Aoi Tori escrita por SatineHarmony


Capítulo 3
Tristeza




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"Vou correr ao abraçar a minha tristeza

Eu não posso voltar para o seu lado novamente"

MIWA, chAngE

Momo sentou-se na cadeira de madeira singela que ficava em frente à mesa do escritório do capitão da quinta divisão. Do outro lado da escrivaninha estava a cadeira giratória com estofado de couro, imponente.

Hinamori nunca sentara naquela cadeira. Ela se lembrava de como Aizen-taichou postava-se ali, adquirindo uma postura de liderança, competência e poder. A garota ainda era capaz de imaginá-lo lendo a papelada do esquadrão, um sorrindo aparecendo em seus lábios ao ver Momo parada na soleira da porta. Entre, ele diria. Esse também é o seu escritório, Hinamori-fukutaichou, ele daria ênfase ao título de Momo.

A shinigami baixou a cabeça, um suspiro de pesar escapando de sua boca. Não, tudo aquilo fora uma atuação, não significara nada para o homem de cabelos e olhos cor de chocolate. Momo ergueu a mão, pegando um papel em branco que estava em cima da mesa. No ímpeto amassou-o, tentando descontar toda a sua raiva nele.

Apoiou os cotovelos na madeira de cedro da escrivaninha, sua cabeça caindo nas suas mãos, a exaustão forçando os seus olhos a fecharem-se. Ela não dormira nada na noite anterior, pensando em como era estúpida por ter que cursar novamente a Academia Shinigami para não perder o seu atual cargo.

Ela observou os papéis organizados sobre a mesa com olhos cansados. Hinamori precisava revisar diversos relatórios e assinar comprovantes do orçamento da quinta divisão, mas pela primeira vez em sua vida ela estava sem vontade de fazer a papelada. Aquilo chegava a ser engraçado, de certa forma. Ela se lembrava de passar horas e mais horas junto com Hitsugaya lendo montanhas de documentos, com um largo sorriso no seu rosto.

Momo encostou as costas no apoio da cadeira, sua cabeça pendendo para trás enquanto sentia o cansaço atravessar o seu corpo em ondas. O seu amor por papelada nunca seria maior que o de Toushiro.

A expressão que ele fazia quando assinava os papéis era encantadora. Era o único momento em que ele não franzia as sobrancelhas, podendo, assim, observar melhor o seu rosto. Aqueles olhos eletrizantes. O cabelo impecavelmente branco em contraste com a sua pele.

Hinamori correu seus dedos por entre os fios do seu cabelo, suspirando. Deus, aquele era um grande dilema. Tudo o que ela queria era ficar sozinha. Ao ficar no escritório, nenhum dos oficiais da divisão se aproximavam, entendendo a mensagem. Eles sabiam como Momo era reservada, e por eles serem tão agradáveis que ela se dava ao trabalho de lutar para permanecer-se no seu cargo.

Mas parecia que ela nunca estava satisfeita. No meio de uma multidão, tudo o que ela desejava era ficar em paz. Uma vez sozinha, todas aquelas memórias dolorosas vinham a tona, machucando-a. Momo era honesta consigo mesma, e não negava que desejava ficar com Hitsugaya — algo nem tanto errado, uma vez que ela sempre apreciara a presença do garoto -, mas Hinamori simplesmente não aguentava ficar próxima a pessoa que cravara uma espada nela, depois de passar vários anos "protegendo-a".

Ela estava começando a compreender Kira cada vez mais, e agora se arrependia por, desde o início da sua vida, não ter sido uma pessoa de baixo astral feito ele. Porque cada vez que ela forçava um sorriso, ela sentia como que uma faca atravessasse o seu coração. Momo sabia que fingir não levaria a nada, mas ela realmente não estava pronta para enfrentar isso agora. Ela se deprimia com o pensamento de ter desperdiçado décadas de sua vida dedicando-se a um homem que no final a traiu.

Uma lágrima solitária escorreu do canto do seu olho esquerdo, e Hinamori não ergueu a mão para enxugá-la. Invés disso, levantou-se, saindo do escritório e indo em direção a sala ao lado — o quarto de Aizen.

Ele caminhava pelas ruas de Seireitei sem um destino definido. Não havia uma alma viva presente, devido ao tardar da hora. Mas ele não tinha problema algum com isso — ele apreciava a solidão da sua própria forma, sabendo quando esta era mais adequada. Quem dera se não fosse assim somente consigo.

Suspiro. Hitsugaya parou de andar, sua fisionomia transformando-se completamente. Antes, seu rosto estava inexpressivo, mas agora, sem ninguém presenciando a sua fraqueza, ele deixou a tristeza desenhar-se na sua face.

Com uma súbita decisão, seus joelhos tencionaram e ele buscou impulso, pulando silenciosamente no telhado da residência mais próxima. Continuou assim, passeando pela cidade dos shinigami, pousando nas casas sem emitir um som sequer.

Ela observou o cômodo da soleira da porta. Sua cabeça não parava de enviar-lhe informações como: Foi ali que você dormiu naquela noite, ou Era ali que ele estava naquele dia. O luar atravessava as cortinas que cobriam a janela. Todos os móveis tinham sido retirados, mas Momo era capaz de apontar e dizer a localização de cada um sem muito esforço.

Tomando coragem, Hinamori atravessou em cinco longos passos o quarto, indo em direção à sacada do mesmo. A arquitetura dos seus aposentos podia ser simples, mas ela sabia que o seu capitão gostava de coisas suntuosas, e aquela sacada fora construída especialmente para ele.

— Aizen-taichou... — começou ela, olhando a Lua, que brilhava ao longe. Hoje era uma noite cheia de estrelas, o satélite natural não estava solitário, diferente da garota que agora começara a falar sozinha. — Argh, hoje foi... — passou novamente as mãos pelos cabelos. Exasperada, num movimento rápido desfez o seu coque, o pedaço de tecido verde-claro caindo em suas mãos enquanto o seu cabelo negro formava uma cortina espessa nos dois lados do seu rosto. — Você realmente ferrou a minha vida.

O vento ia de encontro ao seu rosto, e Toushiro adorava essa sensação. Especialmente tarde da noite, quando o ar estava mais frio. Ele aceitava aquela familiaridade de braços abertos, sentindo-se enfim confortável.

Ele já aproximava-se dos prédios da sua divisão, e temia que Matsumoto estivesse dormindo novamente no sofá do escritório, esperando-o voltar do seu passeio noturno diário.

Hitsugaya pousou de modo elegante na beirada do telhado do prédio do seu esquadrão. Ele era capaz de escutar a respiração ritmada e calma de sua tenente.Humf, ela nunca vai aprender?, pensou, um sorriso divertido desenhando-se nos seus lábios.

A garota continuou o seu desabafo:

— Por sua causa eu voltei para a Academia Shinigami, sabia? Que vergonha. Isso... Isso drenou cada pingo do meu orgulho. Eles acham que eu não sou capaz de manter o meu cargo como tenente, acredita? Claro que você acredita — balançou a cabeça, contrariando a si mesma -, você é o shimigami mais consciente da minha fraqueza. Por que diabos você me escolheu como tenente? Quero dizer, eu não sou boa em Zanjutsu, e meu shunpo é péssimo. Pior de tudo, meu Kido, que na teoria é o meu ponto mais forte, não foi capaz de derrubar nem uma fracción na guerra de inverno. — suspirou.

Andou distraidamente pela sacada, sentindo a ponta dos seus cabelos roçarem nos seus ombros. Ela adorava essa sensação, mas por conselho de Aizen ela os prendia naquele coque que a deixava com um ar ainda mais infantil.

Ele já tinha feito menção de pular em direção à varanda do prédio, quando escutou, ao longe, uma voz que reconheceria em qualquer lugar.

Momo.

As palavras ditas eram difusas, Toushiro não conseguia compreendê-las, mas, sem sombra de dúvida, aquela era a voz dela. Da pessoa que o conhecia melhor do que ninguém. Mesmo estando tão longe, ele conseguia captar a tristeza na sua voz. Melancolia, dor, pesar.

Sem saber direito o que estava fazendo, desistiu da ideia de voltar para o seu escritório, pulando mais alguns telhados até parar na área da sexta divisão. Camuflando a sua reiatsu, parou ali, com os pés equilibrados entre as telhas, observando a jovem tenente que admirava distraidamente a Lua. Ele viu lágrimas brilhantes escorrerem dos seus olhos, mas o seu cabelo solto atraiu sua completa atenção.

O que ele mais amava em Hinamori não era o seu rosto delicado, ou a cor de sua boca em contraste com a sua pele. O que Toushiro mais admirava em Momo eram os seus cabelos.

Eles o cativavam, pela sua cor indefinida — às vezes ele pensava que eram negros, em outros momentos, castanhos -, pela textura semelhante à seda, e pela sua beleza natural. Hitsugaya não se conformava com o fato de ela insistir em prendê-los — sim, de fato eles podiam atrapalhar durante uma luta, mas isso nunca parecera irritar Matsumoto e as outras.

— Eu vou conseguir o meu esquadrão de volta, você verá. Eu posso sobreviver sem você. — um sorriso amargo brotou em seus lábios. — Eu irei agüentar Toushiro e a academia e me tornarei uma shinigami melhor. — engoliu em seco antes de continuar: — Até mais, Aizen. — ela mordeu a própria língua para não dizer o "taichou".

Então ele finalmente conseguiu distinguir o que ela estava falando:

— Espero que você esteja feliz. Espero que esteja muito feliz em estar aprisionado pelo resto da eternidade. Parece que as coisas não saíram como você planejou, hm? — havia amargura em sua voz.

Os olhos de Toushiro arregalaram-se diante da confissão. Ele chegou a dar alguns passos para trás, tentando recuperar o equilíbrio.

— Eu simplesmente odeio tudo isso. — suspirou. — Eu estou assim por sua causa. E por quê? Por quê, Aizen-taichou? — o garoto sentiu calafrios ao escutar o nome do capitão ser dito pela sua amiga. — Até mais. — falou num tom que implicava que ela passara muito mais tempo lá, conversando com o luar.

Com isso, Hinamori deu as costas para o céu negro. Alguns prédios mais a frente, no telhado da construção mais alta, um certo capitão observava a garota voltar para os seus aposentos. Este ergueu os olhos, e, com um suspiro, passou uma das mãos pelo cabelo, que refletia o brilho prateado da Lua.

Hitsugaya observou, perplexo, enquanto a garota virava-se, seus cabelos movimentando-se com o som, e adentrava nos aposentos do seu antigo capitão.

Em silêncio, ele deu as costas para a cena que acabara de ver — sua amiga, no seu momento mais frágil, expondo a sua fraqueza para todos — e enquanto pulava os telhados, voltando para o seu esquadrão, ele tentou ignorar a umidade que insistia em aparecer nos seus olhos.

— Está tudo bem, taichou? — perguntou Matsumoto, observando, preocupada, a expressão no rosto do seu capitão. À parte, a loira se irritava com isso. Todas as noites, ele saía do escritório na mesma hora sem dar nenhuma explicação, e sempre voltava uma aura de melancolia envolvendo-o.

Hitsugaya ergueu os olhos dos papéis que estava verificando, e o olhar no seu rosto continha tanta dor que foi o suficiente para fazer Rangiku calar-se.

— Volte ao trabalho. — disse, numa voz áspera.


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Notas finais do capítulo

Postei direitinho na sexta como tinha prometido T.T