Veneno De Rosas escrita por Annabel Lee


Capítulo 17
A Visita de Papai


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é muito triste... quase chorei escrevendo.



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Primeiramente nem consigo acreditar. Então tiro duas flores pela raiz e as coloco numa cúpula feita pela Capital, que pode preservar a planta por meses.

        Sinceramente, às vezes a Capital pode ser tão útil.

        Coloco um pouco de terra na cúpula e a fecho. A tampa possuía furos, o que ajudava na entrada e saída de oxigênio. O pequeno acontecimento quase é esquecido por mim.

        Mas então eu lembro. As lágrimas quase começam a crescer, mas lembro que não posso continuar ali, em menos de minutos a máscara não será o suficiente e eu poderia cair morta a qualquer momento, mas não antes de começar a ter terríveis alucinações.

        Saio de lá com passos pesados, com a cúpula dentro de uma sacola para ser escondida. A cena do beijo de Katniss e Gale não para de se repetir na minha mente, então outras cenas voltam. Cenas por mim fantasiadas. Como a língua de papai sendo arrancada. Minha esperança de vê-lo subindo a montanha. E tudo não para de se repetir. Tanto que começo a ficar enjoada.

        Quando volta para minha tenda, minha companheira dormia. Coloquei minha bolsa junto de meus outros pertences. Então saio da tenda e corro até o único lugar que eu consigo chamar de meu no Distrito 2. A montanha.

        Subo. E cada vez que chego mais perto minhas fraquezas vão se rachando. Quando chego no topo respirar já é quase impossível. Pois parece que todos os canais no meu corpo estão sufocados por lembranças.

        Caio sentada. E começo a ver os Pacificadores marchando ao longe. E vejo meu pai. Sem o capacete. Seus cabelos ruivos muito à mostra. E olha para mim. E sorri. O sorriso tão parecido com o meu... Parece que eu o conheço a séculos.

        Ele acena para mim, mas eu não tenho forças para retribuir. Então ele começa a virar fumaça, e minha força volta. Para gritar seu nome, para pedir que voltasse. Para chorar.

        Então deito na grama da montanha, imaginando que ele ainda estava lá. Que ele voltaria logo.

      

A descida do morro parecia infinita. Beetee me chamou lá de baixo, pois a operação começaria. Beetee é do Distrito 3. Que investe em tecnologia. E ele é um gênio. Eu vi a edição em que ele se tornou vitorioso em vídeo. Ele é impressionante!

        Quando chego lá ele segura minha lança e meu cinto com facas.

        – Vamos fechar a Noz em alguns minutos. Talvez tenha batalha. Você é uma das primeiras que Boggs selecionou para a luta.

        Abro um sorriso. E pego minhas coisas.

        – Valeu. – digo.

        – Venha.

        Eu o sigo até o terraço do Edifício da Justiça do 2, que dava uma visão perfeita da Noz. Eu não queria admitir naquela hora, mas eu não queria vê-los causando uma avalanche que prenderia todos os Pacificadores na montanha.

        Não quero ver. Porque eu ainda imagino meu pai lá dentro.

        Katniss parecia com um olhar tão atormentado quanto o meu. Meu ódio por ela não permitiu que eu pensasse o que era de imediato. Mas depois lembrei que o pai dela morreu assim. Dentro de uma mina. Que explodiu.

        Depois virei o olhar para Gale, que ao contrário de nós, parecia ansioso para começar a chacina.

         Os aerodeslizadores do 13 começam a chegar, e deixar suas bombas na montanha em frente a Noz. A minha montanha.

        Nem presto atenção na reação das pessoas a baixo de nós. A única coisa que fito é o alto da montanha, com suas pedras descendo até fechar todas as entradas da Noz. Vendo meu pai ser esmagado por todas elas. Dando-me um último sorriso.

        Consigo ouvir Haymitch gritando no dispositivo auricular de Katniss. Mas nenhum som agora era processado pelo meu cérebro.

        Gale exibia um brilho satisfeito nos olhos. Mas depois encontro seu olhar. E acho que agora a fixa caiu para ele. Mas não importa, pois volto meus olhos para a Noz. E juro que ainda posso ver meu pai soterrado naquelas pedras.

        Todos no terraço, exceto alguns guardas com suas enormes metralhadoras, começam a entrar. Entro também, como se ainda estivesse em transe.

        Boggs se ajoelha ao lado de Katniss.

        – Nós não bombardeamos o túnel do trem – ele diz – fique sabendo. Provavelmente algumas pessoas vão conseguir escapar de lá.

        Mesmo suas palavras sendo para Katniss, elas me atingem. Como se estivessem tentando alcançar qualquer um que tenha se abalado. E aposto que meu rosto indica que estou muito abalada.

        Os dois continuam a conversar. Mas parece que minha mente só ligou para ouvir as palavras de Boggs, e para depois voltar a ser desligada.

        Consigo ouvir Katniss falando com Haymitch pelo dispositivo, Gale conversando com Beetee sobre a missão e todos pareciam em outra dimensão menos ali.

        Então alguém põe a mão no meu ombro. Boggs.

        – Você está bem, soldado? – pergunta.

        – Estou sim.

        – Parece muito mal. Está suando frio – diz checando minha testa.

        – É só... Nada. Sério, Boggs, eu to bem! Não precisa se preocupar.

        Esbanjo um sorriso esforçado, mas não muito espontâneo. Boggs não fica convencido, mas resolve me deixar em paz.

      

Mais tarde naquela noite, Katniss desce para fazer um discurso. Todos descemos atrás dela, para protegê-la (a última coisa que quero agora).

        Ela começa o discurso, que insisto em ignorar. Gale estava do meu lado. O que estava me deixando em extremo estado de raiva .

        Então dois trens chegam chiando. Vários Pacificadores e outros trabalhadores da Noz saem queimados e feridos. Mas também armados.

        Começa o tiroteio. Eu não queria matar nenhum Pacificador, pois sempre que me aproximo vejo nele o rosto de papai. Mas quando ele ergue a arma para mim, não posso fazer nada senão atirar a faca em seu peito e me sentir péssima.

        Um trabalhador da Noz pegou a faca que atirei antes de mim, e tentou o mesmo. Mas eu desviei e enterrei minha lança na sua barriga. Assim que a tirei posso ouvir Katniss gritar:

        – PAREM! PAREM!

        Parei. Todos faziam o mesmo. Abaixavam suas armas.

        Olho para onde está Gale. Ele olhava fixamente para Katniss, enquanto ela fazia um discurso sobre como somos escravos da Capital. Ele estava preocupado como se desejasse estar no lugar dela mais que tudo. Como se a única coisa que lhe importasse era mantê-la a salvo.

        Ele vira o rosto. Em minha direção. E olha nos meus olhos, mesmo estando a metros de mim. Meus olhos ficam um pouco marejados.

        Então ele sorri para mim, docilmente. Como uma promessa de que tudo ficaria bem. Automaticamente eu sorrio de volta.

        Então ouvimos um tiro.

        Katniss está caída no chão, mas não sangrava. Seu traje deveria protegê-la bastante.

        Uma equipe de médicos vem muito rápido e a tira de lá. Vejo o cara que atirou nela, chocado com o que havia feito, ainda apontando a arma para o chão.

        Não penso, e jogo uma faca que acerta seu pescoço.

        Um estrondo começa. Os cidadãos do Distrito 2 começam a xingar a Capital aos berros e atirar no céu.

        Os rebeldes só ficam lá... Assistindo. Três horas depois chega o aerodeslizador que nos leva de volta para o Distrito 13.


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Notas finais do capítulo

A parte da motanha emociona, né não, gente?!