O Resto De Nossas Vidas escrita por Tenteitudo


Capítulo 2
Novos Começos


Notas iniciais do capítulo

Demorou um pouco, mas aqui está.. Epílogo dois! Espero que gostem e lembrem de deixar um comentário :)



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Quase 2 anos de casamento..

"O que você está fazendo?" Rachel envolveu os ombros de sua esposa em um abraço que fez a loira levantar os olhos do computador e sorrir.

"Oi... Você já chegou..." Ela se virou e beijou os lábios da cantora ternamente. "Como foi o show?"

"Foi excelente, como sempre. Amanhã começam as gravações da trilha sonora e estava todo mundo um pouco alvoraçado por causa da presença da imprensa, mas fora isso, foi bem normal..." Rachel respondeu enquanto se despia, louca para tomar um banho, deitar ao lado de sua esposa e simplesmente dormir.

"Eu gostaria de poder te acompanhar todas as noites... É tão quieto aqui quando você está no teatro..." Quinn se espreguiçou e fechou o notebook.

A morena parou no meio de abrir sua saia. "Falando em quieto, cadê o Cetim?"

A assistente social olhou para o chão do quarto e franziu a testa. Normalmente, Cetim era sua sombra e nunca falhava em fazer festa para Rachel quando ela chegava. Ela foi até a porta do quarto e olhou para o corredor. "Cetiim!" Ela chamou, mas não teve resposta. "Ele deve ter feito alguma coisa errada... Eu vou lá ver."

"Quer que eu vá com você?"

A loira olhou para a morena, que agora usava apenas sua roupa de baixo. "Er.." Ela limpou a garganta e umedeceu os lábios. "Não. Pode ir tomar banho, eu resolvo isso..."

"Ok.." Rachel ficou na ponta dos pés e a beijou mais uma vez. "Não seja muito má com ele."

"Eu vou ser tão má quanto precisar ser.."

"Quinn, –"

A loira sorriu e beijou a testa da cantora. "Tu sabe que eu não consigo ficar braba com ele por muito tempo. Só vou dar um xingão se precisar..." Com isso ela saiu do quarto e desceu as escadas, chamando pelo cachorro que continuava sem atender.

"Cetim!" Ela exclamou quando entrou na cozinha e finalmente encontrou o procurado sentado no meio de uma bagunça de lixo revirado. O cachorro amarelo olhou para sua dona com grandes olhos castanhos arregalados e abanou o rabo duas vezes antes de abaixar as orelhas. "Que bagunça é essa!" Ele começou a tremer e tentou abanar o rabo mais uma vez. "Não adianta fazer essa cara, meu amigo, você está de castigo! Já pra fora!" Ela apontou para a porta da sacada e ele lançou um olhar magoado para a grande parede de vidro, já entendendo o que aquilo significava.

"Vamos, de castigo!" Ela o pegou pela coleira e puxou-o até a sacada. "E sem rosnar pra mim! Seu feio!" A loira fechou a porta de correr e apoiou as mãos na cintura, lançando um olhar duro para o animalzinho antes de começar a limpar a sujeirada que ele havia deixado.

"O que ele fez dessa vez?" Rachel apareceu na cozinha usando uma regata branca antiga como pijama e Cetim imediatamente começou a latir e arranhar o vidro que o prendia para fora.

"Não!" Exclamou Quinn quando a morena se moveu para libertá-lo do cativeiro. "Ele tá de castigo, Rachel!"

"Mas já devem fazer 15 minutos..."

"15 minutos que eu passei limpando a cozinha." A loira falou, lavando as mãos na pia. "Ele precisa aprender a não revirar o lixo, ele vai ficar de castigo." Ela desligou a água. "Eu vou ter que tomar banho de novo..."

"Aconteceu alguma coisa no trabalho?" Rachel perguntou, bloqueando o caminho da escada. "Você está mais estressada que o normal..."

A assistente social não respondeu, apenas encarou sua esposa como se quisesse falar alguma coisa, mas não soubesse como.

"Quinn?"

"Não. Nada..." Ela segurou a cintura da morena e a empurrou para o lado delicadamente, tirando-a do caminho.

Rachel segurou sua mão. "Você tem consciência de que estamos casadas há dois anos e de que eu te conheço muito bem, não é mesmo?"

"Podemos falar sobre isso depois?"

"Você realmente vai falar depois?"

Quinn fez que sim e a cantora a deixou subir, voltando para a sala e abrindo a porta da sacada, libertando o cachorro, que saiu de lá em um pulo e arranhou suas pernas em busca de carinho.

"Ai ai!" disse ela, pegando-o no colo para que os arranhões parassem. "Shhh.. Não conta pra mamãe..." Ela murmurou, coçando suas orelhas e subindo as escadas em silencio, parando no topo para se certificar que Quinn tinha ligado o chuveiro antes de soltar Cetim no chão.

Ela entrou no quarto atrás dele e sentou embaixo das cobertas com uma revista enquanto o cachorro se enrolava no tapete ao seu lado.

Alguns minutos depois a loira saiu do banheiro e apertou os olhos quando viu Cetim com as orelhas levantadas. Mais uma vez ele abanou o rabo e ela revirou os olhos.

"Ele nunca vai aprender se você não for firme com ele..." Ela murmurou, deslizando para baixo das cobertas.

"Você é firme o suficiente por nós duas, meu amor..." Rachel respondeu, tirando os óculos e colocando a revista em cima da mesa de cabeceira. Ela se acomodou e puxou Quinn para perto até que a cabeça dela descansasse sobre seu peito. A assistente social suspirou contentemente quando os dedos da morena começaram a percorrer seu cabelo. "Você usou o meu shampoo?" Ela perguntou suavemente, beijando as mechas douradas e as afastando dos olhos da loira.

"O meu acabou..."

"O cheiro fica diferente em você..." Rachel encostou o nariz na cabeça de sua esposa e a beijou ali mais uma vez. "Eu gosto..."

"Humm..."

Elas ficaram em silencio por um momento e Quinn fechou os olhos, permitindo-se relaxar e ouvindo o ritmo constante do coração de Rachel contra sua bochecha. A morena moveu a mão e seus dedos acariciaram a testa de sua esposa e contornaram os traços delicados de sue rosto. A beleza de Quinn ainda fazia seu peito doer e seu estomago pular. Tudo sobre ela, na verdade. Até mesmo as coisas que não eram exatamente boas, como a insistência dela em punir Cetim sempre que ele fazia alguma coisinha errada, ou o fato de ela sempre perder suas meias em algum lugar. Rachel nunca deixava de sorrir quando achava uma meia embaixo da cama, ou atrás do sofá.

"No que você está pensando?" Ela perguntou, voltando a mexer em seus cabelos.

Quinn abriu os olhos, mas não respondeu imediatamente. "Que eu te amo?"

"Eu não duvido..." A morena sorriu. "Mas sei que não é só isso que está passando pela sua cabeça..."

A loira abriu e fechou a mão esquerda em cima do abdômen da cantora, amassando sua camisa e alisando o tecido branco logo em seguida. "Você gosta do nome Nathan?"

Rachel franziu o cenho e enrolou uma mecha loira em seus dedos. "Acho que sim... Talvez... Nathan." Ela testou. "Nunca pensei sobre isso..." Elas já tinham conversado sobre nomes de bebê antes, especialmente logo depois do nascimento de Valerie, mas Nathan nunca fora cogitado. Elas tinham concordado que, se algum dia tivessem um filho menino, o nome dele seria Eric.

Quinn levantou os olhos brevemente, mas os desviou rapidamente, olhando para o cachorro que roncava baixinho no tapete ao lado delas. "Rachel?"

"Quinn?" A cantora afastou alguns cabelos do rosto de sua esposa. Elas queriam filhos. Isso já havia sido definido. Bem como o fato de que Quinn não queria engravidar novamente. Rachel entendia isso e aceitava também. Ela adoraria gerar o filho delas, mas as duas também haviam combinado que uma gravidez só seria pensada e planejada depois que o contrato da diva com seu show atual expirasse, o que demoraria mais um ano e meio para acontecer.

"Como você se sente sobre adoção?"

Rachel mordeu o lábio. "Como filha adotiva, ou como... mãe?"

Quinn sentou de repente e se apoiou em um braço para poder olhar dentro dos olhos de sua esposa. "Como mãe, Rach..." Ela umedeceu os lábios. "Eu queria.. eu.. Nós... Você gostaria de adotar uma criança?" Ela não permitiu que Rachel respondesse. "Eu gostaria. Eu... Aconteceu uma coisa hoje e eu... Gostaria... De adotar."

Rachel também se sentou, mais vagarosamente, e encarou a loira com a boca entreaberta. "Eu... Não sei..." Ela levou uma mão a nuca, tentando processar o que Quinn havia acabado de dizer. "O que aconteceu hoje?" Ela acabou perguntando, em parte por que queria saber e em parte por que não sabia o que responder para a assistente social naquele momento.

A loira respirou fundo e se empurrou para trás, acomodando-se contra a cabeceira da cama. "Você provavelmente não vai lembrar disso, mas há três anos, um pouco antes de a Valerie nascer, eu atendi um caso de um menino que perdeu a mãe no parto, não foi reconhecido por nenhum pai e acabou ficando sob a responsabilidade de um tio, que era o único parente vivo que conseguimos encontrar."

A morena franziu a testa, tentando lembrar, mas Quinn comentara sobre tantos casos no decorrer dos anos...

"O menino que nasceu sem uma perna por causa do uso de drogas da mãe durante a gravidez." Quinn tentou novamente.

A expressão no rosto de Rachel se suavizou, ela lembrava sim. "Aquele que você disse que tinha sorte por ter um tio que se dispusesse a assumir a guarda?"

A loira concordou, mordendo o lábio e olhando para os próprios joelhos por cima das cobertas.

"O que aconteceu?" Perguntou a cantora, colocando uma mão sobre a sua perna.

"O tio dele, Marcus, foi diagnosticado com câncer há duas semanas e é irreversível. Os médicos dizem que é um milagre que ele esteja vivo e consciente considerando-se o tamanho do tumor em seu cérebro." Ela umedeceu os lábios e levantou o olhar para encontrar o de Rachel. Os olhos castanhos a estudavam com tanto amor e compreensão e ela se sentiu tranquila para continuar, sabendo que sua esposa não iria interromper até que a história estivesse acabada. "Marcus está hospitalizado e os médicos não sabem dizer quanto tempo ele ainda tem de vida, mas o quadro é muito instável... Ele vai morrer." Ela sussurrou com um aperto na garganta.

"E o menino?" Perguntou Rachel em voz baixa, apertando um pouco sua perna.

Quinn fungou, percebendo que havia começado a chorar enquanto falava. "Ele está com uma vizinha." A morena se endireitou, se aproximando um pouco mais de sua esposa e a abraçando desajeitadamente. "A assistência social está tentando localizar um familiar que possa ficar com a guarda dele, mas até agora, ninguém apareceu. Ele está sozinho, mais uma vez."

"E o que vai acontecer com ele se não encontrarem ninguém e o tio vier a... falecer?" Rachel a soltou, mas manteve uma mão dela dentro das suas enquanto conversavam.

"Ele vai entrar no sistema, vai ficar no limbo em um abrigo ou orfanato até que alguém o adote." Ela fez uma pausa, secando as lágrimas em suas bochechas e tentando se acalmar um pouco. Aquela conversa a estava deixando angustiada e nervosa e ela odiava a sensação de aperto em seu peito... "A verdade é que, ele nunca vai ser adotado, Rachel." Ela respirou. "Ele não é mais um bebê e mesmo que fosse, é muito raro encontrar alguém que se disponha a adotar uma criança deficiente. Se ele entrar no sistema, não vai mais sair."

A morena fez que sim com a cabeça. Ela conseguia entender isso.

"É isso que eu... Eu queria... A gente podia..." Quinn fechou os olhos e apertou a mão de Rachel. "Eu quero adotar." Ela piscou os olhos abertos e analisou a expressão de sua esposa, mas não conseguiu encontrar nada além da compreensão de alguns minutos atrás. "Ele é... Nathan é um menino tão doce e inteligente e eu não estou dizendo que as instituições do governo não sejam boas, mas ter uma família é sempre muito melhor e eu acho que ele vai sofrer tanto se chegar a ir para um orfanato. Ele só tem 3 anos e já perdeu tanta coisa..."

Ela voltou a chorar silenciosamente e Rachel ficou de joelhos, afastando as cobertas e a abraçando, segurando-a perto de si. "Shh..." Fez ela, beijando sua testa. "Meu amor... Não precisa ficar assim." Ela murmurou, secando as lágrimas de Quinn e depositando beijos suaves em seu rosto e se demorando em seus lábios. "Não chora..." Ela sussurrou contra seu ouvido.

Elas ficaram naquela posição por um longo tempo, Rachel sentiu o corpo de Quinn relaxar contra o seu enquanto murmurava palavras reconfortantes e depois do que pareceram horas, a morena finalmente se afastou um pouquinho para poder encontrar os olhos esverdeados com os seus.

"Eu acho que nós vamos ter que conversar melhor sobre isso, meu amor..." Ela falou suavemente. "Não posso dizer que quero adotar agora sem nunca ter realmente pensado sobre isso. Eu quero uma família, você sabe disso, mas eu não esperava que isso fosse se concretizar tão cedo..."

"Eu.." Quinn limpou a garganta, tentando clarear sua voz. "Eu entendo. Eu não quero te pressionar a isso, mas adoção é algo que já tinha passado pela minha cabeça..."

"Não vou concordar ou discordar agora, mas eu..." Ela sorriu um pouquinho. "Eu gostaria de conhecer esse menino..."

...

No final de semana seguinte...

Rachel olhava pela janela do carro, tentando se localizar, mas sem realmente reconhecer a vizinhança aonde elas se encontravam. Ela conhecia Manhattan muito bem, mas o resto de NY não lhe era exatamente familiar. Quinn, por outro lado, dirigia sem pestanejar, dobrando em ruas que pareciam todas iguais até estacionar na frente de uma casa de tijolos no meio de dezenas de outras casas de tijolos.

"Você tem certeza que quer fazer isso?" A loira perguntou enquanto tirava o cinto de segurança.

A morena fez que sim e Quinn sorriu, se inclinando para o lado e depositando um beijo em seus lábios.

"Eu te amo." Ela murmurou e a cantora retribuiu o beijo com um sorriso.

Elas saíram do carro e foram recebidas na porta por uma mulher de idade que Quinn chamou de Sra. Grossman.

"Como ele passou a semana?" Perguntou a loira enquanto elas se encaminhavam para dentro.

"Bem... Eu o levei até o hospital na quinta e Marcus conversou com ele sobre ir embora, mas eu não acho que ele tenha entendido o que isso realmente significa." Respondeu a mulher.

"E Marcus? Algum sinal de melhora?"

"Não." Os olhos da Sra. Grossman ficaram tristes de repente. "Ele parece cada dia mais fraco... É uma pena... Um rapaz tão jovem..." Ela balançou a cabeça e finalmente percebeu que Quinn não estava sozinha. "Oh, você trouxe uma amiga? Essa é a psicóloga de quem você tinha falado?"

A loira sorriu e passou um braço pelos ombros de Rachel. "Oh, não, essa é Rachel, minha esposa."

"Olá." Cumprimentou a morena, estendendo uma mão em sua direção.

"Oh! Eu reconheço você! Já te vi na TV, naquele programa de música!" A mulher chacoalhou sua mão com olhos arregalados antes de olhar para Quinn. "Eu não sabia que você era..." Ela limpou a garganta. "Casada."

A loira sorriu sem mostrar os dentes e trocou um olhar com sua esposa, que respirava fundo.

"Quem é, tia Helen?" Uma vozinha veio do corredor, seguida por uma cabeça cheia de cabelos negros cacheados. "Quiiiiin!"

"Oi..." Quinn se abaixou para abraçar Nathan, que envolveu seu pescoço com um braço enquanto o outro carregava um macaquinho de pelúcia. "Como você está?" Ela perguntou, se afastando e passando uma mão por seus cabelos.

"To bem. Olha!" Ele levantou o bichinho e a loira sorriu.

"Quem é o seu amigo?" Ela perguntou, apertando a barriga do macaco.

"O tiu Macus me deu ontem! Ele disse que o Mik vai cuida de mim enquanto ele tivé longe..." Explicou o menininho, abraçando seu brinquedo. "Se a gente for passea hoje, eu posso leva o Mik junto?"

"Pode, pode sim..." Ela sorriu, mas o sorriso não chegou aos seus olhos, que ardiam enquanto ela tentava controlar a vontade de chorar. "Escuta, hoje eu trouxe uma pessoa pra ir brincar com a gente!" Ela tentou soar animada, apoiando as mãos nos ombros dele.

"Aquela moça lá?" Ele perguntou, olhando para Rachel , que ainda estava perto da porta.

"Mmmhum... O nome dela é Rachel e ela é muuuito especial pra mim... Acho que você vai gostar dela." Quinn falou baixinho.

"Ela vai se minha amiga também? Que nem você?" Ele encostou o indicador na ponta do nariz dela.

A loira fez que sim com a cabeça e se levantou, pegando-o no colo. "Diz pra ela qual é o seu nome." Ela pediu para o menininho quando eles se aproximaram de Rachel.

"Nate."

"Oi Nate, eu sou a Rachel..."

"Eu já sei disso!" Exclamou ele. "Tu vai brinca com a gente hoje!"

Rachel riu e olhou para sua esposa. "Eu vou."

"Aonde a gente vai, Quiiiinn? A gente vai vê o tiu Macus de novo?"

"Hoje não, Nate. Acho que a gente vai pro parque..."

Os olhos dele se iluminaram. "É mesmo? O parque grandão? Posso leva uma bola também?"

Quinn fez que sim e ele se contorceu em seus braços.

"Cuida do Mik pra mim?" Ele perguntou para Rachel, lhe entregando o macaquinho de pelúcia antes de ir buscar uma bola em seu quarto. A morena sentiu seu coração acelerar quando aceitou o bichinho.

"Que horas vocês voltam com ele?" A Sra. Grossman perguntou de repente, fazendo com que as duas mulheres lembrassem de sua existência.

"No final da tarde." Respondeu Quinn. "Obrigada por me deixar pegar ele, Sra. Grossman."

"Oh, não é um problema... Eu agradeço pela folga." Ela lhes ofereceu um sorriso forçado e mais uma vez as duas mulheres trocaram um olhar.

"Então?" Murmurou Quinn, se aproximando de sua esposa. "O que você achou dele?"

"Ele parece ser mesmo um amor..." A morena comentou, sorrindo brevemente e abraçando o macaquinho de pelúcia distraidamente.

Alguns segundos depois, Nathan voltou com um boné na cabeça e uma bola embaixo do braço. "To pronto!"

...

O dia estava claro e ensolarado e o Central Park não poderia estar mais convidativo. Rachel se encontrava sentada na grama como índio e os óculos de sol empurrados para cima da cabeça. Ela acariciava o pelo sintético do bichinho de pelúcia enquanto observava sua esposa jogar bola com Nate.

Tanto Quinn quanto o menininho pareciam tão felizes. A loira fingia chutar errado as vezes só para faze-lo rir... Ver o modo como Quinn interagia com Nathan fazia seu peito se aquecer e seu corpo todo vibrar em uma espécie de ansiedade boa, tipo aquela que se sente quando se está apaixonado... Era como se, de alguma forma, seu corpo já tivesse registrado que aquela era sua família, mesmo que seu cérebro ainda quisesse racionalizar sobre isso.

"A gente podia ter trazido o Cetim..." Comentou Quinn, sentando ao seu lado e a trazendo de volta de seus devaneios.

"Quem é Cetim?" Perguntou Nathan, parando na frente delas e coçando sua perna.

"Cetim é o nosso filho..." Brincou Rachel.

"Vocês tem um bebê?"

"Ele é um cachorro." Explicou Quinn.

"Ahhh..." Fez ele, ainda coçando a perna. "Que legal!"

"Está tudo bem?" Perguntou a loira, estendendo uma mão para a perna que ele coçava.

"Ta doendo um pouquinho." Murmurou ele, fazendo uma careta e apertando o tecido da calça.

"Deixa eu ver?" Pediu Quinn.

Ele fez que sim e ela levantou a calça que ele usava, revelando sua prótese, o que fez Rachel morder o lábio. Ela havia esquecido completamente desse detalhe.

"Sabia que eu sou um pirata, Rachel?" Nathan perguntou enquanto Quinn ajeitava a tira que estava incomodando.

"É mesmo?" Perguntou a morena, um pouco surpresa pelo comentário.

"Sim, o tiu Macus diz que piratas são meio maus, mas eu sou um pirata bonzinho..."

"Pronto. Melhor?" Quinn abaixou a calça e acariciou sua mãozinha.

Ele fez que sim com a cabeça e sentou na frente delas com as pernas abertas. Eles comeram sanduiches que a loira havia feito de manhã e brincaram mais um pouco antes de voltarem para a casa da Sra. Grossman.

"Vocês vão vim de novo aqui?" Perguntou ele quando elas estavam se despedindo.

"Você quer que a gente venha?" Quinn se abaixou para abraça-lo e beijou sua têmpora.

"Eu quero." Ele respondeu. "E o Mik também." Ele pegou o macaquinho das mãos de Rachel e abraçou suas pernas espontaneamente. "Tchau Rachel!"

A morena encostou a ponta de seus dedos em sua cabeça e um sorriso involuntário se formou em seus lábios.

...

Segunda-feira seguinte – noite.

Quinn chegou do trabalho no início da noite sentindo-se feliz. Ela, ao contrário do resto da população, amava segundas feiras. Ela riu quando Cetim a recebeu alegremente e se abaixou para brincar um pouco com o cachorro antes de realmente entrar no apartamento. Claro que seu amor pelas segundas não era gratuito, o motivo por trás dele era o mesmo que a vinha fazendo feliz nos últimos anos.

Rachel.

Segunda feira era dia de portas fechadas para o teatro e isso fazia daquele dia o único da semana em que sua esposa estava em casa quando ela chegava. Ela franziu o cenho ao entrar na sala e encontra-la vazia.

"Aonde está a sua mãe, ein?" Ela perguntou para o cachorro que ainda latia e pulava em volta de seus pés. "Cetim, busca a mamãe!" Ordenou ela, apontando para a direção geral das escadas e vendo Cetim correr enlouquecidamente para o andar de cima, parando no topo das escadas e latindo uma vez, como que dizendo para ela vir logo.

Ele trotou até a porta do quarto delas e cheirou por um segundo antes de partir para a porta do outro quarto, aquele que ainda permanecia vazio. Cetim começou a abanar o rabo e arranhar a porta e Quinn arqueou a sobrancelha. Ela e Rachel raramente entravam no quarto 'amarelo', como elas costumavam chamar, apenas para limpar quando dava tempo.

A assistente social abriu a porta silenciosamente e encontrou sua esposa sentada no chão embaixo da janela, parcialmente escorada no grande urso de pelúcia que morava lá dentro. Cetim correu em sua direção e deitou de barriga para cima ao seu lado, fazendo a morena rir.

"Por que você está se escondendo aqui?" Perguntou Quinn, entrando no quarto e apoiando uma mão na cintura.

"Não estou me escondendo..." Respondeu Rachel, olhando para seu cachorro enquanto coçava sua barriga. "Só pensando..." Ela sorriu suavemente e levantou os olhos para sua esposa.

A loira soltou sua bolsa perto da porta e se aproximou da cantora, sentando como índio na sua frente e apoiando uma mão no joelho dela. Rachel se inclinou para frente e beijou seus lábios brevemente.

"Como foi o seu dia?"

"Foi bom..." Sorriu Quinn, umedecendo os lábios. "Muitas visitas hoje, muita gente nova buscando o nosso atendimento e isso é muito bom." Ela suspirou e seus ombros caíram um pouquinho.

"E o que não está bom?" Questionou Rachel, reconhecendo a linha de preocupação entre as sobrancelhas da assistente social.

Quinn riu e chacoalhou a cabeça. "Eu realmente não sei como você faz isso..."

"Isso o que?"

"Você sempre sabe quando tem algo me incomodando..."

"Bem, nós moramos juntas há três anos e nos conhecemos desde a adolescência, eu meio que te conheço muito bem, você não acha?" Sorriu a cantora, colocando a mão sobre a dela, que ainda repousava em seu joelho.

"Eu morei com Brittany e Santana por alguns anos e depois com Kurt e nenhum deles consegue me ler como você..." Ela virou a mão para cima e deixou que Rachel acariciasse sua palma.

"Então, talvez eu seja especial..." A morena deu de ombros. "E acho que nenhum deles te ama tanto quanto eu. Amor é um fator relevante."

"Mmhumm..." Concordou a loira, beijando as costas de sua mão. "Por causa da procura excessiva, nós vamos precisar aumentar o numero de voluntários e isso significa que vamos precisar divulgar mais o projeto, ou seja, a prefeitura precisa liberar verba para isso." Ela tamborilou os dedos na palma da mão de sua esposa. "Vamos ter reuniões com pessoas importantes na semana que vem..."

"Huumm.. Vai dar tudo certo. Você ama o seu trabalho, sei que as pessoas importantes vão ficar felizes em ajudar com o que for preciso."

"Não é tão simples... As pessoas importantes são consideravelmente restritas quando o assunto é dinheiro."

"Eles já negaram alguma vez?"

"Não, mas nunca pedimos uma quantia tão significativa."

"Eu tenho certeza que você vai dar um jeito de conseguir isso."

"Espero que sim..." Elas trocaram um sorriso e Cetim emitiu um grunhido de tédio antes de sair correndo pelo apartamento em busca de seu osso. "Mas e você? Não ficou fechada aqui dentro o dia inteiro, não é mesmo?"

"Na verdade sim... Eu estava pensando."

"Posso saber no que?"

"Sabe o meu primo Ted?"

"O que mora em Jersey?"

Rachel fez que sim.

"O que tem ele?"

"Ele é arquiteto."

"Humm..."

"Ele trabalha com interiores."

"Humm.." Quinn não sabia aonde aquilo ia chegar, então apenas concordava vagamente com o que sua esposa dizia.

"Eu falei com ele hoje. Sobre esse quarto." Ela apertou a mão da loira na sua. "Na verdade, ele veio aqui no final da tarde, tirar algumas medidas."

A assistente social franziu a testa. "Medidas? Por quê?"

Rachel abriu a boca para responder, mas a fechou em um sorriso, analisando o rosto de sua esposa por um momento antes de puxá-la pelo braço. Quinn entendeu o que ela queria e se acomodou ao seu lado, com as costas contra o urso de pelúcia.

"Lembra quando estávamos montando o apartamento?" Começou Rachel, descansando a cabeça em seu ombro e entrelaçando seus dedos aos da loira. "A gente ficou imaginando como seria ter um bebezinho aqui, onde ficaria o bercinho e a cadeira de balanço para amamentar..."

Quinn sorriu e fez que sim, olhando em volta e vendo os moveis se materializarem ao seu redor, como acontecia sempre que ela entrava naquele quarto.

"E eu disse que queria uma menininha ou menininho de olhos dourados e cabelos castanhos." A loira fechou os olhos e imaginou sua esposa sorrindo com um bebê no colo. Ela sabia que Rachel estava imaginando a mesma coisa. "Eu ainda quero isso. Mas..."

O tom de seu 'mas' fez a assistente social abrir os olhos. "Mas?"

"Eu entrei aqui hoje de manhã para abrir a janela e quando percebi já estava sentada bem aqui... E de repente, imaginei esse quarto pintado de verde." Ela estendeu a mão em direção a parede oposta, como se estivesse apagando mentalmente o amarelo que a preenchia. "Sábado, Nathan me contou que verde é a cor que ele mais gosta..."

Quinn se endireitou ao ouvir isso e virou a cabeça lentamente, olhando para sua esposa com um brilho surpreso no olhar.

"E ao invés de um berço," Continuou Rachel, apontando para o canto do quarto. "a gente podia colocar uma cama..." A morena sentiu a mão da assistente social apertar a sua. "Com aquele edredom cheio de bolas de futebol e futebol americano e tênis e basquete que vimos no shopping na semana passada." Ela olhou para o chão em frente aos seus pés e cutucou a sapatilha vermelha de Quinn com a ponta de seu pé descalço. "Eu vi na internet um tapete que imita um campo de futebol... Acho que ele iria gostar disso."

A loira respirou tremulamente e Rachel levantou os olhos. Os de Quinn brilhavam em um turbilhão de verde e dourado que fez sua cabeça ficar um pouquinho mais leve e seu estomago dar um pulo.

"Eu te amo tanto..." Murmurou Quinn, abrindo um grande sorriso e segurando o rosto de sua esposa com uma mão, acariciando sua bochecha suavemente.

"Ele é uma criança tão doce..." Comentou a morena em um sussurro, encostando a testa na da loira. "Ele merece uma família que o ame." Ela sorriu. "Você já o ama. E eu sinto que já estou aprendendo a amá-lo também..."

Quinn não sabia o que dizer. Ela não esperava que Rachel fosse concordar com isso tão cedo, mas não poderia estar mais feliz ao ouvir aquelas palavras. Ela realmente amava Nathan, da mesma forma como amava todas as crianças que atendia, mas havia algo nele... Ela não sabia explicar o que era, mas esse 'carinho a mais' existia desde a primeira vez em que o vira, ainda no hospital, no dia em que ele nasceu há três anos atrás.

"Eu te amo tanto..." Ela repetiu, sentindo que dizer apenas uma vez não chegava nem perto de expressar o quanto ela realmente amava a mulher ao seu lado. Os olhos escuros brilhavam em sua direção quando ela se inclinou um pouquinho para baixo em um beijo que a consumiu por inteiro. "Nós vamos adotar!"

Rachel concordou, beijando seu sorriso algumas vezes e acariciando sua bochecha. "Nós vamos começar uma família..."

...


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Notas finais do capítulo

Falta só mais um...

O que vocês acharam? Por favor, comentem...

(Querem ver um pouco de Brittana e Valerie no próximo capítulo? E a Rachel grávida?)

Abraços, A.