Ismira escrita por Giu Sniper


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Pois é, demorou mais consegui terminar o capítulo esse fim de semana ainda.
POV Ismira, espero que gostem, pois deu muito trabalho para fazer. :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/318766/chapter/11

Seu tio a levara através da ilha até uma sala que se formava dentro de uma enorme árvore. A caminho dali Ismira passara pelo refeitório, uma enorme construção de madeira viva, de onde saía um delicioso cheiro de comida. Conseguiu ver também os dormitórios mais ao longe, mas o que realmente a impressionou foi o campo de treinamento: naquele horário a maioria dos cavaleiros se ocupava com a prática da esgrima. E enquanto o treino prosseguia diversos dragões, de distintas cores e tamanhos, voavam em espiral sobre o centro de treinamento formando lindas projeções no chão a partir do reflexo do Sol em suas escamas. Havia lá mais dragões do que Ismira havia ousado imaginar, eram azuis, dourados, prateados, rubros e lilases, verdes e até mesmo um branco, mas se vira algum dragão negro, esse um era Sundavar.

A cavaleira e seu tio entraram na sala. Havia nela uma mesa no centro e as paredes altas eram cobertas de livros dos pés à cabeça. Eragon puxou uma cadeira para si mesmo e mostrou outra à Ismira, dizendo a ela que se sentasse. Ele ofereceu-a uma tigela de lichias que ela prontamente aceitou, não era uma coisa que recusasse facilmente.

— Bom, já que estamos aqui...  — ele fez uma pausa. Pela primeira vez Ismira percebeu que seu tio provavelmente não envelhecera tanto naqueles quinze anos, talvez fosse pela causa dele ser imortal, não tinha certeza, mas embora não levasse todos os anos que viveu no rosto, levava-os no olhar.

— Já que estamos aqui... — inquiriu

— Bem, há uma coisa que eu preciso te contar — ele parou novamente —, ou melhor, eu preciso contar a vocês. — disse por fim, virando o olhar em direção a Sundavar — Eu pensei que vocês gostariam em saber que... bem...

— Tio, perdoe-me, mas será que dá para o senhor terminar ao menos uma frase e dizer logo o que está acontecendo? — não era do feitio de Ismira perder a paciência, mas aquela conversa estava deixando-a agitada.

— Está bem, vou tentar ser mais direto, é sobre o ovo de... — só então Ismira lembrou-se que ainda não tinha apresentado seu dragão ao tio.

— Sundavar.

— Sim, Sundavar. Bem, seu pai sabe, estávamos conversando sobre isso no dia do seu aniversário, antes de você chegar. Decidimos não contar isso para muita gente, mas já que ele eclodiu para você...

— Tio, você disse que ia ser direto!

— Está bem, Ismira, direto ao ponto. Há algum poder diferente em Sundavar, eu e os outros elfos... Nós havíamos percebido isso desde a primeira vez que vimos o ovo e, bem, nós não sabemos até onde isso pode ser bom ou prejudicial. — Ele parou de falar. Ismira o encarava, tentando entender o que havia acabado de ouvir.

O que você acha disso? perguntou a Sundavar

Eu? Como posso saber o que acho disso?

Ora, se é você que deve achar como eu saberei?

Como mais? Nós usamos a mesma mente, esqueceu-se?

Às vezes. Admitiu. Só então Ismira reparou que ainda estava parada, em silêncio fitando os olhos do seu tio enquanto usava as unhas para retirar a casca grossa e áspera de uma das lichias. Ela pensou um pouco antes de perguntar:

— Tio, podem existir dragões gêmeos?

— Dragões gêm... Ora, o único ovo de dragão que eu vi eclodir foi o de Saphira, mesmo assim, em todos os livros que eu li a respeito disso nunca vi nem sequer um relato de... Espere, Ismira, você está querendo dizer que...

— Exatamente! — ela prontamente respondeu, erguendo a mão esquerda para seu tio e mostrando-lhe as marcas deixadas nela pelos dentes do outro dragão.

— O que aconteceu? — eu olhar era preocupado

— Bem, o ovo eclodiu e então eu vi Sundavar. Quando o toquei essa marca surgiu na minha mão. — estendeu dessa vez a outra mão, aquela com a Gedwëy Ignasia, negra, marcada na palma. — Então outro dragão saiu do ovo, um dragão azul, ele era bem menor do que Sundavar, mas também era mais rápido. Lembro-me do outro dragão atacando Sundavar, ele queria mata-lo, não pensei e tentei separar eles dois. Foi então que ganhei isso. — indicou novamente a mão com as cicatrizes — Acho que acabei distraindo o outro dragão, e Sundavar teve tempo de atacar. O dragão azul acabou morto, e Tauron curou os ferimentos de Sundavar. — mesmo tanto tempo depois pensar naquela cena fazia todo o seu corpo se arrepiar. Ficaram ali pelo que pareceram vários minutos, todos calados no mais exímio silêncio.  — Tio?

— Ah, sim. Desculpe-me. — ele levantou-se — Acho melhor você e Sundavar conhecerem melhor as coisas por aqui. Vou chamar a Vicky, ela... Ela pode ajudar com isso. Eu acho... que é... só.

De fato a reação do seu tio ao lhe contar como Sundavar havia nascido fora muito estranha. E segundo ele provavelmente havia algo e diferente em seu dragão, uma magia mais... Poderosa? Mas Eragon também havia dito que não sabia até onde isso podia ser bom ou ruim. No final a cavaleira e o dragão decidiram que seria melhor esquecer aquilo por ora, não era uma coisa que gostariam de ficar relembrando.

Ao saírem da sala de Eragon, Vicky já os esperava do lado de fora para mostrar-lhes as instalações da ilha. Ismira nunca andara tanto em toda a sua vida, e ainda assim não haviam conseguido ver tudo. A garota de cabelos loiros os havia mostrado os lugares mais importantes: os dormitórios, o refeitório, os banheiros, o rio e, por último o centro de treinamento de esgrima.

Vicky havia conduzido a ela e a Sundavar por dentro de um emaranhado de árvores, Ismira a havia perguntado onde os estava levando, mas ela simplesmente deu um sorriso e disse-lhes que veriam assim que lá chegassem. No final acabou por ser um caminho alternativo até o pátio onde os cavaleiros treinavam. Lá dentro haviam várias pessoas treinando, desde anões até urgals. Todos tinham espadas em punho, alguns movimentavam-se com movimentos graciosos, outros uns um tanto desajeitados. O som do metal contra metal ecoava pelo ambiente.

— Então, Ismira, você tem alguma experiência com esgrima? — Vicky perguntou, mostrando em seguida os dentes incrivelmente brancos em um sorriso contagiante.

— Eu creio que não...

— Por que crê? Ora, você por acaso suspeita que foi abduzida por ETs que pegaram seu cérebro o puseram dentro de um pote de picles em conserva só para apagar uma memória sua em que você lutava esgrima e então, logo em seguida, devolvê-lo a você? — ela riu. Ismira ficou em silencio por um tempo, com um olhar de desentendida antes que por fim respondesse:

— Eu acho que não...

— Você acha tudo?

— Como?

— Ora, você crê, você acha, por que não ter certeza de algo? — Ismira ficou em silêncio. Afinal, aquela garota era maluca? Diante da falta de palavras da cavaleira, Vicky prosseguiu: — Está bem. Vou te apresentar uma pessoa, talvez ele possa te ajudar a começar. Venha! — e saiu andando em direção à outra ponta do centro de treinamento. Ismira seguiu-a, ou ao menos tentou.

— Ei, espere! — Ismira chamou-a, às vezes parecia que Vicky se esquecia que estava guiando a ela e a Sundavar e andava rápido demais, isso acontecera umas várias vezes quando ela estava mostrando-a a ilha.

— Ah, desculpe-me, é que eu...

— Esqueceu. — Ismira riu, já até havia se acostumado.

Eles seguiram andando, dessa vez mais devagar. Quem é que Vicky iria lhes apresentar, afinal?

— Ei, Finwë! — Vicky chamou alguém logo à frente. Um elfo de estatura mediana, olhos verdes e os cabelos curtos loiro-prateados olhou de volta.

— Olá, Vicky! — ele sorriu, tinha o mesmo sorriso contagiante que a garota de cabelos loiros a quem saudara. — Quais são as novidades?

— Não muitas. — ele fez uma pausa — Bem, esta é a Ismira, ela chegou hoje e eu pensei se você podia...

— Ensiná-la a usar a espada? Mas é claro que posso, mas se me permite perguntar, o que precisa fazer de tão importante? Normalmente você briga para dar as boas vindas aos novos cavaleiros.

— Ora, ora, já dei as boas vindas, meu caro Finwë. Não é nada importante, só quero passar um tempo com Evarínya e cabular mais um treino este mês.

— Então vá — o elfo riu — eu cuido das coisas por aqui.

— Obrigada, Finwë! — ela abraçou-o e deu-lhe um beijo na face. Provavelmente deve ter chamado seu dragão, pois este logo pousou em algum canto que achara no centro do pátio. O dragão era lindo! Um dos grandes de escamas prateadas que estava voando por sobre os cavaleiros enquanto esses treinavam. Vicky correu até ele e subiu em seu dorso, então eles levantaram voo.

— Ela é bem maluquinha. Despois pergunte-a sobre como foi que Evarínya a escolheu se ainda tiver alguma dúvida. — o elfo fez uma pausa — Ismira, não? — a garota demorou-se para responder, ainda fitava o céu, maravilhada com a imagem que acabara de presenciar.

— Sim, Ismira.

— Não seria você a sobrinha do Ebrithil?

— Ebri...

— Ebrithil, Eragon. Ebrithil significa mestre na língua antiga.

— Ah, sim, acho que vou ter que me lembrar disso. — o elfo sorriu e fez uma pausa antes de continuar:

— E o seu dragão é...

Sundavar ele apresentou-se.

— Pois bem, muito prazer. — e então se virou para Ismira — Pensei que a senhorita não soubesse nada sobre a língua antiga.

— Agora sei duas palavras, já é um começo. — e então sorriu.

— Claro! Mas acho que não estamos aqui para falar disso, não é? Você tem alguma experiência com espadas?

— Não! — respondeu prontamente. Há alguns minutos atrás aprendera com Vicky que não deveria demonstrar dúvida sobre aquilo que tinha certeza.

— Bom, vamos acabar com isso agora. — ele foi até uma mesa li próxima e voltou trazendo três diferentes espadas de treino. — Primeiro você precisa encontrar a espada certa para você, do contrário não terá o equilíbrio correto. A lâmina não pode ser muito leve nem muito pesada. É só segurar a espada e aponta-la para frente, dessa forma. — disse enquanto demonstrava a posição segurando uma das espadas. O corpo inclinado para frente e a lâmina projetada na direção em que estaria o adversário.

— E como vou saber se é a espada certa?

— Você saberá, pode acreditar em mim. No seu caso deve estar no sangue. — sorriu.

Ismira fez o que o elfo havia lhe sugerido, tentou a mesma posição com as três espadas que ele trouxera e acabou por decidir que a segunda era a mais equilibrada. Finwë concordou dizendo:

— É o melhor que teremos por enquanto.

Então o elfo mostrou-lhe diversas posições e movimentos de ataque e defesa básicos da esgrima, mas sempre que Ismira começava a pensar que levava jeito para a coisa arrumava uma forma de tropeçar nos próprios pés. Nesse momentos Finwë fazia-a se levantar e tentar novamente.

Ismira não sabia quanto tempo exatamente havia passado ali, treinando. Apenas após o que pareceram horas foi que Finwë a dispensara.

— Tudo bem, acho que você já treinou o suficiente. É melhor você ir tomar um banho, já está quase na hora na próxima refeição e eu já vou adiantando que a fila é grande e o pessoal é esfomeado. — ambos riram — Eu estou falando sério! Encontro você no refeitório. — já estavam seguindo seus próprios caminhos quando ele voltou-se para falar uma última coisa. — E o Sundavar já pode ir caçar se quiser.

Ismira estava a caminho do refeitório logo depois de ter tomado um banho. Havia percebido que Finwë provavelmente a havia liberado mais cedo, uma vez que foi uma das primeiras a chegar aos vestiários. Sundavar a acompanhara até lá e logo depois havia, segundo ele, ido caçar. Não sabia exatamente por que, mas Ismira sabia que havia algo diferente com ele desde o treino, ele apenas havia ficado lá, parado, observando enquanto o elfo de cabelos curtos lhe ensinava esgrima.

Ismira percebeu que Finwë era o único elfo de cabelos curtos de que ouvira falar, todos os outros, tanto aqueles que os pais abrigavam em casa desde que era pequena até aqueles que apenas vira de relance no acampamento, todos, tinham os cabelos loiro-prateados descendo pelas costas.

Já começava a escurecer quando Ismira enfim chegou ao refeitório. Um cheiro delicioso de comida exalava das cozinhas, apenas nesse momento a cavaleira percebeu que estava com fome. Bem que Finwë lhe dissera que a fila seria grande, mas algo lhe dizia que havia muito mais por vir ainda.

Não demorou muito para que Ismira já estivesse se servindo, ficou sabendo que haviam sempre quatro diferentes opções de prato: duas vegetarianas e duas não-vegetarianas, além de lichias para a sobremesa. Ismira serviu-se de caldo de carne e grãos e procurou algum lugar para se sentar. No refeitório haviam cinco enormes mesas de madeira, Ismira acabou escolhendo um lugar na primeira mesa, perto do fim da fila das cozinhas.

A comida era ótima, não se comparava com a que sua mãe fazia, é claro, mas não podia conter os seus elogios. Não demorou muito para a Vicky e Finwë juntassem-se a ela na mesa do jantar. Eles comiam as suas respectivas refeições enquanto conversaram sobre esgrima, magia e sobre quando os dragões os escolheram. Vicky já era cavaleira há bastante tempo, foi escolhida por Evarínya quando tinha apenas nove anos. Sim, todos sabem que só podem ser escolhidos cavaleiros com mais de quinze anos, mas ela havia se infiltrado onde os ovos de dragão estavam salvos e tocou-os um a um, assim, quando a encontraram não havia mais a possibilidade de lhe dizerem que era nova demais para ser cavaleira. O dragão de Finwë era branco, Ismira calculou que era quele que vira voando sobre o treino. Os caminhos do elfo e do dragão haviam se cruzado apenas sete meses atrás, se não lhe fosse contado Ismira nunca viria a adivinhar. Até que chegou a vez de Ismira contar sua história com Sundavar. O problema é que não podia conta-la ela realmente se sucedeu. Não era necessariamente uma coisa que acontecesse todos os dias, e também não sabia se podia sair por aí partilhando essas experiências esquisitas como se elas fossem um jarro d’água. Contou-lhes mais ou menos como acontecera, omitiu apenas a parte que dizia respeito ao outro dragão, e isso não era pouca coisa.

Terminadas as refeições e uma vez soado o toque de recolher, tiveram que ir para os dormitórios, como todos ficavam para o mesmo lado seguiram juntos, separando-se apenas no momento em que Finwë precisou ir para o dormitório masculino e as garotas para o feminino, desejaram-se boa noite e seguiram cada um o seu caminho.

Ismira dividia o mesmo beliche com Vicky. A cavaleira mais velha dormia na cama debaixo, porque, segundo ela, quando havia chegado ali tinha medo de altura e nunca lhe havia sido despertada a vontade de mudar de cama.

Ismira deitou-se na cama e fechou os olhos, antes de dormir lembrou-se de procurar a mente de Sundavar no meio da multidão.

Boa Noite! desejou-lhe

Cuidado com os seus sonhos! ele lhe respondeu.

Estavam ambos cansados, o dia havia sido cheio, logo pegaram no sono.

Ismira se encontrava em um lugar escuro, tão penumbroso era que não conseguia enxergar um palmo em frente ao nariz. Uma gargalhada rouca soava vinda de algum canto, mas ela não conseguia identificar qual era a sua origem.

— Muito bem, Ismira! Está aprendendo o ofício de ser cavaleira. — a voz era rouca e cavernosa

— Quem é você? — ela conseguiu perguntar

— Eu? Quem sou eu? Ora, essa não é uma pergunta que lhe sirva de muita coisa. Eu posso ter muitos nomes, garota, quantos eu quiser. Mas seu amiguinho, o Hodric, chama-me por Ele. — Ele riu — Ou será que ele não é mais o seu amigo? — dessa vez Ele deixou escapar uma gargalhada, era um riso horrível de se ouvir, e parecia que nunca terminava.

Um flash. Estava no porto de Teirm, Hodric estava sentado no fim de uma das pontes que os barcos usavam para desembarcar as pessoas e as mercadorias, seus pés descalços estavam mergulhados n’água e seus olhos azuis fitavam algo no fundo da água salgada, logo abaixo de seus pés. Ele mergulhou e depois submergiu, trazia algo na mão, era um anel. O anel de ônix que havia jogado no mar dias atrás.

Ismira acordou desesperada. O coração pulava e fazia acrobacias dentro do seu peito e as roupas estavam encharcadas de suor. Era aproximadamente três da manhã, Ismira não conseguiria dormir mais nada aquela madrugada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pois é, chegamos ao fim de mais um capítulo, eu ia terminar no momento em que a Ismira dorme, mas aí eu pensei: "Por que eu não atormento um pouco os meus leitores?" kkk.
Ah, para quem quer saber o que significa Evarínya é estrela, não sei se tem nos livros, eu pego alguns nomes na língua antiga nesse link: http://portalalagaesia.forumeiros.com/t83-lista-de-palavaras-na-lingua-antiga
Ok, não vou ficar prendendo vocês aqui mais tempo.
O que vocês acharam? Reviews!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ismira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.