John sentiu um ótimo gosto na boca. Para ele, estava de volta a seu verdadeiro lar no Brooklyn com seus amigos, tomando sahlab na varanda enquanto observava Manhattan. Aquela era sua vida. Mas algo o puxava de seus sonhos, puxava à realidade. Algo o levava de volta à Long Island, àquele acampamento.

· · ·

John acordou com um sobressalto. Estava em um quarto com algumas camas, muito provavelmente uma enfermaria. Estavam com ele uma garota de olhos cinzas e de cabelo preto e um cara com uma barbicha. Mas espera, aquilo eram pernas de burro? John queria acordar daquele pesadelo.

– Ele está bem? - perguntara o garoto-burro

– Sim, acredito que sim. - ela se virou para John - você dorme demais garoto. Já são 17 horas.

– Espera um minuto. Isso aqui é um acampamento?

– Sim, é. Acampamento Meio-Sangue. Um lugar para pessoas especiais como nós.

– Nós?

John estava ficando confuso. Aquilo não era pra ele. Aquilo não tinha nada a ver com ele. Ele pertencia ao Brooklyn.

– Sim, nós. Se você conseguiu passar pela barreira mágica, obviamente é um semideus. Apenas semideuses conseguem passar por aquela barreira.

Então as lendas são verdadeiras. Isso faz de mim um intruso.

– Semi...deuses? Olha, você está me confundindo. Primeiro, eu nem sei quem você é ou qual é seu nome. Segundo, semideuses? Não existem deuses, e mesmo se existissem eles não teriam filhos, apenas hospedariam-se nos seres humanos.

Mas John sabia que estava errado. Sabia que os deuses poderiam ter filhos. Não os deuses dele, mas os outros deuses. Os deuses estrangeiros.

Enquanto pensava isso, John se deparou que a garota o estudava e temia que ela pudesse ler pensamentos e descobrir seu segredo.

– Vi que você é cético - comentou a garota. - sinceramente, eu não consigo te entender. Acho melhor chamar Quíron. Ele explicaria melhor.

John ficou estarrecido. Não consegue me entender? Como assim? Sou uma máquina por algum acaso?. Teve vontade de responder isso, mas disse outra coisa.

– Quí...ron?

O Garoto-Burro riu, como se ele entendesse a confusão que passava pela cabeça de John. Oh deuses, como é difícil aceitar que algumas lendas sempre foram verdade.

– É, cara. Quíron. O QUÍRON que treinou Hércules, Jasão, Aquiles e nossos melhores heróis, Percy Jackson e Annabeth Chase.

– Sem querer ser mal educado, mas você não é um fauno. Vocês querem me assustar. Tire essas pernas de burro.

O Garoto-Burro pareceu se ofender:

– Primeiro, eu não sou um fauno. Faunos são ROMANOS. Eu sou um S-Á-T-I-R-O, SÁTIRO. Segundo, eu nasci com pernas de BO-DE. Portanto, mais respeito. Não curti, achei ofensivo.

A garota virou-se para o sátiro e deu uma risadinha.

– Quíron sabe que você entra no Twitter?

Ele deu uma risadinha e uma piscadela, como se fosse proibido e ele estivesse quebrando as regras

– Hey, shiu. Segredinho nosso.

– Então tudo bem, Sr. Bode. Perdoe me por dizer que tinha pernas de burro.

– Bé-é-é-é. Desculpas aceitas. E meu nome é Orfeu.

– E como você disse que não sabia meu nome, eu me chamo Alex. Alex Heights.

Tudo aquilo era estranho demais para John. Ele acreditava que acordaria do pesadelo, mas quando viu Quíron, quase teve um colapso nervoso.

Imagine um cara com uma barba castanha espessa. Esse não era o problema. John queria saber como ele conseguira entrar no quarto com um cavalo branco. Espera, ele não entrara com um cavalo branco. Ele ERA parte do cavalo branco. Uma traseira branca como a neve.

– Afaste-se de mim, AGORA! ou eu vou invocar...

– Invocar quem? Meu jovem, sou inofensivo.

Mas que... Droga. Quase dou com a língua nos dentes.

– Eu invocaria um deus para destruir vocês.

Com aqueles olhos castanhos de Quíron, John achou que seu fim se aproximava.

– Meu jovem, vejo que temos muito a conversar.