A Filha de Poseidon e o Filho de Hades escrita por Rocker


Capítulo 27
Encontrar as Caçadoras não foi como imaginei


Notas iniciais do capítulo

[REESCRITO]



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Encontrar as Caçadoras não foi como imaginei

Exatamente cinco dias depois, estávamos descendo do trem diretamente na estação ferroviária de Las Vegas. Assim que conseguimos falar com Percy, ele correu para mandar uma Mensagem de Íris para Annabeth e para Bradley. Pediu para que nos encontrássemos todos em frente ao Hotel e Cassino Lótus, pois havia suspeitas de que talvez fosse lá que os instrumentos estivessem. E era para lá que estávamos nos dirigindo agora.

– Vocês se lembram o caminho, não é?! – eu perguntei pela vigésima quando vi estávamos perdidos. Pela vigésima vez.

– Sei exatamente por onde estou indo. – insistiu Percy. De novo.

– Cara, você tem certeza de que não está perdido?! – reclamei.

– Quase certeza. – ele disse, coçando a cabeça e fazendo Nico rir ao meu lado. – Relaxa, estamos indo certo.

E o pior era que ele tinha razão. Em poucos minutos estávamos em frente a um luxuoso hotel, que ficava em um beco, com uma placa de neon escrito Hotel e Cassino Lótus. Sentia Nico ficando um pouco tenso ao meu lado, segurando instintivamente minha mão. Eu conseguia imaginar o quão difícil estaria sendo para ele.

– E agora é só... – eu ia perguntar, mas fui interrompida por uma voz feminina.

– Esperar?

Virei-me e dei de cara com pelo menos vinte garotas de diferentes idades juvenis, com roupas típicas de caça antiga e arcos e flechas. Estavam cercados por lobos brancos, que eram o símbolo da deusa da caça Ártemis. A que se postava mais à frente - dezesseis anos, cabelos negros curtos e repicados - tinha uma tiara com um brilho prateado do luar. Não queria que fossem, mas à minha frente se encontravam as famosas Caçadoras de Ártemis.

– Thalia! – Percy disse animado, indo à frente para abraçá-la. Surpreendi-me que a garota o abraçara, mesmo que rapidamente.

– Oi, Percy! – ela disse, sorrindo. Quando se virou para Nico, porém, seu olhar se tornou triste e arrependido. – Olá, Nico...

– Thalia. – Nico disse duramente, com apenas um aceno de cabeça respeitoso e a menina Thalia abaixou o olhar.

Foi então que eu associei: essa Thalia era a mesma Thalia da história do Pinheiro que protegia os limites do Acampamento. Lembrei-me também de nossa conversa de dias antes, quando ele me contara que a irmã Bianca entrara para a Caça pouco antes de morrer. Devia ser extremamente doloroso para Nico, então eu segurei fortemente sua mão, procurando passar-lhe confiança.

– O que te traz aqui? – perguntou Percy.

– Estávamos esperando que vocês chegassem. – Thalia respondeu.

– Por quê? – eu perguntei, chamando a atenção de todas as Caçadoras para mim.

– Hera apareceu para conversar comigo, sem que a Lady Ártemis estivesse conosco e me deu uma boa ideia de uma nova aquisição. – ela me disse, sorrindo abertamente, e eu fiquei desconfiada do que a Vaca-mor iria querer. – Ela queria que eu fizesse a proposta a você para se juntar à Caçada.

Eu fiquei calada, surpresa, e Nico se livrando fortemente da minha mão.

– Ronnie, você não pode! – ele disse rudemente, segurando-me pelos ombros e me balançando. Eu via seu olhar desesperado. – Você não pode aceitar!

Soltei-me rapidamente dele e disse com uma voz de falsa calma. Aquela situação toda já estava me deixando irritada e ele ainda vem me dizendo o que fazer e o que não fazer?!

– Se eu quiser aceitar, eu aceito. – disse, numa voz dura e firme.

Ele me olhou de forma magoada, que quase me fez voltar atrás. – Ótimo, aceita então. – ele disse tristemente e saiu andando para fora daquele beco.

Eu queria muito correr atrás dele, mas eu era orgulhosa demais para isso.

– Então vai aceitar? – perguntou Percy, parecendo decepcionado.

– Eu não sei. – realmente não sabia, depois de tudo o que eu pensei no trem, já não sabia de mais nada. Posso ter admitido amar Nico, mas nada me garantia que ele também me amava. – Posso pensar e dar a resposta depois? – perguntei a Thalia.

Ela assentiu. – É claro. Temos barrancas montadas ali no final do beco, deixamos a penúltima reservada para você.

– Quando eu tiver a resposta, como te encontro? – perguntei.

– Primeira barraca. A maior delas. – ela sorriu docemente para mim, o que eu achei estranho, já que ela me parecia bastante durona.

Agradeci e fui quase me arrastando até a tenda que ela indicou. Ela era comum, cabendo apenas duas ou três, e isso me fez imaginar se ela também esperava os outros semideuses que vinham na mesma missão que nós – afinal haviam várias barracas. Mas isso foi o que menos me importou. Estava preocupada demais com Nico para me importar com isso agora.

~*~

Quando abri os olhos, tive certeza que chorara por horas até dormir. Levantei-me do colchão inflável, ainda meio sonolenta. Só então que percebi que havia mais alguém ali.

– Dormiu bastante, dorminhoca. – Evanlyn me disse e eu gritei. – Autch! Não precisa gritar.

– O que está fazendo aqui?! – perguntei, confusa.

– Não era para nos encontrarmos aqui? – ela perguntou preocupada. Mas uma preocupação meiga.

– Sim, mas... – a coisinha fofa me interrompeu.

– Então, chegamos faz poucas horas e a Thalia Grace me mandou para essa barraca, falando que eu e Lannah ficaríamos com você.

– Cadê a Lannah, então?

– Conversando com o Percy, não me pergunte o que é. – ela disse e eu revirei os olhos. Ela riu baixinho, mas logo sua expressão se tornou preocupada. – Agora pode me explicar porque eu vi Nico di Angelo chorando, pela primeira vez na minha vida?!

Paralisei. Ele estava chorando?!

Levantei-me o máximo que podia naquele pouco espaço que a barraca tinha, para tentar sair, mas fui impedida.

– Melhor não, Ronnie. – ela ainda segurava meu braço, esperando que eu me acalmasse, o que demorou um pouquinho. – E agora pode me dizer o que aconteceu?

Então eu contei. Desde o sonho e quando eu disse sobre ele ao Nico até o segundo em que eu acordei sonolenta na barraca depois de tanto chorar.

– Amiga, você já percebeu o quanto ama ele, não é? – ela disse receosamente.

– Desde o momento em que o vi na enfermaria da Casa Grande. – eu disse e ela sorriu, provavelmente também se lembrando da ocasião.

– Então deve saber que ele também nunca amou nenhuma outra garota a não ser você, não é? – ela disse, ainda sorrindo, e eu a olhei confusa e atônita. – Se lembra de quando eu desejei felicidades a vocês, depois de ter previsto o futuro?

– Como não esquecer daquele vexame? – ironizei e Evanlyn riu.

– Pois saiba que esse futuro não mudou e só existe uma maneira de torná-lo realidade. – ela disse, mandando-me uma piscadela.

– Você acha que ele realmente me ama?! – perguntei, ainda meio receosa.

– Mais do que amou qualquer outra pessoa na vida dele. – ela disse tão decididamente que até me comoveu.

Sai então da barraca, decidida, sem nem me despedir de Evanlyn. Iria falar com Thalia sobre minha decisão. Mas o que eu vi assim que sai, um pouco longe da minha barraca, foi de cortar o coração. Nico estava sentado num canto, tristonho e com os olhos inchados. Segurava alguma coisa entre os dedos, mas pela distância eu não conseguia ver. Engoli em seco e respirei fundo, antes de me encaminhar até a primeira barraca. Quando passei por ele, percebi que ele segurava dois anéis quase idênticos. Levantou seu olhar magoado e decepcionado até mim, mas logo o desviou de volta para os anéis. Suspirei e fui até a barraca de Thalia.

– Já tem sua resposta? – ela me pergunta assim que me permitiu a entrada.

– Tenho sim, mas eu me recuso, sinto muito. – eu disse sinceramente, evitando olhar em seus olhos azuis elétricos.

– Imagino que seja por causa do di Angelo. – ela disse em uma voz risonho e eu a olhei.

– Está tão na cara assim? – perguntei e ela assentiu.

– Já havia feito essa proposta a você uma vez, e a tinha recusado também. Não achei realmente que depois de conhecer ele iria aceitar. – ela disse, deixando-me confusa. – Agora vai, antes que ele faça alguma besteira.

Sorri, agradecida, e corri para fora da barraca. Assim que me viu, ele veio pisando forte até mim e com uma expressão raivosa no rosto. Acho que ele interpretou mal o meu sorriso gigantesco.

– VOCÊ NÃO DEVIA TER ACEITADO! – ele gritou e eu fiquei tão alarmada que não consegui abrir a boca. Eu já podia ver as Caçadoras e os semideuses se juntando à nossa volta. – VOCÊ SABE O QUANTO EU PERDI POR CAUSA DESSAS CAÇADORAS! VOCÊ NÃO PODIA TER FEITO ISSO!

– Nico, eu... – tentei dizer alguma coisa, mas ele me interrompeu.

– Você não sabe o quanto eu te amo e o quanto moveria cada pedra nesse mundo por você?! – ele perguntou, em um tom de voz mais baixo, segurando meus quadris levemente. Mas apenas pelo contato eu sentia que ele estava tremendo. Ele estava chorando e ver aquelas lágrimas vãs caindo pelos olhos dele me cortava o coração.

– Ei, ei, ei! – chamei sua atenção, antes que ele desse outro surto. Segurei seu rosto entre minhas mãos, forçando-o a olhar em meus olhos, e limpei o rastro de lágrima que havia ali. – Eu também te amo, seu panaca.

Eu sorri, mas ele me olhou confuso. – Mas você...

– Eu não aceitei... – interrompi-o. – Por você.

Nico sorriu e aproximou seu rosto do meu. Seus lábios tocaram os meus e eu rezei para que nada e nem ninguém interrompesse. Eu estava em êxtase completo, com um dragão se remexendo no meu estômago. Tantas vezes eu sonhara com esse momento – suas mãos em minha cintura, me puxando para mais perto, minhas mãos em sua nuca, e nós dois nos beijando como se não houvesse uma multidão de semideuses aplaudindo. Quando, porém, sua língua se enroscou na minha, alguma coisa forte no fundo da minha mente se remexeu e um flash se fez presente na minha mente, puxando-me pelo passado.


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