho que dizer isso, Daisuke. - Suspirou pesadamente, mordendo o lábio. - Eu não quero que você ache que a persuadi, que eu a convenci a te dizer não ou algo do tipo, que eu a manipulei. Eu não intervi na decisão da Hikari.

-Eu sei que você não faria isso. - As palavras escaparam antes que ele pudesse contê-las, pairando sobre suas cabeças assim como as nuvens tempestuosas.

-Não faria. - Garantiu, levemente satisfeito pelo outro ter reconhecido. - Se ela tivesse aceitado seu pedido, eu morreria por dentro, mas... Não atrapalharia, se isso a fizesse feliz; se você a fizesse feliz.

-Ela mesma me disse que eu não a faço feliz.

Hikari Yagami disse isso à Daisuke Motomiya quando ele utilizou de sua coragem e a pediu em namoro, no dia anterior, e ela o rejeitara, dizendo que ela não poderia namorar Daisuke por ser apaixonada por outro.

Não foi muito difícil imaginar quem era esse outro.

E, agora, esse outro dizia a ele que sentia muito por Hikari tê-lo rejeitado.

"Me perdoa, Daisuke..." A voz de Hikari ecoou em sua mente. Havia lágrimas nos olhos da menina em sua lembrança, e isso o angustiava. "Eu amo outra pessoa..."

"Essa pessoa também ama você." Teve vontade de lhe dizer. Mas não o fez, por falta de coragem.

Ele havia sido derrotado, afinal.

-Isso NÃO FAZ SENTIDO! - Daisuke controlou-se para não explodir, mas não conseguiu. Takeru tomou um susto, enquanto o outro adolescente começou a fervilhar de tanta raiva e revolta. - Como você consegue?? Por que diabos você está aqui, dizendo que sente muito por mim?!?

-D-daisuke...?

O moreno levantou-se bruscamente, furioso. A raiva que ele sentira no dia anterior voltava de súbito, consumindo-o. A raiva da rejeição, de saber que havia alguém melhor que ele (parte dele sabia que Hikari escolheria Takeru, e isso entrava na lista de coisas que ele jamais admitiria, ah, não mesmo). A mesma raiva que ele extravasou do dia anterior chutando furiosamente bolas de futebol; ele marcara 60 gols durante a noite, sem conseguir dormir.

Se o fizesse, pesadelos visitariam-no em seu sono.

-Por que você está aqui, dizendo que lamenta? - Esforçava-se para manter a vontade de socar Takeru sobre controle. - Você está com pena de mim, é isso? - Exigiu num rosnado.

-Daisuke...

-Por que você não está lá, se declarando pra Hikari?!?

-Daisuke. - Tentou Takeru novamente, mais firme, enquanto o líder aumentava a voz cada vez mais. Ele começou a andar de um lado para o outro, com os punhos cerrados e passos pesados.

-O amor da sua vida acaba de rejeitar a única pessoa que era seu concorrente, e você diz que SENTE MUITO? QUE SENTE MUITO, CARAMBA!

-Daisuke! - Ele estava ficando irritado. Levantou-se, seguindo-o.

-VAI EMBORA! POR QUE VOCÊ AINDA ESTÁ AQUI?

-PORQUE EU SOU SEU AMIGO!

Após o berro igualmente furioso, Takeru desferiu um soco certeiro em Daisuke, derrubando-o no chão.

-O-ora, seu...! - Daisuke engasgou, perplexo, por um momento. De repente, deu um pulo, e um rosnado escapou-lhe da garganta quando abordou Takeru bruscamente no chão. As costas do loiro arderam um pouco com o impacto, e ele sentiu Daisuke fechando os punhos sobre o colarinho da sua camisa.

Quando Daisuke estava prestes a socá-lo, algo o deteve. Takeru melhorara sua habilidade em luta ao longo dos anos, e era tão bom quanto ele, e igualmente forte e capaz de se defender. Takeru poderia, facilmente, livrar-se dele e socá-lo novamente. Porém, ele não apresentava resistência. O loiro estava parado, inerte, porém, encarando-o firmemente.

Takeru estava disposto à deixá-lo liberar seu descontentamento.

"Por quê?"

As palavras ecoaram na mente de Daisuke como resposta:

"Porque eu sou seu amigo!"

Amigo.

Amizade.

Daisuke deveria, mais que o próprio Takeru, compreender aquele sentimento.

Ele fitou aqueles olhos azuis por mais um breve segundo, envergonhando-se e corando fervorosamente. Então, levantou-se de cima de Takeru. Sua raiva diminuía aos poucos. Após anos, tinha um pouco mais de facilidade em controlá-la, apesar de não conseguir evitar explosões como aquela, de vez enquando.

Engoliu em seco, sentindo um peso horrível no coração, com a culpa penetrando em sua mente cada vez mais fundo. Sentou-se novamente na grama. Takeru fez a mesma coisa, com sua tranquilidade e firmeza habituais, enquanto uma estranha calma pairava sobre eles, assim como um companheirismo verdadeiro, apesar de meio relutante.

Daisuke matou e enterrou seu orgulho ao dizer:

-Desculpe por ter explodido, Tajeru.

Takeru sorriu.

-Sem problemas, Denise.

Daisuke bem que tentou, mas não pôde deixar de sorrir.

Então, algo veio a sua mente, após um momento de silêncio entre os dois.

-Ei... - Ele disse, meio hesitante. - Você... Não me explicou porque estava se irritando muito comigo, ultimamente.

Eu estava com medo.

- C-com medo? - Daisuke surpreendeu-se genuinamente, encarando-o com certa curiosidade.

Ele tinha sérias dificuldades em imaginar Takeru Takaishi com medo.

E isso era outra coisa que também ele jamais admitiria.

O adolescente de olhos azuis respirou bem fundo, antes de começar. Aquilo seria longo.

-Medo de perder a Hikari e a sua amizade. - Esclareu-se.

-Como assim?

-Eu... Meio que percebi que você ia pedir Hikari em namoro... Você não é muito discreto. - Sorriu de leve. Ele passou a mão pelos fios loiros, pegando o chapéu que caíra quando Daisuke o abordara no chão. - Eu fiquei em desespero. Por um lado, eu me consolava pensando que você ou ia desistir ou ela não ia aceitar. - Proferiu as palavras com cuidado, mas Daisuke não explodiu novamente. - Mas, eu não posso dizer a você que eu lidei bem com isso. Eu me irritei com você, e passei a ter pouca paciência tudo que você falava ou fazia, por um tempo. Quando ela me disse que tinha recusado, eu não sabia o que fazer ou sentir. Apenas decidi que precisava falar com você, porque era possível você achar que, pelo modo como eu vinha te tratando, que eu tinha feito a Hikari negar seu pedido de namoro. E eu não queria perder a sua amizade. - Confessou.

-Então você veio aqui... Interrompeu em um sussurro, prestando atenção.

-Sim. Quando eu vim aqui, hoje, estava ao mesmo tempo irritado e calmo. Não sabia se viria para gritar com você por tê-la feito ficar tão mal por te magoar ou para te consolar por ser magoado. A resposta veio quando eu percebi que você precisava de alguém ao seu lado. Um amigo.

Daisuke olhou Takeru completamente abismado.

E agradecido.

-P-puxa... - Ele arfou, perplexo. Limpou a garganta, tentando recuperar a compostura. - Bem, você se desculpou por estar me tratando mal, mas... Por que você sente muito pelo que aconteceu?

"Você ganhou, afinal."

A reposta não poderia ter sido mais surpreendente.

-Porque, independentemente do que eu sinto pela Hikari, você é meu amigo. Eu devia meu consolo a você, por mais que, em parte, fosse complicado e difícil para mim. Você merecia isso, Daisuke, pelo simples fato de ser meu amigo, e eu realmente sinto muito por você, por ela não te corresponder. De verdade.

O queixo de Daisuke foi até o chão, de tão surpreso e aturdido que estava com as palavras sinceras e puras de Takeru.

Eles se encararam por um momento; O moreno, de olhos arregalados e boca aberta. O loiro, sorrindo abertamente, ajeitando seu chapéu. Dois completos opostos com o mesmo sentimento - Amizade.

-Você é irritantemente certinho. - Daisuke provocou, quebrando o silêncio, sem conseguir esconder o imenso sorriso de gratidão que lhe ocupava a face.

-E você é irritantemente... - Ele fingiu pensar por um momento, enquanto sorria, também. - Daisuke. Acho que esse é o xingamento que mais te define. - Takeru riu, contente. - Você é irritantemente Daisuke.

O líder riu, também alegre. O fato de Hikari tê-lo rejeitado e negado seu pedido de namoro não importava mais tanto assim. Os dois se levantaram ao mesmo tempo. Patamon e Veemon dormiam, ao longe, alheios ao que acabava de acontecer.

-Tenho certeza de que você vai encontrar alguém que te faça feliz... - Murmurou Takeru, em tom tão baixo que o outro esforçou-se para ouvir. Ele assentiu.

-Eu te subestimei, loirinho. - Daisuke admitiu, dessa vez, sem relutância alguma, encarando-o.

Takeru deu de ombros, sem realmente se importar com isso.

-E agora? Questionou, franzindo a testa.

-Como assim? - Daisuke franziu o cenho, sem compreender.

-Acompanhe meu raciocínio, se não for difícil. - Takeru disse, em tom lógico e brincalhão. Daisuke revirou os olhos de brincadeira. - Éramos rivais, porque ambos queríamos Hikari. E agora, ainda somos rivais?

-Espera aí! - Daisuke exclamou. - O que te faz pensar que eu deixei de querer a Hikari? Eu não desisti, TJ! E nunca desistirei!

-Mas ela não quer namorar você. - Disse lentamente, gesticulando e tentando não atiçá-lo.

-É, eu sei. - Deu de ombros, secretamente feliz por estar o enganando. - Mas nem por isso eu vou deixar de insistir. Um dia, ela vai se dar conta de que me ama, em vez de você! Eu não a deixarei em paz até que ele me ame incondicionalmente e comece a te desprezar! Eu me casarei com Hikari Yagami, e você terminará sozinho!

-Eu não acredito! - Takeru rosnou, furioso, cerrando os punhos e encarando o amigo-rival como se desejasse estrangulá-lo. Dando um passo à frente, agarrou o colarinho da blusa de Daisuke, exclamando: - Não acredito que depois de tudo que eu falei pra você, você continua com isso, Daisuke! Será que você não ouviu nada do que eu disse? Como você pode ser assim tão...!

Ele parou abruptamente ao ver o sorriso brincalhão do moreno. Riu, alegre e aliviado, e recuou.

-Imprestável.

-Loiro azedo.

-Imbecil.

Assim, os dois começaram a caminhar juntos, pegando seus parceiros adormecidos, em direção a uma TV, ao mundo real. Daisuke passou o braço ao redor dos ombros do loiro em sinal de companheirismo, e o adolescente retribuiu o gesto, enquanto, entre altas gargalhadas e diversos insultos, eles demonstravam sua amizade um pelo outro.

Amizade estranha? Sem dúvida alguma. Verdadeira? Idem.

Entre um dos risos e um das ofensas, já no Mundo Real, Daisuke arrumou tempo para dizer, bem baixinho:

-Obrigado.

-Não precisa agradecer. - Takeru sorriu, sincero. Daisuke, após seu pequeno momento de agradecimento sincero, logo voltou a ostentar sua gasta máscara de orgulho.

-E, ah, eu estava falando sério sobre a Hikari. Eu não desisti, amigo loirinho, eu a quero, e eu a terei em minhas mãos.

-Ah, vá se ferrar!

~~~~#~~~~

A discussão, os gritos, os socos, os pontapés e os pedidos de desculpas que se seguiram não importam.

Duas coisas realmente importam: Daisuke, anos mais tarde, teve seu merecido final feliz ao lado de uma bela garota, amante de futebol assim como ele.

E, principalmente, que Takeru, indo contra o fato de que Hikari era a pessoa que ele mais amava no mundo, viera consolar Daisuke, que havia sido rejeitado pela mesma. Para o Digiescolhido da Esperança, não importava que Daisuke houvesse sido seu concorrente na conquista da garota - ele fora consolá-lo, mesmo assim.

Porque Daisuke Motomiya e Takeru Takaishi, à cima de rivais, eram amigos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Sejam sinceros...
Primeiramente, fiquei tentada a escrever algo completamente nostálgico com todos os digiescolhidos - a até pus nostalgia na one-shot, por um tanto de indecisão, e espero que isso não tenha atrapalhado o fluxo da leitura -, mas então essa ideia me veio à mente.
Eu sei que deve ter ficado um tanto estranho: Hikari rejeita Daisuke por Takeru e Takeru, em vez de ir imediatamente se declarar pra Hikari, vai consolar Daisuke? (Tipo: HEIN?) Acho que isso nunca foi mostrado aqui, pois sempre eles discutem. Eu queria simplesmente escrever algo que mostrasse a amizade um pelo outro. Mesmo eles discutindo, se batendo, brigando, gritando um com o outro... Eles são amigos (e todos esquecem disso) Não sei se isso realmente poderia ter acontecido do anime, mas, gosto de pensar que poderia, sim. Eu realmente acredito que os dois sejam amigos, além de rivais. Acontece que é meio Universal que Takeru e Daisuke são rivais, e eu queria demonstrar o que as pessoas não demonstram: a Amizade entre os dois.
Eu, pessoalmente, gosto de ver a amizade dos dois desta forma - verdadeira, mas repleta de rivalidades.
É claro que, se vocês desejarem, eu faço uma one-shot pra seguir essa mesma, do Takeru se declarando pra Hikari após falar com Daisuke. Mas isso só se vocês quiserem, e se essa ter ficado boa (como eu já falei antes, nunca tinha escrito uma one-shot na minha vida) Então, o que dizem? Faço isso?
Abraços. :)