Senti alguma coisa em meu coração quando ia apertar o gatilho. Os pelos da minha nuca se arrepiaram, parecia que alguma coisa me impedia de me matar.

Abaixei a arma.

Olhei em volta, confusa.

Ignorei isso. Balancei a cabeça.

Dessa vez, iria mesmo atirar.

Mas outra coisa me interrompeu.

Não algo dentro de mim, mas fora.

Me agarrou por trás, tirando a arma da minha mão e jogando-a longe.

– Estava com medo de que você pensasse em fazer isso... – a voz baixa de Edward no meu ouvido me fez estremecer.

Eu não falava nada. Estava sentada no chão, focada num ponto qualquer na parede. Longe daquele mundo.

– O que você estava fazendo...? Por que pensou nisso?

Eu ainda estava olhando para o mesmo ponto, chorando, e tremendo.

– Eu acordei com seus gritos, Rose. O que aconteceu...?

Percebi que Edward pegou a filmadora, que ainda estava com a imagem de Alice quase decapitada, e de nossas mães mortas.

– Meu Deus... – seu corpo, colado no meu, me permitia perceber que ele começava a tremer agora. Respirou fundo. – Até que ponto isso chegou...?

Ele ainda estava agarrado em mim. Senti pingos caindo na minha nuca.

Edward estava chorando.

Não tanto quando eu, mas estava quase descontrolado.

Me surpreendi por isso. Só o vi chorar duas vezes até aquele momento. Mas aquilo era pior.

Ele tentou conter as lágrimas, mas fez dessa tarefa uma coisa impossível.

Ele me abraçou forte, me fazendo virar de frente para ele.

Seu ombro ainda estava machucado, mas ele parecia não se importar com a dor. Afagava minha cabeça, enquanto eu o apertava contra meu corpo. Tentando fazer com que isso diminuísse nossa dor.

Ele tremia de tanto chorar. O barulho dos nossos soluços tomava conta do lugar.

– Nós estamos juntos agora, Rose. – ele disse, depois de muito choro, e parando de soluçar. – Temos que continuar juntos.

– Isso acabou, Edward. – eu disse, depois de algum tempo. – Não temos mais como fazer nada.

Uma pausa.

– Não acabou. – ele me fez olhar em seus olhos. – Estamos juntos nessa. – ele tentou secar minhas lágrimas, o que não adiantou muito.

– Estamos sozinhos Ed! O que podemos fazer com aqueles caras? Não passamos de crianças para eles!

Ele esperou um pouco, parecendo procurar as palavras certas.

Outra pausa antes de falar.

– A gente vai conseguir, amor.

Congelei. Ele nunca havia me chamado assim.

Edward corou, e me abraçou para eu não ver seu rosto.

Amor?

Amor.

Afinal, o que é o amor numa situação dessas?

Nunca acreditei que o amor pode vencer barreiras.

Nunca acreditei em amor, pra falar a verdade.

– Ahn... Do que você...

– Shh. – Edward fez com que eu não falasse nada.

Ele ainda afagava meus cabelos.

Olhei por trás de Edward para a imagem da filmadora, que estava no chão.

Comecei a chorar mais ainda. Meus olhos mal aguentavam as próprias lágrimas, estavam começando a arder.

Me afundei no ombro de Edward, fechando bem os olhos. O abraçando mais.

As imagens de Alice sendo decapitada passavam como um filme na minha mente. Mesmo com os olhos bem fechados, parecia que eu ainda estava assistindo ao vídeo.

Não conseguia pensar em como nossas mães poderiam ter morrido. Poderia ter sido do mesmo jeito que Alice. Poderiam ter sido abusadas também. Poderiam ter sido baleadas.

Eram inúmeras possibilidades.

Eu tentava esquecer aquelas imagens. Pensar em nunca mais ver a mãe de Edward, a minha mãe, minha irmã...

“A gente vai conseguir, amor.”.

Era a única coisa em que eu não lutava para esquecer.